Acredito que do
pessimismo não brota nada transformador. Não sou de
acreditar em profetas nervosos ou líderes providenciais. Acho
que coincido com aquele verso de Caetano Veloso, “quem foi ateu e
viu milagres como eu..” . E também porque desconfio das
lideranças míticas, que em todo caso as escolas de
negócios de certo modo conseguiram popularizar. Tudo junto,
tenho cá comigo, mais que isso, estou convencido que ao
'progressismo' lhe restam uns quatro dias, e olha que mal acabava de
nascer nessa terra do mais puro sentimento mazombo. Diria à
boa gente que não convém perder tempo e tentar outras
providências.
Politicamente, nossas
decisões pessoais e o impacto que elas têm na dimensão
grupal, estão ameaçadas pela impotência e o
cinismo. O primeiro advém da constatação que
quase nada do que fazemos modifica substancialmente a dimensão
coletiva ( já que não escapamos do mundo) que vivemos.
E como nada acontece como queremos ( a política nos
decepciona, as ilusões não coalham e o esforço
não traz resultados...) corremos o risco de buscar
compensação, indexados pelo cinismo, o máximo de
beneficio pessoal. Já vivi em outros países, e a coisa
vai mais ou menos pelo mesmo caminho, com mais ou menos intensidade,
nos encontramos ciclicamente cercados por essas duas ameaças.
Talvez, tal fato tenha a ver com a nossa história, termos
desaproveitado oportunidades. A pergunta é: que faremos?
Penso que devemos reflexionar sobre o quê estamos fazendo, cada
um de nós... O risco que corremos é acabar nos regendo
pela desconfiança doentia na coletividade e esquecermos que o
quê realmente conta é o esforço cotidiano e a
coerência das nossas ações. A outra alternativa é
perder tempo e ilusões discutindo seraficamente sobre quem é
mais puro e como será o futuro, quando já estivermos
mortos.