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5 de jul. de 2016

Antinous.

                                                 “The rain outside was cold in Hadrian’s soul. The boy lay dead On the low couch, on whose denuded whole, To Hadrian’s eyes, whose sorrow was a dread, The shadowy light of Death’s eclipse was shed.”  ANTINOUS Fernando Pessoa


Renato não acreditava que aquele romance estivesse lhe impressionado tanto, e mais que a qualquer outro. Sempre esteve a subjugar o conceito de belo. Antinous seria tão belo? Como a estátua que tinha à sua frente, naquela sala do Vaticano. Renato pensava, Adriano substituiu, uma vez morto o rapaz, a carne do amado pela sublimação da pedra. Uma maneira de perpetuar o amor.
Renato recordava que quando morreu Isabel quase enlouqueceu. Tanto que rasgou todas as fotos, menos duas, a que tinha no criado mudo e a que levava na carteira. E delas nem tinha os negativos. Mas ali estavam. Os olhos de Bel sempre tinham uma mirada penetrante, espetavam desde a profundidade, mais ainda, quando faziam amor. Os olhos de Antinous, mas, se, não olhavam para ninguém. Antinous, de mármore, foi feito para que lhe admirassem, e basta. Era belo, sim. Renato disse-se que não, não faria suspirar aos homens, por mais belos e bem feitos que fossem.
Vagando em seus pensamentos, mudou de sala e estava agora aonde predominavam os bustos. Queria compreender Adriano, necessitava saber, o porquê de o imperador languescer até a sua morte por esse rapaz que o mármore imortalizará, enquanto exista quem o admire.
- Por deus, mas que você faz? Saia daqui agora mesmo! Depravado, gritava um guarda do museu.
Renato girou-se. O vigilante andava na sua direção e outros visitantes se entreolhavam surpresos, enquanto outros faziam cara de nojo.
Os lábios de Renato haviam encontrado a boca entreaberta do busto de Adriano, e notava-lhe como o coração batia e que o desejo dominava todas as partes do seu corpo. Os olhos de mármore do Imperador também o olhavam com igual desejo e lhe diziam em silêncio: compreende o que é a beleza? Sabe o que é o prazer de possuí-la?
- Sei o que é o prazer, até ao êxtase, agora que conheço quem fez da beleza o único sentido da vida e isso não pode ser pecado , disse Renato em voz alta.