A lógica é uma
corda com qual acabamos por nos enforcar. Isso é Guimarães Rosa.
Apenas superando a lógica se pode pensar com e em justiça, em amor,
amizade. Posto que sentimentos, como o amor, são sempre ilógicos.
Na direção oposta, cada crime, cada ato de ódio, cada assassinato
– em geral são planejados – são cometidos segundo as leis da
lógica, como os genocídios, senão vejamos, mesmo na literatura
policial impera a lógica dos grandes detetives que os desvendam,
mesmo que o único fio dessa corda seja o ódio. Mesmo Casmurro
pensou: se isso, logo aquilo e defenestrou sua Capitu. O
desencadeamento lógico de Simão Bacamarte o levou a seu auto
aprisionamento.
Mesmo um louco tem
lógica.
O ato sexual, que
poderia tê-lo citado acima, mas preferi isolá-lo, por mera
didática, tem seu aspecto lógico, a procriação. Tirante a
procriação o sexo não faz sentido lógico. É uma invenção
humana, com todos os adereços geniais incorporados ao longo dos
séculos. Fico tentando imaginar quando surgiu o ciúme, que é um
destes penduricalhos que embelezam a alma corporal do sexo. E desta
rarefação da lógica em determinados comportamentos humanos, nem o
direito escapou. Senão o crime por paixão não seria aceito até
recentemente na França. A paixão era um álibi.
Desse modo não há
argumentos lógicos para algo como o sexo e o amor, se não pertencem
ao mesmo campo, seja o campo da racionalidade, da lógica.
Nada mais cruel que
o distanciamento incorruptível, para falar da vida, que em nada tem
sentido lógico, senão que em alguns e meros pedaços bioquímicos.
Aguados, ausentes do
caos sentimental humano, os sumos sacerdotes, sumos pontífices do
distanciamento lógico, saem a toda voz, com seus silogismos, a
deitar por terra religiões e ideologias humanas, puríssimas
invenções humanas, sacras!
Entretanto, sempre
fazem suas análises demolidoras, a enunciar novos mandamentos. São
admiráveis, mas não encantam! E a cobra não sobe.
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