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2 de dez. de 2015

Ernesto Cabeza de Vaca.

Ernesto Cabeza de Vaca.

Nascido na paraguaia Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira, no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com outras tribos do continente, ainda que sua vocação de meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos paraguaios da região. Caçula de sete irmãos, Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar, Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói se lança aos caminhos, na esperança de construir um honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não, e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da moça e jurou não economizar esforços meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te prometo, que antes do término dos doze meses desse verão, Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite, atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico” “ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto, começou a urdir os planos meteorológicos para fazer tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca. Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre a Bahia na forma de tormentas de neve.