Reconheço, sou
um estraga prazeres, um chato, um pé no saco, mesmo que
Débora, minha esposa, diga isso de outra maneira; ' Você
é um hipocondríaco egocêntrico que dá
muito ouvido a si mesmo'. 'Tá'...! Tirante isso, tenho
acessos de melancolia que enfezam a Débora como agora, que
estamos na varanda, tomando uma cerveja, esperando pelo sudoeste, que
já vem vindo, e me boto a falar sobre a morte. Não
me deixe viver em estado vegetativo, digo a Débora, não
suportaria viver dependendo de uma máquina, daquelas bolsas
de soros e remédios ligados diretos na veia. Se algum dia
estiver nesse estado, por favor, meu amor, desligue estes artefatos
que me mantém vegetando, prefiro morrer. Débora se
levantou, me olhou com uma admiração que até
então não havia sentido. Me senti um menino mentiroso,
que crê que a mentira colou, roda a saia e desliga a tv, o
computador, o roteador, o ipod e por fim, me retira o copo e a
garrafa de cerveja.