10 de nov. de 2014

Tudo culpa do Frederico.

“Temos que confessar”. Era um pecadão. Não era caso de polícia, mas havia chegado o momento de falar. “Como diremos?” Era um tema delicado e havia de o preparar. Não se podia dar versões contraditórias de fato tão grave. A agonia se apoderava de nós. Se acabava o tempo. É curta uma semana, se no sábado expira o tempo de dizer aquilo, que não se podia calar. Agora já não podíamos adiar mais. Zequinha tinha uma solução: “ não precisa dar detalhes, já se dará por satisfeito em ouvir que cometemos pecados”. Se notava que tinha ouvido seu irmão mais velho e experiente. De acordo, diremos que cometemos atos impuros e confiaremos que o padre não faça perguntas. O caso é ficar livres da culpa, no dia anterior da primeira comunhão. Mas o padre José se enervou. E com isso não contávamos. Quis saber detalhes. Principalmente quando pela quinta ou sexta vez ouvia a história do ato pecaminoso. O Padre saiu com o Murilo segurado pelo antebraço, e nos chamou a todos para uma conversa na sacristia. Tudo começara um ano antes, no Cine São Roque, num filme de Fellini, a molecada naquele carro vascolejante, e por Gradisca tínhamos Elzinha nos seus banhos de sol, que nossos olhos varavam pela cerca viva de mandacaru. Tudo que víamos no cinema, imitávamos por uns dias. Temíamos ser excomungados, antes de provar o corpo de cristo. Mas, Pe. José, que nos chamava 'ninhos', 'esso passa filhos', e sabedor da geografia, ''cuidem porque estavam tão perto da ''Santinha'' e não pode esconder seu melhor sorriso e nos permitia entrar na morada do senhor... eu me recordo, tudo culpa do Frederico.  

8 de nov. de 2014

Se Tiririca é honesto, aonde vamos com isso?

Se Tiririca é honesto, aonde vamos com isso?


A honestidade deve ser a configuração mínima da atuação política, é óbvio que temos que exigi-la a qualquer político – como a qualquer empresário, engenheiro, jornalista, domador de dálmatas – que sejam honestos. É notório que a maioria dos políticos brasileiros não o parecem, é óbvio, é necessário fazer com que sejam. Mas, isso, em política, não serve para muito: que um político seja honesto não define em absoluto sua conduta, linha política. A honestidade é – ou deveria ser – um dado menor: o mínimo denominador comum, a partir do qual possamos começar a perguntar: que políticas públicas propõe e como se aplicam.
Ninguém argumenta que a corrupção não seja um problema grave. Mas também é grave quando a usamos para pautar o debate político. O debate sobre o poder, sobre a riqueza, sobre as classes sociais, sobre suas representações. Precisamos de políticos honestos, dizem, e a honestidade não é de esquerda nem de direita, penso.
A honestidade pode não ser exclusividade da esquerda ou da direita, mas os honestos sim. E se pode ser muito honesto de esquerda e muito honesto de direita, e é nisso que temos a diferença. Quem administra honestamente em favor dos que têm menos, de modo geral, será mais de esquerda. Quem administra honestamente em favor dos que têm mais, de modo geral, será de direita. Também não gosto da terminologia direita\esquerda, mas é o repertório que se conhece bem, ou nem tanto.

Poderão tanto um quanto outro ser muito honestos. E ainda serão muito diferentes. E é essa diferença que não se alcança, não se vê, discutindo corrupção.

7 de nov. de 2014

Minas não há mais!


Não fui o primeiro a formular a pergunta. Certeza, fazia gerações que algum pai já a contestara, quando eu a verbalizei. “ O que há do outro lado?”. Invariavelmente, os adultos respondiam com uma mistura de certezas e indiferença: “Minas”. E eu pensava que se me deixassem baixar pelas serras bravas da Rifaina e  e cruzar as corredeiras do rio Grande, veria que não haveria nada mais que terra abstrata dos cursos de História, um mundo de diamantes, Tiradentes, Aleijadinho e sonhos de esmeraldas. Estava sempre convencido que o mundo era o do presente, e Minas tinha no passado seu presente e sua geografia no mapa 'Mundi' dos livros, das aulas da professora Henriette.
Outro dia me lembrando disso peguei a estrada e fui, cruzei a ponte e descobri que Minas estava ali, que o mundo é redondo e não se acaba. É redondo e dá voltas e onde havia Minas, agora é Goias, Chile, Oceano... enfim volta à Minas. Umas Minas Gerais. 

6 de nov. de 2014

Como dizia meu avô: não me toquem os tomates.


Sou tópico, como as pomadas. Fico contente com a chuva. Evocadora e elegante, que convida ao recolhimento, e a paisagem não coleciona cores em demasia, mais para o monocromatismo, talvez esteja nisso o meu não gostar do cinema novo. A temperatura é suficiente para se experimentar esta sensação de bem-estar. Os gatos se enroscam, e engatam o motor da felicidade. Está bem, já paro. Vejo que fazem bom juízo do que me agrada fazer com a chuva. É verão. Alguém decidiu que para economizar energia, botou o relógio a andar mais lento. É esses sessenta minutos que ainda não digeri, mas chego lá. Mas nem sempre a chuva é alegria. Lembro-me de umas chuvas que derrubaram todo o tomatal de meu avô. Foi a única vez que vi aqueles olhos tão azuis chorarem, numa mistura de sentimentos, de alegria porque morria Franco, e de tristeza, porque por levar Franco, não carecia que lhe tocassem os tomates. 

5 de nov. de 2014

Café com Leite.



