Eu, ou o Homem que
despe as mulheres.
Ia ao pet shop comprar vermífugo para Xico ãÃo – meu gato -
que anda perder pelos mais que os que tenho, quando encontrei
Pedrão, o Belo, que anda a vender esperança na praça
XV. Na real, só vende bilhetes de loteria, mas não é
isso que quero falar, se não de sua inveja incurável,
que é oposta ao vinho, só piora com o passar dos anos,
e sempre quer saber como estou sempre rodeado de
mulheres, sendo Feio.
É assim que ele me chama, Feio, sem
artigo. Gostaria que me chamasse Gabo e eu o chamaria de Mestre. Mas,
repertório é repertório. O fato é que
pouco a pouco ele vai arrancando meus segredos mais secretos, ainda
que saiba, pobre Belo, nunca poderá aplicar, porque não
se pode ser superior a si mesmo.
- Eu, Belo, gosto das mulheres, por óbvio, mas gosto da maneira que elas gostam que gostem delas.
Essa é a chave. Mais de uma vez te disse meu amigo, Belo, que
não se pode amar uma mulher se não a ouvir, a escutar.
Ouvi muita as mulheres, mas tenho amigos que são surdos e
outros que são portentosos ouvidos. No entanto,
Belo, te digo mais:”Quando olho para uma mulher eu a desnudo, a
dispo, sendo que há quem as mire e as vista”. Logo, ele quis
saber o que queria dizer com isso, então lhe disse : “ Das
mulheres gosto de tudo: seu rosto, seu penteado, o lóbulo de
suas orelhas, as unhas dos pés, o cotovelo esquerdo, a
sinuosidade do pescoço, suas pálpebras, a roupa que
vestem, a maneira como se penteiam, como movem as mãos quando
falam, como dizem que não gostam de camarão, etc”. E
a tudo isso, acrescentei, "te garanto, gosto de verdade e esta
sinceridade de meu olhar, elas pegam no vôo", e completei:
“Sabem, que diante delas está um cara, que gosta delas por
ser como são”. Quando cheguei em casa, Penélope, que tricotava uma roupinha para ãÃo, me
perguntou, por onde o senhor andou?