Dizem que Rilke disse que a verdadeira pátria de um homem é a sua infância.


Não
sei se a frase ainda está de voga. Em todo caso, e para mim, hoje está, e os acontecimentos deste agosto mequetrefe que vivemos me confirmam. Assim, sendo Rilke vigente, a minha pátria foi modesta, austera e feliz.
Pelos parâmetros em voga da época, desejado mas sem mimos. Tudo e
assim, a dialética do chinelo da mãe, nos casos de indisciplina de
pouca monta e a cinta do pai para as questões – poucas – que
requeriam o STF, era o regimento interno. Do lado de casa, o velho
galego, padrinho e avô, seu “C” pronunciado quase um “X”,
sempre a oferecer asilo político. Preferia ouvi-lo contar da sua
pátria que também era, por força, a da infância, que vigiar a
TV, quando ela chegou. As vezes, quando vinha da escola, ele me
esperava na esquina da travessa Bororós, para que fosse ao Zé
Bertagnolli comprar um pedaço de fumo-de-corda, goiano. Isso me
rendia um doce que me fazia bigode marrom e açucarava toda a cara.
Claro que tudo eram parâmetros de então, sem correção da
ortografia política. Um natal, ganhei uma bicicleta com três
rodinhas atrás, nunca fui tão feliz, e nunca demorou tanto tal felicidade. Esta pátria me expulsou quando descobri que papai Noel era a mãe, o paí e o avô. De lá para
cá, inocência perdida, tudo foi piorando. Certo é, que nunca mais
encontrei um lugar melhor para viver que a travessa Bororós.
Se gasto esta
verborreia, ela foi provocada pela morte do patriota Campos, cujo
desconhecia, mesmo a existência, me agradaria pensar que acreditam em mim.
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