Sou
tópico, como as pomadas. Fico contente com a chuva. Evocadora e
elegante, que convida ao recolhimento, e
a paisagem não coleciona
cores em demasia, mais para o monocromatismo, talvez
esteja nisso o meu não gostar do cinema novo.
A temperatura é suficiente para se experimentar esta sensação de
bem-estar. Os gatos se enroscam, e engatam o motor da felicidade.
Está bem, já paro. Vejo que fazem bom juízo do que me agrada fazer
com a chuva. É verão. Alguém decidiu que para economizar energia,
botou o relógio a andar mais lento. É esses
sessenta minutos que
ainda não digeri, mas
chego lá. Mas
nem sempre a chuva é alegria.
Lembro-me de umas chuvas
que derrubaram todo o tomatal de meu avô. Foi a única vez que vi
aqueles olhos tão azuis chorarem, numa mistura de sentimentos, de
alegria porque morria Franco, e de tristeza, porque por levar
Franco, não carecia que lhe tocassem os tomates.
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