“Temos que confessar”. Era um pecadão. Não era caso de polícia, mas havia
chegado o momento de falar. “Como diremos?”
Era um tema delicado e havia de o preparar. Não se podia dar versões
contraditórias de fato tão grave. A agonia se apoderava de nós. Se
acabava o tempo. É curta uma semana, se no sábado expira o tempo de
dizer aquilo, que não se podia calar. Agora já não podíamos
adiar mais. Zequinha tinha uma solução: “ não precisa dar
detalhes, já se dará por satisfeito em ouvir que cometemos
pecados”.
Se notava que tinha ouvido seu irmão mais velho e experiente. De
acordo, diremos que cometemos atos impuros e confiaremos que o padre
não faça perguntas. O caso é ficar livres da culpa, no
dia anterior da primeira comunhão. Mas o padre José se enervou. E
com isso não contávamos. Quis saber detalhes. Principalmente quando
pela quinta ou sexta vez ouvia a história do ato pecaminoso. O
Padre saiu com o Murilo segurado pelo antebraço, e nos chamou a
todos para uma conversa na sacristia. Tudo começara um ano antes, no
Cine São Roque, num filme de Fellini,
a molecada naquele carro vascolejante,
e por Gradisca tínhamos
Elzinha nos seus banhos de sol, que nossos olhos varavam pela cerca
viva de mandacaru. Tudo que víamos no cinema, imitávamos por uns
dias. Temíamos ser excomungados, antes de provar o corpo de cristo.
Mas, Pe. José, que nos chamava 'ninhos', 'esso passa filhos', e
sabedor da geografia, ''cuidem porque estavam tão perto da
''Santinha'' e não pode esconder seu melhor sorriso e nos permitia
entrar na morada do senhor... eu me recordo, tudo culpa do Frederico.
10 de nov. de 2014
8 de nov. de 2014
Se Tiririca é honesto, aonde vamos com isso?
Se Tiririca é
honesto, aonde vamos com isso?
A honestidade deve
ser a configuração mínima da atuação política, é óbvio que
temos que exigi-la a qualquer político – como a qualquer
empresário, engenheiro, jornalista, domador de dálmatas – que
sejam honestos. É notório que a maioria dos políticos brasileiros
não o parecem, é óbvio, é necessário fazer com que sejam. Mas,
isso, em política, não serve para muito: que um político seja
honesto não define em absoluto sua conduta, linha política. A
honestidade é – ou deveria ser – um dado menor: o mínimo
denominador comum, a partir do qual possamos começar a perguntar:
que políticas públicas propõe e como se aplicam.
Ninguém argumenta
que a corrupção não seja um problema grave. Mas também é grave
quando a usamos para pautar o debate político. O debate sobre o
poder, sobre a riqueza, sobre as classes sociais, sobre suas
representações. Precisamos de políticos honestos, dizem, e a
honestidade não é de esquerda nem de direita, penso.
A honestidade pode
não ser exclusividade da esquerda ou da direita, mas os honestos
sim. E se pode ser muito honesto de esquerda e muito honesto de
direita, e é nisso que temos a diferença. Quem administra
honestamente em favor dos que têm menos, de modo geral, será mais
de esquerda. Quem administra honestamente em favor dos que têm mais,
de modo geral, será de direita. Também não gosto da terminologia
direita\esquerda, mas é o repertório que se conhece bem, ou nem tanto.
Poderão tanto um
quanto outro ser muito honestos. E ainda serão muito diferentes. E é
essa diferença que não se alcança, não se vê, discutindo
corrupção.
7 de nov. de 2014
Minas não há mais!
Não fui o primeiro
a formular a pergunta. Certeza, fazia gerações que algum pai já a
contestara, quando eu a verbalizei. “ O que há do outro lado?”.
Invariavelmente, os adultos respondiam com uma mistura de certezas e
indiferença: “Minas”. E eu pensava que se me deixassem baixar
pelas serras bravas da Rifaina e e cruzar as corredeiras do
rio Grande, veria que não
haveria nada mais que terra abstrata dos cursos de História, um mundo de diamantes, Tiradentes, Aleijadinho e
sonhos de esmeraldas.
Estava sempre convencido que o mundo era o do presente, e Minas tinha
no passado seu presente e
sua geografia no
mapa 'Mundi' dos livros,
das
aulas da professora Henriette.
Outro
dia me lembrando disso peguei a estrada e fui, cruzei
a ponte e descobri que
Minas estava ali, que o mundo é redondo e não se acaba. É redondo
e dá voltas e onde havia
Minas, agora é Goias, Chile, Oceano... enfim volta à Minas. Umas
Minas Gerais.
6 de nov. de 2014
Como dizia meu avô: não me toquem os tomates.
Sou
tópico, como as pomadas. Fico contente com a chuva. Evocadora e
elegante, que convida ao recolhimento, e
a paisagem não coleciona
cores em demasia, mais para o monocromatismo, talvez
esteja nisso o meu não gostar do cinema novo.
A temperatura é suficiente para se experimentar esta sensação de
bem-estar. Os gatos se enroscam, e engatam o motor da felicidade.
Está bem, já paro. Vejo que fazem bom juízo do que me agrada fazer
com a chuva. É verão. Alguém decidiu que para economizar energia,
botou o relógio a andar mais lento. É esses
sessenta minutos que
ainda não digeri, mas
chego lá. Mas
nem sempre a chuva é alegria.
Lembro-me de umas chuvas
que derrubaram todo o tomatal de meu avô. Foi a única vez que vi
aqueles olhos tão azuis chorarem, numa mistura de sentimentos, de
alegria porque morria Franco, e de tristeza, porque por levar
Franco, não carecia que lhe tocassem os tomates.
5 de nov. de 2014
Café com Leite.
Era inofensivo.