 Era inofensivo. Era parte da paisagem da nossa infância feliz. Não nos ocorria sequer de nos perguntarmos, por que ficava ali plantado, naquele cruzamento, que jamais cruzara. Talvez, por evidente, saudava os caminhões que ali passavam, na vinda e ida para Araraquara. Nos o olhávamos de soslaio, ríamos, era isso: ele se alegrava quando algum motorista tocava a buzina ao passar. Mas nunca lhe dissemos nada, não tivemos coragem. Centenas e centenas de crianças cruzavam aquele lugar a cada dia. Éramos descerebrados barulhentos e impertinentes, mas havia uma fronteira invisível que nenhum de nós ousou atravessar. Claro que nossa educação era justa, quase apertada. E ainda que em nossas casas não tivéssemos biblioteca, nem nunca tivéssemos ido ao teatro, sabíamos que aquele homem era 'café com leite'. Esta expressão adoçava a crueldade do mundo desde a nossa tenra infância. No futebol alguém do adversário gritava: ' Mas vocês estão em doze', logo alguém de nós gritava 'Ele é 'café com leite'', é evidente que 'Ele' se sentia aquele homem no cruzamento dando adeus a desconhecidos caminhoneiros. Era cruel...  e melhoramos?



4 de nov. de 2014

Estamos equidistantes do golpe e da revolução. Há que se fazer boa escolha.

Estamos equidistantes do golpe e da revolução. Há que se fazer boa escolha.


Se para alguma coisa pode servir o que está se passando desde julho 2013, seria para de uma vez por todas, nos darmos conta, que nem a ditadura acabou; nem o império e o escravagismo morreram e foram enterrados definitivamente. Sempre se ressuscita algo. À caserna há sempre alguém desperto. Porque estas estruturas estão enraizadas, somatizadas por todo o território, mais enraizadas, que nós alegres cidadãos pensávamos. E pensar o tanto que nos custou construir a democracia recente, não era para se ver o que se tem visto. Já, por agora, de uns meses cá, com rápidos movimentos, e demolidores gestos, se nos arrastam o véu da inocência, graças sobretudo ao impagável trabalho dos meios de comunicação. O poder podre por natureza, se retroalimenta do seu despudor, tudo em nome do enriquecimento desmedido dos já detentores da fortuna desde sempre, umas quantas famílias que se repartem o botim enquanto nem sequer aceitam que a escória mal viva. E assim sendo, querem que se deprimam , e que se humilhem por uma quimera. Estas gentes que não fizeram mal algum e que se dedicaram a pôr em prática os princípios elementares da convivência e dedicação ao trabalho, agora recompensados com a vexação social e a solidão do impotente.
Entretanto não creia, não tornarão a ser como eram. Ainda que a tal parcela, com princípios bem diferentes, fazem do uso e abuso da posição, contatos, ocultação de bens e prevaricação, sempre atrás de um discurso impoluto, pense bater à porta do céu. Estão ai os tiques da ditadura, da falsa aristocracia, dos estratos de sangue real, de senhores de engenho, de capangas, de novos-ricos, de nova e velha classe média. A arquitetura deste arcabouço é largo, longo e sólido em suas genealogias, e na sua onipresença. Isso que digo se manifesta tanto em palavras, como em fatos, como ainda pouco na Paulista, sem a oposição veemente e necessária, outrossim, com o beneplácito dos meios de comunicação social, dos partidos oposicionistas aliados. Poderia se dizer que quem cala consente,
mas é mais que isso, na verdade contam com sua vênia, em troca de continuarem ‘insuspeitos’ a espreita, para ver que cai da mesa, para então se apropriarem. Mas não creiam, que se não aceites os resultados dessa falácia democrática – a que nos sujeitamos a lustros sem conta – tampouco aceitar-se-á um governo advindo de um golpe. Porque os tempos são outros, por todos os lados. E se olharmos por este prisma, está tão perto um golpe, quanto uma revolução.


2 de nov. de 2014

Tumba esperando seu morto.

Túmulo vazio.


Chuviscava, mas é difícil resistir ao cemitério. Histórias esquecidas entre nomes repetidos, datas remotas e flores tristes de plástico. O horizonte delimitado por condomínios, estes dos vivos, vistos dali, não diminuem nossa insignificância, ou a claustrofobia. Um túmulo com anjos sinistros e mármores decorativos, e tijolos que foram se desgastando ao longo do tempo, e minha velha conhecida, a inscrição que diz:''Aqui jaz José de Sá Rocha __ de __ 19__”. Sim, lá estão os espaços em branco para serem ainda preenchidos, como a própria cova. A primeira reação foi infantil: 'ainda vive'. Mas logo me vem um detalhe moribundo, este homem não previa chegar ao séc XXI. Vila Bonfim, é assim que os antigos moradores a chamam, sabe o paradeiro de todos os seus filhos, mas não tem a menor informação sobre José de Sá Rocha. Fiquei a pensar, no velhinho, se o fosse, a desfrutar de sua futura residência definitiva, como se fosse uma casa de campo, ou na segurança condominial. No entanto, para aquele que constrói a própria tumba, muito antes da morte, esta está abandonada. Pelas informações recebidas junto a administração do cemitério, o túmulo ,não habitado pelo não vivente, fora construído por um jovem no final dos anos 50, mais precisamente em 1958. Foi no Google que resolvi a charada, uma única entrada. Uma reportagem do Jornal A Cidade publicada em 1968 que me fez descobrir que José de Sá Rocha, nascera na noite de natal do ano de 1940, e então com 38 anos o comunista Zé de Sá, e toda sua família desapareceu misteriosamente por mãos desconhecidas perto da Gironda, acerca de Luiz Antônio, então estação de trens da Alta Mogiana. José de Sá Rocha construiu com as próprias mãos sua residência definitiva, mas para habitá-la não basta a vontade de um morto, pois necessita da cumplicidade de um vivo. E ele não a teve. Descanse em paz. Onde quer que esteja.   

Finados

Finados.

Não importa aonde vou, fugindo do que for, por mais que me distancie, esconda; sempre levo na memória do coração aqueles beijos. Nada mudará o perfume daquelas horas secretas nas quais perdi o senso que me livraram completamente, naquele instante, do passado e do futuro. E por onde for não poderei escapar da verdade e da beleza daquele olhar que se fundia ao meu.
Não poderei ser ateu de ti, se não esqueço o Pai Nosso...

Onde for, voando com asas de barro ou fogo, levo minhas raízes... É tão bom, da mesma forma ir e ir-se, se penso na liberdade, se é que ela faz algum sentido, a deserção é um deles, tirar o time de campo. Não ficar preso, atado, aferrado, enganchado, ancorado... dar no pé, ainda que à francesa. Porque há gaiolas que em nada se parecem a gaiolas e saídas que são entradas. Içar velas, meter o pé da estrada, estar de passagem é o que há de definitivo para preservar a integridade pessoal. Já que cedo ou tarde mesmo a viagem chega ao fim, ou ...

31 de out. de 2014

Lei.

Leis.

É certo que quem fala das leis, da lei das leis, não fala da justiça. E se nos agradam ou não, meu caro, que se fale das leis, elas são consequência da miséria humana, quanto mais leis, mais miséria; de todo modo, é o que há. Em contrapartida, a justiça é uma abstração qual somente os crédulos confiam. Mesmo a representação da Justiça é uma aberração. Balanças equilibradas! Quem decide o que pesa? Quem é capaz de as equilibrar? Olhos embevecidos, cegos? Neutralidade? Imparcialidade? Não, o que falta é compreensão, mas ao final, não nos enganemos, o que vale é a espada.

Descartada a abstração, falar de concretudes: legisladores, juízes, necessariamente interpretes parciais, manipulações legislativas e juízos etc...é uma tarefa qual me vejo incapaz de desenvolver, que ultrapassa a minas capacidades físicas e intelectuais. No mais , que sentido teria?

Infinito.




O garotinho ia recitando números de um dígito, sem nenhuma ordem evidente, começara pelo 5. Eu, que penso que nos elevadores o diálogo é facultativo mesmo com os conhecidos, no entanto me somei ao jogo com o 10.
O garotinho, com certeza molestado pela intromissão ou porque desconcertava aquela sequência que lhe era adequada, com o rosto próximo do bolso de minhas calças, levanta o olho e, num desafio me diz: 56.980.
Me descarrilhou! Foi o que senti. Cai na armadilha. Sabia que viria um fim ainda pior. No entanto, sei perder e não fujo da raia, então disse com humildade de quem reconhece a culpa: 56.981.

Ele com um sorriso matreiro, lentamente desembucha: INFINITO. Derrotado, pensei em infinito ao quadrado, minha metafísica não me ajuda em nada, por sorte o elevador parou e ele quando já fora do elevador abanou a mão, Tchau!  

29 de out. de 2014

Dois mil anos de escuridão.

Dois mil anos de escuridão.

A bíblia em muitos casos é explicita, noutros vaga, talvez esperando que o ouvinte ou o leitor capte algum simbolismo. Não sei. Não entendo como Adão e Eva não se deram conta – antes de comerem a maçã – que estavam nus. Já tentei várias explicações, nenhuma que me fosse relevante. Uma interessante, ao menos para mim, é que havia tanta coisa no paraíso para se contemplar que nem se deram conta do pelados que iam, talvez nem de se entreolharem tiveram tempo, ou que andavam cegos, e a maçã os curou. Parece que não, mas este fato é cheio de importância. Outra que me intriga é por que subitamente decidem se cobrir, em concreto, o baixo-ventre. Não creio que houvesse câmbio climático, ao menos a Bíblia só  fala mesmo da grande inundação.
Alguém, algures, pode pensar que isso é de somenos importância, mas intuo, creio, que boa parte dos acontecimentos mais transcendentes da história ocidental, têm a origem e a explicação no fato simples e misterioso: Adão e Eva cobrem-se seus entre cochas, respectivos. Penso que o mundo seria bem diferente, se eles houvessem decidido cobrir a cabeça, o que seria mais lógico, porque a ira divina vem do alto.

Qualquer explicação neste momento se reduz a mera interpretação literária, que é para lá, para a estante da ficção literária , que o Papa Francisco mandou a obra, depois de dois mil anos de escuridão.   

28 de out. de 2014

Tarrafa.

Tarrafa.

Tangentopoli foi o nome elegido pelos italianos para denominar um país imerso na corrupção, generalizada, que incluía todas as forças políticas e todos os âmbitos de uma sociedade caracterizada pela compra e venda de favores políticos e administrativos – tangente é suborno em italiano – . Aquela sociedade podre acordou por uma refundação das forças políticas – desapareceram então a Democracia Cristã, o Partido Socialista e o Partido Comunista, entre outros - , num ''macroprocesso'' dirigido pelo juiz Antonio di Pietro, sob nome de Mani Polite (Mãos limpas), e incrivelmente entronizou um dos empresários que mais se beneficiou com a corrupção: o líder de Forza Itália, Signore Silvio Berlusconi.
Em Espanha se vive um momento, também. bastante delicado, neste aspecto, aonde as detenções de políticos implicados em casos de suborno, comissões, evasão fiscal é diária. Ontem foram detidos 51 políticos , dos grandes partidos PP e PSOE, implicados numa rede de compra e venda de favores.

Em nosso país a coisa não é diferente. Algo deve ser feito, mas não se trata de eleger um bode expiatório, e tampouco de crucificar sem provas, e sim que todas as desconfianças sejam investigadas, talvez uma força tarefa, que daria o nome de Tarrafa.

26 de out. de 2014

Sem palavra não há expressão do pensamento.




''Até que não sejam conscientes da sua força não se rebelarão, e até depois de se rebelarem não serão conscientes. Este é o problema''. A frase se encontra no Livro proibido que o protagonista de 1984 lê, É ficção, mas se parece bastante a realidade. Em 1984 os submissos já amam a sua servidão. Uma das fórmulas mais eficazes é o controle da linguagem. Nos meios de comunicação muitos sintagmas já desapareceram, a Folha de São Paulo em seu manual de redação, proíbe o uso de determinadas palavras e locuções, e os manuais estão em todos os meios de comunicação. Igualdade de direitos, consciência de classe, divisão de classes, luta de classes há tempo foram banidas. Liberdade e ditadura não são usadas por nada. Tudo tem um motivo, que os indivíduos não os tenham a mão para quando tiverem um pensamento correspondente. Sem a palavra correspondente não se pode expressar o que se pensa, já pensou nisso?

23 de out. de 2014

Um Viva à Guerra!

Estamos de parabéns! Sim todos nós. Que nos metemos nesses dias todos – meses – a discutir a eleição, chegamos – alguns – a guerrear. Houve casos de guerrilha, de um lado e outro, um amigo de um amigo, comentou meu post, de pronto ofendendo, e sumiu na selva virtual nunca mais apareceu aqui. Um que mudou de nome umas 7 vezes, e bloquei-o todas as vezes, e ele jurava estar mais tranquilo. Kakakak
Aproveito para parabenizar a todos os meus contrincantes, rivais, antagonistas, adversários, tiradores de sarro, ofendedores e ofendidos ( porque a via é de mão dupla).
Se a coisa polarizou, é porque há diferenças brutais, beira ao antagonismo, entre uma proposta e outra. Porque há sim propostas, ainda que alguns não as veem.
Ontem vi bacanérrimos nas esquinas militando, achei divino, claro, tomara que percam! Mas gostei de vê-los defendendo o outro projeto, porque há projeto, ainda que seja frontalmente contra meus interesses, pessoais e ideológicos, porque em tudo está a ideologia, até no Mickey mouse. Viva a democracia.
O vencedor, seja ele qual for, não terá vida fácil. Tomara! Só assim melhoraremos nossos políticos e nós mesmo. 
Não sei quem disse, mas disse bem: ''um governo fraco é fruto de uma oposição também fraca"

Viva a guerra, porque a paz só nos deu perdedores.
 

20 de out. de 2014

Política.

Política.
.
É mais que ter que gostar. Nada é mais incompreensível que esta frase: “Não discuto Política”. Qualquer discussão é política, discutir religião é política, discutir futebol é política, toda discussão política mesma a que acaba em facada, que além de política é visceral; e é visceral por falta de argumentação; e falta argumentação porque falta repertório para expressar o que pensa; e o pensamento exige informação, sentimento, conhecimento e razão civilizatória ( noutras palavras, já ser um bom selvagem), para que as contendas não acabem em facadas.
Se o ódio permeia as redes sociais, só faz eloquente nosso despreparo, político. A política já foi praticada com músculos, vide ditaduras; pelos deuses, na Grécia antiga; pela democracia grega; religiosa vide Moisés e sua constituição outorgada por Deus no Sinai, sem a qual não cruzaria nem quinta avenida; pela crendice, vide pajés; e por uma mistura de crendice e religião, vide os primeiros Papas, e depois os Reis, até o absolutismo decepado.
Das cabeças decepadas até agora, muita água rolou debaixo dessa ponte, e nunca águas calmas, pasmaceiras. Não, sempre é renhido, no mínimo, chegando à truculência muitas vezes. Dos últimos cem anos, este já é o mais longevo entre nós, em termos democráticos, seja qual for nossa democracia. Louvemos.
A democracia é o poder na mão do humano, seja qual for o humano, a democracia é uma regra entre humanos, mas o poder nem sempre esteve nas mãos humanas como já disse acima. Tudo em função de acomodar as tensões de milhões de interesses ímpares.
Há quem pense, que poderíamos viver sem os políticos. Das utopias esta é a menos possível, pois implicaria num grau de emancipação humana quase de paraíso, sem cobras, ou alguém consegue ver uma situação aonde todas as pessoas que abalroam – inclusive você e sempre – um outro carro, parar ligar o pisca alerta, pedir desculpas, dizer : ''pago tudo'', porque estou completamente errado”. Só nesta topada de dois carros , se não existisse o estado e por conseguinte: o político, ou o pajé, ou o papa, ou o rei coroado, ou adolf, para que todas as instituições políticas fossem ser criadas naquele momento, a pena de ocorrer uma morte ou mais. Mas as instituições estão presentes – ainda que ausentes segundo o ponto de vista –.

Tudo deve melhorar? Pardelhas! Se devem. Se discutirmos mais e melhor. 

14 de out. de 2014

Jabberwocky. Lewis Carroll.

Tudo isso é só para dizer, que foi daí que veio a ideia de praticar etimologias, próprias.

