Krishnamurti.
Krishnamurti, o mestre
admirável, estava sentado em sua admirável varanda,
forrada de alfaiais e tapetes admiráveis, quando achega-se um
rapaz com sua túnica andrajosa, e em tom tranquilo e
respeitoso assim falou: “Mestre, tenho uma dúvida a corroer
meu coração, como água de bateria.. antes que
terminasse, Krishnamurti quis saber qual era a dúvida, muito
provavelmente para evitar demasiados floreios que quem não é
florista. O rapaz se lançou de novo na lenga-lenga:”Senhor,
com voz andrajosa, desengasgou-se e prosseguiu: quem tem mais amor,
ou apego aos bens materiais os ricos ou os pobres? Os ricos às
belas posses ou o pobre agarrado aos seus trastes?
Krishnamurti manteve-se
em silêncio, baixou lentamente a cabeça e depois de uma
brevidade, alçou o queixo e disse que não saberia
responder, assim, a queima roupa, no entanto contaria uma lenda. Sim!
Sim! Acudiu pressuroso em júbilo e pueril espontaneidade.
O venerável
disse-lhe: Em Girkka, nas montanhas, havia um ermitão, um
guru, santo, que vivia numa gruta, e vivia a rezar e meditar. Este
homem era visitado semanalmente por fieis da região, com
presentes e comidas especiais, quais rejeitava. Preferia comer uns
grãos de arroz e umas ervilhas, e vestir-se com uma tanga,
qual tinha uma sobressalente, que levava sob o braço por donde
fosse.. O ermitão, por meio de seus fieis ficou sabendo de um
sábio que vivia em Dakka, o douto Sindagg Naggor, que conhecia
a verdade. O ermitão resolveu ir visitar-lhe, afim de
aprender, conhecer a verdade. Saiu pelo caminho com a tanga
sobressalente sob o sovaco. Ao chegar à mansão de
Sundagg, Timanak, era assim que se chamava o ermitão, ficou
deslumbrado com o luxo e a opulência, e se apequenou, engasgou,
gaguejou, mas conseguiu dizer ao sábio o motivo de sua visita.
O sábio, disse-lhe que não se deixasse influenciar pela
riqueza do lugar, e que ele poderia sim se hospedar ali, e que teria
imenso orgulho em ajudar com sua sabedoria, que não era tanta,
na sua busca Timanak! E assim foi.
Todos os fins de tarde
saiam a caminhar pelos jardins e campos da mansão. Num desses
dias, e muito provavelmente, foi o último, ouviram um
barulho. E quiseram saber do que se tratava, poderia ser um bando de
elefantes, mas ao se adiantarem pelo caminho, viram a mansão
de Sundagg em chamas. O fogo era tamanho que em poucos minutos
consumiu tudo que ali havia. No entanto, Sundagg, se mostrava
tranquilo. Coisa que espantou o ermitão, que a cada minuto se
mostrava mais indignado, chegando a bater com a cabeça contra
uma árvore varias vezes. . Sundagg pede que Timanak se acalme,
que tudo aquilo não tinha valor. Ao que Timanak responde, é
que esqueci na mansão a minha tanga sobressalente. O rapaz da
túnica andrajosa retirou-se sem dizer palavra.
O sol, tocando de leve
a linha do horizonte, espalhava as cores avermelhadas do crepúsculo
marchetando nuvens, se põe.