Crime e Castigo.
“Não me sinto
culpado de nada. Afinal, não era um líder responsável,
senão que um soldado que obedecia ordens”.
A frase resume a linha
de defesa que usou, durante quatro meses de seu juízo, o
oficial nazista Adolf Eichmann, responsável pela logística
do transporte e distribuição dos judeus europeus aos
campos de extermínio para a serem executados. Eichmann, no fim
da Segunda Guerra Mundial, fugiu para a Argentina com a sua família,
até ser sequestrado pelo serviço secreto de Israel no
ano de 1960. Foi trasladado a Israel, julgado, condenado a morte e
executado por crimes contra a Humanidade.
Em janeiro de 2016 vem
a luz uma carta escrita a mão por Eichmann, aonde ele pede
clemência e reitera que não passava de um soldado raso,
funcionário do baixo clero, que não merecia ser
castigado pelos crimes de seus superiores, que lhe davam ordens. Na
mesma ocasião, foi tornada pública um telegrama de sua
mulher, Vera Eichmann, que dizia: “ Mãe de quatro filhos,
peço que perdoem a vida de meu marido”. O telegrama não
obteve resposta, mas o presidente Tsevi, ao recebê-lo em 31 de
maio de 1962, antou em hebreu uma citação do Torá:
“ Mas Samuel disse: ' Tal como a sua espada deixou mulheres sem
seus filhos, assim a tua mãe se ficar sem filhos entre as
outas mulheres'”. Samuel 1,15:3;
São tão
inquietantes as afirmações do criminoso Eichmann como
as do antigo presidente de Israel Ytshaq ben Tsevi. Eichmann quer
fugir da responsabilidade no extermínio sistemático de
milhões de judeus dizendo que unicamente cumpriu ordens, como
se fosse uma peça inconsciente de um relógio, e não
um homem com critério moral e capacidade de decisão.
Eichmann é infame. Mas Yitshaq tampouco não é
modelo: mostra o rosto mais fosco daqueles que reclamando por justiça
e castigo para os culpados, nada mais fazem que vingança. Há
muita gente, pelo globo, que não passou jamais do antigo “
Olho por olho, dente por dente”. Assim vai a Palestina, e assim vai
o Mundo.