16 de abr. de 2011

O tempo perdido.

Faz muito tempo que me deito tarde. Foi uma luta, nem sei se vã, contra a perda de tempo. Não sei se você percebe como estão armadas estas palavras. Vejo-as portando escudos, lanças e máscaras, em nome justamente, e paradoxo dos paradoxos, para algo inefável, e que para tanto devo tirar-lhes o espartilho, as armas. A vaidade é o maior endireitador de colunas que conheço. Chega a levantar o queixo, empinar o nariz. Mas um pequeno inseto que de tanto insistir conseguiu escalar a tela do meu computador, por vezes escorregou ao princípio dela, enquanto eu lia a “A arte de ter razão” de Schopenhauer, chegou à barra de ferramentas e estacionou. Deteve-se sobre o ícone de ajuda do BrOffice, assemelhado à boia do distintivo do Corinthians, tornou a deslizar tela baixo, e quando tornava ao topo, vacilava entre um e outro botão. Perambulava pela barra e lá longe do ajuda, sobre o pincel desanimou-se e deixou-se cair até a barra de rolamento. Quando eu menos esperava, pois prestes que estava, a ponto mesmo de entender o quê da razão pura, lá estava ele às voltas com o ajuda, enamorado, creio e eu cúmulo da maldade, como um deus menino, mudei para o Google. Aqui chego, ao umbral da ausência, coisa acabada e ela convida-me a cruzá-lo, indica com seu olhar, sua calma, uma cama e uma alma simples como se, travesseiro e lençol feitos de algodão quase azuis de tão brancos. Deito-me e seus carinhos me fazem pronunciar um sim.