A moça teve o
desplante de sumir e plantar Ernesto numa tremenda depressão.
A tarde mal começava, ou começava justo com o rumiar
seus obscuros pensamentos misturados com saliva, coisa que se tornou
alucinógena..Cabeza de Vaca se dá conta que não
está numa depressão, como pensou, e sim entre duas
ondas. Já havia mergulhado duas vezes sem êxito na busca
à sereia, uma vez regressado do mergulho, mais saliva fazia a
mastigação do fracasso. À suas costas, na crista
de uma onda, o macaco o escutava escorrer e discorrer ignorâncias
sobre seu amor pela moça, meia banana descascada com as cascas
caídas, um psicanalista. “ Por que empenhei minha palavra?”
era o lamento de Cabeza, em voz alta. A palavra – como parecia
saber o primata, a julgar pelo sorriso de deleite que se desenhou em
seu rosto – era toda a possessão material que restava a
Ernesto, depois de haver vendido a palheta da viola de doze cordas. “
Como farei para conjurar o frio neste trópico e que a sereia
me queira? - Porra meo, este é um problema seu, deixe...
acreditou ouvir Ernesto uma voz clara e paulistana vinda... adonde?
Ajeitou a postura, procurou o dono da voz lacânica.de frase
inumana. No entanto, ali, de humanos, capazes de tanta crueldade, só
havia um.. Eu? O animal, observava o gif do Travolta desde cima com
um sorriso, consciente, e a Ernesto pareceu, mesmo, feliz, de ser
ele, o macaco, quem se sentia menos macaco.