9 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Retórica.

Nota-se que a tecnologia preferimos retórica. Participei de um processo seletivo. Alguns candidatos falavam em: perfil, pró-atividade, boas práticas de cozinha, segmentação de mercado, programa de qualidade etc. Quando este linguajar seria mais comum ao selecionador. Passada a seleção alguns estamos no mesmo barco; vejo que aquele discurso está dissociado da prática. Algo me diz que o selecionador ouvia o que afirmava o que ele não sabe efetivamente discriminar, mas a única que tem registrado.
A cena do filme dos Cohen é essa. Nicolas Cage é trazido por Holly Hunter perante uma junta|conselho|psicólogos da penitenciária, que ouvem o que queriam: Fui reeducado, não voltarei s a ver-me. O prisioneiro ganha a rua. A cena se repete mais vezes, como pede Milan Kundera, a repetição a fazer humor. O prisioneiro diz o que lhe imploram. Isto mostra que não basta ou não precisa ser do bem, há que se dizer o que se quer ouvir. Arizona nunca mais.
Comumente nos deparamos com brancos de olhos azuis defendendo perante brancos de olhos verdes negros e nordestinos. É o politicamente correto. Defender oprimidos quais sejam é fácil e bem visto. Entretanto no primeiro ato que se faz na direção de mitigar a opressão a coisa toma os mais variados matizes de irracionalidade. Bolsa escola, família, cotas etc.
É certa a relatividade de tudo, no Brasil inclusive a cor da cútis o é. Da mesma forma como o nordestinismo, de alguma forma Ribeirão é o nordeste de Jundiaí e esta de São Paulo, esta o nordeste de Barcelona, e esta o nordeste de Frankfurt, e diante de Bill Gates até Steve Jobs é um loser. Assim deveríamos concluir que somos causa e consequência de nós mesmo moldados como massinha na circunstancia. Mas preferimos concluir que se deve ao outro.
Por tanto, esse nada, nos impede de ser liberais como liberais norte-americanos e ingleses. Pois para isso haveríamos de praticar Kipling e seu poema: O fardo do homem branco. Dizendo a americanos do norte e ingleses seus deveres civilizatórios.
Aguentem o fardo do Homem Branco
—Enviem para a frente o melhor que tenham gerado—
(Take up the White Man's burden—
—Send forth the best ye breed—)
É a retorica imperialista liberal nua e cruel sem matizes; gostemos ou não, a dizer de nós, e como seres inferiores desde a proclamação da republica andamos com o rabo metido entre as pernas. Mas no dia-a-dia continua a intermitente retórica patológica.
A administração de empresas e organizações deu um salto cientifico nos anos setenta, quando por aqui se vivia sob o regime ditatorial. Havia nos quadros da ditadura um homem genial se não estivesse tão mal acompanhado: Roberto Campos, Bob Fields chamávamo-lo, seria equiparado facilmente a Peter Drucker, o guru mundial da administração.
Em Ribeirão Preto atual governo municipal padece do mal da retórica compulsiva. Depois de dois anos fará uma reforma administrativa. Depois de tentar medidas dramáticas, como o giro de capitais provocado pelo giro dos motores. Em síntese “injeta-se” 13.000.000,00 milhões de dinheiros público na promoção de um “evento” e observa-se que 13.000.000,00 foi acrescido à economia local, fazendo de Keynes um verdadeiro charlatão.

IBGE MITO

Senso coletivo do destino.
Os erros não dependem de minha autorização tampouco as distorções mal-intencionadas e propositais; existem. Não sou ingênuo, pode-se qualificar sem quantificar o binômio judaico-cristão incrustrado abaixo da camada do laico verniz republicano, pois está na sociedade civil e não civil.
Engulo. (Ordem do Zagallo) que se queira aumentar o número de vereadores na câmara legislativa municipal.
Na moderna administração existe um instrumento chamado Seis sigmas; trata-se de uma estratégia de melhoria continua da qualidade que visa à redução de defeitos em produtos e serviços para um nível de 3,4 partes por milhão. Precisão de 99,99966%. Não sei quem usa.
O resultado de uma pesquisa é um produto. Produto da estatística. A medicina a usa muito. Demasiadamnte.
O método estatístico apresenta incertezas chamadas desvios, margem de erro. É certo que a metodologia do IBGE usada no censo demográfico remete a um erro, que seguramente não deve ser da ordem de 10%, e 10% de Ribeirão Preto deve compreender toda a região Central, não só a Amador Bueno.
Fiz uma breve pesquisa.
A constituição federal indexa o número de vereadores à população, isto encontra-se no artigo 29 inciso IV as alíneas:
i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes;
j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000 (setecentos cinquenta mil) habitantes;
k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes e de até 900.000 (novecentos mil) habitantes;

Há mais alíneas não entendo como a Prefeita quer tão pouco, poderia querer a "l".

No mais o que encontrei foram as receitas de transferências da União para os Municípios. As que têm importância são: Fundo de Participação do Município (FPM) e FUNDEB. Há uma estreita relação entre eles, mas não há uma relação direta com a população absoluta e sim com o número de matriculas no Ensino básico fundamental, Médio e algo a ver com docentes.
O resto é Mito.
Fiz um rápido levantamento sobre o fundo de participação do Município (FPM). Encontrei os seguintes valores (brutos) que serão repassados no mês de dezembro de 2010.
Americana Araçatuba Araraquara. Barueri. Bauru . Carapicuíba. Diadema. Embu. Franca. Francisco Morato. Franco da Rocha. Guarujá. Hortolândia. Indaiatuba. Itu. Jacareí. Jundiaí limeira. Marilia. Mauá e Mogi das cruzes. Osasco. Piracicaba. Praia grande. Presidente prudente. Ribeirão Preto. Rio claro. Santa Barbara d´oeste. São Bernardo do campo. São Carlos. São José dos Campos. São Jose do rio preto. Sorocaba. Taubaté 2.919.000,00 de reais. Campinas 3.058.000,00.Guarulhos 3.197.000,00

Abaixo listo alguns valores a titulo de comparação. Onde hab. É estimativa de habitantes em 2009. EMF = alunos matriculados e em alguns casos coloquei o IPTU e o ISS e PIB tão-só por curiosidade.
O FUNDEB é o de outubro 2010. O PIB, ISS e IPTU são de 2009.
ARAÇATUBA. Hab. 182.000 EMF 31.000 FUNDEB 3.000.000,00 IPTU. 20.300.000,00 PIB 13.890,00
ARARAQUARA. PIB 17.910,00.
FRANCA. Hab. 331.000 EMF 65.000 FUNDEB 3.875.893,00 IPTU. 32.400.000,00 PIB 11.210,00
Bauru. Hab. 359.000 EMF 57.000 FUNDEB 4.230.000,00 IPTU. 34.000.000,00 PIB 15.230,00
Hortolândia 200.000 FUNDEB 4.564.000,00 E M F. 40.000 IPTU 10.000.000,00 ISS. 59.000.000,00 PIB 20.100,00.
Guarujá. 308.000 6.879.000,00 EMF 60.000 IPTU. 170.000.00,00. ISS 66.000.000,00 PIB 9.800,00
Osasco. 718.000 12.890.000,00 IPTU. 104.800.000,00 ISS 157.400.000,00 PIB 35.218,00
Campinas. Hab. 1064.000 EMF 179.000 12.321.000,00 IPTU. 254.000.000,00 PIB 26.130,00
CUBATAO PIB 51.970,00
Santos. Hab. 417.000 7.210.000,00 EMF 63.000 IPTU. 167.000.000,00 ISS. 201.000.000,00 47.108,00
Sorocaba. Hab. 584.000 9.512.000,00 EMF 114.000 IPTU 57.000.000,00 ISS 98.000.000,00 PIB 21.447,00
São José dos Campos. Hab. 615.000 116.000 IPTU 62.000.000,00 ISS 140.000.000,00 PIB 30.195,00
Guarulhos. Hab. 1.3000.000 EMF 261.000 18.820.000,00. IPTU=186.000.000,00 PIB 22.200,00
INDAIATUBA PIB 23.430,00
JUNDIAI 40.704
Ribeirão Preto. 563.000 7.862.000,00 EMF 100.000 IPTU. 76.239.000,00; ISS 87.000.000,00 PIB 23.692,00
Extrai que RP tem 100.000 crianças matriculadas enquanto Sorocaba tem 114.000 e SJCampos tem 116.000...
Fazendo uma correlação estudantes \habitantes x1000
RP Soroc. SJCAMPOS GRU
100\563 114\584 116\615 261\1300
0,1776 0,1952 0,1886 0,2008
Multiplicando por 100 temos a porcentagem relativa de estudantes versus população: 17,176, 19,52, 18,86, 20,08 na mesma ordem. Ribeirão tem menos alunos matriculados por habitante. A maioria deve estar matriculada no ensino particular.
Os dados populacionais estimados ribeirão-pretanos não são em absoluto um ponto totalmente fora do desvio padrão das cidades deste porte, comparados a seus dados financeiros e educacionais.
Analisando os números só é certo que: se aumentar muito a população, o PIB per capta se amiudará frente aos das cidades do mesmo porte.
É notório que: o porto dá a Santos grandes vantagens, as refinarias a Cubatão, a indústria a Campinas, Indaiatuba, Osasco, Sorocaba, Jundiaí, Guarulhos*Cumbica. ( vê-se o ISS).
Salta aos olhos que a cana não dá nada a Ribeirão Preto exceto a qualidade do ar com as queimadas.

8 de nov. de 2010

ÉTICA.

