Sabemos de Gênesis:
...Eis
que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que
não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e
viva eternamente...
Sabemos que no judaísmo
a “árvore da vida” é um dos mais importantes símbolos
cabalísticos.
Sabemos que houve um filme com os jovens Montgomery Cliff e Liz Taylor com o mesmo nome em português, mas Raintree County, originalmente. Por hora.
No filme The Tree of
Life de Terence Mallick , a cinética do claro escuro, remonta
Glauber Rocha, a câmara intrometida buscando a "ânima" das "personas",
mas um Glauber palatável. A interpretação tem muito de José Celso
Martinez, seu teatro degustador de pequenos prazeres cotidianos ao
alcance dos cinco sentidos, com uma vontade louca que transcenda,
isto é, exceder em importância: deixar-se molhar pelo chuveirinho
de regar grama. As mãos que se palmeiam tendo por superfície de
contato o cristal da guilhotina de uma janela. Mas o final é puro
José Celso Martinez. De alguma maneira, maneirismo, ou afetação,
mas isso é muito forte e não vem ao caso.
Há instantes de MMV
movie maker video, e talvez por isso suportei tais trechos, afinal
todos fizemos algo no mmv, com imagens grandiloquentes com óperas,
músicas clássicas como trilha sonora. Havendo um senão, que é uma
escolha intensamente sacra, religiosa. Levo em conta que a maioria
das músicas o são, religiosas, mas o paganismo é também uma
religião, no filme sua música referencial está esclusa. Resta o
ruido, um ruido que também é auto referencia cinematográfica,
posto que jamais ouvimos o ruido do cosmo, o ruido (trilha sonora em
Arvore da vida) quer nos dizer que é um pulsar cósmico e
assustador.
Do país da Auto Ajuda,
é natural que estejam presentes essas técnicas e inoculadas na família retratada, sem exageros.
Assim podemos ver o pai levar serenamente seu filho “bem pegado
pelo braço, sente-se a pressão da mão de O´Brien (Brad Pitt) no
braço do filho – como dizemos: (Hunter McCracken) o Jack garoto
trabalha para caráleo - “ a questão aqui não é apertar o braço
do filho, pois a serenidade é que é eloquente, ainda que bruta, mas
serena, e esta só é alcançada com a posse da certeza, não uma
certeza qualquer, mas a certeza absoluta de que a razão está com
ele, certeza que por sinal soe ruir, quase que sem exceção, na vida
real.
O núcleo familiar é
tão real que incomoda, espelha, emociona até o oitavo círculo dos
infernos familiares. Mallick não comete nem um pecado. já que tão
religioso, poderia. Não há defeitos em mostrar, encenar uma
“realidade” de maneira tão real e apavorante, mas faz promessas,
missionariamente, se intencional ou fruto do inconsciente, não
importa: Terence Mallick não informa dela, mas como toda apologia,
ou toda indicação de melhor caminho, beira o charlatanismo. Mas
pela ingenuidade das soluções, tomo-as como referências de uma
obra fechada dentro dela mesma, que se auto remete, ainda que em
possíveis e determinados círculos possa ser tomada como apodítica.
Em determinado instante a câmara
abandona o celeste, e se mundaniza, para dar uma visão de mundo do
autor “Weltanschauung”, então ela sai\vai em\de cima, de dentro da (Jessica
Chastain) Senhora O´Brien a tomada oprime, a música sacraliza a
opressão divina, em troca de algo, que não sabemos pois é só o começo e vamos até
o fim, ainda que seja para "tomar pé" (raso) do filme, que é auto referente, se
diz de si, é mais uma gota nesse oceano de misticismos e obscurantismos de nossos dias.
E Brad Pitt diz ao
filho em instantes de autoajuda.
- Controle teu próprio
destino e acrescenta:
- Não podes dizer: Não
posso, e prossegue: Me está custando, mas ainda não acabei, e
soma: Não diga não posso.
Sean Penn é Jack
adulto arquiteto, recorda de Jack (menino) com raiva de deus, do
próprio pai, diz: Porque nosso pai nos faz mal.
Terence chega a
descobrir da irracionalidade da vida, sem tangenciar sequer a
natureza humana. Talvez queira nos dizer, via problemas de
O´Brien, mais que amemo-nos como vos amei, e insinuar o “fim”do
capitalismo?
Talvez nos diga que o abandonemos, mas não creio nessa
superficialidade com cara de lobo ingenuo que de seguida deposita
nas mãos da esperança a própria esperança. Deus. O retorno a
teologia do medievo, como esperança.
Superficialmente em linguajar esquerda leninista: um
filme ideologizante e feito sob encomenda, por quem não sei, ou uma bula autoajudista, para a tomada de
consciência da catástrofe que se avizinha, e nada melhor que
amemo-nos uns aos outros, mas não tão irracionalmente como
naturalmente nos temos amado, ou seja extirpando o ódio, a competição, o amor (propriedade, posse) não tem nada a ver com os problemas de desamor do homem!
Um grande filme,
oferece resistência e tem a matéria plástica da arte que é a
intuitividade do artista.
Muita coisa não se
explica no filme, porque nem em tomos e tomos de pensadores e
defensores reais de tal pensamento ou ideologia, ao longo de séculos, tampouco conseguiram se
sustentar, mas enfim, dado que o materialismo-histórico-dialéctico
parece banido do planeta, é o que se tem.