23 de abr. de 2011

MALHAÇÃO DO JUDAS.

      Essa é mais uma tentativa de chegar ao inviável, e isso me pede intensidade e me oferece impossibilidade. Este inviável, é, se é para mim, é o mais próximo que posso chegar ao meu nada, o fim do meu universo, o meu limite, borda opaca de todos meus abismos ideológicos. É busca pelo desconhecido, é a interface donde termino e começa o outro, que não esconde esperança, que e não é outra, senão fé.
 Esta fé é novo empréstimo que o avaro concede ao inadimplente, cuja garantia é imaterial, numa palavra, eu sou você. É essa passagem sem pontes, integração geográfica invisível; como números pares pertencem aos naturais; que se dá ao malharmos o judas. 
Eu sou o teu judas, e tu o meu. Em suma o outro. O outro só importa como território a ser ocupado, uma tal impossibilidade leva a indiferença, ou a certos pecados capitais, inveja é outro deles. 

...Schopenhauer é muita hermenêutica, não careço, ou não posso. 

Serve mesmo Fernando Pessoa: ''se compreendo o pensamento do outro, eu discordo dele; eu mesmo se penso, discordo de mim mesmo'';      já se compreendo o que outro sente, eu sou ele. Isso só mostra que pela razão, nos afastamos e pelo sentimento nos aproximamos; nesse caso ser o outro é a compreensão total do outro, é amar; o ódio é a incompreensão total do outro, um analfabetismo da alma, do coração; não tendo nada a ver com a razão; 
se discordar é um levar-se em conta o outro, respeitar, é seguramente uma forma de amor, não de ódio. Por isso: eu sou você, e discordo em gênero, número e grau. Eu sinto o que vc sente. Afinal o sentimento do mundo é o mesmo. A tragédia é a mesma. Ainda que as aspirinas sejam opostas, assimétricas. Estas assimetrias estão no placebo e não em nós. Eu gosto da letra da canção Pão e Poesia de Moraes Moreira e Fausto Nilo, particularmente do verso: ...que te maltrata entre o almoço e o jantar.

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