Estudo.
A ética pode ser definida como uma teoria da prática moral. O termo ética provém do grego ethos, que pode ser traduzido por dois vocábulos gregos: ethos grafado com eta (η ou H) inicial, cuja raiz semântica remete ao significado de morada do homem, abrigo permanente, expressando os esforços do ser humano para delimitar seu espaço na totalidade do mundo, e ethos grafado com épsilón (ε), significando o conjunto de valores e hábitos consagrados pela tradição cultural de um determinado povo, traduzindo-se comumente por moral.
Definições.
Ética é um modo de viver próprio do homem, com capacidade para compreender o contexto em que está inserido, criando sentido para sua própria existência, que se completa na convivência com o outro. Sendo que o homem é ético em relação aos outros, às suas relações interpessoais.
Práxis.
Tem-se que há uma orientação quanto ao "bem fazer" ou o "fazer virtuoso", a melhor maneira de agir coletivamente, determinando, com isso, o bem e o mal, o permitido e o proibido, o certo e o errado, a virtude e o vício.
Pressupostos clássicos.
Aristóteles. Foi quem primeiro chamou a atenção para esse fato. O cidadão que cumpre a lei não necessariamente é um sujeito ético. A lei é o mínimo da moralidade.
Conclusão.
Portanto, a Administração existe pelo interesse público e para o interesse público e, nesse sentido, até mesmo para justificar sua existência, deve ser orientada a perseguir e realizar continuadamente esse fim.
Arcabouço ético na constituição federal.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...).
Segundo uma lei da entropia, que não me esquece, o caminho para o caos não gasta energia. Basta deixar estar e a coisa vai se deteriorando. Mas para ir-se ao amanhã gastamos as pestanas. Para gastar-se menos calorias fazemos estratagemas. É bonito ouvir: Todas as flores do futuro são as sementes de hoje, mas para que isso ocorra pressupõe-se compromisso, competências essenciais, posição de valor em conjunto e integrados num plano de voo. Espera-se de um projeto da administração municipal inserção no plano estratégico de governo. Neste ponto começam as diferenças entre a administração pública e a privada. Ainda que para fazer reforma numa residência o particular necessite de licença. A licença é um ato administrativo e exige de quem o impetra requisitos legais. A sentença tramitada em julgado é irrecorrível, é lei, não se trata do senso comum. Os maus administradores jogam o senso comum contra a lei criando factoides como tábua-de-salvação. Embora repercuta na mídia não se trata de ato da administração. O ato administrativo pressupõe um objeto juridicamente possível. Deve ser licito. Deve obedecer a forma prescrita em lei. Não há ato verbal.
Não sou legalista. O erro é possível. O vício não é erro. O governo municipal de Ribeirão Preto encabeçado pela prefeita Dárcy Vera é puro desnorteio. Nas últimas semanas enfrentou quixotescamente o IBGE, alegava que os estudantes forasteiros deveriam ser contabilizados como ribeirão-pretanos. Mobiliza-se em torno a uma internacionalização do Aeroporto Leite Lopes. Para tanto necessita uma ampliação. Negado sem direito a recurso há algum tempo. A administração tem obrigação de saber. No entanto a prefeita Dárcy faz lobby objetivando uma transigência da lei. Para tanto move o dinheiro público neste tabuleiro; voando até Brasília, por exemplo. É notório que o único resultado de todas estas aventuras da alcaidessa é publicidade pessoal, além do consumo de dinheiro público para nada conseguir em benefício do interesse municipal, num desvio claro de finalidade.

7 de nov. de 2010

TRANSERP.

Chama-se o Ministério Público.
Ontem, 6 de outubro, e hoje me submeti ao ENEM. Saio das provas sem poder ouvir palavra que verse meio-ambiente ou inteiro. Vai passar. Para ir ter ao local da prova às doze horas, como recomendava a instituição, saio de casa às onze. O circular Lapa que sói passar entre onze e cinco e onze e quinze passou as onze e vinte e cinco. Por que era sábado: transigi. Cheguei à Av. 9 de Julho faltando dez para o meio-dia. Esperei o circular Ribeirânia até ao desespero. Contra os meus critérios de previdência tomei um moto taxi. A Av. Maurilio Biagi estava engarrafada. Cada carro botava um adolescente defronte à portaria do local da prova. Todos buzinavam. Todos gastavam o mesmo tempo no processo, buzina e desova. Ônibus, sequer, do sistema TRANSERP passou para que eu contasse. Hoje não deveria ser pior, mas foi. De nada me serve preocupar-me tanto com ênclises e próclises. Se não temos Secretaria de Transportes Urbanos. Provavelmente temos Secretário. Nota-se que ele não tem poderes para perpetrar seus deveres. Trata-se de uma pasta sem grande orçamento, portanto precisa de estratégia, planejamento e metas. Mas para tanto é necessário competência, habilidade e agir por oficio. Entretanto é conveniente saber o significado deste agir. Nem é tão degradante assim, às vezes a incompetência é estar no lugar errado, sendo caso tentar-se a sorte no Beto Carrero. Certo é que a população tem direito a ser atendido no âmbito o transporte público. Prestá-lo, é um dever da administração pública municipal.

6 de nov. de 2010

Incompetência.

V. Golfeto, nas suas três últimas reflexões no Jornal A Cidade de Ribeirão Preto, nos conclama ao debate ideológico, a ter mais consideração para com os iluministas ingleses e por fim: ver o mundo à moda da tauromaquista malaguenho.
Depois de aturada atenção, sucumbo às voltas com a tal empresa. Nossa querida prefeita, a quem Julio Chiavenato refere: alcaidessa, na sua luta contra o Nigromante IBGE a fim de contabilizar os estudantes advindos de outras cidades como ribeirão-pretanos; quer ainda que um processo tramitado, coisa julgada, transija e permita que se verta o Leite Lopes internacionalmente; ei-la incapaz de conduzir um concurso público “DAERP” a um bom porto; inestimável a ajuda do Secretário da Casa Civil e os milhares de reais, do erário, jogados ao vento dum palco e plateia miseráveis.
Iluminismo! Franceses! Ingleses! Direita! Esquerda! Qual Picasso ver que o descontruir, assim mesmo, constrói. Nada disso; o iluminismo possível é o nordestino, representado por Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião.

5 de nov. de 2010

Resposta a Vicente Golfeto. Iluminismo.

proposta de estudo.
Origem do federalismo brasileiro.
É um federalismo centrifugo. Se diferencia do norte-americano que é centrípeto, um movimento da periferia para o centro.
Os EUA ( as treze colônias) eram uma confederação.
Eram soberanos. Passaram a ser entes autônomos. Também chamado de federalismo de agregação.
No Brasil. Caracterizado como centrifugo. Era um estado unitário. 1824 a constituição do estado, sem distribuição geográfica do poder. O Império.
A vontade do rei é a medida de todas as coisas. Rei e súdito. Não há cidadão.

Pensamento de Hobbes foi e em que medida foi absolutista.
Prefiro outra abordagem. Leviatã o grande monstro. Equiparou o estado ao Leviatã , o poder só seria licito alojado inteiramente no estado.
Aproximou e alojou o poder todo na estrutura do estado.
Tudo que o rei fizesse ele não poderia ser responsabilizado.

Rei era o estado, confundido com o estado.
A teoria da irresponsabilidade do estado.
Transformada na teoria da responsabilidade objetiva do estado.

Golfeto diz que Platão sintetizou “na pressa é impossível pensar o problema”, então que tal ir com calma. Temos que pensar a formação da federação norte-americana; basicamente: estados soberanos se unem em torno a um poder central; fazendo disso seu último ato soberano; trata-se de movimento centrípeto; da periferia para o centro. Tudo isso quer tão-só dizer que não havia um poder absoluto. Enquanto que a França vivia sob o absolutismo. Hobbes aloja o Leviatã, todo ele, na estrutura do estado. O Rei era o estado, confundido com o estado. Nada mais dizer: o estado é o grande monstro. “Mal necessário”; quando passamos por Locke, já que o “tolo” rousseauniano acreditou na propriedade, alguém havia de mitigar o abuso.
O iluminismo francês foi necessidade fundamental para a divisão do poder; desapear o absolutismo a pleno galope; “a vontade do rei é a medida de todas as coisas”; enquanto o inglês partia de outras premissas; o poder central desconcentrado, sentou as bases do liberalismo. Enquanto França e Inglaterra protegiam a propriedade, os norte-americanos tinham de estimulá-la rumo ao oeste. Na França decepa-se o rei, na Inglaterra seu rei está condicionado, os EUA nem tinham rei: grande parte de sua população era formada a partir do desterro pela lei do “cercamento” inglesa.

3 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Pouco.

Não sou tímido nem um seu contrário. Eu...
Sou pouco.
Mesmo assim tenho sempre que defender este pouco ser. Querer tomar-me menos. Mas, não sou menos.
Sou pouco.
É pouco. Mas, a um tempo é bastante.
Não se trata de ter. Que tenha pouco. Passar a ter muito. Ou mesmo tudo.É um pulo.
Porém mais não posso ser.
Tampouco tudo.
Jamais serei tudo, contudo menos apoucado.
A primeira vez que fui a Brasília levou-me uma flor paulistana. Achei o congresso pouco, mas com vontade de grandeza. Em seguida fomos ao Teatro Nacional assistir à peça Vestido de Noiva. Aquelas três dimensões da psique e a tragédia humana não me deixam.
Ninguém presta na peça.
Partindo do princípio de que as relações sociais são perversas, todas as atitudes das pessoas se revelam em hipocrisias, a competição desleal, os desejos proibidos, o conformismo imbecilizado ou o inconformismo agressivo, enfim, é um universo de obsessivo pessimismo. A ponto de ser irrefutável a igualdade que Alaíde sente entre estar casada ou Pedro estar morto.
Saí do teatro e não me recompus.
Na volta olhava o congresso nacional com tristeza. Diminui importância ao fato e fui a uma festa em Taguatinga. A casa da festa havia sofrido uma dedálea transformação. Suas paredes recobertas com papelão pintado, cediam intenções de caverna à suas pinturas rupestres: Abaixo a cultura burguesa.
Tudo era um labirinto quando chegou Ziembinski. Ele não sei, mas eu preferia ser fauno a Minotauro. Tudo culpa de Mallarme.
Como se fossemos amigos pousei meus braços nos seus ombros e meus dedos sentiam seus os ossos saltados de sua coluna vertebral, disse-lhe cara a cara: O vestido é um monumento à tragédia judaico-cristã, mas ao congresso nacional lhe falta espessura ou lhe sobra altura, não acha! Ao responder-me ouvi seu hálito morno: Os monumentos reduzem os homens às suas reais dimensões.
Fiquei com medo de ser reduzido. Assim sem amesquinhamento passei a limpo o meu projeto. Disse: doravante serei irredutível. Exato. Pouco.

MESOCANAVIÁLIA.


Ao Mestre Golfeto.

Não se trata da morte dos debates ideológicos, sim de supressão temporária, ou se quisermos: um reordenamento de arqueiros e suas flechas utópicas despontadas. Por havê-las lançado contra muro inexpugnável - Este não cai – o das injustiças eternas. Desde já ideologias e debates são instrumentos necessários - não arcabouço mas sim esqueleto - ainda que não suficientes para romper a indignidade fossilizada.
O capitalismo é jogo de vencedor e também de seu pressuposto, o vencido. Há a pieguice de que dinheiro não compra tudo. Que o rico também chora|sofre. Um monte de bobagens que faz parte do pacote. Psicanalise inclusa. O dinheiro compra o que não existe e a abstração disso. E em não havendo aquela ou este, por incapacidade artística, importa da Xauxa ( o país das maravilhas dos Quéchuas ).
Sem medo de falhar, pois axiomaticamente: Sou ação ordinária com direito a voto (redundância exigida) deste todo mercado que falha em mim. Qual Deus está em toda parte e nenhuma. Neste sentido, de nenhuma parte, de ausência, cavo como o inseto drumondiano: mesocanaviália, onde o que funciona é o infra mercado. O que subjaz. O res do chão. As migalhas. O que se junta com a vassoura. As letras miúdas. Sua chalaça. Excetuando a cana e sua cachaça, que adormece em cada ribeirão-pretano a doçura de se sentir um pouco usineiro|capitalista, ainda que pela palha queimada trazida pelo raro nordeste a emporcalhar nossos quintais.

2 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Textos.

Uma coisa é a tragédia e a comédia humana. Qual coisa não exclui os cariocas, nem lhes faz diferentes. Salvo as gloriosas exceções que reforçam a regra. Outra coisa é a tragicômica realidade social carioca e, tampouco nisto há diferenças substanciais frente ao todo da República Federativa. Arnaldo Jabor produz um texto quase líquido para depois de forricar-se, anunciar que mesmo assim de calças arriadas lutarão (inclui os desvalidos) contra a anti-heroína de seu catecismo. É a eterna busca, peregrina, de um homem obstinado a ser Carlos Lacerda.
Num texto permeado por vocábulos como: pistilo, pétalas, corola, gineceu e estames inserirmos a palavra “rosa” não há como fugir da flor. Mas se a tessitura é tricotada por: cheiro, beleza, pétalas, suavidade, flor, lábios e rosa: é difícil fugir da conotação mulher.
Exemplo. Passei pelo chiqueiro, joguei umas espigas à porcada, a lama havia de retirá-la, os cochos lavá-los, uns leitões chafurdavam incorrigíveis, mal ouvia o que mamãe dizia: sim estão gordinhos. Matar um leitão! Gritei. Não! Gritava mamãe com o telefone na mão agitada: é a Miriam Leitão. Mas ninguém se incomoda com os argumentos ontológicos.

1 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Aforismo.

FHC. A maioria não gosta (dele) por não entender o que ele diz ou disse, já os demais gostam justamente por isso.

Lula. A maioria gosta (dele) por entender o que ele diz ou disse, já os demais não gostam justamente por isso.

DISCRIMINAR. Culpa difusa.

“Riobaldo, não se
matou a Ana Duzuza... Nada de reprovável não se fez...” –
falou. E eu não respondendo. Agora, o que era que aquilo me
importava – de malfeitos e castigos? Eu ambicionava o suíxo
manso dum córrego nas lajes – o bom sumiço dum riacho mato
a fundo.
João Guimarães Rosa.

A educação formal,ou não, visa estabelecer fronteiras comportamentais necessárias. Tanto à convivência pacífica como a produtiva no tecido social. Estas zonas fronteiriças sempre estiveram no centro do debate educacional. Os horários, a rigidez, a presença, a atenção e o controle são atos de um ordenamento que conforma o dado civilizatório e adequa o indivíduo ao processo produtivo e social.
O fim da ditadura foi acompanhado da também desestruturação do núcleo duro da família, automática e instintivamente. A ditadura, os pais e os professores batiam . A igreja recomendava. Era feio apanhar, mas não era feio bater. Assim passamos da submissão familiar e social quase total a uma total insubmissão.
O professorado paulista não participou do processo de lutas reivindicatórias, iniciadas pelo operariado paulista. Por não participar não se organizou. Por vários motivos. Dos mais mesquinhos: por presumirem-se classe especial, ao mais nobre, por serem no exercício do seu quefazer efetivamente uma classe especial. Aqueles professores em geral pertenciam a famílias tradicionais, donos de propriedades, comércios e possuidores de outras fontes de renda. Também no atacado eram mulheres, que não dependiam exclusivamente daquela fonte de renda.
A classe média e alta ribeirão-pretana fugia da rigidez e alto nível, - do Décio Setti grande professor de física - do O. Mota para as escolas particulares para-passar-de-ano.
Até então as escolas particulares tinham fama e eram diferenciadas e reconhecidas negativamente perante as estaduais. Por outro lado o vestibular motivava a concorrência entre aquelas. E rapidamente o quadro se inverteu. Ao mesmo tempo em a ditadura arrefecia, abrandava e surgiam as primeiras greves no ABC.
A democratização da educação formal, significando maior contingente de educandos, fazendo que a classe média, no uso do direito de se auto segregar – hoje muram o neo-feudo - , migrasse definitivamente para a rede particular. A migração de professores à rede privada pelos melhores salários. A perda de autoridade do professor ( fim da punição enquanto método). Substituido pelo descaso. Que é a pior punição possível. O acirramento da luta por vagas nas universidades públicas. A não substituição dos então valores de classe média por outro qualquer. A consequência desta ausência de valores. A irrelevância do ensino face aos salários praticados no mercado terciário. A mesma insignificância destes salários para os docentes da rede pública. A alta frequência na implementação de mudanças de conteúdo, contexto e metodologia imprimidas à educação estadual nas duas últimas décadas, sem tempo sequer para pensar, que dirá ser. Este conjunto não poderia mostrar cenário mais desolador. Eu não creio em culpa, mas ela é difusa.

19 de out. de 2010

DISCRIMINAR. a natureza da propriedade privada

Disse Calderón de la Barca que a vida é sonho.
Degustaçao.
Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso, que recibe
prestado, en el viento escribe,
y en cenizas le convierte
la muerte, ¡desdicha fuerte!
¿Que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte?
A vida é uma invenção humana e como se apresenta, desumana.
Se alguma força vem assomar meu pequeno reino e me despoja de tudo que pensava meu, e por força passa a outro pertencer. Tanto não era meu, como dele tampouco será, havendo alguém mais forte, e é regra a existência de um mais forte a exceção é a que não me despojassem.
Qualquer norma regulamentadora para o dito acima será a regra de uma exceção. Dito de outra maneira seria generalizar o particular em detrimento do geral, exceção pela regra. Tal coisa faz parte do mundo do pesadelo. Sendo um pesadelo um gênero da espécie sonho.
Recreie-se com jgrosa Ah, naquele tempo eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se transformar em ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho – caprichando de fazer cara de valentia; ou cara de ruindade!Suavemente digo que as tais regulamentações estão ai por toda parte como moldura barata para pintores despojados das minimazissimas orgulhosidades humanas necessárias e suficientes.
Deus foi um dos regulamentos. O poder divino. Depois como o pessoal passou a não dar muita bola para deus, veio o tal do cercamento, lá na Inglaterra gloriosa. A cambada foi expulsa do campo, preterida a ovelhas. Começava o estado de direito. O estado de direito é o direito do estado. Temos de saber quem é o estado. O estado é a propriedade. Não existe propriedade sem estado nem estado sem propriedade.
Recreio. Machado de Assis. Memórias Póstumas. - Não, senhora – replicou a Razão -, estou cansada de lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí à de visitas e ao resto.”A mim toca dizer: Deus e o Estado de Direito não se afogam. É mais provável o pato Donald se afogar que tais entidades impiedosas.
Dai o pesadelo que é viver na vida da exceção. Se viver é sonho, quantos sonhos podemos sonhar. Quantas formas com suas cores e seus sons e seus pães de queijo poderíamos sonhar quantos recheios para estas formas! Mas não.
Não.
Recreio. Albert Camus. O Mito de Sísifo.
Nunca vi ninguém morrer por causa do argumento ontológico. Galileu, que sustentava uma verdade científica importante, abjurou dela com a maior tranquilidade assim que viu sua vida em perigo. Em certo sentido, fez bem. Essa verdade não valia o risco da fogueira. É profundamente indiferente saber qual dos dois, a Terra ou o Sol, gira em torno do outro. Em suma, uma futilidade.”

18 de out. de 2010

DISCRIMINAR. O nome.

Por aí, extremando, se chegava até no
Jalapão – quem conhece aquilo? – tabuleiro chapadoso,
proporema. Pois lá um geralista me pediu para ser padrinho de
filho. O menino recebeu nome de Diadorim, também.
joaoguimaraesrosa.
Se se tem alguns amigos que têm como nome José, em algum momento terei que discriminar. Quando falo a um amigo não-José, de um amigo em comum no caso um dos Josés fatalmente terei de discriminar.
José!
É o Zé Mazagão, ou Zé de Jurucê, ou o Zé irmão da Ana. Direi.
Quando em 1975 ingressei no Colégio Otoniel Mota, onde ninguém me conhecia e vice-versa.
A Bonagamba disse: de Bonfim! De que Família!

Eu disse dos Galvão.
Pensava então que ela conhecia Bonfim e suas famílias. Que nada! Era um hábito da classe média ribeirão-pretana, o de perguntar de qual família...
Assim o sobrenome ou nome de família e outros nomes adjetivam-te, discriminam-te.
Há pessoas que têm nomes próprios em si discriminadores. Aparecido, Juviniclaudete, Ivanhoilso, Etc etc. O que vem a poupar o interlocutor da necessidade de mais informações a respeito dos Sans-Culottes.

17 de out. de 2010

DISCRIMINAR. A propriedade.


Belo um dia, ele tora. É assim. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. Eu, isto é – Deus, por baixos permeios...

joaoguimaraesrosa.


O direito a propriedade no estado de direito, e o direito desta no estado de não-direito.
Pensar a apropriação de uma gleba é tão absurdo quanto do planeta Vênus. E não devendo adjetivar ou quantificar o absurdo, talmente é a hereditariedade quaisquer de gleba terrena ou planetária.
Economicamente a propriedade existe como objeto essencial à produção, como o é o lucro, o trabalho, a matéria prima, o consumo, o capital e o juro. Todos estes elementos só podem ser afirmados como frutos da atividade social. Os bilhões de trilhões de cruzados novos incinerados pela casa da moeda não faziam sentido nenhum diante da nova moeda. Assim como as vastidões dos cerrados, pastos, habitados por meia dúzia de vacuns, nada podem e delas nada diremos senão que da miserabilidade do indivíduo à elas atado. É o mesmo que alguém possuidor, no ano de 2010, de metros cúbicos do cruzado novo.
De outro modo, a propriedade faz muito que existe. Tal não quer dizer que seja natural. Quer que se pareça natural, e isto é outra historia. Ideologia pode ser. Na realidade onde o couro curte, não range a rede, e a base real da propriedade foi a seu tempo a força, hoje o estado de direito.
Tópicos para melhor discriminar.
A produção de qualquer objeto envolve todo o capital acumulado por uma determinada sociedade ao longo de sua existência. O Capital humano cientifico, de habilidades, língua e costumes, educativo e sua ausência etc.
Ao produzir um poema, tomamos da língua sua sintaxe, semântica, denotações e conotações, estas fazendo sentido somente dentro um contexto social especifico. Veja que os portugueses denotam mais que conotam o contrário de nós. Portanto ser proprietário de uma conotação típica do brasileiro em Portugal é o mesmo que ser proprietário de Orion.
A sociedade não é, ainda que erroneamente se queira afirmar, a soma de individualidades. Na verdade ao indivíduo é tão-só permitido constituir-se partindo de uma sociedade. Se este indivíduo despojar-se de tudo que nele é social, outro não será que nada. É a síntese de O Estrangeiro de Camus.
Os hectares não são diferentes dos poemas. Assim como os poemas são apropriáveis. E isto é tão-só possível hoje pela lei (estado de direito) antes à força.

14 de out. de 2010

DISCRIMINAR. hora do recreio.

“Zé-Zim, por que é que você não cria
galinhas-d’angola, como todo o mundo faz?” – “Quero criar
nada não...” – me deu resposta: – “Eu gosto muito de mudar...”
joão guimaraes rosa grande sertão,v...




Alguém pode pensar que eu sou favorável à discriminação. Não é bem isso. Eu quero aprender, ou estabelecer critérios discriminadores, enfim puerilmente ensinar a discriminar.
Por exemplo: Henry Ford apregoou incerta feita que: Você pode escolher o Ford T da cor que quiser desde que seja preta. Essa piada mercadológica pode parecer singela, mas é coisa séria. Não duvide que todos que compraram Ford T tenham discriminado a cor preta dos seus sonhos ou da preferência familiar.
Agorinha deve estar toda uma família às voltas com a cor preta do seu novo carro preto. Note que as cores que circulam são: preta, cinza (no fundo é preta), prata (cinza disfarçada=preta).
A cor da maioria dos botecos de Ribeirão Preto é amarela. A cor da maioria dos revestimentos de fachada na Avenida 9 de julho é amarela.
A maioria dos bares de Ribeirão Preto tem o mesmo desenho, deve ser o modelo comum do auto Cad.
Lembro-me de uma época que algumas pessoas temiam o comunismo pelo simples fato de que fossemos vestir roupas iguais (não a mesma). Observando bem podemos dizer que somos comunistas. Pior ainda somos Maoístas, pois, as roupas, ademais de serem iguais são de igual cor.
Neste recreio poderia inserir uma série infinita de escolhas idênticas desejosas de diferenças. E outra de diferenças querentes de igualdades.
Por quanto tange estas ociosidades da vontade, nada a temer. A questão tem sizo no que é assaz pertinente às questões vitais humanas. Liberdade de pensar, criar, expressar DIFERENÇAS.
O jeans único, o carro único, as cores únicas geram economias de trabalho, FACILIDADES.
O que pode acontecer em níveis menos quiméricos, que o mesmo perfume ( o verdadeiro, o falso, o de grife e o chinês), nos âmbitos da coisa intangível que é a liberdade de escolha.
Um programa de arquitetura substituiria todos os arquitetos menos um, o que cria o programa. E assim por diante um programa cronista, historiador, tocador de piano, enfim essa coisa binária (sonho de Leibniz) substituindo este quase apêndice que é a capacidade de discriminar, eleger entre coisas diferentes quando há diferenças, pois quando diferenças não há, não há diferenças a discriminar.

DISCRIMINAR. parte II

Esses homens! Todos puxavam o mundo para si,
para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as
coisas dum seu modo
.
J.G.Rosa. Grande Sertões, Veredas.




Numa palavra a cultura de massa – em si uma figura de linguagem – é o fenômeno distributivo do produto da alienação da autotutela. A ausência da autonomia necessária fez surgirem novos poderes tutelares. O Estado, a moral, a religião, a lei, o direito, o modismo, a televisão, as técnicas psicológicas, as técnicas medicinais, o que deve ser lido e comido e bebido, a informação desvairada que não forma saber, etc. De passagem: a tutela do confessionário da idade média – quando Descartes, por antecipação de cento e cinquenta anos, fez rolar a cabeça de Luiz XVI - foi ao longo destes séculos substituída por infinidade de categorias já citadas, sem prejuízo de outras contidas no querido etc.
Parece gracioso tal processo distributivo, esse passar da tutela absoluta do estado religioso a um espalhamento de poderes tutelares, mas é triste. Triste por se tratar de mera distribuição de misérias. Não há seara – a exceção não deve prejudicar a regra - neste mundo que exercite a distribuição de riquezas. Riquezas concretas como dignidade, matéria, conhecimento e cultura. Pelo contrário o que se vê indica uma expropriação lenta e incessante de setores da sociedade – a citar a classe média – até então tidos como cláusulas pétreas dos países sociais democratas. É irrelevante dizer aqui do antagonismo visível entre classe operária ascendente e classe média descendente, exceto a acusação intestinal e bilateral de preconceito. No centro de tudo está a indignidade, não a indignação, já que a indignação se dá pelo autoconhecimento do indigno que se encontra o indivíduo. Antecipando, pode-se inferir que, ao indivíduo que não se assoma à indignidade que vige sua vida, não se lhe pode pedir a consciência que o outro é tão-só diferente, sendo o mesmo, por se tratar de intangibilidade hermenêutica. A absoluta falta de ferramentas.
Deus como tutor único tinha todas as respostas do nascimento à morte e depois desta. Mas a cabeça de Deus era a cabeça de Luiz XVI rolando ao cesto, e de seu corpo estrebuchando se pôde sentir o respingos dos estilhaços da autoridade até o dia de hoje. Sem, contudo bentos estilhaços deificar cada homem e mulher. Não houve desde logo uma divisão equânime como se supunha. Mesmo na França de 1789 o operário e a mulher não foram considerados cidadão e cidadã. Olhando para o vazio constitucional discriminatório, discriminou e então Napoleão falou: não importam os direitos importam os interesses dos homens. Seria gracioso se cada homem fosse autônomo, soberano; e Napoleão como outros propunha justamente o oposto, não uma moral positiva e universal, mas a mesma de sempre o que vale para mim, só vale quando vale exatamente para mim.
Assim as proposições são sempre obscuras, para que dentro desse obscurantismo alguém se lhe fará de guia.

13 de out. de 2010

DISCRIMINAR. parte I

E o Fafafa
– este deu lances altos, todo lado comigo, no combate velho do
Tamanduá-tão: limpamos o vento de quem não tinha ordem de
respirar,

joão guimarães rosa. GSVeredas.


Grande faculdade humana ao longo da história ( humana) – pode que exista outra - é a discriminação, com o subjacente juízo de valor. O se deparar com um indivíduo de outra tribo, concorrente direto por alimentos, por exemplo, não implicou obrigatoriamente na solução, é dizer, extermínio do outro, ou de toda a tribo. Pode que se fez cara feia, ou lançaram-se uns contra outros com berros e caretas, ou ainda pintou-se e por qual motivo não se insinuarem em processos sedutores, afinal a cooptação também é um modo de submeter o outro. Que se dava que se deu? Uma resposta fácil: aquilo deu nisso.
Discriminar com a suficiente adequação do juízo de valor foi e é um instrumento necessário – nem sempre suficiente – à sobrevivência. Seu primeiro uso e de uma necessidade absoluta é nos permitir saber: o outro não sou eu – ainda que o outro seja uma representação da minha vontade – o que significa dizer que este sempre será outro até a minha morte. Na adolescência, na esquizofrenia e em outras psicopatologias, certos indivíduos dessas classes se confundem com o outro, por mera ociosidade da vontade tendem a querer – querer este a constar: de uma “fervorosa” morbidez – ser o outro.
Salvo tais psiques em seu pathos – dificilmente curáveis - o que concerne à idade passará com o tempo, sem prejuízo das exceções para que se tenha a regra, os incuráveis adolescentes tardios.
Em rigor a discriminação evoluiu tal qual a circunstância em que se produz a vida, seja seu modelo de produção e a natureza e as atividades naturais do planeta. De outra maneira, a discriminação é intuitiva. A intuição por sua vez é o salto que se dá desde o conhecimento inconsciente. Trata-se de um salto qualitativo, longe de ser um salto no escuro, inconsciente, mas sim fruto que é de uma sabedoria primeira, anterior. Um analfabeto diante de uma oração sintática e gramaticalmente correta nada intui. A intuição implica uma sabedoria, um conhecimento prévio e posteriormente a conceptualização.
Se a discriminação é intuitiva, e a intuição é baseada em um conceito e este conceito é pré-estabelecido por uma sabedoria, dizer da discriminação: preconceito, é dizer o próprio conceito da coisa em si. Tal redundância é mais que um problema de semântica. Tal redundância está no centro de grande parte das questões atuais, tanto quando dizem respeito ao questionamento em si, quanto às suas soluções. Posto é que se o problema é mal formulado, quaisquer respostas são possíveis e desnecessárias a uma só vez

12 de out. de 2010

UMA MICA DE GUIMARÃES ROSA.

De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não
possuía os prazos. Vivi puxando difícil de dificel, peixe vivo no
moquém: quem mói no asp’ro, não fantaseia. Mas, agora, feita a
folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range
rede. E me inventei neste gosto, de especular idéia.

Observou o porco gordo, cada
dia mais feliz bruto, capaz de, pudesse, roncar e engolir por sua
suja comodidade o mundo todo?

Como é de são efeito, ajudo
com meu querer acreditar. Mas nem sempre posso. O senhor
saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido
diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo....]

Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força,
de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por
principiar.

Esses homens! Todos puxavam o mundo para si,
para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as
coisas dum seu modo.

Senhor pensa que Antônio Dó ou Olivino
Oliviano iam ficar bonzinhos por pura soletração de si, ou por
rogo dos infelizes, ou por sempre ouvir sermão de padre? Te
acho! Nos visos...
Compadre meu Quelemém
nunca fala vazio, não subtrata. Só que isto a ele não vou expor. A
gente nunca deve de declarar que aceita inteiro o alheio – essa é
que é a regra do rei!

11 de out. de 2010

LIBERDADE DE EXPRESSÃO.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Liberdade de expressão.
A liberdade de pensar, criar e escrever é constitucionalmente restringida, no artigo quinto inciso X. A sintaxe coage o ato, condicionando o texto, condicionará a noticia. E o texto receberá dos olhos do leitor uma derradeira mirada critica. A lei, a gramática e o outro. Antes destes a ideologia já aplicara seu código.
Os manuais de redação “proíbem” o uso de determinadas palavras, algumas construções, coisa que quer parecer tão-só uma cura do estilo. Normalmente não fazemos mossa. Mas vai longe e faz juízo de valores. Não é meramente cuidado estético. É também um impedimento ao livre exercício da escrita em nome da clareza.
Que dizer do tempo conselheiro da urgência e sincronicidade. Falo da urgência do texto e da nossa. E acabamos por sapecar qualquer coisa no papel,
Mal começamos a escrever e estamos rodeados de empecilhos roendo nossos melhores substantivos.
Quando venço estes obstáculos irei de encontro ao poder de policia da hierarquia funcional. Um jornal tem sua missão muito bem estabelecida, sua cultura empresarial, suas metas e objetivos a serem auferidos e suas estratégias de suporte às táticas de negócio. Ao contrário que desejamos o jornal tem uma unidade ligada a um centro de massa. A pluralidade está suspensa por canalhices várias dentre tantas a democracia. Fatos anedóticos só confirmam.
Tudo o que antecede o ato criador e enquanto perdura o fazer e seus suores, posso chamar de censura: intrínseca, interna e externa.
A gramática. A empresa. O consumidor.
O normal o corriqueiro é que o produto seja controlado em todas as suas fases. O controle de qualidade é a normalidade. O fato de não haver mais demissões revela o justo casamento do texto produzido com as necessidades da empresa e seu produto. Não sendo a demissão que aponta para a censura. Mas sim a conformidade.

8 de out. de 2010

O ABORTO.

O aborto é sempre praticado pelos outros. Nós somos os atores políticos que nos imiscuímos no assunto, discutimos. Os atores políticos acabam por se agruparem em torno a algumas posições: favorável ou contrariamente e ainda nem mar ou terra.
O primeiro ator a se manifestar é sempre a igreja por meio de um bispo ou cardeal. Ela mantem ligada sua argúcia secular, capaz de farejar entre escombros humanos algum desvio de rota.
Logo a ciência ligada à área médica ou ligada à psicologia, tentando explicar quando começa a vida. Os políticos aparecem se equilibrando na corda bamba da mediocridade da maioria.
Em tese anterior digo que tanto maioria quanto minoria já está formada. Há entre estes grupos algum intercambio de indivíduos nunca de ideias. É incrível como cambiamos de postura, voto sem mudar de ideia.
Há pessoas que quando pensam em uma lei do Aborto chegam a pensar numa obrigatoriedade de sua prática.
A ciência médica fez por diminuir os natimortos, a mortalidade infantil entre tantas atividades louváveis, e por uso de técnicas e instrumentos como a ultrassonografia nos mostra o inicio da vida, em movimento e a cores.
A pergunta que se faz é: quando começa a vida! A ciência responde:
Se a NASA encontrar uma ameba em Marte ou em qualquer outro lugar, dirá: há vida em marte, que dizer de um feto, um óvulo, um espermatozoide!
Há vida no saco escrotal, nas trompas de falópio. Na água parada nos fundos de quintais, infestada de larvas do mosquito da dengue.
A igreja não tem legitimidade enquanto ator politico em defesa da vida, posto que parte significativa de sua existência foi a de eliminar vidas, justamente vidas bastante além da biológica, incomuns, extraordinárias, estas no momento em que alcançavam o mais alto nível a que uma vida pode aspirar: o questionamento.
Assim a igreja que fundamentalmente deve cuidar da vida pós-morte e já contribuiu de maneira eficiente e eficaz na produção deste tipo de vida, deveria para o bem dos vivos se calar.
A ciência não pode se contradizer e pela lógica do terceiro excluído, já disse o que é vida. Resta discutir o futuro desta vida.
Falar do futuro desta vida é desde já tutorá-la, e isto significa responder por ela dentro da sociedade.
Por outro lado não partimos de um ponto zero para a construção de uma sociedade. A nova vida tão-só biológica ou não, se insere desde seu primeiro momento na sociabilidade, no encontro de óvulo e espermatozoide. A sociedade é atividade dos seres em um contexto com caraterísticas e circunstâncias de movimento, seja o mundo real, e dele não escapamos senão pela morte.
O mundo real aborta. Este é o fato. Esta é a prática.
No Brasil sem lei do Aborto, a prática do aborto é infinitamente superior (proporcionalidade incluída) à da Espanha que tem uma Lei de Aborto e se discute sua extensão. Isto não é importante. O significante é: o Brasil aborta muito e de maneiras impensáveis. Aborta por toda parte. Em clínicas de luxo. Em clínicas obscuras, em paragens sórdidas. Com médicos especialistas, paramédicos e a maioria não médicos. O Brasil aborta com ou sem auxílio da psicologia. Falo do aborto real do ser prematuro, da interrupção da gravidez, da prenhe situação, não da metáfora do aborto social que se dá um pouco mais adiante já na adolescência. Este aborto tardio não me interessa, posto que não faço nada para sobrestá-lo e pronunciar-me assim a respeito dele, é piegas. Eu concordo em ser egoísta piegas não.

O fato ocorrendo dessa maneira gera problemas sociais, éticos, traumas psicológicos, físicos e dado o quantitativo gera um problema de saúde pública.
Dessa maneira é que sempre deveria se estabelecer toda e qualquer lei, pela necessidade de regulamentação de um costume. A moralidade como parâmetro, baliza comportamental, nessa e em muitas outras atividades humanas, não mais soluciona. É então que precisamos regular tal atividade via legislação.

7 de out. de 2010

A Sociedade e a Estupidez.

A Sociedade e a Estupidez.

Ainda não me lembra do livro que um dia li, me recordo que Machado de Assis tinha um gosto especial pelo pronome átono colocado assim, para dizer que não se lembra de algo, colocando aparentemente nas mãos do livro a capacidade de exercer o verbo em oposição ao sujeito. Na verdade a ideia é que lembrar, concretamente é algo impossível ao sujeito, este soerá sempre esquecer. Na prática quanto mais se quer lembrar de, mais se esquece de, e infelizmente vale o contrário. Machado de Assis narrou – sem o saber, pois o fato de ter consciência tornaria impossível tal empresa - celebremente toda a trajetória do estúpido Dom Casmurro. Uma espécie de Hamlet que se mareou com a ressaca dos olhos de Capitu.
Entretanto meu tema é a estupidez no contexto social. Tenho vontade de saber se o que determina uma sociedade decadente é a estupidez que a avassala, por mera imposição quantitativa ou qualitativa. Creio que seria um grave erro acreditar que o número de estúpidos é maior na sociedade decadente que numa sociedade em ascendência, já que o número de indivíduos desta categoria se reproduz fiel e proporcionalmente em qualquer grupo humano. Assim ambas se afligem pela mesmíssima porcentagem de estúpidos. O que vem diferenciar uma sociedade em declive é a pró-atividade da massa critica de estupidez, diante da permissividade das demais categorias.
Já um país em franca evolução tem insolitamente indivíduos inteligentes gastando seu precioso tempo e qualidade na tentativa desesperada e inglória de controlar aos estúpidos. Esta pró-atividade do inteligente é bastante para produzir ganhos o suficiente para a redistribuição ao restante da sociedade.
Num país em decadência uma parcela da população, ( número de estúpidos segue sendo o mesmo) assiste pacificamente uma alarmante proliferação de malvados, sobretudo entre os indivíduos que estão no poder, malvados estes com alto grau de estupidez. Se os que estão no poder são malvados e estúpidos resta que: os que não estão no poder são uma triste maioria de incautos e inteligentes.
O problema se torna imenso, diante a impossibilidade de discriminar o estúpido enquanto este não age.

6 de out. de 2010

A ESTUPIDEZ. Bouvard er Pécuchet de Flaubert.




Li em algum livro que não quer me lembrar, que todos os seres humanos estão dentro destas quatro categorias: estúpidos, incautos ou crédulos, inteligentes e malvados. E que qualquer grupamento humano (médicos, físicos, lixeiros, pedófilos, outros padres, pastores, balconistas etc) reproduz as mesmas categorias em proporções equivalentes. Não há diferenças significantes quanto à grandeza quantitativa de cada grupo, sendo composta na ordem de 25% do total de humanos para cada categoria.
Convém notar que em alguns setores ou sociedades algumas categorias são mais atuantes que outras. O que não implica um maior número de indivíduos na determinada categoria.
 Em sociedades decadentes podemos observar a pro-atividade da estupidez. Isto pode ser explicado pelo fato da categoria dos inteligentes muito se aproximar da credulidade, incauticidade. Para poder continuar definirei cada categoria. Sendo:

Incauto ou Crédulo o individuo que inicia a ação, age no processo e o finaliza. Sendo o resultado final desta ação: uma perda para ele e um ganho para os demais. Pode ocorrer ao incauto proporcionar uma perda a outros indivíduos, mas sua tendência principal é não causar perdas a terceiros.

Inteligente. É aquele que inicia, age e finaliza uma ação onde todos os que estão envolvidos no processo saem ganhadores. Pode, que uma vez ou outra o individuo inteligente adote uma atitude malvada ou incauta, mas na maior das vezes sua característica é de inteligência.

Malvado. É aquele que com suas atitudes consegue ganhos para si e inevitavelmente perdas para outro individuo. Esta é uma categoria rica em variações.
Há o:
Malvado perfeito, que causa perdas de mesmo valor às de seu ganho.
Malvado inteligente ou desonesto. São aqueles que ganham mais que aquilo que foi perdido por outro individuo. São raros, mas existem.

Malvado à beira da estupidez é aquele que provoca perda muito grande para ganho insignificante. É quase um estúpido.

Em relação às categorias acima, é possível criar prevenções que nos poupem de perdas desnecessárias. O intangível, inacessível é a prevenção respeito à categoria que se segue.

Os Estúpidos. Tratamos agora de uma categoria absurda. Criaturas inimagináveis. Personagens impossíveis senão que na realidade. Gustave Flaubert gastou anos de sua vida escrevendo um livro em que os personagens principais Bouvard et Pécuchet¹ eram dois estúpidos citadinos que foram morar no campo. Flaubert abandonou a obra. Dada a imprevisibilidade dos personagens. As ações dos estúpidos são sempre duvidosas. Com eles perdemos dinheiro, tempo, energia, apetite, tranquilidade e o humor. O estúpido é inconveniente sempre, e não ganha absolutamente nada com suas atitudes impensáveis. Ninguém é capaz de prever, entender ou explicar o quê e o porquê dos seus afazeres.
O que podemos sim afirmar é que as pessoas estúpidas são atrozmente e fundamentalmente estúpidas, e têm a perseverança de nada ganhar e sempre perder. Há, contudo uma subcategoria, que ademais de causar perdas aos outros com suas ações inverossímeis, as fazem gerando perdas a si próprias. Trata-se de gente mui perigosa: os Super-estúpidos.
Clique aqui para ler no original Os estúpidos de Flaubert. um livro inacabado.

Moto táxi. Projeto de lei. Ribeirão Preto.

Moto-táxi. Moto-taxista. Terceira pessoa do singular do verbo dar é: dá. O adjunto adnominal flexiona com o substantivo, paroxítona terminada em y não se acentua. Estas e outras no projeto de lei que passeia pela câmara dos vereadores de Ribeirão Preto.
Tudo começa no título que dá nome ao projeto de lei. De seguida o artigo segundo, parágrafo único estabelece a quantidade de concessões segundo o critério demográfico, com limite de mil concessões. Sem me aprofundar: diria que é uma maestria de nossos legisladores a capacidade de criar, gerar mercados paralelos. Quando a própria constituição prega a livre iniciativa, regulamentada claro, mas livre iniciativa. Velho exemplo é a revenda de passagens no transporte urbano.
O artigo quinto inciso primeiro trata da idade mínima do passageiro, e a estabelece em doze anos como mínimo. Neste caso caberia estabelecer não só uma idade mínima de vinte um anos, como exigir como mínimo três atestados médicos, de médicos de conduta ilibada, dizendo da higidez física e mental do possível usuário. Continuo no parágrafo quinto em seu inciso terceiro que trata da obrigatoriedade de um segundo capacete, aquele do usuário. É uma insalubridade, ainda que o inciso quarto do mesmo artigo ofereça o remédio: a touca descartável.
Em suma é a contramão da constituição e da modernidade que fala em dignidade da pessoa humana, e do trabalho. Ainda: o governo municipal deveria concentrar suas parcas capacidades e competências no intuito de solucionar o transporte coletivo. E neste sentido o que resolve o problema é: ônibus, horários, trajetos, preço e equipamentos públicos a citar: pontos de ônibus, terminais etc.
Tudo somado o que veremos não será outra coisa senão o que vemos com respeito aos taxis e seus pontos, mais um comércio paralelo de veículos e pontos, que o atendimento de uma demanda por transporte de possíveis usuários. Quase uma armadilha para estes. Não é de causar espanto, visto estarmos em pleno ciclo da cana-de-açúcar.

