Fechou o bar do
pernambucano Mané. Meu bar. A verdade é que me sinto
desamparado, é mesmo uma sensação de desamparo.
Me sinto um Homer, se o Moe fechar. Um ET apontando com o dedo para
onde estava o bar – agora um açougue gourmet, pode? - e
exclamo 'meu bar, meu bar' com voz lastimosa. Lembro de quando
começou a lei antitabagista, e Mané, que fumava, me
perguntou, eu que fumava, o que dizer àqueles, digamos manés, que queriam um cartaz de proibido fumar, eu disse que
fizesse um aonde constasse o nome dos merdas metidos a bestas
bonfinenses que morreram antes por pura sovinice e ignorância e não fumavam e
fui dando nome aos bois. Não seria nem louco de botar o nome de algum aqui, ainda que saiba dos herdeiros analfabetos, mas tem sempre os puxa-sacos que leem para os patrões, escrevem para os patrões, vigiam pelos patrões, chacoalham para seus amos... Então para não correr risco de morte, ficaria assim transportando da ideia
paroquiana inicial: Hitler não fumava, Médici não
fumava, Geisel não fumava, mas a cobra fumou. Vou parando por
aqui que comecei a misturar nostalgia com horror.
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16 de dez. de 2015
2 de dez. de 2015
Ernesto Cabeza de Vaca.
Ernesto Cabeza de Vaca.
Nascido na paraguaia
Presidente Franco em meio a última era medieval brasileira,
no último dia do governo Geisel, 14 de maro de 1979, no seio
de uma família Caingangue, Ernesto Cabeza de Vaca ouvia desde
a infância o chamado a se destribalizar e se misturar com
outras tribos do continente, ainda que sua vocação de
meteorologista criasse inimizades desde pequeno com muitos
paraguaios da região. Caçula de sete irmãos,
Ernesto foi o único a abrir caminho para o Instituto de
Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de Paraguay a
base de machado e facão. Sua companheira de banco escolar,
Mercedez Sosa de Alpaca, imortalizou Ernesto ao descrevê-lo
como um “sutil gatuno”. Ernesto voltou para casa com o diploma de
Bacharel em Meteorologia e uma confiança cega no céu
que se abria a seus olhos, mas sua mãe, que sempre teve os pés
na terra, o aconselhou que pegasse o canudo e o desse um uso mais
produtivo. Com vinte anos completados na véspera, e sem mais
bens materiais que uma palheta para viola de doze cordas, nosso herói
se lança aos caminhos, na esperança de construir um
honrado porvir, mas muito antes foi obrigado a se abraçar à
vida bandida, para levar algo mais que vento à boca. Para se
justificar, evocava as palavras de sua mãe: “Vou apoiar
Ernesto sempre, ainda que em seu caminho delinqüa”. Menos
condescendente foi a policia do Mato Grosso, que a grosso modo o
capturou, e mais a grosso modo ainda o sentenciou a quatro anos de
assaltos forçados a uma cadeia de supermercados, sob pena de
morte. Uma vez restituído o céu de brigadeiro de sua
existência, Ernesto alçou velas e apontou proa e velas
ao vento para o nordeste. Ao mesmo tempo que mal se aclimatava ao
calor da Bahia, se dava conta que a partir de algum ponto de sua
viagem havia sido privado do outono, do inverno e da primavera. Mas
mais que o sol, o deslumbravam as meninas em flor que passeavam pela
praia, todas jovens e exuberantes, afinal, se não completaram
qualquer primavera, nem em abril ou outubro, meteorologisava. Uma
tarde de sol como qualquer outra, dormia seu anjo da guarda, e
Ernesto viu sair do mar, estridente como uma sereia, uma mulher
escultural com ar de Juliana Paes. Foi até aonde chegavam as
últimas espumas da onda quebrada e balbuciou aproximadamente
estas palavras ao ouvido da moça: “Desculpe, não faz
muito calor para escafandro?” no que ela respondia “faz mal não,
e prosseguia abaixo lá frio muito faz. Estivesse acima aqui
assim oxalá. Como não era poliglota, Ernesto entendeu
lhufas, mas logo em seguida, compreendeu que a moça, em versos
antigos queria dizer que menos lhe incomodava o frio da água
do mar que o calor ali da areia. Cabeza de Vaca anotou o suplicio da
moça e jurou não economizar esforços
meteorológicos para a aliviar daquele calvário, te
prometo, que antes do término dos doze meses desse verão,
Você vai conhecer o que é tiritar de frio numa noite de
inverno, mentalmente a espetava.
Naquela noite,
atordoado pelo calor da lua cheia e afetado por um inexplicável
tersol. Cabeza de Vaca não conseguia descolar as pálpebras
de um olho, enquanto sonhava que esquiava com aquela mulher por dunas
nevadas, ela vestia um anoraque, e a profusão de roupas o
exitavam, a ponto de ser atacado por um caranguejo, que com sua
pinça, por muito pouco não o circuncidava, pela glória
de Abraão, despertou aos berros “ um caranguejo rabínico”
“ um caranguejo rabínico”! Como já ia o sol alto,
começou a urdir os planos meteorológicos para fazer
tremer de frio o coração da sereia vieirense.
Porque o calor dissuade
o pensamento, Cabeza se passou todo o dia elucubrando saches para um
aromatizador de limão sicilianos, já que cravo e canela
eram o cheiro da Bahia. Ali pelo meio da tarde do dia seguinte lhe
ocorria a idéia, acreditou ter encontrado a mosca branca.
Ofenderia o Nhanderequei e este descarregaria sua fúria sobre
a Bahia na forma de tormentas de neve.
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