23 de mai. de 2011

Fábula de Anfion. João Cabral de Melo Neto.



Fábula de Anfion


  1. O deserto.
( Anfion chega ao deserto)

No deserto, entre a
paisagem de seu
vocabulário, Anfion,

ao ar mineral isento
mesmo da alada
vegetação, no deserto

que fogem as nuvens
trazendo no bojo
as gordas estações

Anfion, entre pedras
como frutos esquecidos
que não quiseram

amadurecer, Anfion,
como se preciso círculo
estivesse riscando

na areia, gesto puro
de resíduos, respira
o deserto, Anfion.

* O deserto

(Ali, é um tempo claro
como a fonte
e na fábula.

Ali, nada sobrou da noite
como ervas
entre pedras.

Ali, é uma terra branca
e ávida
como a cal.

Ali, não há como pôr vossa tristeza
como a um livro
na estante).

*
Sua flauta seca

Ao sol do deserto e
no silêncio atingido
como a uma amêndoa,
sua flauta seca:

sem a terra doce
de água e de sono;
sem os grãos do amor
trazidos na brisa,

sua flauta seca:
como alguma pedra
ainda branda, ou lábios
ao vento marinho.
*
O sol do deserto

(O sol do deserto
não intumesce a vida
como a um pão.

O sol do deserto
não choca os velhos
ovos do mistério.

Mesmo os esguios,
discretos trigais
não resistem a

o sol do deserto,
lúcido, que preside
a essa fome vazia)

*
Anfion pensa ter encontrado a esterilidade que procurava.
Sua mudez está assegurada
se a flauta seca:
será de mudo cimento,
não será um búzio

a concha que é o resto
de dia de seu dia:
exato, passará pelo relógio,
como de uma faca o fio
2 O acaso
O encontro com o acaso

No deserto, entre os
esqueletos do antigo
vocabulário, Anfion,

no deserto, cinza
e areia como um
lençol, há dez dias

da última erva
que ainda o tentou
acompanhar, Anfion,

no deserto, mais, no
castiço linho do
meio-dia, Anfion,

agora que lavado
de todo canto,
em silêncio, silêncio

desperto e ativo como
uma lâmina, depara
o acaso, Anfion.


*
o acaso ataca e faz soar a flauta.

Ò acaso, raro
animal, força
de cavalo, cabeça
que ninguém viu;
ó acaso, vespa
oculta nas vagas
dobras da alva
distração; inseto
vencendo o silêncio
como um camelo
sobrevive à sede
ó acaso! O acaso
súbito condensou;
em esfinge, na
cachorra de esfinge
que lhe mordia
a mão escassa;
que lhe roía
o osso antigo
logo florescido
da flauta extinta:
áridas do exercício
puro do nada.

*
Tebas se faz

Diz a mitologia
(arejadas salas, de
nítidos enigmas
povoadas, mariscos
ou simples nozes
cuja noite guardada
à luz e ao ar livre
persiste, sem se dissolver
diz, do aéreo
parto daquele milagre:

Quando a flauta soou
um tempo se desdobrou
do tempo, como uma caixa
de dentro de outra caixa.

  1. Anfion em tebas
Anfion busca em tebas o deserto perdido

Entre tebas, entre
a injusta sintaxe
que fundou, Anfion,

entre Tebas, entre
mãos frutíferas, entre
a copada folhagem

de gestos, no verão
que, único, lhe resta
e cujas rodas

quisera fixar
nas, ainda possíveis,
secas planícies

da alma, Anfion,
ante Tebas, como
a um tecido que

buscasse adivinhar
pelo avesso, procura
o deserto, Anfion.
*






Lamento diante de sua obra.

“Esta cidade, Tebas,
não a quisera assim
de tijolos plantada,

que a terra e a flora
procuram reaver
a sua origem menor:

com já distinguir
onde começa a hera, a argila,
ou a terra acaba?

Desejei longamente
liso muro, e branco,
puro sol em si

como qualquer laranja;
leve laje sonhei
largada no espaço.

Onde a cidade
volante, a nuvem
civil sonhada?
*
Anfion e a flauta.

Uma flauta: como
dominá-la, cavalo
solto, que é louco?

Como antecipar
a árvore de som
de tal semente?

Daquele grão de vento
recebido no açude
a flauta cana ainda?

Uma flauta: como prever
suas modulações,
cavalo solto e louco?

Como traçar suas ondas
antecipadamente, como faz,
no tempo, o mar?

A flauta, eu a joguei
aos peixes surdo-
mudos do mar.

Poema de João Cabral de Melo Neto. A Fábula de Anfion, publicado junto com Psicologia da Composição e a Fábula de Antiode, em “ O Livro Inconsútil”, Barcelona, 1947.

Anfion, de acordo com a mitologia grega, era filho de Júpiter e Antíopa. Dotado de talento para a música, Anfion recebeu uma lira de Apolo. Ao som dessa lira, construiu a muralha de Tebas; as pedras iam-se colocando umas sobre as outras, sem qualquer esforço. João Cabral substituiu a lira por uma flauta rústica e interpretou o mito com liberdade de criação, associando os motivos temáticos “pedra”|”palavra”.

A Fábula de Anfion é um poema narrativo onde o herói procura despojar a poesia de sua afetividade. O poeta persegue a objetividade da palavra escrita. “... ar mineral isento mesmo da alada vegetação” “... entre pedras... frutos esquecidos... gesto puro de resíduos, respira o deserto...”



e não “estados de alma”. “ Ali, não há como pôr vossa tristeza como a um livro na estante”. O sol do deserto não faz crescer o pão, nem faz a vida vaidosa. O sol do deserto não gera mistérios onde não os há. O sol do deserto vê, compreende, ilumina, por fim preside ele próprio a fome. O sol do deserto é o poema pedra, diz aos românticos.

Anfion se depara com esqueletos no deserto, são esqueletos do velho vocabulário, esqueletos de um vocabulário que tentou seguir Anfion pelo deserto, mas Anfion sabe que é inútil fugir, mesmo ativo como uma lâmina, ele se depara com o acaso. O acaso é o instinto, a vida biológica inescapável, ineludível é a velha sintaxe do mundo, posta no poema como o acaso.


Ó acaso, raro...”
O acaso frustrou o projeto de Anfion ( depuração, mineralização dos objetos), por aparecer inexplicavelmente com toda vitalidade biológica.
O acaso é uma força instintiva. Anárquica. O acaso instintivo e anárquico rompe com a aridez da vida ascética ( deserto) perseguida pelo poeta.

A flauta, eu a joguei aos peixes surdo-mudos do mar”

A flauta como casualidade, fluidez descontrolada, é recusada pelo poeta, pois continuará a persecução ao rigor criativo. Só o poeta disciplina as palavras, palavras-coisas, palavra-pedra. Rigor e formalidade.
A busca pelo poema|parede|muro de inexpugnável aridez é frustrada. A flora|sentimento acaba por ocupar o muro|poema|cidade e nele já não se pode divisar onde começa a hera e termina mineralização objetivada.
O Herói lamenta-se diante da obra, recusa o sentimento|flauta, pois este sentimento colhido ainda em semente|cana|bambu enlouquece e se transforma numa poderosa árvore sonora, e por não poder dominá-la atira-a ao mar para os que não falam e não ouvem.

Há uma busca por libertar-se da sintaxe do mundo. Da injustiça mesma, da ordem das coisas, da vida. Sintaxe injusta “Entre Tebas, entre a injusta sintaxe que fundou...”, mas o poeta é lúcido e percebe a impossibilidade de construir com uma sintaxe outra, isenta e depurada e mineralizada. Afinal construímos partindo do “vocábulo esqueleto” que rebrota como a hera e toma a obra.  

22 de mai. de 2011

Educação pela Pedra. João Cabral de Melo Neto.

Educação pela Pedra extraída da coletânea de 48 poemas de mesmo nome do ano de 1966. Pela Editora do Autor, Rio de Janeiro; É da mesma coletânea: Tecendo a Manhã. O poema “Educação pela Pedra” é o núcleo temático da coletânea.
A abordagem da realidade exige um continuo processo de educação. Os poemas para João Cabral devem ser trabalhados de forma rigorosa e sistemática; visando um poema com resistência e consistência de pedra.
Não há metáforas.
Há busca por simetria entre linguagem (estrutura) e realidade.

A realidade dura do Sertão x a dureza da pedra.
O poeta Sertão x poema pedra.
O Sertão sertão x Pedra pedra.
O Sertanejo x Pedra.


Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
'
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática)
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

No primeiro e segundo verso a aliteração de “p” remete a talhar a pedra, lapidar. Ao mesmo tempo que é empedrar, endurecer obter da palavra-objeto palavra-coisa resistência de pedra, não sentimental. Tal palavra poesia maleável feito a carne dos homens, porem dura concreta como pedra. No Sertão o ser\poema não “fala barato” não fala pelos cotovelos, o ser\poema é carne-pedra-compacto, econômico, deve ser uma pedrada educadora e muda, que ao lê-la (soletrar) o leitor sinta esta força deste golpe\poema, eduque, como um poema\pedra se educa. João Cabral quer o poema pedra, o poema objeto, aprendido (aprender é imitar a pedra) da pedra; assim acentua a existência do objeto e o talha e sendo pedra lasca-a para intervir na realidade. Esse é o processo dialético da natureza. Onde o homem\poema se faz ao fazer da pedra\poema, lança.
João Cabral não deseja ser nem espontâneo nem acadêmico mas sim intelecto\autoconsciência adquirida nesse processo dialético, vigilante e lucido, entre palavra-coisa e o seu trabalho de transformação em poema\coisa. Não se trata de poética do simples fluir, mas no que flui é poética maleável. Tudo isso de fora para dentro, da pedra para o poema\homem\lição, pela observação e intervenção, pois para aprender pela pedra há de intervi-la, trabalhá-la, lascá-la, poli-la e isto refletirá em conhecimento.

A segunda parte é árida: a pedra é pedra, nada ensina, mas ocupa e entranha, transformando homem em pedra. Ou seja a primeira parte é metalinguagem de como fazer um poema. E a segunda estrofe é o poema.

Matagato.

Um bom exercício para compreender o outro, é sê-lo. Não é difícil. É expertise nacional. A Novela. Exemplo: matador de gatos. Quem mata gatos, os odeia. Eu não odeio gatos. Mas sempre odeio alguma coisa, exemplo: a música “alta” do vizinho. O sentimento é o mesmo. Começa por ser uma rabugice.”Poxa véio! Quero ler” Atormenta.”Cera no ouvido”. Cresce a irritação. “190”. Inútil. Chega um momento que quero explodir seu saveiro.
 O mesmo se dá àquele que odeia gatos. Há em demasia, gatos e cães, por óbvio, gatas e cadelas. Se nós humanos proliferamos à beira do descontrole, multiplique-se quanto aos bichos domésticos. As ninhadas são lindinhas. Mas sobra bicho. Se abandonamos bebês... que diremos de bichanos! Por suposto, quem odeia bichos domésticos não os tem, e não tê-los é não sabê-los e suprasumo: é não abandoná-los. Quem os abandona, paradoxalmente, os ama. O estado – município - ou o odiador deve cuidar do fruto desse “amor”, ou do seu abandono. Para arregrar a coisa proponho uma Des(ONG)ato, já que a Nã(ONG)cão se auto nega e afirma o estado.
 Outra? Assim como, quem vende em embalagens descartáveis deveria cuidar dos envases, o mesmo para quem vende animais de “estimação”: cuidar dos descartes. Outra expertise? O cinismo.

21 de mai. de 2011

Queneau: execício sobre plágio.

Foi na vigília, num  pesadelo, que te revelaste, como alma penada, abrindo a porta, intrusa e oferecida, não te esperava. Não tenho tanto caráter, mas não dissimulo para ti minhas piores caras e resmungos, que por vezes beiram a ofensa. Mas você é repetitiva e se impõe,  sei que me repito, em brutalidade, em ranhetice quase infantil, mas mais que sempre, não te esperava, desesperadamente não te quero. E agora quanto mais te evito mais te enroscas em mim, me envolves  apesar do hálito ganhado à noite e na sua véspera precedida de tarde alcoólica em empapuçado churrasco, meu deus! mesmo dos gases, me desculpas! E vens, sensual, loira e radiante como quer Hitchicok, vestida com este véu qual névoa transparente que vai se abrindo e mostrando teu sol, radiante. Quanto mais me indisponho, mais brilhas, nem reclamas do gosto  de café com leite e pão com manteiga ou do cigarro de minha boca. Me queres mesmo sem a chuveirada restauradora, ainda que um trapo, um farrapo e me envolves com tua volúpia e me entregarás ainda pior à terça.   

exercício de estilo, idealizados por Queneau sobre um texto de Julio Cortázar.  

20 de mai. de 2011

A utopia de Charles Bukowiski: a volta ao útero. Ou, a paz, a volta à natureza

Dois homens numa encruzilhada olhavam o mesmo escudo, para um, sua face era de prata, o outro a via dourada. Um daroês lhes mostra que ambos estão certos e errados. Concomitantemente. Essas duas caras, quando poucas, de uma verdade é o que fascina e aniquila. Fascina sempre que o dervis não tem exército, pois em tê-lo este acaba por obrigar-nos a uma delas.
Existem alguns métodos de interpretação da narrativa humana, qual seja, a vida. O que mais me encanta é materialismo histórico e dialético, onde a dialética pressupõe, na verdade, confronta contradições materiais. Evolui pelo atrito. O homem coisa, a coisa e a coisa feita|transformada pelo homem no tempo e o homem que se transforma ao transformar a coisa; isso é história. Não há quem narre a história senão o homem (e há bastantes dúvidas da existência do objeto, quando ao objeto não cabe papel de sujeito da ação – a pedra rolou ou a gravidade rolou a pedra!), foi necessário que a pedra e o caminho fossem anunciados pelo poeta: tinha! Pois bem esta hermenêutica, este instrumento interpretador anuncia que este homem se faz no contato com a coisa e sua natureza, se faz ao transformar a coisa. Se transforma dependente que é do modo de produzir a mudança na coisa, esta opera nele alterações que a ele se incorpora. Que seja: o modo de produzir e o ato produzem o homem, a coisa e a história. A história se dá quando da inclusão da variante tempo na produção e reprodução do homem, a natureza – geografia, clima, fauna e flora etc - a coisa e a natureza da coisa – objeto não sensível, produto da atividade e sensibilidade humana - e do homem, objeto, sujeito e predicado.
É muito simples, se não existe propriedade não existe ladrão. Assim só a propriedade é capaz de justificar o roubo e o assassinato, posto que as armas foram inventadas para proteger a propriedade. Imagino a dificuldade que seria matar – desarmado - a um semelhante, se facilmente se exaurem nossas forças, já que roubar a vida de outrem é impossível, podemos matar o outro, mas de sua vida nada podemos reter. Assim mata-se por não haver recebido o equivalente a uma pedra de crack. É certo que dir-se-ia: se não houvesse a arma o homicídio seria dificultado, posto que implicaria num encontro corporal, numa briga onde se medem as forças até a morte de um dos oponentes. Não vi nenhum filme que tenha conseguido mostrar o horror, a tragédia que isso encerra. Digo das pelejas de minha adolescência, que não traziam implícitas o fim último. Com a arma de fogo se facilitou, por higiênica, o homicídio. Não há esse contato violento de pele, de suor, de cheiro e de pavor que se estampa no gesto do outro. Poder-se-ia dizer: banalizou-se o homicídio. É notório que não. Banalizou-se a produção e o comércio de armas, sim, ao mesmo tempo que o homem é banalizado. Não é a vida que está banal. Pois a vida é o homem, vivo ou morto. Banal o homem, banal a vida, banal a morte.
A minha pergunta é: onde começa a vulgarização do homem. A minha resposta é: no modo de produção. Não deve-se esquecer que o modo de produção acarreta em produzir|consumir onde há um consumo de produção que é anterior ao produto, o consumo do produto que implica em nova produção, que remete ao consumo das forças vitais do homem e de sua natureza e da relação do homem com a natureza. Deve-se dizer que o homem já foi natureza. Foi natureza quando estendia a mão e colhia o fruto, neste momento a natureza – flora (planta) e fauna (homem) – não terminava na banana, continuava através do homem. Não há como separar da natureza, como ato da natureza, uma traíra comendo um bagre. O rio, o bagre e a traíra “é” natureza independente do que façam. Mas um homem comendo uma banana, nada tem a ver de natural. É uma relação estética, no seu lado mais pedante que é parecer natural. Uma banana é no mínimo o envelhecimento precoce de um homem outro que a produz dentro duma relação de apropriação das forças vitais da bananeira e do homem. A banana vulgarizada faz o homem vulgar, esse homem vulgarizado não adquire nem o valor daquilo que produz. Citado por Marx, Ricardo diz: reduzi o valor da cesta básica e assim se reduzirá o valor do homem. Marx acrescenta que o cinismo não está em Ricardo, mas na "coisa" em si, no modo de produção.
A terra gira e até as utopias, inclusive, pia fraude. Mas a utopia é a geografia prometida, que foge de nós os mesmos passos que damos na sua direção. 
O retorno a natureza é a utopia. Poder-se-ia dizer: é um modismo. Não é. É uma súplica desesperada. Começar de novo, de uma maneira diferente. Coisa que o capitalismo, que é o modo de produção, o sistema engendrador de tudo que é bom e ruim, bem e mal, parece não oferecer saída. É a busca máxima de Charles Bukowiski poeta imprestável, proletário e bêbado: o útero.          

15 M: Vai vendo! vá vendo!

Em Espanha e pelo resto de Europa os cidadãos em praça pública reclamam protagonismo, é o 15 M. No centro da questão está que o sistema político caiu de joelhos diante do sistema financeiro, este no genuflexório almofadado de catedrais góticas travestidos de Bancos Centrais a “humilhar-se” para que se esfole mais a todo um povo. O governo, qual seja, tem medo da simples possibilidade de que algo se lhe escape o controle. Podemos julgar a qualidade e orientação deste controle, desde já o controle implica não em imposição, mas que não exista a necessidade de impor-se pela força, em suma que aceitemos as condições, a citar: desemprego, baixos salários, altas exigências, falta de perspectiva para jovens de inserção no mercado de trabalho, alta de juros etc. Para que se não lhe escape ao controle termina por assumir, diga-se, os prejuízos causados pelo descontrole do sistema financeiro. É notório que os governos não têm esse controle, sequer o completo entendimento do funcionamento dele. O analista econômico têm feito; e pessimamente; contabilidade. Trabalha no microcosmo e quando parte para o macro, faz o que em estatística se chama extrapolar; um terço ciência, já que nem a estatística em si o é, dois terços avemarias e padrenossos, enfim, pejorativamente, extrapola exorbitantemente. Nem mesmo o famoso economês lhe serve mais de escudo como dantes a seu obscurantismo pedante, sua calça rasgou, e o fundo esta todo mundo vendo. O pobre analista encosta o nariz na vitrine e vê o reflexo dos próprios olhos incrédulos. Mas sempre dirá qualquer coisa canônica: o governo “vai subir os juros” e blá, blá inflação blá, blá e eu ligo o rádio e blablá... pois o seguro morreu de velho.   

19 de mai. de 2011

Preguiça, requer que se expulse! Ilhe.

Quer motivo mais fútil que ser expulso de algum sitio, por uma maçã! E saber que a cobra de cabo a rabo – filologia barata: cabo do latim caput = cabeça – pois essa cobra, todinha, foi escolhida por deus para permanecer. A senhora fique, disse. Coisas de deus, que ressuscitou Lázaro e não sabemos seu paradeiro. Caim, outro estrangeiro, se mandou com sua mulher sem nome para o leste do paraíso, fundou uma nação – Enoque - vitima do primeiro tsunami, o dilúvio. Noé preteriu-os ao casal de... hipopótamos, que sei eu! A crônica, melhor digo, a cronicidade das expulsões depois de qualquer diatribe está entranhada. Nos fez a todos estrangeiros e é a primeira pena noticiada. Talmente, segundo o delito, além de deus, o Rei Roberto não oblitera, quer sumariedade. É patético , pois, depois ficam por ai tecendo cachecóis no pier até o regresso do herói que não bota cera nos ouvidos, ao primeiro canto de sereia.  

17 de mai. de 2011

palocci

Palocci ficou rico. Não era pobre, Palocci, fez medicina. Não parece óbvio que foi o uso do placebo que o fez ter saúde financeira, invejável. Invejo-o. Mas deus não gosta de ricos ou invejosos. Deus dizia, dizem que dizia: Não cobiçai blá, blá, blá... e é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha... - fazendo filologia barata: veio dai o verbo camelar - . Busílis; tampouco deus sabe como Palocci endinheirou-se. Trapalhadas. Deus também se atrapalha, imagine, criou o dia antes de criar o sol. Mas Palocci é discípulo de Lao: Sabe e não quer dizer. Ouçamos Lao Tsé: quem fala não sabe, quem sabe não fala. Fácil. Palocci! Não fala. Lao pode que  odiasse ensinar, ou tange a isso se range a rede. Mesmo, mesmo, Lao Tsé soia ser enigmático, pois falando não sabia, e mesmo assim o tomamos como sábio. Palocci não é enigma, que nos devore. O jovem Palocci já tinha poder, poder de liderar, conseguia com que o quinto e sexto ano de medicina fizessem greve! É muito! Mas, “O poder tende a corromper. O poder absoluto corrompe”. Ouçamos outros deuses – Maquiavel e Hobbes – : o homem é mau por natureza, há que domesticá-lo. Não se espante, por que alguns traços permanecem; se somos ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante o perigo e ávidos de lucros. O bastante neste particular quesito, é que temos grandes mestres, “ganhando” muito, e pasmem: esta ótima escola: é publica!  

15 de mai. de 2011

Agora quem dá bola é o alvo e negro.

         Chamam branco mas é o preto que buscam. Miram no centro onde está o  negro do alvo. Já o alvinegro praiano é o novo campeão. Faz por onde. O time é leve, é assim que dá bola o alvinegro praiano, os jogadores correm leves, quase não tocam o chão, como se a lei da gravidade lhes foi dividida por dois, mudam de direção com um soslaio, correm esguios, abrem os braços para frear, piscam os olhos para fintar, braços! os colam ao corpo para aumentar aerodinâmica, como Pelé corria, chegam na bola perpendiculares, sobrando humanos, como Pelé chegava, de peito estufado, como Pelé estufava, chutam sem esforço, como Pelé chutava, chutar era só mais um atrevimento do seu pas de basque, pois sobrava, jogam sem amor ou ódio, só com o orgulho de saber jogar, fácil, eficiente, eficaz; eficácia também poderia ser outro apelido do alvinegro praiano, de Pelé, mas não é plástico, fácil, leve, simétrico e curto como; onde a segunda silaba se diz por dizer, para relaxar o esforço do “p” como Pelé, peixe, ou “b” buli, boli, bola pé bola olé. O alvinegro praiano não tem coisa especial dessas conservadoras e espartanas, como garra, pegada, sangue suor e lágrima, não tem! tem bola, não é exército! Para que estratégia, tática e arte da guerra, ninguém gosta de guerra, só os que odeiam a arte amam a guerra e dormem com seu catecismo ridículo. Alvo seu negro centro.  

STF: Onze Capitus.

                   Outro dia a câmara municipal de Rib. Preto ganhou mais uma Adin. É a enésima, que só vem confirmar sua inaptidão. Na mesma semana o STF concede aos pares homoafetivos certa equivalência aos pares héteros. Como se diz ali na pracinha:" tava caindo de maduro", é costume e se tanto deve ser lei.
                O fato intrigante é o STF ocupar o vazio que deixa o legislativo federal. Parece que estas câmaras foram atingidas por algo, que as deixou catatônicas; empacaram como o Sete Copas, e não há o quê faça o muar mover-se.

14 de mai. de 2011

A criação do perverso.


 O acaso favorável quando ocorre em sequencia finita acaba por desgraçar-nos a vida. A sorte de. modo geral, é a grande engendradora de monstros. Essa sorte que recai sobre o indivíduo com reiteração finita, acaba por voltar-se, contra todos, sempre, na hora do azar e para o mesmo às vezes. Se todavia o azar lhe for fulminante, acabamos por nos salvar de suas ações, caso contrário, seremos vítima do monstro. Um sujeito com tom voz – sorte - que cai ao gosto do auditório. Note-se que ser ouvinte é a priori é um desastre, e ao emprestar sua atenção à voz, dá ao dono dela poderes insondáveis.
Antes do golpe de sorte o indivíduo empenha-se, profundamente na sua industria, para ser digno de nota. Uma vez conquistada a primeira fortuna, este passa agir como senhor dos direitos de glória adquiridos e ouvintes atentos podem perceber pequenos rasgos de perversidade do ególatra recém-empossado. Os pequenos desvios são notados logo que o improviso substitui a intuitividade conscienciosamente estudada, trabalhada, industrializada e à sorte buscada que o tornou protagonista. A partir deste momento toda a empresa é defender o golpe inicial como propriedade natural, já que no geral a intuição é falta, é sempre falta sem o conhecimento devidamente aprofundado. Intuição como talento requerem uma certa ingenuidade. Por vezes o assenhoramento da situação é tão gritante, que o desleixo se transforma em perversidade. Este descurar-se é também em parte fruto de passividades alheias, que corroboram à ideia “de genuíno” do perverso.   

13 de mai. de 2011

ÆticaѼÆstética


A estética se afasta da ética! O homem disse. Eu discordo como sempre. A Ética&Estética do nosso tempo é a do homem&circunstâncias&produção-de-vida&toda-atividade-humano-sensível do mundo em que vivemos.

 Sumário: a relação de trabalho cínica faz homens cínicos.

Das pedras que não rolam no leito do rio não tenho seixos! Poesia. 

 Há pedras pontiagudas em meio a cachoeiras e cascatas, lembra quando escorreguei lá no ribeirão Preto, perto do Brejinho, deus do céu! Que dor! narrativa em prosa. 

 Creio que isso já delimita bastante a coisa, as pedras paradas e o rio corrente, as pedras arrastadas, roladas pela corrente do rio, quero ver nisso razões estéticas e éticas, rolam e isso é possível, não é feio – é ético – são redondas – nem bonitas ou feias – estética formas arredondadas - , enquanto outras ficam paradas, o que é permitido, não é feio estarem paradas – é ético - apesar do aquoso lustre mantêm arestas insofismáveis – estética agressiva, pontiaguda – acho que o humano está em movimento no tempo (note como tempo é espaço em movimento, viajar no tempo é ir junto com o tempo, é ter a mesma velocidade do tempo, a mesma geografia do tempo, é ter o tempo como parceiro) ou está parado no tempo ( é estar na estação entre o passado e o futuro, mas não é o presente, o presente não anda a destempo, assim a estação é à margem do tempo, a espera de uma volta do tempo, não um corte, mas um dobrar-se sobre si) e é desse seu movimento – relação homem\natureza onde a natureza é o local de trabalho, habitats, o sofá, enfim neste mundo ( natureza&mundo inventada, imitada, construída, organizada) e homem&trabalho&produção versus homem&capital&produção, homem&consumo & homem&desejo e desejo é necessidade&vontade&ignorar&não ter versus homem&mercantil. Separo produção de consumo por puro vício, pois uma coisa é a outra, se não há consumo sem produção, nem produção sem consumo. Há uma capacidade tão grande, que ociosa, capaz de transformar todos e tudo em algo plasticamente anódino (estética de massa&ética de massa para produção&consumo massivo, transporto a dúvida íntegra: esse cheiro não é de merda mas, Pardelhas! Parece-se. Faz haver um nivelamento massivo (escassez do bom, tudo é escasso, não há para todos!) e se, sempre por abaixo do mínimo e muito inferior ao possível, e a estas categorias estéticas não as discute, quer é que ande na lama sem que se suje os pés. 

LE MANINE VAGANO!

Le manine scoincidono nel nostro paese con la primavera. Sono delle manine di cui che girano, vagano qua e vagano anche là. Sorvolano il cimitero di cui tutti riposano in pace. Sorvolano il lungomare come i tedeschi... datesi che il freddo non lo sentono loro. Ai... Al... Vagano, vagano. Girolanz... Gironzano... Gironzalon... Vagano, vagano, vagano! clique no azul para ver Aristide Caporale
le manine vagano girozalanz.... vagano vagano Giudizio ( Aristide Caporale) em Amarcord anuncia a primavera seguida de um carrilhão e Nino Rota. Quanta inveja sentia deste ritual de passagem, falto a casa nossa. Nada anuncia o inverno, a primavera.. tampouco temos manines ou flores de amendoeira, mas tudo muda, e de um momento para o outro, descubro: Tudo é ponto de vista. O mundo, a cultura e essa ideia imposta pela Europa. Le manine, a neve, as folhas outonais... ouro sobre azul,  basta desse mito da caverna, este imperialismo cultural! Já podemos anunciar o inverno: Caem as primeiras Fuligens, da palha queimada da cana-de-açúcar, e o fez com fartura; forrou ruas, quintais e telhados de preto. Vamos fazer bonecos de fuligem, convocar nossos poetas e cineastas; só sei plagiar: A fuligem vagueia, gira e gira , vagueia voa voa, roda e roda como urubus!

10 de mai. de 2011

filme argentino.

Rapaz tímido. Designer competente. Apaixonado pela filha do patrão. Ela estuda desenho nos EUA, onde ficou noiva de megaempresário do ramo. Ela elabora um projeto, aplaudido pelo futuro marido. Ela conhece a competência do rapaz tímido. Propõe ao noivo criar uma equipe de trabalho para desenvolver o projeto. O noivo antenado na modernidade incentiva sua industria. O rapaz tímido tem que ir ao aeroporto buenairense de Ezeiza a recebê-la. O rapaz entra em pânico em função da paixão que sente por ela, somada a sua timidez. Não vai só, vai com um amigo do peito, que sabe da paixão e compreende seus cagaços. Em Ezeiza há uma multitudinária manifestação gay .
Câmaras de TV e repórteres por toda parte. Ele ensaia o que dirá à moça para impressioná-la. Aparece de repente um repórter que lhe questiona sobre o movimento. Ele pensa na moça, e diz: o tempo é agora, nem ontem ou amanhã, agora, e , é agora que ele quer viver seu amor ou desamor. O dito é visto e ouvido por todo o Ezeiza. A multidão boquiaberta, a moça boquiaberta, o noivo da moça, enfim. O rapaz tímido aparece em canal nacional fazendo sua declaração de princípios. A comunidade o transforma em líder. Já na festa aonde seria homenageado e empossado: presidente, sem que ele soubesse, que só aproveitava da estadia no bar para discutir com o patrão, sua filha, o noivo de sua filha, e mãe da moça, os planos dele dentro da nova empreitada. Não ouve como  pusilânime, um ataque do patrão ao comportamento homossexual. Seguido de perto por verdadeiros fãs, defende o gênero brilhantemente. Agradando a moça, o noivo, a mãe e toda a gente presente. Aplaudido de pé ao sair, passando por um  corredor polonês, alguns tocavam-no como se de uma divindade se tratasse. O rapaz tímido, agora é visto pela moça como um brilhante designer e um líder natural e competente e manifesto da causa. Aprova-o e incentiva-o. Ele se da conta que: atuando como gay, seus pensamentos saem límpidos e brilhantes, e contraproducentes como um macho tímido. A coisa lhe agrada enquanto interpretação,  teatralidade ademais da facilidade que lhe brota para criar e expor pensamentos incisivos e assertivas inabaláveis.  mas continua apaixonado pela moça. Ela tem casamento marcado. Ele tentará tudo e mais um pouco para mostrar-lhe primeiro o mal-entendido e depois que a ama.
É um filme argentino que não lembro o nome.  

9 de mai. de 2011

Arcanjos.

Obama chegou à Casa Branca montado em extraordinários discursos, e estes cavalgavam nos valores da tradição norte-americana. Interesse de Estado. Dizia que o legado dos “antigos” não era bolinha de sabão; e é, justamente, desta aparente fumaça que se fez concreto o sonho, a verdade e o progresso dos EUA. Interesse de Estado. Bush inventou o USA Patriot Act e Obama vai mais fundo e “chega onde os EUA querem que ele chegue”. Interesse de estado. Diante disso não podemos cair na bonomia e arcangelismo de criticar Obama, ou o outro. Se chegamos à tortura, é que os fins justificam os meios, e a tortura tem dado resultado, como qualquer outros meios e outros fins. Assim vamos: um erro atrás do outro , cochilo depois de cochilo. Despertamos só para ver a prevaricação em público, um peculato ao vivo, o casamento real. Vivemos numa sociedade que dormita enquanto assiste passiva a todos os descalabros que entretecem a nossa vida global, e se ladramos é por necessidade retórica.    

5 de mai. de 2011

Os homossexuais vencem aos porteiros da Lei.

Italo Calvino diz: “Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas
culturas que atravessaram”. Ou seja Dickens está em mim e sequer o tive às mãos. Lembro-me da enormidade que era ter a mão Vor dem Gesetz:

Vor dem Gesetz steht ein Türhüter. Zu diesem Türhüter kommt ein Mann vom Lande und bittet um Eintritt in das Gesetz. Aber der Türhüter sagt, daß er ihm jetzt den Eintritt nicht gewähren könne. Der Mann überlegt und fragt dann, ob er also später werde eintreten dürfen.
«Es ist möglich», sagt der Türhüter, «jetzt aber nicht.»
«Wenn es dich so lockt versuche es doch, trotz meines Verbotes hineinzugehn. Merke aber: Ich bin mächtig. Und ich bin nur der unterste Türhüter. Von Saal zu Saal stehn aber Türhüter, einer mächtiger als der andere. Schon den Anblick des dritten kam nicht einmal ich mehr ertragen.»
A palavra kafkiano ocupava em mim a prateleira das, aterradoras. Meu alemão de rua, de baustellen, de turco de quase nada servia, senão que a confirmar ignorâncias. Como foi difícil aceitar, acatar que antes da Lei está o porteiro. Que um homem da terra, do interior, pede que seja admitido às leis. O porteiro diz que agora não concede entradas. O Homem rumia e pergunta se poderia entrar mais tarde.
“ é possível” diz o porteiro, “ mas agora não”
Acaso insista, apesar de meu veto à sua entrada, ouça com atenção: Sou poderoso. E apenas o menos poderoso. À cada sala haverá um porteiro mais poderoso que o outro, tanto que do terceiro sequer suporto avistá-lo.
Eu também fiquei como o Homem da terra interior parado no primeiro porteiro. Posto que sabia sem ler Vom dem Gesetz, que havia de acatar que o mundo era kafkiano, principalmente para aquele que não ignora o porteiro e para este que está ali justamente para o que, antes de mais nada, o respeita, quando há de torná-lo invisível.
Mas há em Wenn es dich so lockt ( se você permanece tentando), versuche es doch( mas ainda experimente, procura, tenta), trotz meines (apesar de minha) Verbotes ( veto, proibição) hineinzugehen. (entrar, vir para dentro) é a linguagem mínima e essencial de um guarda-porta e o caipira.





3 de mai. de 2011

Osama. Obama. Oh! lama!

Não existo como Eu. Pois este teclado e esta tela e todas as outras estão sempre a exigir o meu olhar, o meu palpite, meu sim e meu não. Palpito sobre coisas, aparentemente, alheias a mim. Osama. Que coisa é Osama Bin Laden? Poderia ser um velho barbudo dando milho aos pombos na praça de San Marco ? E o pombo a trazer a morte e a mensagem dela a destempo! Que coisa é o aparelho de guerra norte-americano? Um menino que ganhou um guarda-chuva, mas nunca chove! Na verdade; não me comovem ou me interessam! Ainda que por suas criações de fatalidades venha a ser vitimado. São grandiloquências infinitas e e por isso não cabem, compreendidas, no meu saco de despistes. Não concebo, nem por que minha namorada me deixou, ela que odiava sushi, agora não come outra coisa.
Como narrativa, é uma morte que, por fora de hora, estropia o romance. Como se depois de baixar o pano há um desenlace, e em lugar de catarse gere o sarcasmo,  primo da descrença,  uma esperança masculina travestida em saia e meias três-quartos, escocesas,   a depilar-se os sovacos nalgum cabeleireiro de shopping center.    

Barça! Barça!

Dos que moram em Barcelona, nem todos são culés - culé vem de cola e cola é rabo e culo é cu. Assim culés: os últimos, não são todos os que vivem em Barcelona, mas paradoxalmente, todos vivem o Barça, contras e favoráveis. Os contras em geral são merengues, doce de clara de ovos que enfeita os bolos, em geral brancos, como o Madrid. Mas o catalão é por força; culé, do contrário alega questões políticas, quer dizer e não diz, mas dizem que o Barça está ligado ao separatismo, e quem não é separatista, não é culé. Ser catalão e não ser culé exige folego e retórica; um verdadeiro labirinto só para  dizer que não é culé  e é e que não é merengue e é, ou de esconder que é perico, e perico é periquito e é o que se diz do torcedor do Espanyol, em geral anti-separatistas, eram os proprietários do Sarriá, palco da derrota do Brasil de Tele Santana, Sócrates, Zico, Eder, Junior etc para a Itália de Rossi – Rossi que foi o bastante -, o Barça de hoje é um arremedo daquele Brasil 82, apesar de apresentar em alguns pontos mais qualidade. Basicamente a aplicação tática. E o fulminante ataque à primeira e segunda bola, quando o oponente mantem a posse de pola para a terceira, esta chegará sempre como um tijolo, oblonga e quicando irresponsavelmente já no meio de campo; exigindo assim muita técnica para o domínio e execução de passe, sem espaço e sem tempo; geralmente de um jogador com poucas habilidades – centro-avantes e similares; no caso de hoje Higuain, Aldebaior, outros intrusos etc, assim a defesa culé trabalha aparentemente aberta à base de antecipações e de bolas sobradas e vadias.
No mais o Messi – livre do tango - não cai, Dani Alves – longe da globo - já não faz tantas caras e bocas e todos de modo geral cospem o mínimo possível. É a eficácia do politicamente correto, da solidariedade e da fraternidade. Tirante Lionel Messi – que tem o centro-de-massa abaixo da pélvis, isso quer dizer que ele é mais pesado da cintura para baixo, por tanto aumenta a dificuldade em derrubá-lo; além do caráter, é claro! - , toda a espetacularidade possível é a do passe fácil; dadas a condições: muita movimentação, todos se oferecendo sabedores que outros se oferecerão, mesmo nos recantos mais espinhosos do campo de jogo. Enquanto o adversário, praticamente tem que se inventar a cada minuto, o Barça entra em campo com sessenta por cento da posse de bola e o que fazer com ela – mirem que não pensam grandes coisas, os outros trinta ou quarenta porcento o contrincante com a bola desgovernada nos pés, se dedica a esperar uma indicação divina, mas deus por vezes mostra que está de saco cheio dos merengues. Hoje é um bom dia para comer uma parrillada de frutos do mar em algum bar\restaurante de La Barceloneta e fechar a noite no Luz de Gas e sentir um pouco do catalanismo e sua verve polida.   

29 de abr. de 2011

O PAPEL DA OPOSIÇÃO. FHC se debate com o nigromante tautológico. Parte II.


Ser tautológico é encurtar a guia do cachorro, pois com mais corda o animal começa a criar problemas. Assim o tautológico corta tudo que cresce ao seu redor. Mas a tautologia é mais perigosa que isso; é ruptura entre a inteligencia (capacidade de discernir, entender, plasmar, discutir abrangentemente, etc) e seu objeto ( coisa, argumento, tese, etc), é a ameaça de impor um estado de coisas, onde não existe o pensamento. Ex. Lula é analfabeto.
O povão diz: oposição e governo – políticos - são farinhas do mesmo saco! E essa é a tautologia que o PSDB ajudou brilhantemente – diga-se de passagem – a construir. E não nego, que vem sendo construída ao longo de toda a nossa história recente e remota, com este breve intervalo de desconstrução que começou com a edificação do PT e prosseguiu nos governos Lula e permanecerá no atual e futuro governo Dilma.
Contra este costume tautológico, neste exato momento, FHC convoca suas hostes e como verificação de que seu intelecto anda falto, seus aliados desertam. Somos um povo tautológico. E se nos ocupamos com algo além das extremidades do nosso cachorro é para dizer: Europa é Europa. É! Mas ele é artista! É isso ou aquilo! Você pensa demais! Mais amor menos razão! Por isso, e muito por isso, que na criação, nucleação do PT, encontrávamos imensa dificuldade para rebater estas verdades tão absolutas, tão curtas e rasas, que nos exigiam verdadeiros exercícios retóricos ( não inteligíveis mor das vezes, como se andássemos a mostrar o real por um espelho concavo) , uma simples frase criada, ensaiada, alastrada e repetida por trezentos espartanos que assim bradavam: Um metalúrgico analfabeto com um dedo a menos!
Pensar desta maneira dispensa ter ideias e ter ideias é difícil, e por consequência essa a facilidade faz com que essa preguiça se agigante e se transforme em moralidade vestida a rigor.
Gritam: Petralhas, malandros! Não por assim pensarem, pois qualquer pensamento mínimo e por mínimo que possa ser, não caberá numa palavra. Mas isso não é invenção dessa gente tautologizada e bronzeada, isso é o supra sumo do pensamento de apóstolos, gurus e um que outro anacoreta peessedebista, pensado e ensaiado e expresso pela máquina publicitaria do PSDB, em letras garrafais, em suas cartilhas semanais e diárias, tudo dito com a coluna e o nariz empinado, como se fossem os inventores da lógica e não dos silogismos mas do próprio Aristóteles.
FHC consegue ver que Lula dissolveu esta instituição minimalista que impedia o povão de ver além do focinho do cachorro. E isso se transformou, não só num problema de conteúdo ideológico para a oposição, mais que isso, que não há conteúdo ideológico, há uma tatuagem que aponta para o outro, querendo dizer que estava nu, mas o outro esta despido e é diferente.
E agora é impossível apagar a tatuagem feita sem medir consequências. A pele e a figura tatuada são a mesma coisa e o filó ( programa de partido) não ocultam seu mundo onírico. E a mente brilhante que tudo e tanto fez para criar o tribunal, as leis, o juízo e a sentença; agora quer fazer crer, e dissolver “ontologicamente” tal sistema. Assim termino minha análise da primeira parte do tal manifesto (cinco parágrafos).

28 de abr. de 2011

Manifesto de FHC. O Papel da Oposição. Parte I

“O Papel da Oposição”; manifesto de FHC; começa por um vicio crasso já na premissa, na descrição desfocada da realidade no seu primeiro parágrafo. É notória a dupla jornada de trabalho que nos cabe enquanto trabalhadores; necessárias a desnudar a vicariedade dessa gente. Trabalhar pesado e ainda ler-lhes a realdade. Mas a tais hábitos inveterados não se necessita de instrumentos tão poderosos como a hermenêutica materialista dialética para pô-los à vista de qualquer interessado – desde que este não queira torcer ( por ingênuo ou intencionalmente, médias, analistas políticos de fachada que pensam tão ociosamente quanto os porteiros de edifícios e ai eu não sei quem ofendo, penso que aos porteiros, duas vezes; posto que tal trabalho em si é degradante, etc), enfim ficou longo o parêntesis, volto a torcer a ferragem da estrutura e derrubar o edifício. O que mobiliza o povão são: as condições objetivas que nada mais são que a relação trabalho e capital. Ora vamos, as conquistas democráticas – década de 80, culminando com a CF 1988 - foram as migalhas oferecidas pela ditadura, em substituição ao banquete almejado pelos sindicatos do ABC liderados por Lula – note-se que o festim só não ocorre por clara traição do MDB de FHC e Ulisses -. A prova disso é a risível, para não dizer triste candidatura de Ulisses Guimarães que caiu na lábia do sociólogo; cuja; o “povão” desqualificou com o cortante 3%. Candidatura esta fruto da leitura e análise política equivocada e desnecessária de FHC e cuja ociosidade vige no atual manifesto. O que mostra que FHC não aprendeu nem com ele mesmo, que há tempos disse: esqueçam o que escrevi. Tanto esqueceu que redunda. Não apreende da própria eleição, conquista vinda no bojo do fato econômico – que se pode, tanto atribuir a FHC quanto ao FMI, Capital Estrangeiro Desejoso de Novos Mercados com Regras Menos Voláteis, indistintamente, tudo é o mesmo, sinônimos, mas sempre um fato\ato\concreto\no-mundo-real – que foi a criação do Real. Já o rearranjo partidário citado por ele não nasce assim de suas pregações, mas sim do terremoto: greves metalúrgicas do ABC; e o consequente tsunami; a criação do PT. E a necessidade da união no mínimo vergonhosa das elites (FHC, Militares, Média, Banca etc) para impedir a que seria clara vitória de Luiz Inácio.

O livro infinito.

Diante do visto\vivido pela vida afora, à leitura de um texto qualquer se interpõe, digamos assim, o DNA-sociocultural ,adquirido pelo leitor no seu trajeto de vida, somado a circunstância contemporânea da leitura. De uma maneira, seja, de um velho modo: não há uma segunda leitura de um mesmo livro; haverá outra leitura de outro livro; o mesmo livro. Se o livro muda, posto que as palavras não estão mumificadas, e mesmo as múmias cambiam - em geral deterioram -, digo que será uma leitura outra.   Assim sendo o próprio autor\escritor lerá um livro diferente daquele por ele escrito, ainda quente recém saído do forno da razão sensível. Partindo do acima dito; pergunto, poderia inferir? Infiro; é impossível ensinar “uma”leitura de um livro (não sendo este um objeto estático) que não seja uma visão\entendimento\aprisionamento efêmera de algo cambiante\cinético (algo que por si só é impossível, pois o livro não cabe no intervalo de um piscar de olhos, como a pintura ou a escultura, e mesmo estas ainda que não alterem o significante com o passar dos anos, se não levarmos em conta o envelhecimento, nos oferecerão variedades de leituras, segundo as visitemos ), ainda somada à possibilidade de: partindo de um trecho lido de um texto, tal leitura alterar o futuro discernimento do “o ainda não lido”.   O que nos levaria a eterna leitura\outra-leitura - nunca releitura - do mesmo livro, criando com isso o livro infinito, o que não deixa de ser os livros todos que existem, todos e o mesmo. Assim me parece e me interessa como futuro “educador” é que se leia, inclusive, teorias da literatura. Pergunto: é possível ensinar a ler, algo além dos significados “estáticos” dos significantes?

26 de abr. de 2011

Todo o poeta, um pedaço de rua.

A rua com nome de poeta de repente, desaparece. Olho no mapa e lá está ela, reta, contínua e finita, mas vai além. É sempre assim e o que tenho de rua não me basta, necessito justamente o pedaço de rua que falta. Pergunto; não sei! me diz o dono da loja de autopeças, com sua cara ovoide, como se lhe houvesse acusado de roubar o troço de rua com nome de poeta modernista. Tenho notado que triamos mal, ou ao escolher um interlocutor, preterimos justamente aquele que estaria interessado em nos dar a informação. Ou ainda, o preterido ao se sentir assim, prescindido aguça olho, orelhas e fareja e quer por todos os meios se meter onde não foi chamado. O homem que não mora no bairro, que antes mesmo de ser molestado, disse-me para fugir da insulação: pode ser que ela continue ali atrás. Não agradeci, já que a satisfação foi só dele. Fui à paralela daquela que lhe era perpendicular. Lá encontrei uma senhora, que me disse que nasceu em São Paulo e moro aqui quando ainda não tinha asfalto mas olha moço que eu nunca dei a volta no quarteirão por que vou daqui para a igreja para o trabalho que eu trabalho no supermercado mas Ricardo do que mesmo. Ronaldo disse eu. Pergunte àquele senhor... muito agradecido. Subi a Manoel Bandeira e desci a Artur Ramos então encontrei meu pedaço de poeta, de rua, onde todo o bairro tem nome de poetas e narradores em cada quadrante, uma verdadeira biblioteca, uma aula de literatura brasileira, faltava-me uma estante do Carvalho.     

25 de abr. de 2011

Tudo passa: O tempo.

Zé  mostrava-me umas fotos dos tempos em que vivíamos felizes no Deck bar. Fotos da mulher ?”. Então fiz um cálculo do número de anos que Helena viveu com Menelau antes de encontrar Páris, do tempo que passou em Tróia, e do tempo que estivera de volta em Esparta quando Telêmaco a encontrou; depois calculei a idade que ela teria quando Dante a viu no Inferno. Zé  me reprendeu: “Você quer matar Helena, quer não! Você matou Helena”. “Ora vamos, Zé, pensei que ias defender a Sandra! Assim sendo... prezado...”. Acrescentei : “Menippus viu o crânio de Helena, no Hades, desbotando, e admirou-se de ela ter despertado algum dia tantas paixões”. Zé  tirou uma baforada do seu cigarro, passou a mão na testa e depois disse pensativamente: “Ela... afinal... acontece o mesmo com o mundo... bela criação do demiurgo”. Calado permaneci, Zé concluía junto com a fumaça: “Pode ser, em suma, ele deve ter refletido mais do que nós”. No que somei: “Mais não sei, melhor! Certamente”.
desejada, já despojada da auréola que esse desejo havia lhe posto, e lá para o final da sessão, novamente aparecia numas fotos mui recentes, lá estava, e apesar de todos os atenuantes de reminiscentes quereres e sentires, só pude dizer: “Elena vidi, per cui tanto reo\ Tempo si volse”ª … é uma das duas frases latinas, e as  gasto sempre que posso, ou forço a barra. Zé  perguntou indignado: “ Por que Helena

ª Veja Helena, contra quem tão longamente, um tempo de infortúnio se volta..
.  

24 de abr. de 2011

Amanhã Cristo ressuscita.



Escrever é deixar de fora todas as outras possibilidades. Assim como o marido amado fica fora de Madame Bovary, mas que inclui a mulher que diferencia os homens, e apesar de a Molly Bloom lhes parecer indiferenciáveis, potencializa a Leopold como espirito, acima do banal, com o sim plural. Assim era essa página: pura literatura e fábula, era, pois bastou a primeira palavra para excluir-se a si mesma do mundo sonhado. Essa rejeição, essa reação do espaço baldio à palavra, ainda me espanta, e espanta todo o léxico e as que se me apresentam não o fazem à literatura, ou por vezes se apresentam como inimigas e se constrangem uma a par da outra. Mas é Páscoa e por bem hão de conciliarem-se, como se fosse desta possibilidade o mundo feito. Um decalque da religião no mundo real. Real este pleno de decalques, mas que fogem à segunda-feira, nos abandonando a auto produção do sustento e manutenção insustentável do amanhã.

23 de abr. de 2011

MALHAÇÃO DO JUDAS.

      Essa é mais uma tentativa de chegar ao inviável, e isso me pede intensidade e me oferece impossibilidade. Este inviável, é, se é para mim, é o mais próximo que posso chegar ao meu nada, o fim do meu universo, o meu limite, borda opaca de todos meus abismos ideológicos. É busca pelo desconhecido, é a interface donde termino e começa o outro, que não esconde esperança, que e não é outra, senão fé.
 Esta fé é novo empréstimo que o avaro concede ao inadimplente, cuja garantia é imaterial, numa palavra, eu sou você. É essa passagem sem pontes, integração geográfica invisível; como números pares pertencem aos naturais; que se dá ao malharmos o judas. 
Eu sou o teu judas, e tu o meu. Em suma o outro. O outro só importa como território a ser ocupado, uma tal impossibilidade leva a indiferença, ou a certos pecados capitais, inveja é outro deles. 

...Schopenhauer é muita hermenêutica, não careço, ou não posso. 

Serve mesmo Fernando Pessoa: ''se compreendo o pensamento do outro, eu discordo dele; eu mesmo se penso, discordo de mim mesmo'';      já se compreendo o que outro sente, eu sou ele. Isso só mostra que pela razão, nos afastamos e pelo sentimento nos aproximamos; nesse caso ser o outro é a compreensão total do outro, é amar; o ódio é a incompreensão total do outro, um analfabetismo da alma, do coração; não tendo nada a ver com a razão; 
se discordar é um levar-se em conta o outro, respeitar, é seguramente uma forma de amor, não de ódio. Por isso: eu sou você, e discordo em gênero, número e grau. Eu sinto o que vc sente. Afinal o sentimento do mundo é o mesmo. A tragédia é a mesma. Ainda que as aspirinas sejam opostas, assimétricas. Estas assimetrias estão no placebo e não em nós. Eu gosto da letra da canção Pão e Poesia de Moraes Moreira e Fausto Nilo, particularmente do verso: ...que te maltrata entre o almoço e o jantar.

22 de abr. de 2011

Sexta-feira da paixão. Ditadura. Democracia. Lista tríplice.


Todo mundo sabe que ditadura é a ideia – muito praticada – da impossibilidade de conformar-se em um governo todos os interesses individuais, na prática é governo de minorias. A democracia afirma o contrário, mas contraditoriamente pratica a ditadura da maioria. A lista tríplice sempre foi coisa da ditadura, botando nas coisas um ar democrático. Desde menino, na escola, sabia quem ia ser escolhido para recitar quadrinhas em homenagem a Tiradentes – quanto vexame, incompetência se viu – o filho de alguém, nunca o filho de algum. Marcelo, o filho do sitiante abastado, ajudado pela professora Teresinha, engasgava logo de cara no nome próprio. A dona Teresinha dizia: meninos! Não zombem! Ajudem o seu coleguinha! Eramos todos rurais, mais que urbanos. Lembro-me do Nico Quaglio: mas professora! a senhora pede para o carroceiro puxar a carroça pelo burro! Já para a diretoria! E da classe ouvíamos a diretora Josefa Castro aos berros. Tudo isso para dizer que as eleições têm seu caráter premeditado, previsto, entrevisto, etc. As pesquisas de opinião são tão somente mais um tipo de produto, consumido, por pura gula, desnecessário. Por isso Pôncio Pilatos conformou aquela lista tríplice, sabia qual deveria ser escolhido, e sabia como age o rebanho encurralado. A massa sempre prefere a via da preguiça mental, não gosta que lhe roubem os bens, mas o prefere àquele que lhe rouba o sossego, a preguiça, a inércia; noutras palavras, a sabedoria.

21 de abr. de 2011

Dia de Lava pés.


Eu era coroinha, ás vezes levava a bacia com a água com que o padre fazia o teatro do lava-pés. Uma vez fiz de Pedro, o apóstolo, bastou-me para toda a vida. Disse eu – então Pedro - : Mas se vais, Senhor, lavar-me os pés, porque não me lavais todo o corpo! Pedro era assim. Bruto. Povo. Prático. Tirou o corpo fora, quando quiseram ligar-lhe a Jesus. Não! Estou de boa. Disse. Nunca o vi, ele está no óleo. Pensei que houvesse por aqui uns comes e bebes. disfarçou. Voltando; Jesus então disse: não há servo maior que o Senhor, por isso lavava os pés a seus discípulos. Mas também lavaria os pés de um traidor. Talvez tenha-lhe sido fácil, pois cria em um desígnio. O nó é esse: sendo Senhor; é o maior dos Servos, mas em sendo somente servo; não é  Senhor algum, em não sendo senhor algum é servo, que tem como essência, justamente lavar os pés a seu senhor, ato fim, meio que o caracteriza. Desta maneira o servo e o traidor de alguma forma sentam-se à mesa do senhor, nivelam e balizam-se, por mutua necessidade. Machado de Assis põe o canário preso na gaiola a dizer: o mundo é uma gaiola velha e um brechó empoeirado e um serviçal que me dá de beber e comer, mas quando escapa-se diz: o mundo é infinito, coberto de azul e um sol a brilhar.

19 de abr. de 2011

Primo Basílio é ferida ontológica de Eça.



Postei uma crítica de Machado de Assis feita ao Primo Basílio de Eça de Queiroz. Não há planos subjacentes. Encontrei-a numa antologia, um sebentão – dedicado pela Prof. Helena, à provável aluna: Adalgisa. Pura mitologia. Nele, Machado de Assis é personagem, mito, escreve críticas à obra, mitológica, do escritor, mito, Eça de Queiroz. Indiferente ao conteúdo da critica para além da estética, pois Machado é tão mitológico quanto Bentinho, Ulisses e Homero. O livro ensebado é tão real quanto a bíblia, e o Eça ali crucificado quanto nesta, Jesus. A diferença é que Eça foi divinizado e Jesus, ainda anda às voltas com a velha cruz. Ora desce, ora sobe, o mesmo fel, a mesma lança a vazar-lhe o peito. Meu eu mitológico leu o Casmurro, e o Primo Basílio. Li-os como os leitores desavisados que tanto encantavam a Machado de Assis; Machado sabia que eram os desavisados que fariam os leitores com pé-atrás se interessarem por sua obra. Eu lia com a mesma roupa com a qual ia ao cinema. Devorava sem sabê-las: metonímias, antonomásias ou metáforas; e nas aliterações sentia o vento do v, o barulho do mar aonde anda a onda. E não lhes sabia o nome.
Agora me preparo para ler de sobreaviso, me ilustro. Me espanto ao ler uma crítica de Machado não a títere Luísa, mas muito pelo ataque desferido ao Realismo. Machado, ainda que monarquista, pouco deixa-se entrever nesse comício, ainda que pouco ou nada disso possa me interessar, mas não fez defesa, não armou trincheira e tampouco puxou o gatilho. Concluo que a defesa de uma ontologia, ou um ataque, um tiro ontológico também não mata, principalmente mitos, mas acima de tudo não existe ferida ontológica.    

18 de abr. de 2011

O Primo Basílio. Crítica. por Machado de Assis.



… o Sr. Eça de Queiroz acaba de publicar seu segundo romance O Primo Basílio. O primeiro, O Crime do Padre Amaro, não foi decerto a sua estreia literária... O Sr. Eça de Queiroz é um fiel e aspérrimo discípulo do realismo propagado pelo autor de Assommoir ( Emile Zola)... O próprio O Crime do Padre Amaro é imitação de La Faute de l´Abbè Mouret (Zola) solução análoga, iguais tendencias; diferença do meio, diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscencias, como no capitulo da missa, e outras; enfim, o mesmo título... resta senão admirar a fidelidade de um autor que não esquece nada e não oculta nada! Porque a nova poética é isso, e só chegará a perfeição no dia em que nos disser o número exato de fios de que se compõe um lenço de cambraia ou um esfregão de cozinha... … Certo da vitória o Sr. Eça de Queiroz reincidiu no gênero, e trouxe-nos O Primo Basílio, cujo exito é evidentemente maior... … tem um ar de cliché; enfastia... … Vejamos o que é o Primo Basílio e comecemos por uma palavra que há nele. … - Mas é Eugênia Grandet! Exclama o outro. O Sr. Eça de Queiroz incumbiu-se de nos dar o fio da sua concepção. Disse talvez consigo: - Balzac separa os dois primos, depois de um beijo ( aliás, o mais casto dos beijos). Carlos vai para a América; a outra fica, e fica solteira. Se a casássemos com outro, qual seria o resultado do encontro dos dois na Europa! … na Eugênia, há uma personalidade acentuada, uma figura moral, que por isso mesmo nos interessa e prende; a Luísa – força é dizê-lo - a Luísa é um caráter negativo, e no meio da ação ideada pelo Autor, é antes um títere do que uma moral.

Repito, é um títere. Não quero dizer que não tenha nervos e músculos. Não tem mesmo outra coisa; não lhe peçam paixões ou remorsos. Menos ainda consciência.... Luísa resvala no lodo, sem vontade, sem repulsa, sem consciência. Basílio não faz mais que empuxá-la, como matéria inerte, que é. Uma vez rolada ao erro, como nenhuma flama espiritual a alenta, não acha ali a saciedade das grandes paixões criminosas; rebolca-se simplesmente. ...o fato inicial e essencial da ação, não passa de um incidente erótico, sem relevo, repugnante, vulgar. Que tem o leitor do livro com essas duas criaturas sem ocupação nem sentimentos!

Aqui chegamos ao defeito capital da concepção do Sr. Eça de Queiroz. A situação tende a acabar, por que o marido está prestes a voltar do Alentejo, e Basílio começa a enfastiar-se, e, já por isso, já porque o instiga um companheiro seu, não tardará a trasladar-se a Paris. Interveio, neste ponto, uma criada, Juliana o caráter mais completo e verdadeiro do livro;... apodera-se de quatro cartas; é o trunfo, é a opulência.

… Um leitor perspicaz terá já visto a incongruência da concepção do Sr. Eça de Queiroz, e a inanidade do caráter da heroína. … trata-se da coisa menos congruente e interessante do mundo! Que temos nós com essa luta intestina entre a ama e a criada, e em que nos pode interessar a doença de uma e a morte de ambas!... Para que Luísa me atraia e me prenda, é preciso que as tribulações que a afligem venham dela mesma; seja uma rebelde ou uma arrependida; tenha remorsos ou imprecações; mas, por Deus! Dê-me uma pessoa moral...



Transcrevo crítica elaborada por Machado de Assis.

17 de abr. de 2011

Manual do sexo manual.



A tempos transporto de um lado para o outro a veleidade de escrever um manual para o sexo manual. O onanismo antes confessável e passível de penas - duas ave-marias e três padre-nossos, dizia o Pe. Josep Maria Meyer, enquanto traçava sobre a face o sinal da cruz – hoje livre , desimpedido.

 A maior preocupação não deveria estar centrada nos homossexuais sim com os manissexuais, posto que esta engloba todas as opções e nos nivela. Somos maioria. De alguma forma, se me permitem, o que  mais manuseamos está entre-coxas. Seja em pensamentos, atos e omissões.

Tenho feito grande progresso nesse sentido, que  por vezes me espanto. A coisa começou faz alguns meses. Uma polução. Casual. Um sonho visceral, pleno de mucosas e líquidos. Digo isso para botar alguma concretude nesse vício, pois não havia sexo – de genitálias – havia sensações úmidas e quentes e envolventes, por todo o corpo. Se fosse freudiano, diria: nascimento, placenta estourada. Mas me interessava não a explicação, senão a possibilidade de repetir-se o feito. Busquei bibliografias, e me deparei com um manual do século XI, escrito em ocitano – parente próximo do francês – por Francesc Pi de la Serra, que ensina a produzir poluções. A coisa se diz afatus.

... liberet fines metu abeatque tuta. fert gradum contra ferox minaxque nostros propius affatus petit. arcete, famuli, tactu et accessu procul, ...

Deve-se deitar em decúbito dorsal. Acalmar a respiração. Pensar em alguém. Eu penso na Jaqueline. É como fazer yôga deitado. Pálpebras caídas, delicadamente. Pense em seda. Corpos envoltos em tecidos suaves, insinuando silhuetas em movimentos delicados, lentos. Pensar em todos os beijos, carinhos, abraços através dele. Deixe o tecido desaparecer, sinta a sua pele, ou antes dela, sinta o calor do corpo que se avizinha, depois no toque mais suave, pétalas de rosas vermelhas num ofurô de espuma. Pense numa mão que te toca sem tocar. Inspire profundamente. Solte o ar, lentamente. Relaxe, primeiro a barriga, depois o diafragma, solte o ar dos pulmões. Manuseie-se sem excitar-se. Repita o procedimento até adormecer. Então na vigília se encontrará com um orgasmo magnifico, não se deixe acordar, não se espante, pois assim pode ocorrer um efeito cascata.


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16 de abr. de 2011

Genra ou noro!

Não sei! diz a Bia. E vemos a linguagem, mais precisamente o substantivo, falto. Incapaz de dizer do ser do qual se fala. Bia busca ajuda nos possessivos. Minha genro! Fazendo cara de basset! Retoma o humor e redunda: Meu nora. A conversação ganha liberdades, levezas e Bia arrisca um neologismo: Genra. Nem a língua está preparada para o que vem e já se divisa. É necessário criar vocábulos. Eu proponho eu, tu, ele, ela, ola, ule, nós, vós, aulhes. Meu, teu, minha, tua, mia, teia, monha, tue. Seu, sua, sue, sal, outros, outras, eutres, autres. Sr. Sra. Sro. Sri. O verbo ser no presente do indicativo ficaria, eu sou, tu és, ele é, ela é, ola ó, ule i, somos, sois, são, aulhes sum. Eu falava com ola enquanto sal amige nos mirava desconfiadi, ule i vaidosi e pensi que todues falamos delhe. Nonada. É perigoso viver.

O tempo perdido.

Faz muito tempo que me deito tarde. Foi uma luta, nem sei se vã, contra a perda de tempo. Não sei se você percebe como estão armadas estas palavras. Vejo-as portando escudos, lanças e máscaras, em nome justamente, e paradoxo dos paradoxos, para algo inefável, e que para tanto devo tirar-lhes o espartilho, as armas. A vaidade é o maior endireitador de colunas que conheço. Chega a levantar o queixo, empinar o nariz. Mas um pequeno inseto que de tanto insistir conseguiu escalar a tela do meu computador, por vezes escorregou ao princípio dela, enquanto eu lia a “A arte de ter razão” de Schopenhauer, chegou à barra de ferramentas e estacionou. Deteve-se sobre o ícone de ajuda do BrOffice, assemelhado à boia do distintivo do Corinthians, tornou a deslizar tela baixo, e quando tornava ao topo, vacilava entre um e outro botão. Perambulava pela barra e lá longe do ajuda, sobre o pincel desanimou-se e deixou-se cair até a barra de rolamento. Quando eu menos esperava, pois prestes que estava, a ponto mesmo de entender o quê da razão pura, lá estava ele às voltas com o ajuda, enamorado, creio e eu cúmulo da maldade, como um deus menino, mudei para o Google. Aqui chego, ao umbral da ausência, coisa acabada e ela convida-me a cruzá-lo, indica com seu olhar, sua calma, uma cama e uma alma simples como se, travesseiro e lençol feitos de algodão quase azuis de tão brancos. Deito-me e seus carinhos me fazem pronunciar um sim.

14 de abr. de 2011

Ode a uma puta: Vivian.

Acabara de sair dum deserto sexual, como todo deserto no meu havia seus oásis, certo é que ou lavava o pó ou bebia uma conchada de mão d´água, para ambos não dava. Sedento, busquei-as. Envolvia olhares, posturas, interesses e desinteresses, premeditação e seus agravantes, gerar superioridade de armas tudo ao mesmo tempo e toda a sorte de eventos de uma narrativa e antes de tudo devia confiar no autor da trama, no enredo, no personagem e por fim no desfecho e um pouco antes ter o sangue frio mais alemão do mundo. Mas o uso do cachimbo entorta a boca. Entre ligar e não ligar, não liguei. Fui dar uma volta na praça do Pará. Não restou dúvidas. Era ela, a mulata magra. Vivian. Custava uma pizza de tomate seco, com alcachofras e presunto cru. E foram todos os dias de um longo outono. No começo não me beijava. Mas eu tanto fiz. Lhe inculcava que era esta a própria razão da boca, fechar em uma união circular, embaixo e encima. E que nada tinha a ver em estar apaixonado por ela, coisa que não estava, dizia. Cheguei a ler-lhe um trecho, que suponha, de Platão. Ai ela falou que eu não tinha coragem de sair com ela para ir pela noite como se fosse seu namorado e eu lhe disse que sim que topava e no dia seguinte fui buscá-la ela tinha colocado um par de lentes de contatos azuis que eram para combinar com os meus que ela tanto gostava de olhar mas que era a única coisa bonita que eu tinha eu lhe disse que tinha mais coisas bonitas que ela só podia ver pelo espelho ela demorou a entender mas quando entendeu me deu um beijo na boca dentro da padaria Romana nesse momento as coisas já saiam por uma pizza de mussarela.

12 de abr. de 2011

Racismo e discriminação.

Tornou-se moda indignar-se com o politicamente correto. Hipocrisia bradam. Macaqueamos os americanos dizem outros. Ora vamos, os americanos brancos botavam os negros a caminhar na outra calçada, sentar no fundo dos ônibus. tiveram a KKK. Nunca esconderam o que pensavam e impingiam aos seus concidadãos negros. Racistas assumidos sim, hipócritas não creio. Mas criaram cotas. Cotas inclusive no cinema, aonde há médicos negros, loucos negros, putas negras, madames negras, chefões negros, patrões negros, diretores de escolas negros, policiais negros, corretores de valores negros, diretores de cinema negros etc. Isso em Hollywood. Cotas. Por aqui, quando o caboclo não tem os colhões de assumir-se racista, ataca o uso do politicamente correto. É notório, ululante que mudar o nome das coisas não as muda. Digladiar-se com a imposição civilizatória do eufemismo é esconder-se por detrás da gramática, e ao invés de discutir abertamente os inconvenientes de que padece a nossa sociedade e tentar resolvê-los, ataca-se e goza-se da troca dos termos malsonantes pelas expressões figuradas.


É nesse foro, o do racismo e outras discriminações negativas onde há a realidade mais espantosa, a dos pseudos-livre-pensadores que andam a deixar suas pegadas na areia e as ondas de algum esquecimento já não têm dado conta de borrá-las, e o eco de seus berros cifrados é colossal, diante de uma atitude mínima do estado como: o bolsa família, cotas etc. Não é no manual de redação que o mundo muda, mas também nele.

Meu caro Hamilton.

Carissímo Hamilton, disse Schopenhauer: Vaga-lumes e religião só brilham nas trevas; acrescento: racismo e preconceito exigem certa ausência de luz. Há povos no mundo que ainda usam os dedos para levar à boca o naco de carne. Ora vamos, os talheres são fatos politicamente corretos. Atos civilizatórios. O lenço para limpar o ranho. As vagas nos ônibus, nos concursos, nos estacionamentos indexadas, linkadas à melhor idade, portadores de necessidades especiais etc. As proibições implícitas e explicitas ao incesto, pedofilia, froterismo, necrofilia etc idem. Osmar Prado no papel de Barão de Araruna, se deliciou e deliciou a muitos, fazendo-de-conta que fazia-de-conta. Eu sou preconceituoso e racista. Por isso sempre que posso mamo de alguma teta cerebral o leite civilizatório: João Cabral de Melo Neto é um úbere e tanto, educação pela pedra.

7 de abr. de 2011

Uma negra que o demônio acordou.

Mallarmè


La Négresse

Une négresse par le démon secouée
Veut goûter une enfant triste de fruits nouveaux
Et criminels aussi sous leur robe trouvée,
Cette goinfre s’apprête à de rusés travaux ;

À son ventre compare heureuse deux tétines
Et, si haut que la main ne le saura saisir,
Elle darde le choc obscur de ses bottines
Ainsi que quelque langue inhabile au plaisir.

Contre la nudité peureuse de gazelle
Qui tremble, sur le dos tel un fol éléphant
Renversée elle attend et s’admire avec zèle,
En riant de ses dents naïves à l’enfant ;

Et, dans ses jambes où la victime se couche,
Levant une peau noire ouverte sous le crin,
Avance le palais de cette étrange bouche
Pâle et rose comme un coquillage marin

6 de abr. de 2011

Bolsonaro. O mártir do arco-íris em preto e branco.

Bolsonaro abriu as portas midiáticas para uma grande discussão. Racismo e preconceito. Uma oportunidade rara para a ampliação e aprofundamento de assuntos tão importantes como pendentes em nossa agenda de compromissos democráticos. Mas é certo que tudo foi atirado pela janela. Resumir-se-á a um pedido de cassação e outro de indenização por danos morais. Bolsonaro não disse mais do que a maioria dos pais deste país dizem diariamente na frente da TV, no intervalo do trabalho, na mesa de butiquim, sinuca, baralho e principalmente diante dos interessados. Estas questões têm suas urgências, mas se há liderança envolvida, é cobra de cem cabeças. Sem prejuízo às punições cabíveis, Jair Bolsonaro fala por muitos, deveria ser instado ao debate, sua opinião é importante, tem representatividade em todos os setores da sociedade. As comunidades envolvidas carecem deste debate. Não é por ser um parlamentar que o cara deixa de ser tacanho como nós. Muitos(muitíssimos) dos interessados escondem o fato a próprios pai e mãe, e estes são votos “do contra” (contra a própria prole) quando pedidos a manifestarem-se, publicamente. É tudo muito estranho, parece brincadeira de esconde-esconde e é só o Jair que não sabe brincar.

31 de mar. de 2011

Gaiola das loucas: Ópera do froterismo.





Fui para o ponto um horário antes, queria passar no Extra e comprar café. Quinze para as três, a lata não passou, três, três e dez, três e quinze, a lata não passou, três e quarenta, dois horários depois passa o busão. Cheio. No primeiro condomínio, treslota, com todas as domésticas que faltavam, no seguinte só pedreiros e serventes, todos do Piauí. Todos falam alto. Muitos celulares soam estridentes, competindo com a gritaria de Ivete Sangalo com seu bonezinho de maquinista no busvideo. Uma moça gorda encavala sua ausência no meu ombro. Fora da geladeira e esse calor! Hum... digo. Que! Diz ela. Nada! Digo. Um piauiense aumenta o espaço com seu froterismo. Chega ao Shopping. Embarcam meia duzia de jovens homossexuais. Um deles, mais desbravador, cruza a catraca e avança até o fundo, outros estacam ali mesmo, junto ao motorista. Um cearense encosta-se no moço. O moço grita para os amigos que ficaram na catraca. Juliete, “vem! aqui tá booom”! “ Sei!” diz minha vizinha encaixada no meu ombro. A plateia delira. Cê tá desesperada!Suzy! Grita Juliete. A galera vai a loucura. A gaiola para noutro ponto. “Nem sobe querida, to entalado até a garganta” grita Juliete. “ Vai vendo!” diz uma moça. Desci, quatro e dez, atrasado para o trabalho.