22 de mai. de 2011

Educação pela Pedra. João Cabral de Melo Neto.

Educação pela Pedra extraída da coletânea de 48 poemas de mesmo nome do ano de 1966. Pela Editora do Autor, Rio de Janeiro; É da mesma coletânea: Tecendo a Manhã. O poema “Educação pela Pedra” é o núcleo temático da coletânea.
A abordagem da realidade exige um continuo processo de educação. Os poemas para João Cabral devem ser trabalhados de forma rigorosa e sistemática; visando um poema com resistência e consistência de pedra.
Não há metáforas.
Há busca por simetria entre linguagem (estrutura) e realidade.

A realidade dura do Sertão x a dureza da pedra.
O poeta Sertão x poema pedra.
O Sertão sertão x Pedra pedra.
O Sertanejo x Pedra.


Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
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Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática)
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

No primeiro e segundo verso a aliteração de “p” remete a talhar a pedra, lapidar. Ao mesmo tempo que é empedrar, endurecer obter da palavra-objeto palavra-coisa resistência de pedra, não sentimental. Tal palavra poesia maleável feito a carne dos homens, porem dura concreta como pedra. No Sertão o ser\poema não “fala barato” não fala pelos cotovelos, o ser\poema é carne-pedra-compacto, econômico, deve ser uma pedrada educadora e muda, que ao lê-la (soletrar) o leitor sinta esta força deste golpe\poema, eduque, como um poema\pedra se educa. João Cabral quer o poema pedra, o poema objeto, aprendido (aprender é imitar a pedra) da pedra; assim acentua a existência do objeto e o talha e sendo pedra lasca-a para intervir na realidade. Esse é o processo dialético da natureza. Onde o homem\poema se faz ao fazer da pedra\poema, lança.
João Cabral não deseja ser nem espontâneo nem acadêmico mas sim intelecto\autoconsciência adquirida nesse processo dialético, vigilante e lucido, entre palavra-coisa e o seu trabalho de transformação em poema\coisa. Não se trata de poética do simples fluir, mas no que flui é poética maleável. Tudo isso de fora para dentro, da pedra para o poema\homem\lição, pela observação e intervenção, pois para aprender pela pedra há de intervi-la, trabalhá-la, lascá-la, poli-la e isto refletirá em conhecimento.

A segunda parte é árida: a pedra é pedra, nada ensina, mas ocupa e entranha, transformando homem em pedra. Ou seja a primeira parte é metalinguagem de como fazer um poema. E a segunda estrofe é o poema.

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