A Sociedade e a Estupidez.
Ainda não me lembra do livro que um dia li, me recordo que Machado de Assis tinha um gosto especial pelo pronome átono colocado assim, para dizer que não se lembra de algo, colocando aparentemente nas mãos do livro a capacidade de exercer o verbo em oposição ao sujeito. Na verdade a ideia é que lembrar, concretamente é algo impossível ao sujeito, este soerá sempre esquecer. Na prática quanto mais se quer lembrar de, mais se esquece de, e infelizmente vale o contrário. Machado de Assis narrou – sem o saber, pois o fato de ter consciência tornaria impossível tal empresa - celebremente toda a trajetória do estúpido Dom Casmurro. Uma espécie de Hamlet que se mareou com a ressaca dos olhos de Capitu.
Entretanto meu tema é a estupidez no contexto social. Tenho vontade de saber se o que determina uma sociedade decadente é a estupidez que a avassala, por mera imposição quantitativa ou qualitativa. Creio que seria um grave erro acreditar que o número de estúpidos é maior na sociedade decadente que numa sociedade em ascendência, já que o número de indivíduos desta categoria se reproduz fiel e proporcionalmente em qualquer grupo humano. Assim ambas se afligem pela mesmíssima porcentagem de estúpidos. O que vem diferenciar uma sociedade em declive é a pró-atividade da massa critica de estupidez, diante da permissividade das demais categorias.
Já um país em franca evolução tem insolitamente indivíduos inteligentes gastando seu precioso tempo e qualidade na tentativa desesperada e inglória de controlar aos estúpidos. Esta pró-atividade do inteligente é bastante para produzir ganhos o suficiente para a redistribuição ao restante da sociedade.
Num país em decadência uma parcela da população, ( número de estúpidos segue sendo o mesmo) assiste pacificamente uma alarmante proliferação de malvados, sobretudo entre os indivíduos que estão no poder, malvados estes com alto grau de estupidez. Se os que estão no poder são malvados e estúpidos resta que: os que não estão no poder são uma triste maioria de incautos e inteligentes.
O problema se torna imenso, diante a impossibilidade de discriminar o estúpido enquanto este não age.
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