Era parte da paisagem da nossa infância feliz. Não nos ocorria
sequer de nos perguntarmos, por que ficava ali plantado, naquele
cruzamento, que jamais cruzara. Talvez, por evidente, saudava os
caminhões que ali passavam, na vinda e ida para Araraquara. Nos o
olhávamos de soslaio, ríamos, era isso: ele se alegrava quando
algum motorista tocava a buzina ao passar. Mas nunca lhe dissemos
nada, não tivemos coragem. Centenas e centenas de crianças cruzavam
aquele lugar a cada dia. Éramos descerebrados barulhentos e
impertinentes, mas havia uma fronteira invisível que nenhum de nós
ousou atravessar. Claro que nossa educação era justa, quase
apertada. E ainda que em nossas casas não tivéssemos biblioteca,
nem nunca tivéssemos ido ao teatro, sabíamos que aquele homem era
'café com leite'. Esta expressão adoçava a crueldade do mundo
desde a nossa tenra infância. No futebol alguém do adversário
gritava: ' Mas vocês estão em doze', logo alguém de nós gritava
'Ele é 'café com leite'', é evidente que 'Ele' se sentia aquele
homem no cruzamento dando adeus a desconhecidos caminhoneiros. Era
cruel... e melhoramos?
4 de nov. de 2014
Estamos equidistantes do golpe e da revolução. Há que se fazer boa escolha.
Estamos
equidistantes do golpe e da revolução. Há que se fazer boa
escolha.
Se para alguma coisa
pode servir o que está se passando desde julho 2013, seria para de
uma vez por todas, nos darmos conta, que nem a ditadura acabou; nem
o império e o escravagismo morreram e foram enterrados
definitivamente. Sempre se ressuscita algo. À caserna há sempre
alguém desperto. Porque estas estruturas estão enraizadas,
somatizadas por todo o território, mais enraizadas, que nós alegres
cidadãos pensávamos. E pensar o tanto que nos custou construir a
democracia recente, não era para se ver o que se tem visto. Já, por
agora, de uns meses cá, com rápidos movimentos, e demolidores
gestos, se nos arrastam o véu da inocência, graças sobretudo ao
impagável trabalho dos meios de comunicação. O poder podre por
natureza, se retroalimenta do seu despudor, tudo em nome do
enriquecimento desmedido dos já detentores da fortuna desde sempre,
umas quantas famílias que se repartem o botim enquanto nem sequer
aceitam que a escória mal viva. E assim sendo, querem que se
deprimam , e que se humilhem por uma quimera. Estas gentes que não
fizeram mal algum e que se dedicaram a pôr em prática os princípios
elementares da convivência e dedicação ao trabalho, agora
recompensados com a vexação social e a solidão do impotente.
Entretanto não
creia, não tornarão a ser como eram. Ainda que a tal parcela, com
princípios bem diferentes, fazem do uso e abuso da posição,
contatos, ocultação de bens e prevaricação, sempre atrás de um
discurso impoluto, pense bater à porta do céu. Estão ai os tiques
da ditadura, da falsa aristocracia, dos estratos de sangue real, de
senhores de engenho, de capangas, de novos-ricos, de nova e velha
classe média. A arquitetura deste arcabouço é largo, longo e
sólido em suas genealogias, e na sua onipresença. Isso que digo se
manifesta tanto em palavras, como em fatos, como ainda pouco na
Paulista, sem a oposição veemente e necessária, outrossim, com o
beneplácito dos meios de comunicação social, dos partidos
oposicionistas aliados. Poderia se dizer que quem cala consente,
mas é mais que
isso, na verdade contam com sua vênia, em troca de continuarem
‘insuspeitos’ a espreita, para ver que cai da mesa, para então
se apropriarem. Mas não creiam, que se não aceites os resultados
dessa falácia democrática – a que nos sujeitamos a lustros sem
conta – tampouco aceitar-se-á um governo advindo de um golpe.
Porque os tempos são outros, por todos os lados. E se olharmos por
este prisma, está tão perto um golpe, quanto uma revolução.
2 de nov. de 2014
Tumba esperando seu morto.
Túmulo vazio.
Chuviscava, mas é
difícil resistir ao cemitério. Histórias esquecidas entre nomes
repetidos, datas remotas e flores tristes de plástico. O horizonte
delimitado por condomínios, estes dos vivos, vistos dali, não
diminuem nossa insignificância, ou a claustrofobia. Um túmulo com
anjos sinistros e mármores decorativos, e tijolos que foram se
desgastando ao longo do tempo, e minha velha conhecida, a inscrição
que diz:''Aqui jaz José de Sá Rocha __ de __ 19__”. Sim, lá
estão os espaços em branco para serem ainda preenchidos, como a
própria cova. A primeira reação foi infantil: 'ainda vive'. Mas
logo me vem um detalhe moribundo, este homem não previa chegar ao
séc XXI. Vila Bonfim, é assim que os antigos moradores a chamam,
sabe o paradeiro de todos os seus filhos, mas não tem a menor
informação sobre José de Sá Rocha. Fiquei a pensar, no velhinho,
se o fosse, a desfrutar de sua futura residência definitiva, como se
fosse uma casa de campo, ou na segurança condominial. No entanto,
para aquele que constrói a própria tumba, muito antes da morte,
esta está abandonada. Pelas informações recebidas junto a
administração do cemitério, o túmulo ,não habitado pelo não
vivente, fora construído por um jovem no final dos anos 50, mais
precisamente em 1958. Foi no Google que resolvi a charada, uma única
entrada. Uma reportagem do Jornal A Cidade publicada em 1968 que me
fez descobrir que José de Sá Rocha, nascera na noite de natal do
ano de 1940, e então com 38 anos o comunista Zé de Sá, e toda sua
família desapareceu misteriosamente por mãos desconhecidas perto da
Gironda, acerca de Luiz Antônio, então estação de trens da Alta
Mogiana. José de Sá Rocha construiu com as próprias mãos sua
residência definitiva, mas para habitá-la não basta a vontade de
um morto, pois necessita da cumplicidade de um vivo. E ele não a
teve. Descanse em paz. Onde quer que esteja.
Finados
Finados.
Não importa aonde
vou, fugindo do que for, por mais que me distancie, esconda; sempre
levo na memória do coração aqueles beijos. Nada mudará o perfume
daquelas horas secretas nas quais perdi o senso que me livraram
completamente, naquele instante, do passado e do futuro. E por onde
for não poderei escapar da verdade e da beleza daquele olhar que se
fundia ao meu.
Não poderei ser
ateu de ti, se não esqueço o Pai Nosso...
Onde for, voando com
asas de barro ou fogo, levo minhas raízes... É tão bom, da mesma
forma ir e ir-se, se penso na liberdade, se é que ela faz algum
sentido, a deserção é um deles, tirar o time de campo. Não ficar
preso, atado, aferrado, enganchado, ancorado... dar no pé, ainda que
à francesa. Porque há gaiolas que em nada se parecem a gaiolas e
saídas que são entradas. Içar velas, meter o pé da estrada, estar
de passagem é o que há de definitivo para preservar a integridade
pessoal. Já que cedo ou tarde mesmo a viagem chega ao fim, ou ...
31 de out. de 2014
Lei.
Leis.
É certo que quem
fala das leis, da lei das leis, não fala da justiça. E se nos
agradam ou não, meu caro, que se fale das leis, elas são
consequência da miséria humana, quanto mais leis, mais miséria; de
todo modo, é o que há. Em contrapartida, a justiça é uma
abstração qual somente os crédulos confiam. Mesmo a representação
da Justiça é uma aberração. Balanças equilibradas! Quem decide o
que pesa? Quem é capaz
de as equilibrar? Olhos
embevecidos, cegos? Neutralidade? Imparcialidade? Não, o que falta é
compreensão, mas ao
final, não nos enganemos, o que vale é a espada.
Descartada
a abstração, falar de concretudes: legisladores, juízes,
necessariamente interpretes parciais, manipulações legislativas
e juízos etc...é uma tarefa qual me vejo incapaz de desenvolver,
que ultrapassa a minas capacidades físicas e intelectuais. No mais ,
que sentido teria?
Infinito.
O garotinho ia
recitando números de um dígito, sem nenhuma ordem evidente,
começara pelo 5. Eu, que penso que nos elevadores o diálogo é
facultativo mesmo com os conhecidos, no entanto me somei ao jogo com
o 10.
O garotinho, com
certeza molestado pela intromissão ou porque desconcertava aquela
sequência que lhe era adequada, com o rosto próximo do bolso de
minhas calças, levanta o olho e, num desafio me diz: 56.980.
Me descarrilhou! Foi
o que senti. Cai na armadilha. Sabia que viria um fim ainda pior. No
entanto, sei perder e não fujo da raia, então disse com humildade
de quem reconhece a culpa: 56.981.
Ele com um sorriso
matreiro, lentamente desembucha: INFINITO. Derrotado, pensei em
infinito ao quadrado, minha metafísica não me ajuda em nada, por
sorte o elevador parou e ele quando já fora do elevador abanou a
mão, Tchau!
29 de out. de 2014
Dois mil anos de escuridão.
Dois mil anos de
escuridão.
A bíblia em muitos
casos é explicita, noutros vaga, talvez esperando que o ouvinte ou o
leitor capte algum simbolismo. Não sei. Não entendo como Adão e
Eva não se deram conta – antes de comerem a maçã – que
estavam nus. Já tentei várias explicações, nenhuma que me fosse
relevante. Uma interessante, ao menos para mim, é que havia tanta
coisa no paraíso para se contemplar que nem se deram conta do
pelados que iam, talvez nem de se entreolharem tiveram tempo, ou que
andavam cegos, e a maçã os curou. Parece que não, mas este fato é
cheio de importância. Outra que me intriga é por que subitamente
decidem se cobrir, em concreto, o baixo-ventre. Não creio que
houvesse câmbio climático, ao menos a Bíblia só fala mesmo da grande
inundação.
Alguém, algures,
pode pensar que isso é de somenos importância, mas intuo, creio,
que boa parte dos acontecimentos mais transcendentes da história
ocidental, têm a origem e a explicação no fato simples e
misterioso: Adão e Eva cobrem-se seus entre cochas, respectivos.
Penso que o mundo seria bem diferente, se eles houvessem decidido
cobrir a cabeça, o que seria mais lógico, porque a ira divina vem
do alto.
Qualquer explicação
neste momento se reduz a mera interpretação literária, que é para
lá, para a estante da ficção literária , que o Papa Francisco
mandou a obra, depois de dois mil anos de escuridão.
28 de out. de 2014
Tarrafa.
Tarrafa.
Tangentopoli foi o
nome elegido pelos italianos para denominar um país imerso na
corrupção, generalizada, que incluía todas as forças políticas e
todos os âmbitos de uma sociedade caracterizada pela compra e venda
de favores políticos e administrativos – tangente é suborno em
italiano – . Aquela sociedade podre acordou por uma refundação
das forças políticas – desapareceram então a Democracia Cristã,
o Partido Socialista e o Partido Comunista, entre outros - , num
''macroprocesso'' dirigido pelo juiz Antonio di Pietro, sob nome de
Mani Polite (Mãos limpas), e incrivelmente entronizou um dos
empresários que mais se beneficiou com a corrupção: o líder de
Forza Itália, Signore Silvio Berlusconi.
Em Espanha se vive
um momento, também. bastante delicado, neste aspecto, aonde as
detenções de políticos implicados em casos de suborno, comissões,
evasão fiscal é diária. Ontem foram detidos 51 políticos , dos
grandes partidos PP e PSOE, implicados numa rede de compra e venda de
favores.
Em nosso país a
coisa não é diferente. Algo deve ser feito, mas não se trata de
eleger um bode expiatório, e tampouco de crucificar sem provas, e
sim que todas as desconfianças sejam investigadas, talvez uma força
tarefa, que daria o nome de Tarrafa.
26 de out. de 2014
Sem palavra não há expressão do pensamento.
''Até que não
sejam conscientes da sua força não se rebelarão, e até depois de
se rebelarem não serão conscientes. Este é o problema''. A frase
se encontra no Livro proibido que o protagonista de 1984 lê, É
ficção, mas se parece bastante a realidade. Em 1984 os submissos já
amam a sua servidão. Uma das fórmulas mais eficazes é o controle
da linguagem. Nos meios de comunicação muitos sintagmas já
desapareceram, a Folha de São Paulo em seu manual de redação,
proíbe o uso de determinadas palavras e locuções, e os manuais
estão em todos os meios de comunicação. Igualdade de direitos,
consciência de classe, divisão de classes, luta de classes há tempo
foram banidas. Liberdade e ditadura não são usadas por nada. Tudo
tem um motivo, que os indivíduos não os tenham a mão para quando
tiverem um pensamento correspondente. Sem a palavra correspondente
não se pode expressar o que se pensa, já pensou nisso?
23 de out. de 2014
Um Viva à Guerra!
Estamos de parabéns!
Sim todos nós. Que nos metemos nesses dias todos – meses – a
discutir a eleição, chegamos – alguns – a guerrear. Houve casos
de guerrilha, de um lado e outro, um amigo de um amigo, comentou meu
post, de pronto ofendendo, e sumiu na selva virtual nunca mais
apareceu aqui. Um que mudou de nome umas 7 vezes, e bloquei-o todas
as vezes, e ele jurava estar mais tranquilo. Kakakak
Aproveito para
parabenizar a todos os meus contrincantes, rivais, antagonistas,
adversários, tiradores de sarro, ofendedores e ofendidos ( porque a
via é de mão dupla).
Se a coisa
polarizou, é porque há diferenças brutais, beira ao antagonismo,
entre uma proposta e outra. Porque há sim propostas, ainda que
alguns não as veem.
Ontem vi
bacanérrimos nas esquinas militando, achei divino, claro, tomara que
percam! Mas gostei de vê-los defendendo o outro projeto, porque há
projeto, ainda que seja frontalmente contra meus interesses, pessoais
e ideológicos, porque em tudo está a ideologia, até no Mickey
mouse. Viva a democracia.
O vencedor, seja ele
qual for, não terá vida fácil. Tomara! Só assim melhoraremos
nossos políticos e nós mesmo.
Não sei quem disse, mas disse bem: ''um governo fraco é fruto de uma oposição também fraca"
Viva a guerra,
porque a paz só nos deu perdedores.
20 de out. de 2014
Política.
Política.
.
É mais que ter que
gostar. Nada é mais incompreensível que esta frase: “Não discuto
Política”. Qualquer discussão é política, discutir religião é
política, discutir futebol é política, toda discussão política
mesma a que acaba em facada, que além de política é visceral; e é
visceral por falta de argumentação; e falta argumentação porque
falta repertório para expressar o que pensa; e o pensamento exige
informação, sentimento, conhecimento e razão civilizatória (
noutras palavras, já ser um bom selvagem), para que as contendas não
acabem em facadas.
Se o ódio permeia
as redes sociais, só faz eloquente nosso despreparo, político. A
política já foi praticada com músculos, vide ditaduras; pelos
deuses, na Grécia antiga; pela democracia grega; religiosa vide
Moisés e sua constituição outorgada por Deus no Sinai, sem a qual
não cruzaria nem quinta avenida; pela crendice, vide pajés; e por
uma mistura de crendice e religião, vide os primeiros Papas, e
depois os Reis, até o absolutismo decepado.
Das cabeças
decepadas até agora, muita água rolou debaixo dessa ponte, e nunca
águas calmas, pasmaceiras. Não, sempre é renhido, no mínimo,
chegando à truculência muitas vezes. Dos últimos cem anos, este já
é o mais longevo entre nós, em termos democráticos, seja qual for
nossa democracia. Louvemos.
A democracia é o
poder na mão do humano, seja qual for o humano, a democracia é uma
regra entre humanos, mas o poder nem sempre esteve nas mãos humanas
como já disse acima. Tudo em função de acomodar as tensões de
milhões de interesses ímpares.
Há quem pense, que
poderíamos viver sem os políticos. Das utopias esta é a menos
possível, pois implicaria num grau de emancipação humana quase de
paraíso, sem cobras, ou alguém consegue ver uma situação aonde
todas as pessoas que abalroam – inclusive você e sempre – um
outro carro, parar ligar o pisca alerta, pedir desculpas, dizer :
''pago tudo'', porque estou completamente errado”. Só nesta topada
de dois carros , se não existisse o estado e por conseguinte: o
político, ou o pajé, ou o papa, ou o rei coroado, ou adolf, para
que todas as instituições políticas fossem ser criadas naquele
momento, a pena de ocorrer uma morte ou mais. Mas as instituições
estão presentes – ainda que ausentes segundo o ponto de vista –.
Tudo deve melhorar?
Pardelhas! Se devem. Se
discutirmos mais e melhor.
14 de out. de 2014
Jabberwocky. Lewis Carroll.
Tudo
isso é só para dizer, que foi daí que veio a ideia de praticar
etimologias, próprias.
Quando
Alice atravessa o espelho, um dos primeiros objetos que encontra é
um livro escrito num alfabeto incompreensível. Ao menos até o
encarar ao espelho e ai descobre um poema de título 'Jabberwocky'.
Carrol havia consultado o impressor sobre a possibilidade de
reproduzir textos em simetria especular; este disse que não havia
problema, só sairia mais caro. Alice então, descobre que o livro é
legível diante do espelho, quer dizer, mais compreensível, já que
o texto é cheio de palavras que se desconhece o significado. Porque
muitas delas foram inventadas por Carroll.
Fiquei
sabendo disso, pois uma vez de posse do poema, tentei lê-lo, tirante
meu inglês anêmico, encontrei palavras que não tinham significado.
Então fui em busca de informações e encontrei estas.
O
nome do monstro é Jabberwock, e não Jabberwocky, porque Carrol
declinou, como Eneias da Eneida, ou melhor a Eneida de Eneias. Como a
Odisseia de Odisseu. A Jabberwocky de Jabberwocky. Carrol -
formalmente – parodia uma balada épica medieval, mas suas
palavras que soam arcaicas não têm relação com as antigas línguas
anglo-saxônicas.
Pela
etmologia e significado de certas palavras do próprio Carroll, por
exemplo, Tove é um tipo de texugo (badger) com a pele lisa e branca,
com chifres como dos veados e que come basicamente: queijo.
Outro
tipo de invenção que Carrol usa é a junção de palavras como em
The frumious Bandersnatch!
Onde
'frumious' – para Carroll – é a maneira equilibrada de dizer ao
mesmo tempo 'furious' e 'fuming' este ruminando e aquele raivoso o
que dá para mim 'ruimivoso'.
Curiosamente,
alguns destes híbridos engendrados pela imaginação de Carroll,
foram incorporados à língua inglesa. Como o verbo Chortle, que é
'chuckle' risinho e 'snort' que é bufar. Seria o mesmo que botar um
risinho no Dunga, ou Felipão, eles bufam mas com enfado, sem
risinhos. Acho que só a Fernanda Montenegro poderia expressar tal
coisa.
Ou
uma criança, desavisada.
'Jabberwocky'
'Twas
brillig, and the slithy toves
Did
gyre and gimblein the wabe;
All
mimsy were the borogoves,
And
the mome raths outgrabe.
"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"
He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.
And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!
One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.
"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.
'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.
"Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!"
He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.
And as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!
One, two! One, two! and through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.
"And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!"
He chortled in his joy.
'Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.
12 de out. de 2014
O Banquete.
O Banquete ou O
Churrasco.
''agradecimentos especiais à Fafá, Cláudio, Donato, Silvana e Gil Gil."
Quem nunca ouviu
falar do amor platônico? E
ainda mais, quem não teve um? Aquela professora de Geografia! Virgem
mãe santíssima, e a de português, então, de biquíni lá em
Miguelópolis? Tem gente que amou Thatcher
envolvida em papel celofane. Sempre acreditei que o amor platônico
se referia ao amor impossível, eterno desejo jamais satisfeito.
Sonho sonhado desperto de quem aspira e jamais obtém, e sabe que
isso é assim e assim será.
Mas,
no diálogo 'O Banquete' (tem até filme francês), Platão, que se
diga, não é o autor, desenvolve uma teoria do amor que nada mais
tangencia, e se ajusta ao que atribuímos, hoje,
à expressão. Ele fala
de amor desejo, que não tem nada a ver com a carne sexual. Fala de
uma aspiração ao saber que começa pelos corpos, e vai além deles.
Entre nós isso parece, em muitos círculos, sem sentido, mas para
ele, o desejo de saber, a aspiração à verdade e à beleza eram o
verdadeiro e último objetivo da paixão amorosa.
O
Banquete, eram reuniões entre comensais, para comer e beber, muito
comum entre os gregos e entre nós, poderíamos chamar de O
Churrasco. E pelos mesmos motivos pelos quais metemos fogo num monte
de carvão. Depois de comer, e durante, se metiam a conversar, era a
sobremesa, regadas com vinho, nós regamos com cerveja, com certeza.
Hoje,
pude experimentar um pouco disso no mundo virtual. Travamos um
Diálogo, aonde o banquete acontecia a léguas de distância. Foi um
começo. Trocamos fotos dos nossos pratos, sentimos o cheiro, deu
água na boca, etc...
10 de out. de 2014
Cidão na cidade das maravilhas. El Pulgatório
Ficaria
feliz de ser velho
numa
cidade com poucos policiais,
onde
a música boa soasse nos beirais,
onde
a pintura fosse admirada,
as
orquídeas, e os bonsais,
os
ipês amados como as cerejeiras,
no
japão.
Onde
ser criança ou operário,
nada
tivessem que ver com tristeza.
Uns
dentro de casa, outros na janela fumando
conversas,
hospitalidades, como se fossem flores a queimar,
nos
dias, poucos, de muita geada.
Uma
feirinha de velhos objetos de interesses
inúteis,
como restos de um naufrágio
bananas
de todos os tipos,
tudo
muito e para todos.
Por
ela vagaria, sem melancolia, ou melhor
por
amor a melancolia,
onde
uma velharia,
grande
novidade
ainda
outro dia encontrada,
como
um relógio de pulso,
não
fizesse sentido.
Sábios
muitos de muitas maneiras,
com
guarda-sóis coloridos,
ainda
que as casas aninhassem sombras.
8 de out. de 2014
Ão.
Tenho um rabo
travesso.
E o pelo ouro
mosqueado
o parapeito meu
lugar
por parente o
jaguar.
Dizem que sou
anacoreta.
Não é bem isso,
arte minha
é bastante, o
rebuliço.
Frita, sim frita a
sardinha.
Com a pata no
mosquito.
Desenrolo o novelo.
Finjo que não me
vês.
Salto ao teu joelho.
Já me agrada esta
vida,
preguiça, saltos,
preguiça
e queixar-se é de
mau gosto.
Mas as vezes querias
ter um gato sem
manias
que te desse algum
desgosto.
Brisa.
Paciência, paciente
leitor. É paciente, porque sabe olhar para isso e gastar o teu tempo
lendo estas linhas, palavras vãs de um anônimo que o vento nético
leva para olhos anônimos como os teus, que tudo veem, paciente
leitor.
Deixe que te fale de
paciência, de lentidão, de ofícios feitos das gotas que caem,
pouco a pouco, na borra das horas. Deixe que te fale dos últimos
discos, quaisquer dos últimos discos, que deixamos passar
despercebidos, ocupados que estamos com tantos ruídos.
Não pelo que são
em si estes álbuns ou outros, compostos por temas suaves, alma pura,
peças curtas, quase ínfimas, imperceptíveis. Mas sim, pelo que
representam, se é que as miudezas representem, e portanto
engrandecem, conectam a novos ritmos mais amplos e mais altos, neste
mudo doente. A música, qualquer música é uma brisa, leve, sem
parar, pelas ruas da clave, rua acima, rua abaixo para aonde a leve
o tempo meteorológico. A música, qualquer música, essa brisa que
é quase silêncio, sem deixar de murmurar. Não importa se vozes,
guitarras, tamborins, cavacos, agogôs, um surdo afogado, tum, desde
que nos faça, que nos faça não, que nos tente, uma tentação de
acreditar nas amizades, ou mesmo, de voltar a crer na bondade dos
seres... música, lenta, brisa, murmurando, inoculando harmonia,
elegância por dentro da etiqueta, música e dignidade de fazer
passado e
presente, paciência, paciência, como a tua que chegou até aqui,
que combateu cada linha com silêncio, suspendido na tua
sensibilidade, na transparência do teu tempo, diante da turbulência
do tempo lá de fora, que te procura, e te procurará sempre, mas
mantenha-se intacto, com teus amigos, para ser melhor, e nos fará a
todos melhor.
Isso foi escrito
ouvindo Breeze Eric Clapton & Amigos. se clicar em Breeze vai direto ao youtube.
6 de out. de 2014
A Educação, Sexismo, Barbárie, no país que mais vende sofás no mundo!
matheus urenha A Cidade |
Ainda que mal
interpretem o que direi, creio que é bom dizê-lo: “O pior inimigo
de uma mulher não é o homem senão uma outra mulher”. Todavia, é
de justeza recordar, que o referente histórico das desigualdades de
gênero sempre foram os homens, e por isso que surgiu o movimento
feminista, que tinha como a finalidade conseguir a igualdade
política, econômica e jurídica da mulher relativamente ao homem.
Na longa história de desigualdades temos infinidades de exemplos,
alguns por demais dramáticos, e outros que dão a entender até que
ponto a sociedade tinha e tem interiorizada esta desigualdade, tanto
que se pode dizer: se vivia e vive com total naturalidade. É por
isso que práticas atuais voam em céu de brigadeiro, é o caso de
uma empresária que não direi o nome, para não me implicar, pois
não tenho departamento jurídico como ela, eu não posso me
defender, mas eles podem me acusar que focinho de porco é tomada.
Pois esta empresária não é partidária de contratar mulheres com
alguma possibilidade de gravidez, pois é um estorvo, financeiro.
Penso que se venha em algum momento pedir um certificado de
esterilidade, será um passo. Estamos nas antípodas do mundo
civilizado.
Até os anos 70,
havia pouquíssimos professores, elas dominavam esse mercado de
trabalho. Só as mulheres acudiam a ele, por um salário inferior,
que se dizia: o segundo salário da casa, adonde se supõe que era um
‘complemento’ da renda familiar. E por essa e outras, que o
salário na educação é muito inferior a qualquer outra área que
exija nível superior.
É impudico este
país. Sempre aos mesmos, aos membros das castas privilegiadas, dos
que têm bula papal, carta branca, imunidade absoluta para fazer e
desfazer, do pertencimento à grande família dos de sempre, uma
turba que não se move, nem em tempos de ditadura ou em tempos
democráticos. Alguns têm origem na mais pura essência ditatorial,
que se ao menos nos dissesse seu projeto de país, mas não, é um
projeto particular, privado, familiar dentro de um país... nada que
não fosse antes... Pode-se dizer que uma boa televisão, um jornal
impresso etc é muito pouco para um país desse porte, mas não é,
se você for o dono dessa TV, desse jornal... Fala-se demasiado em
mercado, em auto regulação de mercado, mas não temos mercado,
senão que um mercado distribuído em forma de capitanias
hereditárias. Para citar um, a CBF não me deixa mentir...
É por essas e
outras que se vende tanto sofá.
4 de out. de 2014
Churrasco com Borges!
Estava à
churrasqueira quando Jorge Luis Borges tropeçou num saco de carvão.
''Cuidado, Borges” falei, “O pedaço aqui está cheio de coisas
esparramadas'' . “Joana, por favor, tire o isopor de cervejas do
caminho, para nosso amigo poder transitar, sem perigos”. “Claro,
sempre sobra para mim”. “Ah! Meu amor!” Botei os bifes de
picanha com o lado da gordura para as brasas. “Borges, você já
parou para pensar, o quanto está implícito numa frase, como :
Traduzo Guimarães Rosa para o espanhol”?
“Sim! Está implícito que Guimarães Rosa tem seu próprio
português, como tenho meu próprio espanhol. E quando um
professor de espanhol traduz
para espanhol, se trata
do
espanhol
que pertence a todos os hispanos falantes e a nenhum”. “Entendo,
pois o professor de línguas sente a responsabilidade do idioma, não
nas suas modificações, senão pela sua integridade monolítica,
são os piores tradutores”?
“Sim” disse ele todo
entusiasmado e acrescentou “Digamos que há o italiano de
D'Annunzio e o inglês de Auden, como o português de Guimarães, o
espanhol de Cervantes, e as línguas dos professores de línguas”!
“Ao ponto?”
“Sangrienta como la
luna”!
3 de out. de 2014
Nós!
Nós!
Liamos nossa
autobiografia,
tudo se passava numa
sala
num quarto
a sala dá saída
para a rua
ninguém transita
não há barulho
árvores cheias de
folhas
carros estacionados
nada se move.
Continuamos a
passar as páginas
a espera de alguma
coisa,
de misericórdia
talvez
uma mudança,
nada nos une
senão uma linha
obscura,
também nos separa.
Parece um livro
vazio,
o mobiliário já
foi novo,
os tapetes estão
gastos
justo aonde passam
nossas sombras,
a sala é nosso
mundo
líamos juntos,
e do lido
discutíamos sobre o sofá,
liados,
digamos: o ideal é:
Não botar os pés
sobre a mesa de centro!
2 de out. de 2014
Setembro em outubro.
Outubro,
já caminhando por
ele,
vejo espalhados
pedaços de setembro,
arrastados pelo
vento,
vento de agosto.
Na carteira gorda de
papéis,
um bilhete de metro
que já não me levará a lugar algum.
Um telefone anotado,
conversa que acabou
em risadas,
ou promessas,
ali permaneceram
como areia no bolso do calção de banho,
que secou estendido
na areia de Picinguaba,
por um amor de verão
que ninguém mais quer,
a maré cheia encheu
de água as pegadas de dedos levantados.
Esse vento agostiano
arrastrando: não-me-esqueças, para-sempres,
emaranhados com os
ecos de: não-me-lembro,
uma montanha de
conchas de ostras chupadas.
Não chegarei a
tempo,
não adianta ter
pressa,
o barco já partiu,
já é outubro, um
rumor de ondas,
relembram tua voz,
teu rosto que já
não posso recordar.
Tua pele bronzeada
acariciada,
o fosso do castelo
de areia,
inundado,
em que habitávamos,
e lá presos
caducamos.
Here come the planes. They're American planes. Made in America. Smoking or non-smoking? L.A.
Outro dia encontrei
um amigo a que, apesar de conversas pelas redes sociais, não via
havia décadas. Ao lado da alegria do reencontro, a troca de
novidades, o repasso do passado e tudo que vem ao caso nestas
ocasiões, me reconfortou especialmente comprovar que ainda fumava.
Muito dos velhos amigos deixaram de fumar, por uma razão ou outra,
mas de fundo é a melhoria da saúde e sua conservação. Ainda que
todos sejam permissivos, tenho que andar com cuidados, pois me olham
com certa comiseração, se não me chamam a atenção com palavras,
o fazem com o olhar, como se se me vissem a andar pela contramão
pela Anhanguera.
As vezes tento uns
truques, ainda não me propus a deixar o tabaco, como o de não me
deixar vencer facilmente pela tentação, e assim prolongar o desejo
até que se apresente um momento propício. Um momento ou uma
paisagem. Assim, por exemplo, ao final de uma caminhada pelas
estradas de terra, ou lá embaixo na beira do córrego, onde há uma
casa desabitada, sento-me a beira do riachinho, então pegar um
cigarro com todos os cuidados, como cheirar seu fumo, acendê-lo,
protegendo o fogo do isqueiro com a palma da mão, saboreando-o de
cara para o ouro do poente.
Ou então comprazer
meu desejo de fumar desde uma perspectiva exterior, intimamente,
lendo um livro. Ou como prêmio por alguma empreitada, como fazia meu
avô, ao finalizar uma tarefa, desbrotar duzentos tomateiros, de tal
modo que se parece muito a coroamentos, entrega de medalha, cerimonial, de algo proveitoso ou deleitável...Laurie Anderson Superman
1 de out. de 2014
Anúncio de uma morte crônica, desavisada.
Penso na vida de
Santiago Nasar,
do romance que leio,
ele morrerá. Às
facas dos Vicários.
Melhor dizendo, ele
já morreu,
mas continuará
morrendo até o: Fim.
É tão diferente de
mim.
Aqui a lua olha para
baixo, de pouco caso,
através das nuvens
dispersas,
sobre a cidade que
vai dormir.
O vento, arrasta
para lá e para cá as folhas da amoreira,
e alguém – quer
dizer, eu – afundado na minha poltrona,
com preguiça
folheio as folhas que faltam,
não há nada a
fazer,
não há 'se' para
ele,
nem luz vermelha,
nem arco-íris,
nem Bayardo San
Roman.
Nem o bispo,
nem as gaiolas de
galinhas guindadas ao bispo,
nem o barco que se
arrasta pesado pelo rio lento.
Tudo chegará ao seu
fim,
como uma chuva, ou
um cheiro de terra molhada pela chuva,
ou a recordação
disso tudo, ou cagadas de pássaros num sonho.
Nem uma voz nos faz
saber
nem vagamente,
nem sem
desesperança,
e chega o final, que
também passa.
30 de set. de 2014
Sexo.
A lógica é uma
corda com qual acabamos por nos enforcar. Isso é Guimarães Rosa.
Apenas superando a lógica se pode pensar com e em justiça, em amor,
amizade. Posto que sentimentos, como o amor, são sempre ilógicos.
Na direção oposta, cada crime, cada ato de ódio, cada assassinato
– em geral são planejados – são cometidos segundo as leis da
lógica, como os genocídios, senão vejamos, mesmo na literatura
policial impera a lógica dos grandes detetives que os desvendam,
mesmo que o único fio dessa corda seja o ódio. Mesmo Casmurro
pensou: se isso, logo aquilo e defenestrou sua Capitu. O
desencadeamento lógico de Simão Bacamarte o levou a seu auto
aprisionamento.
Mesmo um louco tem
lógica.
O ato sexual, que
poderia tê-lo citado acima, mas preferi isolá-lo, por mera
didática, tem seu aspecto lógico, a procriação. Tirante a
procriação o sexo não faz sentido lógico. É uma invenção
humana, com todos os adereços geniais incorporados ao longo dos
séculos. Fico tentando imaginar quando surgiu o ciúme, que é um
destes penduricalhos que embelezam a alma corporal do sexo. E desta
rarefação da lógica em determinados comportamentos humanos, nem o
direito escapou. Senão o crime por paixão não seria aceito até
recentemente na França. A paixão era um álibi.
