Ernesto Cabeza de Vaca.
Nascido na paraguaia
Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira,
no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio
de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde
a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com
outras tribos do continente, ainda que sua vocação de
meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos
paraguaios da região. Caçula de sete irmãos,
Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de
Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a
base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar,
Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo
como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de
Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu
que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés
na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais
produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais
bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói
se lança aos caminhos, na esperança de construir um
honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à
vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se
justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar
Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos
condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o
capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de
assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de
morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua
existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas
ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao
calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua
viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas
mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela
praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram
qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma
tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e
Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher
escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as
últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente
estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz
muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não,
e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui
assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu
lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos
antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água
do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da
moça e jurou não economizar esforços
meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te
prometo, que antes do término dos doze meses desse verão,
Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de
inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite,
atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável
tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras
de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas
nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o
exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua
pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória
de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico”
“ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto,
começou a urdir os planos meteorológicos para fazer
tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade
o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um
aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela
eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe
ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca.
Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre
a Bahia na forma de tormentas de neve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário