O pedido.
Um casal
elegante jantava num concorrido e luxuoso restaurante. O homem
levantou sua taça e piscou ao
maître, era
o sinal combinado. O maître abriu a porta que separava a
cozinha da sala e entrou de pronto um violinista tocando umas notas
de Gloomy Sunday. Atrás dele vinha uma banda de mariachis que
acompanhavam um homem que cantava True Love com a voz de um menino de
coral, mas me parece que tardaram muito em castrá-lo. Em
seguida vieram três moças vestidas com maiôs de
ciclistas, junto a elas um anão num monociclo se contorcia
enquanto ia para frente e para trás Um homem gordo de fraque
com lantejoulas multicoloridas mantinha oito pratos de louça
girando na extremidade de varas flexíveis. Uma bailarina negra
fazia malabares com tochas acesas. Quatro saltimbancos atuaram no
trampolim e balancim. Três moças asiáticas
vestidas com saias rodadas ocultavam e desvelavam seus corpos entre
uma onda de bandeirinhas de cores ondulantes. Por fim, um garção
se aproximou com um carrinho de sobremesas, e sobre ele um
equilibrista do Himalaia, meio semsal.
O
silêncio espectante enchia o local quando o homem se levantou
de sua cadeira, se ajoelhou e abriu uma caixa com um enorme brilhante
diante dos olhos dela, e lhe perguntou:
_
Quer se casar comigo?
Com
sorriso laqueado ela se pôs de pé e disse:
_
Não!
Deu
meia volta e se dirigiu para a porta oferecendo a visão do
decote infinito do vestido em suas costas, onde se viam as
marquinhas brancas do biquíni. Um ar pesado parecia percorrer
as mesas. Todos os comensais de sentiram, repentinamente, participes
e confusos, e dissimulavam seu espanto se ocupando de seus pratos, e
o ruído dos talheres sobre a porcelana rompeu o incomodo
silêncio. Os artistas se foram, lentamente. O homem fez novo
sinal ao maître:
_
Traga-me a conta, por favor. Hoje não comerei sobremesa.