Ernesto Cabeza de Vaca.
Nem deus nem rei, nem
preguiça nem raposa. Cabeza cometeu essa mesma tarde a
ruminada diatribe contra Nhanderequei. Começou propalando aos
ventos que Nhanderequei era estéril e fora feito de fungos, o
culpou de os cocos seguirem a lei gravitacional newtoniana e mesmo
assim não racharem depois de sua queda livre até a
areia, depois chamou de Nhandiroba. Nhambiquara, Nhambu, Nhambi e de
Nabiabichedi. Então, por fim, atirou em seu penacho um grão
de areia, aonde estava de férias um virus de Zica. Aqui estão
as afrontas em versos,
Oh, Nhambiquara, o que
anda se arrastando pela terra
a quem todo mundo pisa
e a mandioca enterra
se queres que te
respeite como um deus
faça me o favor,
acabe com esse seu mal
humor
e não vista
este pretinho básico
e tenha seus quinze
minutos nesta vida vã,
bote neve neste céu
acabe com esse calor
do Leme a Piatã.
Cabeza de Vaca, olhava
seu anchietismo arenoso e se orgulhava da obra acabada e lembrava que
o por fazer é só com deus. Assim falava Cabeza de
Vaca.
Caia a noite sem fazer
barulho como a pena de Galileu em Pisa, Ernesto só queria
algo pra comer e dormir, mas seus planos fracassavam, aparecia um
macaco e lhe roubava a banana, e o calor aumentava como a pica nas
manhãs por urina e Cabeza de Vaca voltava a mergulhar.
Exatamente num desses mergulhos e voltando à areia fazendo
jacaré, pelado para provar que os mexilhões eram ou não
afrodisíacos, Cabeza viu surgir de entre as ondas a garota do
escafandro, ficou nervoso e derrubou um castelo de areia.
- Calor ainda muito
faz – disse a sereia. Ernesto não soube quê. Pareciam
uma acusação, mas para um meteorologista, egresso do
Instituto de Meteorologia y Hidrologia de la U.N.Asunción de
Paraguay, falar do tempo de modo superficial era difícil,
como quem sabe que chove, sem saber porquê. Alem de que,
estava preocupado, e todos os seus esforços se consagravam a
rarefazer com as mãos a visão do membro atacado em
honras a Abraão. No entanto a sereia moça se
acalorava só de pensar em usar aquilo que ele escondia como
fio dental, não entendia o significado da palavra pudor.- - Mãos sem
nada bater as?
- É que estou
na barreira, e se bater na mão é pênalti, mentiu
Cabeza de Vaca, e seus olhos varavam o corpo dela, de tanto fingir
não ver sua silhueta. E apesar de todas estas precauções,
a coisa ameaçava escorregar entre os dedos. Houve um silêncio
de mais ou menos umas três horas, como se fosse feito por
deus. Cara a cara permaneceram sem se falarem palavra. Faltava
mesmo era um baralho, fazer uma canastra real para matar o tempo.
Por sorte a natureza não perde a hora e os raios de sol
irromperam no levante baiano. Assim, Ernesto tinha um novo tema para
a conversa. E como já aprendia o idioma assinalou:
- Amanhece que pouco
a viu pouco? E apontava para o levante sem mexer as mãos. A garota recuou
espevitada e desandou uns passos buscando profundidade. Da parte de
Cabeza de Vaca, sabemos que andava submergido num oceano de dúvidas,
cavilações e desconcerto, mas a julgar pela aparência,
estava com as bolas do jogo nas mãos.