“Temos que confessar”. Era um pecadão. Não era caso de polícia, mas havia
chegado o momento de falar. “Como diremos?”
Era um tema delicado e havia de o preparar. Não se podia dar versões
contraditórias de fato tão grave. A agonia se apoderava de nós. Se
acabava o tempo. É curta uma semana, se no sábado expira o tempo de
dizer aquilo, que não se podia calar. Agora já não podíamos
adiar mais. Zequinha tinha uma solução: “ não precisa dar
detalhes, já se dará por satisfeito em ouvir que cometemos
pecados”.
Se notava que tinha ouvido seu irmão mais velho e experiente. De
acordo, diremos que cometemos atos impuros e confiaremos que o padre
não faça perguntas. O caso é ficar livres da culpa, no
dia anterior da primeira comunhão. Mas o padre José se enervou. E
com isso não contávamos. Quis saber detalhes. Principalmente quando
pela quinta ou sexta vez ouvia a história do ato pecaminoso. O
Padre saiu com o Murilo segurado pelo antebraço, e nos chamou a
todos para uma conversa na sacristia. Tudo começara um ano antes, no
Cine São Roque, num filme de Fellini,
a molecada naquele carro vascolejante,
e por Gradisca tínhamos
Elzinha nos seus banhos de sol, que nossos olhos varavam pela cerca
viva de mandacaru. Tudo que víamos no cinema, imitávamos por uns
dias. Temíamos ser excomungados, antes de provar o corpo de cristo.
Mas, Pe. José, que nos chamava 'ninhos', 'esso passa filhos', e
sabedor da geografia, ''cuidem porque estavam tão perto da
''Santinha'' e não pode esconder seu melhor sorriso e nos permitia
entrar na morada do senhor... eu me recordo, tudo culpa do Frederico.
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