A primeira madrugada de fevereiro foi longa. Depois do trabalho fui ao encontro de um amigo dos velhos tempos, quer dizer da idade do sexo, quando a pele ainda vicejava. Hoje tenho dificuldades em ver beleza no ato sexual quando o pratico. Se o abstraio me afastando dele e vendo-o desde um lugar fora dele, me parece uma farsa. Pedro Navas esperava os sessenta anos para abolir-se da escravidão sexual. Eu não sei se esperarei tanto. Eu e Roberto fomos beber. Bebemos. Roberto me causou espanto. Fazia ataques ao PT. Coisa que encontro como muito natural, senão que necessária. Chego a flertar com os liberais, mas não se tratava exatamente disso. É como se Roberto fosse algum terra tenente de lá das bandas de Bebedouro, Olímpia, ou um médico latifundiarista lá da pequena Palestina às margens do rio Turvo, sentado à beira da piscina do Clube Harmonia, tomando um whisky red label com guaraná sob o sol do oeste paulista e entre uma golfada e uma coçada no saco bradava: Bandidos, cadeia, pior estirpe, criminosos. Eu não fiz de advogado de defesa. Mesmo porque são mesmo indefensáveis. E só a banda larga da ética brasileira encontraria ou encontrou brechas na lei para retardar ou mesmo absolve-los.
Assim postas tais coisas, poderia fazer um ataque ao conjunto da sociedade brasileira. Mas tampouco me interessa. Afinal de contas a elite, o governo este e os anteriores e o que virá, não descerá de uma estrela colorida e brilhante, senão que da placa da cultura e costumes brasileiros gelatinizada com Agar-agar, que suporta até oitenta graus. Finalmente poderia descrever situações, dos últimos trinta e um dias que já leva este ano, da incompetência profissional de vários setores da nossa sociedade que presenciei e nisto incluiria; a minha própria patologia Joyceana, um médico, um lenheiro, um pedreiro ou vários, um pizzaiolo, uma pizza tenente e um restauranter/cronista, uma revista de Ribeirão Preto e seus todos redatores, tudo isso supondo que em algum momento escolhemos o capitalismo republicano e democrático como forma de estabelecer as relações da produção de vida.
A madrugada corria fresca quando ingressei em casa e pus-me a ver o filme: “O cheiro do ralo” com o Selton Melo, havia passado dois dias baixando pelo Ares, diga-se de passagem: ilegalmente. (Isso é roubo de direitos autorais) enfim a banda larga da ética, se é que se pode entender tal coisa.
Fui despertado muito cedo. Mamãe e Ârtie iam ao Novo Shopping. Conclui que Ârtie havia pousado em casa, no quarto com mamãe. Estavam radiantes.
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