5 de out. de 2010

BLOOM

Sua mulher ainda dormia quando ele voltava do açougue com uns bifes de rins de bode. Sua gata miava roçando contra suas pernas. Era feliz se pudesse comer vísceras como desjejum e depois defecar com critério. Derramou o leite quentinho no prato da gata. Levou para sua mulher um par de ovos moles e uma fatia de bacon junto com duas torradas, ao percebê-la desperta pelo nheque-nheque da cama. Meteu a mão em meio a sua bunda quente e úmida. Despediu-se dela com um beijo na bochecha.
Defecou com calma enquanto passava os olhos numa revista velha, quando nova a havia guardado por algum artigo que então lhe despertara interesse, hoje a folheia como se tratasse de uma revista de infinitas folhas, não encontra o artigo. Nunca tarda muito neste defecar, pois crê que o estar ali em demasia provoca hemorroidas.
No caminho para o trabalho, era um vendedor de anúncios de jornal, comprou um sabonete. Passou na sauna uns bons minutos. Saiu com o sabonete umedecido, embrulhado numa folha de revista, metido no bolso.
Não tinha pressa, pois faria somente uma visita agendada com o senhor Xaves, o chaveiro, antes de ver seu amigo pela última vez.
Passou pela quitanda para acochar o traseiro da quitandeira. Ela lhe realçou seu odor a eucaliptos. Ele estranhou que o sabonete de nada lhe havia servido. Como iria a um enterro com este aroma de lavabo asseado.
No mercadão,ancorou no bar do Ceará pelos rins de bode, lá seu amigo José comia o segundo ovo cozido, soube disso ao ver no pratinho as cascas em duas cores. Passou o sabonete para o bolso traseiro. Sentou-se no tamborete.
Na Única encontrou-se com Xaves por casualidade. Juntos foram ao escritório, onde Xaves lhe deixou três cheques pré-datados, “não sei se vão aceitar o primeiro para trinta dias”. “pegar ou largar”. Pegou.
Dali foi para a sede do jornal onde o chefe dos editores estava reunido com os editores-chefes. Estes não lhe deram a menor atenção, mas logo repararam na gola puída de sua camisa. Quem era aquele, quis saber o chefe.
Era vendedor de anúncios e antes de tudo casado com a melhor bunda de vila Bonfim, e que ela fazia favores ao editor de política. “O Jorge aquele nazista.” Sim.
Deixou os cheques com a secretária. Novamente no saguão foi interpelado pelo chefe. “Virás conosco?” “Não venho com o fotografo.” “Faço questão.” “Assim sendo.”
No carro com o redator de cultura a seu lado, fez muitos meneios de cabeça, e voltou o sabonete para o bolso da frente. “Na vida não há tempo para tudo.” Disse o redator. Meneou. “Não há tempo para rir, chorar, divertir-se e entediar-se“ Aquiesceu. “Quando nascemos já sentimos o cheiro espalhado” “Cheiro! De que?” “da morte por isso choramos” “É”!” “Depois nos acostumamos”“ A que?” “É melhor mudar de conversa, gostas de futebol?” Anuiu.
Que digo ao esteta! Que gosto de minha gata, de minha puta, do cheiro de urina que tem os rins de animais que como, para depois aliviar com sossego o meu ventre, lendo seus artiguinhos bajuladores, com o cheiro de merda misturado ao de jornal.
Tudo imaginando relatos antes de empreender um dia de trabalho, trabalho esse duvidoso, pois o que faço é andar a esmo, perambular, apachorrar, passar a mão na quitandeira, naquele cu fragrante de ventosidades matinais.
Que sou a carne, sangue e ossos do mais autêntico e desconcertado despiste. E minha alma reencarnada ou não, meu espírito, transmigrando ou donde quer que se encontre são a matéria ou o vento de uma peregrinação acorrentada à carne.
Passo em revista o universo rememorando a peripécia da minha vida, arrastando correntes feito alma penada, acolhida e rechaçada, não pelo mesmo céu de donos de jornais e de almas, se não que o céu de analfabetos e leitores, santos e canalhas, crentes e ateus, trabalhadores e preguiçosos, que assistimos ou atravessamos o drama conscientemente ou de maneira casual, pois a vida é uma enciclopédia de casualidades.
À noite voltarei para ela que é ardente e perspicaz e tenuamente puta, como todos mais ou menos o somos.
Voltarei bêbado e sem os argumentos que pereceram a luz do dia. Resta-me este que é diluído e poroso como o passar do tempo, ou mesmo o inacessível entendimento desse passar o tempo.
Sou as coisas que me sucedem, me tocam e que a mim se misturam e se alteram para separar-me delas transformado, ou como se não houvesse passado coisa nenhuma, salvo a matéria de que são feitas tais coisas, de tempo diluído, de porosidade e inacessibilidade e que por isso duram.

TIRIRICA.

Nós aprendemos enquanto fazemos, o quê fazemos e como o fazemos. Se tratados como palhaços, o máximo que faremos é exercer a comicidade. Por toda parte somos aprendizes de palhaços, e o tempo todo.
No ponto de ônibus, este uma palhaçada que não tapa o sol nem a chuva. Nos diferentes desenhos e materiais exposto pela nossa cidade destes, dos mais antigos aos atuais, contemplam todo tipo de proposta arquitetônica e de nenhuma arquitetura, nenhum deles propôs qualquer ergonomia, talvez cobrir do sol quando este no seu zênite. Que podemos dizer do arquiteto contemplado pelo seu desenho, do poder público, da banca examinadora que o escolheu por meio de concurso público, discricionário e legal. Competente! PALHAÇOS!
Dentro do ônibus, somos malabarista, contorcionistas e palhaços. O ônibus assim atrasado, nós os palhaços nos apertando, os secos com os molhados pela chuva ou molhados pelo suor, nossos cheiros entre perfumes falsos ou cheiro de jaulas leoninas.
Em Barcelona a tarifa é um euro pagado ao motorista, se comprar antes é menos. Os motoristas custam à empresa quatro mil euros mensais, os ônibus têm aquecimento no inverno e ar condicionado no verão. Mas não têm o maldito vídeo instalado fazendo publicidade e mostrando musicais com a mesma qualidade do serviço, para micos palhaços. Ah! Aqueles empresários ganham dinheiro. Estes! Tu dirás.PALHAÇOS.
O BRASIL PRECISA DE REFORMAR O CURSO DA ACADEMIA CIRCENSE E MALABARES.
O povo palhaço precisa ser educado. Reforma educacional. Com direitos e deveres do cidadão.
O politico PALHAÇO. Improbo e inelegível. Reforma politica e ética.
O arquiteto PALHAÇO. Reforma curricular. Incluindo ética.
O empreiteiro, concessionado, PALHAÇO: Caçar a concessão e Reforma moral.

31 de mar. de 2010

o medo e a àgua.

a água tem certeza.
a água nem discute, evapora.
a água nem lembra-se do frio que fazia e congela-se.
a água ve o sol e degela.
a memória da água é seu guia, sua bússola na mudança.
temos essa memória, ainda sem a poder narrar. é vaga.
o medo do bosque.
o medo da chuva.
o medo da seca.
o medo da fome.
o medo.
o medo é a ferramenta que nos adianta algo de ruim que já aconteceu
.

22 de mar. de 2010

A ÁGUA DE CADA DIA NO DIA DA.

Hoje é o dia da água.

A água está em tudo, assim é universal.
Não cria montes, se nivela. É dois terços do planeta.
Solvente universal.
É violenta em maremotos, trombas d’água, poços artesianos, erupções, torrentes, turbilhões, pororocas, enchentes, vagalhões, águas divisoras, águas divaricadas, gêiseres, cataratas, redemoinhos, rebojos, inundações, dilúvios, aguaceiros.
Tem fontes secretas. Satura o ar. Cai destilada em orvalho, simples H2O.
Penetra perseverantemente em canaletes, regas, diques e vazamentos.
Purifica, extingue a sede, o fogo , é portadora de nutriente à vegetação.
Toca moinhos, dínamos, turbinas, centrais hidroelétricas, lavanderias, curtumes e fiação.
Útil em canais, rios se navegáveis, docas flutuantes e secas: sua potencialidade derivável do domínio das marés ou corredeiras caindo de nível em nível: sua fauna e sua flora submarinas ( anacústica, fotofóbica) numericamente, se não literalmente, os in-habitantes do globo.
Ubiqüidade constitutiva de 90% do corpo humano, noxiedade dos seus eflúvios em pântanos lacustrinos, brejos pestilentos, flores murchas charcos, poças estagnantes a lua minguante.
Criadouro da dengue.
Ótima na cerveja, café, no gelo da caipirinha e do whysk.
Metamorfoseia-se em vapor, névoa, nuvem, chuva, granizo, neve, saraiva.
Algo assim escreveu James Joyce quando pergunta: que na água Bloom, aquamente, extrator de água, aguadeiro retornando ao fogão, admirou? Respondeu.

Estou sentado sobre o Aqüifero Guarani e a cinquenta metros há um poço artesiano que sacia a sede de Bonfim Paulista.
Outro dia li/ouvi que em vinte anos será o fim
do aqüífero Guarani.
Fico com o Leopold Bloom e seu turbilhão panegírico, poético e romântico. Outros razoamentos sempre estarão lotados (outro dia poderemos falar disso) como aos vinhos com os seus devidos e particulares interesses.
Fico também com a certeza que bebo água, pois a busco no poço antes da adição. Quando fazia um curso de química analítica quantitativa levei como amostra água deste poço artesiano, antes dos acréscimos de cloro e flúor determinados pela OMS. Outro tópico a ser discutido, sejam as adições generalizadas de substâncias a produtos básicos como farinha, água e etc. Práticas que como mínimo interferem na minha eleição individual, seja eu quero ingerir ácido fólico e flúor se assim me apetecer e nas quantidades que me fizerem falta. Esta granjazização me enfurece.
Beba água.
Eu prefiro cerveja, quando tal. Não esta cerveja nacional.

O pão de cada dia.

18 de mar. de 2010


If you're blue and you don't know
where to go to why don't you go
where fashion sits
Puttin' on the Ritz
Different types who wear a day
coat pants with stripes and cutaway
coat perfect fits
Puttin' on the Ritz

3 de mar. de 2010

a dama das camélias. uma puta pizza.



diante do meu pré tisunami literário, minha preguiça e seu direito, meu direito a preguiça.
uma pizza de salada, uma salada na pizza.
A Dama das Camélias é uma casquinha de pizza crocante, coberta com lágrimas de tomate sem peles ou sementes cozidas a baixa temperatura em azeite de oliva e posteriormente temperados. Rúcula cortadinhas a juliana e temperada com pesto genovês. Esparramo umas folhas de rúcula inteiras, uns tomatinhos cereja pelado e recheado com pesto, umas estrelinhas de carambola, uns pedacinhos de palmito, uns chips de casquinha de pizza com sabores variados; gorgonzola, aliche, bacon etc... e uns triangulos isóceles de queijo meia cura. Tudo temperadinho com pesto rosso.

bon apetite.
salut i força al canut.

25 de fev. de 2010

LANÇAMENTOS.









LA TRAVIATTA PIZZARIA
APRESENTA
PIZZAS COM ARTE CULINÁRIA.

1. ASPARGOS EM TEXTURAS. Tomates cozidos em azeite a baixa temperatura, mussarela, aspargos (assado, fresco a Juliana e cozidos) vestidos de presunto cru e chips de presunto cru.

Ilustração 1 aspargos em texturas

2. LINGÜIÇA DO PIPPA. Lingüiça de pernil do Pippa de Bonfim, em fatias e assadas no forno a lenha, lágrimas cebola assada, morrones (pimentões vermelhos e amarelos assados e sem pele)


3. CAMARAO ALHO E ÓLEO. Molho de tomates frescos sem sementes e sem pele, mussarela e camarões médios flambados com conhaque e temperados com alho-óleo e salsinha micrométricamente picada.




4. BERINJELA NA GRELHA. Molho de tomate seco ( Pesto Rosso), mussarela, e fatias finas de berinjela grelhadas e marinada a quente em azeite e ervas.