Desse modo não há
argumentos lógicos para algo como o sexo e o amor, se não pertencem
ao mesmo campo, seja o campo da racionalidade, da lógica.
Nada mais cruel que
o distanciamento incorruptível, para falar da vida, que em nada tem
sentido lógico, senão que em alguns e meros pedaços bioquímicos.
Aguados, ausentes do
caos sentimental humano, os sumos sacerdotes, sumos pontífices do
distanciamento lógico, saem a toda voz, com seus silogismos, a
deitar por terra religiões e ideologias humanas, puríssimas
invenções humanas, sacras!
Entretanto, sempre
fazem suas análises demolidoras, a enunciar novos mandamentos. São
admiráveis, mas não encantam! E a cobra não sobe.
Eva era Africana e Negra.
Como cada dia temos
episódios de racismo e outros despreparos, vou dizer umas coisas
para ilustrar a tua mente, ampliar teus conhecimentos e por que não,
fazer pensar. Digo que Eva era negra e africana e que os brancos são
negros descoloridos pela perda de melanina, que os séculos e a
necessidade de captar o sol em endereços onde ele aparecia pouco,
durante milhares de anos.
Se você faltou da
aula, te explico: tudo está guardado nas mitocôndrias.
As
mitocôndrias são estruturas diminutas, que ficam dentro das células
para nos ajudar a gerar energia. Os cromossomos são herança do
pai e da mãe, já as mitocôndrias são uma fotocópia do que havia
no óvulo materno e se transmite de mãe para filha. Quer dizer, se
rebobinarmos esta fita da história para retroceder na viagem das
mitocôndrias chegaremos à conclusão que todas as pistas conduzem à
primeira matriz na África, e portanto os primeiros seres humanos
evoluíram a partir da Etiópia, Quênia e Tanzânia.
Lá viveu ha 150.000
anos a mulher da qual descendemos 7 bilhões de pessoas. Graças às
mitocôndrias, sabemos que 70 mil anos depois daquela Eva, os humanos
se espalharam pelo mundo e adaptaram seus fenótipos às
necessidades da nova casa, natureza, variando cor da pele, cabelos,
olhos, narizes, sem entretanto, mudar o sangue, que é o mesmo
daquela senhora africana.
Digo tudo isso,
porque só é possível uma pessoa ser racista se ela faltou nas
aulas de biologia sobre as mitocôndrias e outras de bioquímica.
Como não sei, vai se saber, afinal pode ser que só faltasse esta
ilustração. Assim Lucy é tataravó de Eva.
29 de set. de 2014
Corporeamente, Virtual
Corporeamente,
Virtual
A
raposa – google – me avisou que uso
senha muito simples, melhor trocar.
Muitas críticas são feitas ao
monopólio virtual que desafia nossas leis de pijama de riscas. Já
não sei
quem sou.
Eles
sabem tudo de mim, coisas que já havia me esquecido, cada vez sou
mais virtual, ainda que
mantenha complexa massa corpórea. Participo da virtualidade amavelmente,
assento,
mas começa a
ser obrigatório, não posso tomar certas atitudes,
senão que virtualmente.
Não
há nada a fazer, tentei
criar uma nova personalidade, não consegui, meu IP é meu RG, o
futuro
agravará essa coisa.
Berro pelo apego, e
estranhamente os deixo
dominar-me, controlar-me, influenciar-me. Deve ser
porque não vivo
sem ser gregário, preciso ser reconhecido, tanto na virtualidade
quanto na realidade
corpórea.
Mudei minha senha para 1984#bigB
Estranhamente,
com todas essas intromissões, meu eu virtual, cada vez mais é
anquilosado...
....... mudar...
28 de set. de 2014
Há fumaça, mas nem sinais do fato.
Li, vi
e ouvi o que tinham para dizer, os candidatos, faço constância,
todos. Não me ocorre nada de original, ou essencial, a respeito. Dizer que a
dialética, praticada, está na média do país, creio ser mais excesso de pedantismo, de minha parte, e não vem ao caso.
Elucubrar, mais, se a corrupção faz parte da política, ou se
é em si política, moral e ética social – desde sempre me parecem
indistinguíveis o par ética e moral – não vejo sentido, entretanto. A
corrupção é integral, pessoal, ainda que afete só por instante a
pessoa. A gradação, não tem importância. Falar das diferenças
entre os anjos e os demônios, é tema sem futuro: a Bíblia o faz
com abundância. E nisso o livro sagrado é taxativo, rígido e não
permite intercâmbio de essências, fenômeno fundamental em política. E ainda em
plano bíblico, falar da perda de inocência - é custoso fazê-lo inocentemente - desconheço adultos inocentes. Falar de
tragédia?
Isso é coisa para Nietzsche. Decepção?
Tristeza?
Política é isso:
mais retórica que
fatos, mais fumaça que
fogo. Mas não posso
viver sem!
27 de set. de 2014
como fazer versos
Como fazer versos.
Vou botando uma
palavra atrás da outra,
a linha é frágil,
a palavra é pesada,
a linha arrebenta
a palavra cai para a
outra linha.
Volto a pô-las em
sequência.
Se as palavras
fossem bem escolhidas,
cadenciadas, com
ritmo preciso
com melodia
escreveria poemas.
Então, e tão
somente, então, ia falar de agronomia.
Que a as raízes
afundam na terra
de dia e de noite
sem melancolia.
Que tal Lua, e não
Marte, ajuda a colheita, e
há estrelas
vermelhas boas para a vagem
e o dourado do sol,
os buracos negros,
já não existem mais,
é a grande nova,
o feijão cresceu
até Perseus,
e não nos
aproximamos,
nos afastamos,
porque então vamos
sambar de sapatos pretos,
vestidos apertados e
vermelhos
com cheiro de
guarda-roupa
Ela se atrasou,
porque escolhia,
mas quem chegou na
hora certa, não teve que esperar,
o par que não
precisou escolher
Assim se acaba essa
litania.
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