“The rain
outside was cold in Hadrian’s soul. The boy lay dead On the low
couch, on whose denuded whole, To Hadrian’s eyes, whose sorrow was
a dread, The shadowy light of Death’s eclipse was shed.” ANTINOUS Fernando
Pessoa
Renato não
acreditava que aquele romance estivesse lhe impressionado tanto, e
mais que a qualquer outro. Sempre esteve a subjugar o conceito de
belo. Antinous seria tão belo? Como a estátua que tinha
à sua frente, naquela sala do Vaticano. Renato pensava,
Adriano substituiu, uma vez morto o rapaz, a carne do amado pela
sublimação da pedra. Uma maneira de perpetuar o amor.
Renato
recordava que quando morreu Isabel quase enlouqueceu. Tanto que
rasgou todas as fotos, menos duas, a que tinha no criado mudo e a que
levava na carteira. E delas nem tinha os negativos. Mas ali estavam.
Os olhos de Bel sempre tinham uma mirada penetrante, espetavam desde
a profundidade, mais ainda, quando faziam amor. Os olhos de
Antinous, mas, se, não olhavam para ninguém. Antinous,
de mármore, foi feito para que lhe admirassem, e basta. Era
belo, sim. Renato disse-se que não, não faria suspirar
aos homens, por mais belos e bem feitos que fossem.
Vagando em
seus pensamentos, mudou de sala e estava agora aonde predominavam os
bustos. Queria compreender Adriano, necessitava saber, o porquê
de o imperador languescer até a sua morte por esse rapaz que
o mármore imortalizará, enquanto exista quem o admire.
- Por
deus, mas que você faz? Saia daqui agora mesmo! Depravado,
gritava um guarda do museu.
Renato
girou-se. O vigilante andava na sua direção e outros
visitantes se entreolhavam surpresos, enquanto outros faziam cara de
nojo.
Os lábios
de Renato haviam encontrado a boca entreaberta do busto de Adriano, e
notava-lhe como o coração batia e que o desejo
dominava todas as partes do seu corpo. Os olhos de mármore do
Imperador também o olhavam com igual desejo e lhe diziam em
silêncio: compreende o que é a beleza? Sabe o que é
o prazer de possuí-la?
- Sei o
que é o prazer, até ao êxtase, agora que conheço
quem fez da beleza o único sentido da vida e isso não
pode ser pecado , disse Renato em voz alta.