5. RÚCULA. Molho de tomate seco ( pesto rosso), rúcula picadinha, mussarela, rúcula em folhas, chips de aliche, chips de bacon, chips de parmesão, chips de gorgonzola e de rúcula. ( chips= casquinha finíssima e crocante de massa de pizza com o sabor).

6. RÚCULA COM GELATINA DE GASPACHO. Molho de tomate fresco, picadinho de rúcula, mussarela, rúcula em folhas (brunoise (picadinho) de tomate, pimentão vermelho, pepino, cebola temperado com azeite e gelatina de gaspacho.

7. PIZZASALADA DE RÚCULA. Massa fina e crocante, pesto de rúcula ( azeite, rúcula, parmesão e pistaches) rúcula, Juliana de endívias, tomates cerejas recheados com pesto, palmito, chips de sabores e fatias de meia-cura temperado.

8. TAPENADE DE ENDÍVIAS. Molho de tomates frescos, mozzarela, barquinhas de endívias recheadas com alichela e endívias fatiadas à Juliana.

9. ALICHE. Molho de tomates cozidos em azeite, filetes de aliche, azeitonas pretas descaroçadas e fatias finíssimas de alho branqueado em azeite de oliva.

11 de fev. de 2010

CidoGalvão & Co Inc. faz recall.

O Chairman da CidoGalvão & Co Inc. Cido Galvão disse a agência Reuters que aproveitará o carnaval para realizar o tão esperado recall de suas “eis”. Cido Galvão pontifica: principalmente nas modelos das décadas de 70, 80 e 90. Cido Galvão alega que a CidoGalvão & Co Inc em tais décadas ainda não possuía as atuais plataformas robotizadas. Em certo momento este reporter foi tomado pelo espanto quando o alto executivo troou sinceridades de alto-falante de torre de matriz: fazíamos mais nas coxas. O chairman adiantou que o recall se refira principalmente à troca de óleo, mas não exclui outros re-toques. Para que não exista fila e constrangimentos, Cido Galvão sugere que se apresentem por ordem alfabética. Abigail, Ana Clara, Bene, Cidinha, Claudinha etc...
Hoje termina o carnaval na Bahia. Tranqüilos o deste ano também começa hoje.

4 de fev. de 2010

Um relâmpago.


Então o pai girava o pedaço de lombo de porco. O menino perguntou se já estaria pronto. Emilio responde: não, que tudo aquilo era uma preparação para o que ainda havia por fazer e o longo que seria. O mesmo que ir ao centro da cidade ver os peixinhos vermelhos e amarelos em volta do coreto e voltar.
“Primeiro dou-lhe este aspecto de acabado para só depois fazê-lo”. Como se a aparência fosse uma urgência. Se for saboroso, tenro o saberemos depois, se antes já estaremos seduzidos, que importância haverá no contido, no fundo é o não existir a possibilidade de transformar conteúdo em beleza. Emilio dava outro tombo ao lombo da besta, numa frigideira que acumulava a essência do sabor, o lombo mostrava seu lado dourado e o conjunto seguia exalando olores matizados e amalgamados de todos os ingredientes, dos quais só podemos dizer alguma coisa partindo das matérias primeiras e neste momento era outro o cheiro, um que não estava ali no princípio de tudo. O lombo, o alho, o louro, a pimenta do reino e o limão-cravo. Tudo começara na noite anterior, de um domingo que seria cheio de aventuras. Antes, porém uma longa marinada, sonhos. Todos aqueles domingos: como aquele que foram pescar no rio Mogi-Guaçu. O menino sentado no banquinho colocado no cano que une o selim ao guidão numa bicicleta de aros e raios reluzentes. Emilio prendia a barra da calça com uma atadura para que não resvalasse na corrente engraxada, erguia com seu capote uma pequena cabana para o menino, caso de chuva, que soe cair torrencialmente à tardinha e era quando as traíras com as gordas gotas da chuva fazendo cogumelinhos invertidos no lento leito da barrenta água do Mogi nos seus saltos para a indiferença de ser água de um caudal; se despertavam entre as algas e saiam à caça. Emilio ia uma a uma retirando-as dos anzóis das varas cravadas na branda barranca úmida do rio. Emilio entretido com traíras e varas tarda a dar-se conta que o menino não estava dentro da cabana, somente quando foi buscar o embornal para guardar os peixes se inteirou de sua ausência. Olhou para um lado, outro. O caudaloso rio. Olhou-o sem desespero. Temeroso enxugou com somente as mãos a água do rosto e começou a chamá-lo: Ademir, Ademir. A chuva fazia ruído e seus gritos nem sequer ecoavam e Emilio pôs-se a vasculhar pela mata ciliar. Não tardou a divisar Ademir, que se tapava a cabeça com uma folha de inhame e ali se mantinha entretido com as gotas da chuva que deslizavam pelas folhas do tubérculo. Sabia que Ademir tanto quanto ele temia a água e sua obediente voluminosidade e seu justo e antidemocrático peso especifico. Seria então domingo, logo que começassem a construir a cabana embaixo da mangueira, manga espada, ao lado do limoeiro, limão cravo. Juntos, logo depois do café com leite e pão com manteiga, já haviam aberto o cilindro do latão de duzentos litros e desta folha retangular de zinco fariam o telhado da cabana, quando o lombo fosse para o forno. Ademir já corria quintal afora rumo à cabana, quando a porta do fogão se fechou sobre o lombo todo dourado. Emilio ouviu um grito contido, de um pé de moleque pisando os restos esféricos do latão. O sangue era tamanho. O corte imenso. Era domingo. Tudo estava fechado, menos a dona Neusa que o benzeu depois de lavar o corte com uma infusão de fumo de corda, beladona e a urina do próprio Ademir. Voltaram para casa. À varanda dos fundos da casa o menino pouco se importava com a construção da cabana e Emilio tampouco a terminou.




P.S. Algum que queira continuar lendo a história de Ârtie, deve clicar o enlace acima e a esquerda.
Fernando um velho conhecido se incumbiu de continuar.

3 de fev. de 2010

Procura-se escritor.

Começo a me preocupar não com essa casa invadida. Hoje é quarto dia que Arthuro chegou a nossa casa. Tampouco me preocupo com a estranha relação de mamãe com ele. Sou muito egoísta. De um lado isso é ruim, mas o lado bom é que costumo respeitar os desejos alheios – não sei se respeitar ou não me importar, interessar. Se eles e o quê fazem não exigem nada de mim. Não me importa em ter que cozinhar para Arthuro, já o fazia em abundância, tanto que sempre sobrava um bom caixatampa para o Chico, um vizinho que passa o dia bebendo e fumando uma pipa. Sinto prazer em cozinhar e isso só depende de mim, dos ingredientes, do fogão e seu fogo e forno, das frigideiras e de alguém que coma o produto final ademais de mim mesmo. A preocupação está mais ligada à narração. Pois que senão veja: Ontem ao chegar a casa mamãe estava no portão. Usava uma camisolinha curta, rosa e transparente. Mesmo à luz da lua podia-se ver sua calcinha. Ela estava muito nervosa. “Filho! Ârtie ainda não chegou.” “ porque você não liga para ele?” “ eu liguei, mas atendeu um outro, um malcriado que me disse que era hora de velha coroca dormir”. Ela não se acalmou até sua chegada. Enquanto eu tentava assistir “El Hombre” com Paul Newman. Mamãe ia da sala ao portão da varanda. Me falava alguma coisa. Os auriculares me impediam de ouvi-la corretamente. Então lhe retrucava um automático “ já vem” “deve estar chegando” “não se preocupe”. Quando pára à porta um BMW preto com Ârtie, que baixou e sua boca lambuzada de batom, borrado. “ Lü estou um lixo!” “ Que bom que me esperou, danadinha!”. Mamãe estava atenta ao condutor. “Não é o doutor Walmir Deodato?” Perguntou ela. “Como você sabe!” “Foi ele que me operou do túnel”. “ Agora vou tomar uma ducha”. “Estou acabada” sussurrou à mamãe. “E você quê! Pornô? Disse-me? E antes que respondera ambos os seres desapareceram do meu campo visual e auditivo. Paul Newman é um homem branco criado pelos índios.
Quando realmente me congressei com o céu estrelado e a lua nova, pensei outra vez nesta história da casa invadida. Acho que como personagem não poderia levá-la adiante. Um pressentimento que acontecimentos futuros me impediriam de contá-la até o final. Não se trata da narrativa em primeira pessoa. Sei lá, nem pensar. Assim que imaginei e farei um anúncio: Procura-se escritor para continuar uma novela já começada. Claro que não me furtarei de contar o que acontece até encontrar um possível escritor.
Quando havia me preparado para entrar no dia ( quer dizer: haver tomado duas xícaras de café e fumado três cigarros), abria meu email sentado à varanda ainda fresca; o sol anunciava um dia de calor de vulcão, sentia o perfume de Arthuro. Um olor pungente de sexo anal.
- Ârtie! Disse.
- Se te agrada. Ârtie, digo.
- Te transformarei num Lord. Disse.
- Já sou um Lorde, por momentos. Digo.
- Lord! Ruhn! Você! Com esse cheiro de tabaco! Disse.
- Lorde sim, quando o Lord não aparece em público com seu make up de peidou, mas não foi ele. Fui eu. Digo.
- Nossa! Que linguajar! Disse.
- A ver se posso manter a finesse que me é peculiar. Digo e ele me interrompe.
- Como é sua finesse, vai diga! Disse.
- Minha finesse é a lógica. Veja bem ou ouça. Digo.
- Sou toda ouvidos! Disse.
- Antes de tudo você poderia inventar outro gênero, em se tratando disso, poderia dizer Sou todi, ou todu, ou ainda tode ouvidos. Digo.
- Como assim Milord! Disse.
- Voce é homem?
- Não.
- Mulher?
- Não! E que! Disse.
- Meu teu ele eles seu para masculino e...
- Ah! Meu São Sebastião cravado! É isso então. Disse.
- É isso, que digo? Sim senhor, senhora?...
- Digamos... espera, espera...
- Enquanto você pensa retomo o cheiro do cigarro. Digo.
- Nossa! Você não esquece heim! Disse.
- Não.
- Quê então meu bem! Disse.
- Teu perfume me incomoda tanto quanto deve lhe incomodar o meu de alcatrão, certo! Disse.
- Sim. Mas porque cheira a sexo anal. Fez uma pausa e continuou com sua cara de ladi Di uma santa, você faz?
- Você leu meus pensamentos? Digo.
- Não. Li ai onde pisca esse tracinho vertical, querido! Disse.
- Os heteros também fazem. Por isso sei o cheiro que tem e não é de bom tom ler antes que se lhe ofereça.
- Nossa que cruel! Mas nunca associei uma coisa à outra.
- Isto não é frase que se diga, isto é, quem associa, justamente associa coisas entre si. Digo.
- Não entendi.
- Então. Mercaptan.




P.S. José Serra quer mudar o nome da Policia Militar para Força Publica.
depois mudará o significado de ignorante ( quê ignora) para Sábio,
de chuva para estiagem
enchente para seca.
sujeira para sabonete,
fome para gula.
analfabeto para acadêmico.
CidoGalvao para Sarkozy,
Serra foda um homem mas ñ lhe troque o nome.

