Estava à
churrasqueira quando Jorge Luis Borges tropeçou num saco de carvão.
''Cuidado, Borges” falei, “O pedaço aqui está cheio de coisas
esparramadas'' . “Joana, por favor, tire o isopor de cervejas do
caminho, para nosso amigo poder transitar, sem perigos”. “Claro,
sempre sobra para mim”. “Ah! Meu amor!” Botei os bifes de
picanha com o lado da gordura para as brasas. “Borges, você já
parou para pensar, o quanto está implícito numa frase, como :
Traduzo Guimarães Rosa para o espanhol”?
“Sim! Está implícito que Guimarães Rosa tem seu próprio
português, como tenho meu próprio espanhol. E quando um
professor de espanhol traduz
para espanhol, se trata
do
espanhol
que pertence a todos os hispanos falantes e a nenhum”. “Entendo,
pois o professor de línguas sente a responsabilidade do idioma, não
nas suas modificações, senão pela sua integridade monolítica,
são os piores tradutores”?
“Sim” disse ele todo
entusiasmado e acrescentou “Digamos que há o italiano de
D'Annunzio e o inglês de Auden, como o português de Guimarães, o
espanhol de Cervantes, e as línguas dos professores de línguas”!
“Ao ponto?”
“Sangrienta como la
luna”!
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