Quando Alice atravessa o espelho, um dos primeiros objetos que encontra é um livro escrito num alfabeto incompreensível. Ao menos até o encarar ao espelho e ai descobre um poema de título 'Jabberwocky'. Carrol havia consultado o impressor sobre a possibilidade de reproduzir textos em simetria especular; este disse que não havia problema, só sairia mais caro. Alice então, descobre que o livro é legível diante do espelho, quer dizer, mais compreensível, já que o texto é cheio de palavras que se desconhece o significado. Porque muitas delas foram inventadas por Carroll.
Fiquei sabendo disso, pois uma vez de posse do poema, tentei lê-lo, tirante meu inglês anêmico, encontrei palavras que não tinham significado. Então fui em busca de informações e encontrei estas.
O nome do monstro é Jabberwock, e não Jabberwocky, porque Carrol declinou, como Eneias da Eneida, ou melhor a Eneida de Eneias. Como a Odisseia de Odisseu. A Jabberwocky de Jabberwocky. Carrol - formalmente – parodia uma balada épica medieval, mas suas palavras que soam arcaicas não têm relação com as antigas línguas anglo-saxônicas.
Pela etmologia e significado de certas palavras do próprio Carroll, por exemplo, Tove é um tipo de texugo (badger) com a pele lisa e branca, com chifres como dos veados e que come basicamente: queijo.
Outro tipo de invenção que Carrol usa é a junção de palavras como em The frumious Bandersnatch!
Onde 'frumious' – para Carroll – é a maneira equilibrada de dizer ao mesmo tempo 'furious' e 'fuming' este ruminando e aquele raivoso o que dá para mim 'ruimivoso'.
Curiosamente, alguns destes híbridos engendrados pela imaginação de Carroll, foram incorporados à língua inglesa. Como o verbo Chortle, que é 'chuckle' risinho e 'snort' que é bufar. Seria o mesmo que botar um risinho no Dunga, ou Felipão, eles bufam mas com enfado, sem risinhos. Acho que só a Fernanda Montenegro poderia expressar tal coisa.
Ou uma criança, desavisada.



'Jabberwocky'
'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimblein the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.

'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

12 de out. de 2014

O Banquete.

O Banquete ou O Churrasco.
''agradecimentos especiais à Fafá, Cláudio, Donato, Silvana e Gil Gil."

Quem nunca ouviu falar do amor platônico? E ainda mais, quem não teve um? Aquela professora de Geografia! Virgem mãe santíssima, e a de português, então, de biquíni lá em Miguelópolis? Tem gente que amou Thatcher envolvida em papel celofane. Sempre acreditei que o amor platônico se referia ao amor impossível, eterno desejo jamais satisfeito. Sonho sonhado desperto de quem aspira e jamais obtém, e sabe que isso é assim e assim será.
Mas, no diálogo 'O Banquete' (tem até filme francês), Platão, que se diga, não é o autor, desenvolve uma teoria do amor que nada mais tangencia, e se ajusta ao que atribuímos, hoje, à expressão. Ele fala de amor desejo, que não tem nada a ver com a carne sexual. Fala de uma aspiração ao saber que começa pelos corpos, e vai além deles. Entre nós isso parece, em muitos círculos, sem sentido, mas para ele, o desejo de saber, a aspiração à verdade e à beleza eram o verdadeiro e último objetivo da paixão amorosa.
O Banquete, eram reuniões entre comensais, para comer e beber, muito comum entre os gregos e entre nós, poderíamos chamar de O Churrasco. E pelos mesmos motivos pelos quais metemos fogo num monte de carvão. Depois de comer, e durante, se metiam a conversar, era a sobremesa, regadas com vinho, nós regamos com cerveja, com certeza.
Hoje, pude experimentar um pouco disso no mundo virtual. Travamos um Diálogo, aonde o banquete acontecia a léguas de distância. Foi um começo. Trocamos fotos dos nossos pratos, sentimos o cheiro, deu água na boca, etc...


10 de out. de 2014

Cidão na cidade das maravilhas. El Pulgatório

Ficaria feliz de ser velho
numa cidade com poucos policiais,

onde a música boa soasse nos beirais,
onde a pintura fosse admirada,
as orquídeas, e os bonsais,
os ipês amados como as cerejeiras,
no japão.
Onde ser criança ou operário,
nada tivessem que ver com tristeza.
Uns dentro de casa, outros na janela fumando
conversas, hospitalidades, como se fossem flores a queimar,
nos dias, poucos, de muita geada.
Uma feirinha de velhos objetos de interesses
inúteis, como restos de um naufrágio
bananas de todos os tipos,
tudo muito e para todos.
Por ela vagaria, sem melancolia, ou melhor
por amor a melancolia,
onde uma velharia,
grande novidade
ainda outro dia encontrada,
como um relógio de pulso,
não fizesse sentido.
Sábios muitos de muitas maneiras,
com guarda-sóis coloridos,

ainda que as casas aninhassem sombras.

8 de out. de 2014

Ão.

Tenho um rabo travesso.
E o pelo ouro mosqueado
o parapeito meu lugar
por parente o jaguar.

Dizem que sou anacoreta.
Não é bem isso, arte minha
é bastante, o rebuliço.
Frita, sim frita a sardinha.

Com a pata no mosquito.
Desenrolo o novelo.
Finjo que não me vês.
Salto ao teu joelho.

Já me agrada esta vida,
preguiça, saltos, preguiça
e queixar-se é de mau gosto.

Mas as vezes querias
ter um gato sem manias
que te desse algum desgosto.


Brisa.