2 de fev. de 2010

Pesquisa CNT



Serra que a narina da Marina Dilma que Ciro gambás,
Seráserra serrador. Inventor do genérico. Pode-ser Serra ou será, que me explicas? se pagua-se o diclofenaco de sódio mais barato no cambio na oropa que se paga aqui.
A mim me parece que o diclofenaco de sódio queria e queria ser vendido mais barato, para assim se aproximar do automedicador doente brasileiro.
Contudo o Serra não serra a árvores do cerrado da Marina.
Marina que amava Dilma, que não amava, mas agora ama Ciro, que não ama nem é amado por ninguém.
A Marina, para quem ainda não sabe - "a Caetano lha impressiona"- se alfabetizou aos dezesseis anos pelo Mobral. Handcap inquestionável.
No Campus Party palanque do governador, não cometeu gafe. O governador sim: muita em vez de muitas. Normal.
Depois da água despejada pelos céus de suelis sobre São Paulo. O conseqüente centenar de mortos, baixo a inconseqüentes administrações antecedentes, presentes e as que virão. O governador da Capitania limpará as rias.
Eu pudesse, se mais não posso, me pergunto quem vota no Ciro?
Quê os faz migrar seus votos para o Serra, caso ele Ciro não se candidate? Porque não se declinam já por Serra, assim nos pouparia da análise probunda da Eliane Catanhede.
Que dizer do Zé Dirceu de saia, sairá!?
heheh.
blz.
hic rhodes salta! daí que um dia cruzarei uma rua chupando um chicabom, nem se for para algum por aí receber o Chico Xavier imitando o Nelson Rodrigues lendo o Jabor.

1 de fev. de 2010

Ârtie, pousou.

A primeira madrugada de fevereiro foi longa. Depois do trabalho fui ao encontro de um amigo dos velhos tempos, quer dizer da idade do sexo, quando a pele ainda vicejava. Hoje tenho dificuldades em ver beleza no ato sexual quando o pratico. Se o abstraio me afastando dele e vendo-o desde um lugar fora dele, me parece uma farsa. Pedro Navas esperava os sessenta anos para abolir-se da escravidão sexual. Eu não sei se esperarei tanto. Eu e Roberto fomos beber. Bebemos. Roberto me causou espanto. Fazia ataques ao PT. Coisa que encontro como muito natural, senão que necessária. Chego a flertar com os liberais, mas não se tratava exatamente disso. É como se Roberto fosse algum terra tenente de lá das bandas de Bebedouro, Olímpia, ou um médico latifundiarista lá da pequena Palestina às margens do rio Turvo, sentado à beira da piscina do Clube Harmonia, tomando um whisky red label com guaraná sob o sol do oeste paulista e entre uma golfada e uma coçada no saco bradava: Bandidos, cadeia, pior estirpe, criminosos. Eu não fiz de advogado de defesa. Mesmo porque são mesmo indefensáveis. E só a banda larga da ética brasileira encontraria ou encontrou brechas na lei para retardar ou mesmo absolve-los.
Assim postas tais coisas, poderia fazer um ataque ao conjunto da sociedade brasileira. Mas tampouco me interessa. Afinal de contas a elite, o governo este e os anteriores e o que virá, não descerá de uma estrela colorida e brilhante, senão que da placa da cultura e costumes brasileiros gelatinizada com Agar-agar, que suporta até oitenta graus. Finalmente poderia descrever situações, dos últimos trinta e um dias que já leva este ano, da incompetência profissional de vários setores da nossa sociedade que presenciei e nisto incluiria; a minha própria patologia Joyceana, um médico, um lenheiro, um pedreiro ou vários, um pizzaiolo, uma pizza tenente e um restauranter/cronista, uma revista de Ribeirão Preto e seus todos redatores, tudo isso supondo que em algum momento escolhemos o capitalismo republicano e democrático como forma de estabelecer as relações da produção de vida.
A madrugada corria fresca quando ingressei em casa e pus-me a ver o filme: “O cheiro do ralo” com o Selton Melo, havia passado dois dias baixando pelo Ares, diga-se de passagem: ilegalmente. (Isso é roubo de direitos autorais) enfim a banda larga da ética, se é que se pode entender tal coisa.
Fui despertado muito cedo. Mamãe e Ârtie iam ao Novo Shopping. Conclui que Ârtie havia pousado em casa, no quarto com mamãe. Estavam radiantes.

Ainda Arthuro

Era duas menos trinta do meio dia, quando ouvi a campainha. Minha mãe toda vestida penteava o cabelo. “Que saudade do permanente” – “ Faça” – “ Não posso” – “Como?” – “ Já tem a química da pintura” – “ Ah! Atenda a porta por favor deve de ser o Arthuro, digo Arth”. Era Arth. Uma imensa cabeleira loira, uns intensos escuros óculos. Calças de jogar capoeira, branca, transparente. Camiseta cava redonda sem mangas rosa bordô, camisa em mangas curtas, branca, aberta, despojada pelo ombro. Pulseira corrente em prata. Calçava um chinelo em couro cru com uma alça ao peito do pé, sustentado por uma argola em couro no dedão e unhas pintadas com um transparente e delicado rosa.
- Querida, como você é mais jovem que pensei!
- Obrigada entre Arth.
- Ârtie.
- Como?
- Ah! Minha filha, se o bofe pode por um acento numa paroxítona Dárcy terminada em y, eu posso por o circunflexo.
- E eu? Mamãe fazia uma voz de criança.
- Você? Rum. Ârtie pousava sua bolsa preta da Nike à mesa e com as mãos livres arranjava a franja dos cabelos de mamãe. Bote logo um trema Lü. Disse Ârtie fazendo um petit bicô. Beliscando carinhosamente o queixo de mamãe. Quando passaram pela cozinha Ârtie fez o intenso escuro escorregar pelo aquilino nariz e com um nuto me tinha cumprimentado e quando já adentrava à copinha, olhou para trás tudo ao mesmo tempo dizendo: faz bom olor!
Foram para o quarto e se acomodaram à cama. Enquanto as duas tricotavam. Pacientemente me ansiava com os fideus a se eriçarem, o quê nem sempre acontece. Sem isso não passaria de uma macarronada ordinária de frutos do mar. No que comecei a por a mesa à copinha, esta foi invadida pela dupla. E num transbordamento de alegria puseram-se a enfeitar o comedor. Do quintal Ârtie e mamãe trouxeram uns ramos de manjericão, dois cachinhos de uvas ainda verdes. De seguida foram à rua e cortaram um ramo da pitangueira à calçada com pitangas do verde ao vermelho passando por todos os matizes de amarelo e vermelho. Meus velhos pratos da Arcoroc vieram também prestigiar. Fiz com que se acomodassem e lhes trouxe uns camarões vestidos com espaguetes cozidos em tinta de lulas. Disse-lhes: Camarões a Black Tie.
Ârtie aplaudia e de seguida me corrigiu fazendo um q seco e Blâq Tai e fazia uma onda com a língua que tocava o céu da boca lá no fundo da cavidade bucal. Mamãe quase entrava dentro de sua boca a fim de ver.
- Como se faz em Eaton. Disse-nos.
De seguida apresentei-lhes a Fideuà. Os fideuzinhos estavam mais eriçados que os cabelos do Manolito. Muito aplaudida a Fideuà foi comida com costas de garfo. Mamãe preferiria a colher, mas Ârtie insistiu-lhe “Garfo querida”.
Eu havia jogado futebol pela manhã, como a cada domingo. Assim com meu justificado cansaço fui para minha sesta, pois logo teria que ir trabalhar. Despertei-me entorpecido. Duchei-me e dei-me conta que estavam trancados/a no quarto de mamãe. Despedi-me através da porta e fui trabalhar. Mamãe disse: “tranque a porta do quintal”.

31 de jan. de 2010

JOYCEANEASE.


JOYCIANEASE.

Mamãe, tudo indica, está com sintomas do mal de Alzheimer. Cido Galvão tem sintomas de Joycianease, mas agora digo de mamãe. Mamãe tem três celulares. O seu queridinho é o da Claro. Sempre a mostrar-me ou a pedir-me que consulte quanto ela tem de saldo. De Claro para Claro uma hora e trinta e seis minutos, de Claro para fixo, quarenta e três minutos e vinte cinco torpedos. Mamãe não manda torpedos. Às vezes os sinto pela casa. Pobre mamãe com sua flatulência. Mamãe já tem pequenas dificuldades motoras. Mamãe às vezes perde pela casa seu queridinho. Ela corre para o fixo qual trata com mais desenvoltura devido suas teclas grandes e visíveis. Disca o número da Claro e tenta pelo som da campainha encontrá-lo, e soe consegui-lo. Se mamãe me tem dado algum trabalho é por culpa do seu Claro. Ela usa bastante o fixo, mas “precisas gastar os créditos que tem no Claro” lhe digo. Mamãe o exibia orgulhosa pelos seus creditamentos, mas do dia 31 de dezembro ao dia primeiro de 2010 ela viu todos seus créditos se esvaírem. Agora mamãe já os gasta com constância.
Há duas semanas quando tentou ligar para uma amiga, a Terezinha, se equivocou. Melhor dito havia se equivocado ao anotar o telefone em seus contatos. Como dizia ligou para a Terezinha às cinco da manhã. São madrugadoras, mas do outro lado da linha quem atendeu foi o Artur. Artur melhor, Arthur. Pois o Artur, era Artur, agora é Arthuro (descendente de italianos), assim seja. Arthuro as cinco da matinada sendo acordado por mamãe. Ficou puto. Mamãe disse que “ele berrava mais que a vizinha que deve de ser casada com um jumento”. Mamãe sabe da vida de todo mundo. Arthuro a chamou de galinha rural. Mamãe não entendeu. Tampouco ficou chateada. Só quando se lembrou do fato, me perguntou que significava aquilo. Cido Galvão pensava. Concluiu: as galinhas urbanas não acordam a tal hora. Naquele mesmo dia ela tentou chamar à amiga e a ligação caiu outra vez no número de Arthuro. “Querida, reconheço sua voz, você me despertou de madrugada, estou com umas olheiras por tua causa”. Mamãe se desculpou e lhe explicou o que acontecera. “Meu bem!”.
Mamãe e Terezinha se mantinham ligadas pelo fixo. Mas mamãe queria gastar os créditos do Claro. Foi quando interveio o Cido Galvão, cadastrando o telefone da Terezinha na discagem rápida. Toda contente mamãe pressionou o número um. Aguardava ansiosa para gastar os créditos. Antes que o interlocutor houvesse dito algo, mamãe já havia dito Tére, vou gastar os créditos. “ Queriiida! Que bom que você me ligou” “Teu número ficou gravado, mas não tive coragem de te chamar” “Precisava mesmo falar com alguém”. Arthuro lhe contou que Stéfano lhe havia deixado e que não havia dormido nada aquela noite. Ficaram amigas. Tanto que hoje o tenho como comensal. Mamãe lhe disse: Venha almoçar, meu filho o Cido Galvão é um grande Chef de cozinha espanhola e nos fará uma Fideuà. Cá estou com a Fideuà, mamã e ArTh. “Ah! Soa tão inglês!”