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16 de dez. de 2015

Fechou o bar do Mané ou Hitler não fumava, Médici não fumava, Geisel não fumava, mas a cobra fumou




Fechou o bar do pernambucano Mané. Meu bar. A verdade é que me sinto desamparado, é mesmo uma sensação de desamparo. Me sinto um Homer, se o Moe fechar. Um ET apontando com o dedo para onde estava o bar – agora um açougue gourmet, pode? - e exclamo 'meu bar, meu bar' com voz lastimosa. Lembro de quando começou a lei antitabagista, e Mané, que fumava, me perguntou, eu que fumava, o que dizer àqueles, digamos manés, que queriam um cartaz de proibido fumar, eu disse que fizesse um aonde constasse o nome dos merdas metidos a bestas bonfinenses que morreram antes por pura sovinice e ignorância  e não fumavam e fui dando nome aos bois. Não seria nem louco de botar o nome de algum aqui, ainda que saiba dos herdeiros analfabetos, mas tem sempre os puxa-sacos que leem para os patrões, escrevem para os patrões, vigiam pelos patrões, chacoalham para seus amos...   Então para não correr risco de morte, ficaria assim transportando da ideia paroquiana inicial: Hitler não fumava, Médici não fumava, Geisel não fumava, mas a cobra fumou. Vou parando por aqui que comecei a misturar nostalgia com horror.  

2 de dez. de 2015

Ernesto Cabeza de Vaca.

Ernesto Cabeza de Vaca.

Nascido na paraguaia Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira, no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com outras tribos do continente, ainda que sua vocação de meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos paraguaios da região. Caçula de sete irmãos, Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar, Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói se lança aos caminhos, na esperança de construir um honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não, e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da moça e jurou não economizar esforços meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te prometo, que antes do término dos doze meses desse verão, Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite, atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico” “ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto, começou a urdir os planos meteorológicos para fazer tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca. Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre a Bahia na forma de tormentas de neve.