Elisabete, aliás
Bete da Bacia, botou as quatro coisas que tinha numa mala e se mandou
para São Paulo, como haviam feito suas irmãs antes que ela. A vida
tinha lhe escrito um roteiro triste e previsível, como a todas as
mulheres de sua geração, que não tiveram a sorte de nascer ricas.
Nem de carreirinha sabia ler. Dela nada mais esperava-se que
trabalhar sem gozo, sem queixas e na hora certa casasse com um bom
rapaz trabalhador. Era 1976. Mas, na colonia da fazenda Bacia, não
brilhavam as luzes daquele último quarto de século, talvez o século
XX ainda estavisse longe dali. Bete se rebelou contra seu destino.
Era bonita, irriquieta e belíssima voz do coro do Sagrado Coração
de Maria, isso seria o bastante para ela ter encontrado o compositor
Nelson Mota e ele no que a visse botasse os seus olhos nela. Faria
aulas de canto e debutaria com a gravação de um disco bossa-novista
em 77, que incluiria êxitos de finíssima releitura de Guilherme
Arantes. A filha de lavradores, então tinha o nome artístico de Vivian. A pobre menina da roça em sua carreira meteórica, no dia
3 de março de 78 lotava o Canecão. Os jornais fluminenses diziam
“artista de voz e graça sem limites”. “A Rainha de
Copacabana”. Em 79 sobe o tom, e canta um tango “célebre
estrella de la canción, la de la voz de oro”. Foi então que
registrou o mítico “Fumando espero”, numa versão muito
mais explicita que a de Dalva de Oliveira. Seu repertório não era,
definitivamente, para menores. Uma releitura brilhante de Cachaça
não é Água. “Cadê Você” e “Vou Tirar Você desse Lugar”
de Odair José. Não faltou o famoso “Tango de la Cocaina”
ainda mais eloquente.
Nesta espera foi encontrada por um viúvo de Santa Rita do Passa
Quatro. E a cantora, então, voltava ao ponto de partida. Cuidar do marido e
dos filhos, que sequer eram dela. A carruagem começa a virar
abóbora. O homem se mandou e ela ficou com seus filhos. Anos mais
tarde, quando os filhos que criou como se seus fossem, se tornaram
adultos, conheceu um escritor divorciado, que anos depois morreu
tuberculoso. Outra vez só recomeçou e morreu atropelada numa esquina da rua Augusta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário