Educação pela Pedra extraída da coletânea de 48 poemas de mesmo nome do ano de 1966. Pela Editora do Autor, Rio de Janeiro; É da mesma coletânea: Tecendo a Manhã. O poema “Educação pela Pedra” é o núcleo temático da coletânea.
A abordagem da realidade exige um continuo processo de educação. Os poemas para João Cabral devem ser trabalhados de forma rigorosa e sistemática; visando um poema com resistência e consistência de pedra.
Não há metáforas.
Há busca por simetria entre linguagem (estrutura) e realidade.
A realidade dura do Sertão x a dureza da pedra.
O poeta Sertão x poema pedra.
O Sertão sertão x Pedra pedra.
O Sertanejo x Pedra.
Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições de pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.
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Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática)
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
No primeiro e segundo verso a aliteração de “p” remete a talhar a pedra, lapidar. Ao mesmo tempo que é empedrar, endurecer obter da palavra-objeto palavra-coisa resistência de pedra, não sentimental. Tal palavra poesia maleável feito a carne dos homens, porem dura concreta como pedra. No Sertão o ser\poema não “fala barato” não fala pelos cotovelos, o ser\poema é carne-pedra-compacto, econômico, deve ser uma pedrada educadora e muda, que ao lê-la (soletrar) o leitor sinta esta força deste golpe\poema, eduque, como um poema\pedra se educa. João Cabral quer o poema pedra, o poema objeto, aprendido (aprender é imitar a pedra) da pedra; assim acentua a existência do objeto e o talha e sendo pedra lasca-a para intervir na realidade. Esse é o processo dialético da natureza. Onde o homem\poema se faz ao fazer da pedra\poema, lança.
João Cabral não deseja ser nem espontâneo nem acadêmico mas sim intelecto\autoconsciência adquirida nesse processo dialético, vigilante e lucido, entre palavra-coisa e o seu trabalho de transformação em poema\coisa. Não se trata de poética do simples fluir, mas no que flui é poética maleável. Tudo isso de fora para dentro, da pedra para o poema\homem\lição, pela observação e intervenção, pois para aprender pela pedra há de intervi-la, trabalhá-la, lascá-la, poli-la e isto refletirá em conhecimento.
A segunda parte é árida: a pedra é pedra, nada ensina, mas ocupa e entranha, transformando homem em pedra. Ou seja a primeira parte é metalinguagem de como fazer um poema. E a segunda estrofe é o poema.
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