Paciência, paciente leitor. É paciente, porque sabe olhar para isso e gastar o teu tempo lendo estas linhas, palavras vãs de um anônimo que o vento nético leva para olhos anônimos como os teus, que tudo veem, paciente leitor.
Deixe que te fale de paciência, de lentidão, de ofícios feitos das gotas que caem, pouco a pouco, na borra das horas. Deixe que te fale dos últimos discos, quaisquer dos últimos discos, que deixamos passar despercebidos, ocupados que estamos com tantos ruídos.
Não pelo que são em si estes álbuns ou outros, compostos por temas suaves, alma pura, peças curtas, quase ínfimas, imperceptíveis. Mas sim, pelo que representam, se é que as miudezas representem, e portanto engrandecem, conectam a novos ritmos mais amplos e mais altos, neste mudo doente. A música, qualquer música é uma brisa, leve, sem parar, pelas ruas da clave, rua acima, rua abaixo para aonde a leve o tempo meteorológico. A música, qualquer música, essa brisa que é quase silêncio, sem deixar de murmurar. Não importa se vozes, guitarras, tamborins, cavacos, agogôs, um surdo afogado, tum, desde que nos faça, que nos faça não, que nos tente, uma tentação de acreditar nas amizades, ou mesmo, de voltar a crer na bondade dos seres... música, lenta, brisa, murmurando, inoculando harmonia, elegância por dentro da etiqueta, música e dignidade de fazer
passado e presente, paciência, paciência, como a tua que chegou até aqui, que combateu cada linha com silêncio, suspendido na tua sensibilidade, na transparência do teu tempo, diante da turbulência do tempo lá de fora, que te procura, e te procurará sempre, mas mantenha-se intacto, com teus amigos, para ser melhor, e nos fará a todos melhor.

Isso foi escrito ouvindo Breeze Eric Clapton & Amigos. se clicar em Breeze vai direto ao youtube. 

6 de out. de 2014

A Educação, Sexismo, Barbárie, no país que mais vende sofás no mundo!

matheus urenha A Cidade


Ainda que mal interpretem o que direi, creio que é bom dizê-lo: “O pior inimigo de uma mulher não é o homem senão uma outra mulher”. Todavia, é de justeza recordar, que o referente histórico das desigualdades de gênero sempre foram os homens, e por isso que surgiu o movimento feminista, que tinha como a finalidade conseguir a igualdade política, econômica e jurídica da mulher relativamente ao homem. Na longa história de desigualdades temos infinidades de exemplos, alguns por demais dramáticos, e outros que dão a entender até que ponto a sociedade tinha e tem interiorizada esta desigualdade, tanto que se pode dizer: se vivia e vive com total naturalidade. É por isso que práticas atuais voam em céu de brigadeiro, é o caso de uma empresária que não direi o nome, para não me implicar, pois não tenho departamento jurídico como ela, eu não posso me defender, mas eles podem me acusar que focinho de porco é tomada. Pois esta empresária não é partidária de contratar mulheres com alguma possibilidade de gravidez, pois é um estorvo, financeiro. Penso que se venha em algum momento pedir um certificado de esterilidade, será um passo. Estamos nas antípodas do mundo civilizado.
Até os anos 70, havia pouquíssimos professores, elas dominavam esse mercado de trabalho. Só as mulheres acudiam a ele, por um salário inferior, que se dizia: o segundo salário da casa, adonde se supõe que era um ‘complemento’ da renda familiar. E por essa e outras, que o salário na educação é muito inferior a qualquer outra área que exija nível superior.
É impudico este país. Sempre aos mesmos, aos membros das castas privilegiadas, dos que têm bula papal, carta branca, imunidade absoluta para fazer e desfazer, do pertencimento à grande família dos de sempre, uma turba que não se move, nem em tempos de ditadura ou em tempos democráticos. Alguns têm origem na mais pura essência ditatorial, que se ao menos nos dissesse seu projeto de país, mas não, é um projeto particular, privado, familiar dentro de um país... nada que não fosse antes... Pode-se dizer que uma boa televisão, um jornal impresso etc é muito pouco para um país desse porte, mas não é, se você for o dono dessa TV, desse jornal... Fala-se demasiado em mercado, em auto regulação de mercado, mas não temos mercado, senão que um mercado distribuído em forma de capitanias hereditárias. Para citar um, a CBF não me deixa mentir...
É por essas e outras que se vende tanto sofá.  

4 de out. de 2014

Churrasco com Borges!


Estava à churrasqueira quando Jorge Luis Borges tropeçou num saco de carvão. ''Cuidado, Borges” falei, “O pedaço aqui está cheio de coisas esparramadas'' . “Joana, por favor, tire o isopor de cervejas do caminho, para nosso amigo poder transitar, sem perigos”. “Claro, sempre sobra para mim”. “Ah! Meu amor!” Botei os bifes de picanha com o lado da gordura para as brasas. “Borges, você já parou para pensar, o quanto está implícito numa frase, como : Traduzo Guimarães Rosa para o espanhol? “Sim! Está implícito que Guimarães Rosa tem seu próprio português, como tenho meu próprio espanhol. E quando um professor de espanhol traduz para espanhol, se trata do
espanhol que pertence a todos os hispanos falantes e a nenhum”. “Entendo, pois o professor de línguas sente a responsabilidade do idioma, não nas suas modificações, senão pela sua integridade monolítica, são os piores tradutores”?Sim” disse ele todo entusiasmado e acrescentou “Digamos que há o italiano de D'Annunzio e o inglês de Auden, como o português de Guimarães, o espanhol de Cervantes, e as línguas dos professores de línguas”! “Ao ponto?” “Sangrienta como la luna”!



3 de out. de 2014

Nós!

Nós!

Liamos nossa autobiografia,
tudo se passava numa sala
num quarto
a sala dá saída para a rua
ninguém transita
não há barulho
árvores cheias de folhas
carros estacionados
nada se move.
Continuamos a passar as páginas
a espera de alguma coisa,
de misericórdia talvez
uma mudança,
nada nos une
senão uma linha obscura,
também nos separa.
Parece um livro vazio,
o mobiliário já foi novo,
os tapetes estão gastos
justo aonde passam nossas sombras,
a sala é nosso mundo
líamos juntos,
e do lido discutíamos sobre o sofá,
liados,
digamos: o ideal é:
Não botar os pés sobre a mesa de centro!







