Um dia de Bar Bye
conheci uma garota carioca. Na época vivia a famosa, “hoje”,
politica do “possível”. Explico. Eram duas garotas. Uma ruiva,
ribeirão pretana e sua amiga carioca. A carioca era visita, ulula.
A ribeirão pretana era o must. A carioca era gordinha. Ninguém era
feio, éramos jovens, para que ninguém se ofenda. Mas havia os
bonitos. Me candidatei à ruiva, encantei a carioca, com quem fui ao
Rio pela primeira vez. Havia um problema qualquer na família dela
que não vem ao caso, mas, ela, muito jovem tinha, só para ela, um
Apê na Visconde de Pirajá, duas quadras do Posto 9. Ela tinha
com a mãe lojas num Shopping, que não me dei à faina de ir
conhecer, pois ela me disse que era chato, o local, e que tinha
coisas para resolver, e que eu me “virasse” até nove da noite,
quando então chegaria. Era semana anterior ao carnaval de 1982.
Semana que saem os blocos: Simpatia quase amor, Banda de Ipanema,
Suvaco do Cristo etc. De manhã, sem ser madrugada dava praia, meio
da tarde e tarde: blocos, bar Bofetada ( antes que toda a Farme de
Amoedo, e particularmente o Bofetada, fosse invadido pelo “mundo
sarado mundial”). Posto o clima, o tempo histórico a geografia,
conto que:
Num dia vadio, qual
havia saído do Apto depois de voierizar pela janela do apartamento
do edifício ao lado uma “transa sexual”, fui ao Posto Nove dar
um mergulho, com minhas pernas brancas, meus braços e pescoço
negros do sol da então capital do café, um calção preto, justo,
como os dos jogadores da Seleção de Tele Santana, lembram como eram
“curtinhos” os shorts, fiz amizade: primeiro com um cara que
vendia camarãozinho no espeto e gritava: é da maínha! ( em 2005
soube de sua morte), depois fiz amizade com três “coroas” eu
tinha 23 Elza 30, Ana 35 e Adalgisa 45 tudo mais ou menos, mulher só
com C 14, eram funcionárias públicas em Brasília, usufruindo do
recesso parlamentar e cariocas da gema. Saímos do posto Nove para o
Bofetada.
- Oh paulista!
Temos que ir antes que o Bofetada não tenha mais lugar. Diziam. No
bofetada ocupamos uma mesa de calçada. A calçada ali na Farme é
larga, a mesa se estendeu, na maioria novos conhecidos, até a
sarjeta, e cantávamos...
“ Bum Bum Paticumbum prugurundum....”
Quando a Cris chegou,
primeiro sentou na minha perna, mas logo encontrou-se uma cadeira e a
festa continuava, eu adiei alguma conquista, pode ser, um utensilio
qualquer, mas a praia era toda minha, pensava.
Um garoto. Filho de
Bidin. Filho do Bidin. Du Bidin. Dez anos! Pode ser! Se aconchegou à
Cris. Ela o acarinhou. Deu inclusive ordens e me apresentou. Ele
definitivamente não gostou de mim. Depois veio seu pai e outros
habitantes de algum morro que não me recorda. Tudo foi tratado,
algo me inteirei, não por inteiro, por suposto, fomos quase toda a
mesa para o apartamento da Cris. Eu queria voltar para o Bofetada,
pois já não era centro de nada, e via minha praia, gordinha, a dar
narizadas. Era muito neura, e o mais importante era a racionalidade,
ainda que neurótica, e com o pó perdia esses pressupostos, ou
melhor dito, todos os pressupostos que eram: Cris, o posto Nove de
manhã, o Bofetada a tarde e o carnaval. Mas descobri que era bacana
também quando esnifava, tinha conteúdo e um humor cítrico. Passado
o medo de perder minha praia e descemos novamente ao Bofetada, Du
Bidin me recebeu com pedras na mão. Pagou-se chopes ao povo do pó e
mais alguma coisa devida... No dia seguinte no posto Nove, nos
pusemos todos ao lado de onde havia hasteada uma bandeira do PT,
comprei uma estrelinha para o meu calção curto, bebemos e tomamos
sol, minhas pernas estavam vermelhas e conheci Bidin o pai. Du Bidin
e eu construímos um castelo de areia, que ele chutou para acompanhar
seu pai que ia de mãos dadas com Cris. Mais tarde aceitei o convite
de Elza de me mudar até quarta-feira de cinzas para Copacabana. Elza
e eu compramos na manhã seguinte, no mesmo Posto 9 uma fantasia,
amarelo canário, da São Clemente, então escola da segunda divisão,
que usei na madrugada na Marquês de Sapucaí e Bidin apareceu para
municiar o pessoal e a Cris me perguntou para que eu havia deixado
Ipanema. É o Rio onde o bem e o mal se resolvem e se complicam nas
areias da zona Sul, no mesmo ponto de ebulição.