7 de set. de 2014

Insone, esperando a mordida meiga do dragão adormecido.



Chega um momento da noite, que o mercúrio parece estar pregado por pés e mãos no capilar do termômetro, 29 nove graus, as duas da madrugada. Um gato miava entusiasta, e era tudo, nem os motoqueiros faziam suas costumeiras estridências.
Peguei a ler um livro – o de sempre, lido e relido, posso parar e pegar em qualquer página que sei de onde e aonde vai – e comecei a me sentir irmão anônimo de uma multidão de insones, e os imaginava pelo mundo, despertos, mas silenciosos, só isso os fazia merecedores de agradecimentos, numa cultura consagrada a fazer barulho – manhã, tarde e noite – com uma contumácia digna das melhores causas, como as há, para o roubar terras aos indígenas, juntar figurinhas da copa, tirar o medonho do corpo... notei que me invadia uma onda de amor universal e indiscriminado.
Sei que são momentos de debilidade, os advirto, e tenho sorte, que não são as horas dos que batem à porta vendendo algo ou cooptando fiéis para alguma seita, porque temo que se me pegassem com a guarda baixa, me deixasse conduzir por um sentimentalismo solitário e inofensivo.
Por sorte chegou uma bufada do nordeste, está certo que a nove quilômetros por hora diz o google, tão fraco e silencioso, que como eu, inspirava meiguice, ternura, e me fez dormir.

Neste momento, em que escrevo, se me lembro bem, as condições são idênticas, parece-me, e fico a me perguntar pelos avós, que resolveram se encravar bem nos beiços do dragão , a esperar por suas mordidas quentes e meigas, que os levaria ao céu, um a um

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