2 de out. de 2014

Setembro em outubro.



Outubro,
já caminhando por ele,
vejo espalhados pedaços de setembro,
arrastados pelo vento,
vento de agosto.
Na carteira gorda de papéis,
um bilhete de metro que já não me levará a lugar algum.
Um telefone anotado,
conversa que acabou em risadas,
ou promessas,
ali permaneceram como areia no bolso do calção de banho,
que secou estendido na areia de Picinguaba,
por um amor de verão que ninguém mais quer,
a maré cheia encheu de água as pegadas de dedos levantados.
Esse vento agostiano arrastrando: não-me-esqueças, para-sempres,
emaranhados com os ecos de: não-me-lembro,
uma montanha de conchas de ostras chupadas.
Não chegarei a tempo,
não adianta ter pressa,
o barco já partiu,
já é outubro, um rumor de ondas,
relembram tua voz,
teu rosto que já não posso recordar.
Tua pele bronzeada acariciada,
o fosso do castelo de areia,
inundado,
em que habitávamos,

e lá presos caducamos.   

Here come the planes. They're American planes. Made in America. Smoking or non-smoking? L.A.




Outro dia encontrei um amigo a que, apesar de conversas pelas redes sociais, não via havia décadas. Ao lado da alegria do reencontro, a troca de novidades, o repasso do passado e tudo que vem ao caso nestas ocasiões, me reconfortou especialmente comprovar que ainda fumava. Muito dos velhos amigos deixaram de fumar, por uma razão ou outra, mas de fundo é a melhoria da saúde e sua conservação. Ainda que todos sejam permissivos, tenho que andar com cuidados, pois me olham com certa comiseração, se não me chamam a atenção com palavras, o fazem com o olhar, como se se me vissem a andar pela contramão pela Anhanguera.
As vezes tento uns truques, ainda não me propus a deixar o tabaco, como o de não me deixar vencer facilmente pela tentação, e assim prolongar o desejo até que se apresente um momento propício. Um momento ou uma paisagem. Assim, por exemplo, ao final de uma caminhada pelas estradas de terra, ou lá embaixo na beira do córrego, onde há uma casa desabitada, sento-me a beira do riachinho, então pegar um cigarro com todos os cuidados, como cheirar seu fumo, acendê-lo, protegendo o fogo do isqueiro com a palma da mão, saboreando-o de cara para o ouro do poente.

Ou então comprazer meu desejo de fumar desde uma perspectiva exterior, intimamente, lendo um livro. Ou como prêmio por alguma empreitada, como fazia meu avô, ao finalizar uma tarefa, desbrotar duzentos tomateiros, de tal modo que se parece muito a coroamentos,  entrega de medalha,  cerimonial, de algo proveitoso ou deleitável...Laurie Anderson Superman

1 de out. de 2014

Anúncio de uma morte crônica, desavisada.


Penso na vida de Santiago Nasar,
do romance que leio,
ele morrerá. Às facas dos Vicários.
Melhor dizendo, ele já morreu,
mas continuará morrendo até o: Fim.
É tão diferente de mim.
Aqui a lua olha para baixo, de pouco caso,
através das nuvens dispersas,
sobre a cidade que vai dormir.
O vento, arrasta para lá e para cá as folhas da amoreira,
e alguém – quer dizer, eu – afundado na minha poltrona,
com preguiça folheio as folhas que faltam,
não há nada a fazer,
não há 'se' para ele,
nem luz vermelha,
nem arco-íris,
nem Bayardo San Roman.
Nem o bispo,
nem as gaiolas de galinhas guindadas ao bispo,
nem o barco que se arrasta pesado pelo rio lento.
Tudo chegará ao seu fim,
como uma chuva, ou um cheiro de terra molhada pela chuva,
ou a recordação disso tudo, ou cagadas de pássaros num sonho.
Nem uma voz nos faz saber
nem vagamente,
nem sem desesperança,
e chega o final, que também passa.


30 de set. de 2014

Sexo.


A lógica é uma corda com qual acabamos por nos enforcar. Isso é Guimarães Rosa. Apenas superando a lógica se pode pensar com e em justiça, em amor, amizade. Posto que sentimentos, como o amor, são sempre ilógicos. Na direção oposta, cada crime, cada ato de ódio, cada assassinato – em geral são planejados – são cometidos segundo as leis da lógica, como os genocídios, senão vejamos, mesmo na literatura policial impera a lógica dos grandes detetives que os desvendam, mesmo que o único fio dessa corda seja o ódio. Mesmo Casmurro pensou: se isso, logo aquilo e defenestrou sua Capitu. O desencadeamento lógico de Simão Bacamarte o levou a seu auto aprisionamento.
Mesmo um louco tem lógica.
O ato sexual, que poderia tê-lo citado acima, mas preferi isolá-lo, por mera didática, tem seu aspecto lógico, a procriação. Tirante a procriação o sexo não faz sentido lógico. É uma invenção humana, com todos os adereços geniais incorporados ao longo dos séculos. Fico tentando imaginar quando surgiu o ciúme, que é um destes penduricalhos que embelezam a alma corporal do sexo. E desta rarefação da lógica em determinados comportamentos humanos, nem o direito escapou. Senão o crime por paixão não seria aceito até recentemente na França. A paixão era um álibi.
Desse modo não há argumentos lógicos para algo como o sexo e o amor, se não pertencem ao mesmo campo, seja o campo da racionalidade, da lógica.
Nada mais cruel que o distanciamento incorruptível, para falar da vida, que em nada tem sentido lógico, senão que em alguns e meros pedaços bioquímicos.
Aguados, ausentes do caos sentimental humano, os sumos sacerdotes, sumos pontífices do distanciamento lógico, saem a toda voz, com seus silogismos, a deitar por terra religiões e ideologias humanas, puríssimas invenções humanas, sacras!

Entretanto, sempre fazem suas análises demolidoras, a enunciar novos mandamentos. São admiráveis, mas não encantam! E a cobra não sobe.  

Eva era Africana e Negra.




Como cada dia temos episódios de racismo e outros despreparos, vou dizer umas coisas para ilustrar a tua mente, ampliar teus conhecimentos e por que não, fazer pensar. Digo que Eva era negra e africana e que os brancos são negros descoloridos pela perda de melanina, que os séculos e a necessidade de captar o sol em endereços onde ele aparecia pouco, durante milhares de anos.
Se você faltou da aula, te explico: tudo está guardado nas mitocôndrias.
As mitocôndrias são estruturas diminutas, que ficam dentro das células para nos ajudar a gerar energia. Os cromossomos são herança do pai e da mãe, já as mitocôndrias são uma fotocópia do que havia no óvulo materno e se transmite de mãe para filha. Quer dizer, se rebobinarmos esta fita da história para retroceder na viagem das mitocôndrias chegaremos à conclusão que todas as pistas conduzem à primeira matriz na África, e portanto os primeiros seres humanos evoluíram a partir da Etiópia, Quênia e Tanzânia.

Lá viveu ha 150.000 anos a mulher da qual descendemos 7 bilhões de pessoas. Graças às mitocôndrias, sabemos que 70 mil anos depois daquela Eva, os humanos se espalharam pelo mundo e adaptaram seus fenótipos às necessidades da nova casa, natureza, variando cor da pele, cabelos, olhos, narizes, sem entretanto, mudar o sangue, que é o mesmo daquela senhora africana.
Digo tudo isso, porque só é possível uma pessoa ser racista se ela faltou nas aulas de biologia sobre as mitocôndrias e outras de bioquímica. Como não sei, vai se saber, afinal pode ser que só faltasse esta ilustração. Assim Lucy é tataravó de Eva.



29 de set. de 2014

Corporeamente, Virtual

Corporeamente, Virtual

A raposa – google – me avisou que uso senha muito simples, melhor trocar.

 Muitas críticas são feitas ao monopólio virtual que desafia nossas leis de pijama de riscas. Já não sei 

quem sou. 

Eles sabem tudo de mim, coisas que já havia me esquecido, cada vez sou mais virtual, ainda que 

mantenha complexa massa corpórea. Participo da virtualidade amavelmente, assento, mas começa a 

ser obrigatório, não posso tomar certas atitudes, senão que virtualmente.

Não há nada a fazer, tentei criar uma nova personalidade, não consegui, meu IP é meu RG, o futuro 

agravará essa coisa. 

Berro pelo apego, e estranhamente os deixo dominar-me, controlar-me, influenciar-me. Deve ser 

porque não vivo sem ser gregário, preciso ser reconhecido, tanto na virtualidade quanto na realidade 

corpórea. 

Mudei minha senha para 1984#bigB

Estranhamente, com todas essas intromissões, meu eu virtual, cada vez mais é anquilosado...

....... mudar...

28 de set. de 2014

Há fumaça, mas nem sinais do fato.


Li, vi e ouvi o que tinham para dizer, os candidatos, faço constância, todos. Não me ocorre nada de original, ou essencial, a respeito. Dizer que a dialética, praticada, está na média do país, creio ser mais excesso de pedantismo, de minha parte, e não vem ao caso. Elucubrar, mais, se a corrupção faz parte da política, ou se é em si política, moral e ética social – desde sempre me parecem indistinguíveis o par ética e moral – não vejo sentido, entretanto. A corrupção é integral, pessoal, ainda que afete só por instante a pessoa. A gradação, não tem importância. Falar das diferenças entre os anjos e os demônios, é tema sem futuro: a Bíblia o faz com abundância. E nisso o livro sagrado é taxativo, rígido e não permite intercâmbio de essências, fenômeno fundamental em política. E ainda em plano bíblico, falar da perda de inocência - é custoso fazê-lo inocentemente - desconheço adultos inocentes. Falar de tragédia? Isso é coisa para Nietzsche. Decepção? Tristeza?
Política é isso: mais retórica que fatos, mais fumaça que fogo. Mas não posso viver sem!

27 de set. de 2014

como fazer versos

Como fazer versos.

Vou botando uma palavra atrás da outra,
a linha é frágil,
a palavra é pesada,
a linha arrebenta
a palavra cai para a outra linha.
Volto a pô-las em sequência.
Se as palavras fossem bem escolhidas,
cadenciadas, com ritmo preciso
com melodia
escreveria poemas.
Então, e tão somente, então, ia falar de agronomia.
Que a as raízes afundam na terra
de dia e de noite sem melancolia.
Que tal Lua, e não Marte, ajuda a colheita, e
há estrelas vermelhas boas para a vagem
e o dourado do sol,
os buracos negros, já não existem mais,
é a grande nova,
o feijão cresceu até Perseus,
e não nos aproximamos,
nos afastamos,
porque então vamos sambar de sapatos pretos,
vestidos apertados e vermelhos
com cheiro de guarda-roupa
Ela se atrasou, porque escolhia,
mas quem chegou na hora certa, não teve que esperar,
o par que não precisou escolher
Assim se acaba essa litania.