Faz calor. Mas
parece que vai chover.
Acabo de ver as primeiras gotas vindo de um
céu avermelhado. No entanto, a primavera-verão se imporá. Chuva e
calor, precisos e precisos como um relógio. O tempo avança
implacável. A segunda-feira está ali na frente. Inexoravelmente. As
vezes conseguimos parar o tempo. Reter um instante para sempre. Como
caçadores de borboleta e o prendemos na rede. Uma recordação. Um
pedaço de eternidade. Uma eternidade com data de vencimento. É uma
vitória pírrica sobre o calendário. Isso sim, uma contrassenha.
Uma chave para entrar nestes cofres do tempo, que andamos, com a
idade, guardando como tesouro, Há uma semana, sábado, senti a
fragrância de um desses tesouros, dessas cápsulas de tempo. Fazia
anos, dezenas de anos que não os via. Nos juntamos junto ao lago.
Era um recorte, um pedaço de eternidade, um tesouro, onde as joias
éramos todos. As moças bonitas e sofisticadas, estampados
impossíveis, cores sem medo, vibrantes, azulejos, disse Flávio. Os
rapazes, cabelos de trinta anos, rasta, platinas, calvas. Tudo muda
afinal, não somos bonecos. Bailarinos e bailarinos. E não havia
solidão, saltava de uma roda a outra, e o escritor onisciente me
tinha uma frase, uma fala reservada, e ouvidos que a ouvissem,
profundamente. Tudo, que antes de chegar, havia sentido um calafrio,
pois sabia, que levava um pedacinho de cada um deles, para juntar aos
pedacinhos de mim que eles guardavam. E foi assim.
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