3 de fev. de 2010

Procura-se escritor.

Começo a me preocupar não com essa casa invadida. Hoje é quarto dia que Arthuro chegou a nossa casa. Tampouco me preocupo com a estranha relação de mamãe com ele. Sou muito egoísta. De um lado isso é ruim, mas o lado bom é que costumo respeitar os desejos alheios – não sei se respeitar ou não me importar, interessar. Se eles e o quê fazem não exigem nada de mim. Não me importa em ter que cozinhar para Arthuro, já o fazia em abundância, tanto que sempre sobrava um bom caixatampa para o Chico, um vizinho que passa o dia bebendo e fumando uma pipa. Sinto prazer em cozinhar e isso só depende de mim, dos ingredientes, do fogão e seu fogo e forno, das frigideiras e de alguém que coma o produto final ademais de mim mesmo. A preocupação está mais ligada à narração. Pois que senão veja: Ontem ao chegar a casa mamãe estava no portão. Usava uma camisolinha curta, rosa e transparente. Mesmo à luz da lua podia-se ver sua calcinha. Ela estava muito nervosa. “Filho! Ârtie ainda não chegou.” “ porque você não liga para ele?” “ eu liguei, mas atendeu um outro, um malcriado que me disse que era hora de velha coroca dormir”. Ela não se acalmou até sua chegada. Enquanto eu tentava assistir “El Hombre” com Paul Newman. Mamãe ia da sala ao portão da varanda. Me falava alguma coisa. Os auriculares me impediam de ouvi-la corretamente. Então lhe retrucava um automático “ já vem” “deve estar chegando” “não se preocupe”. Quando pára à porta um BMW preto com Ârtie, que baixou e sua boca lambuzada de batom, borrado. “ Lü estou um lixo!” “ Que bom que me esperou, danadinha!”. Mamãe estava atenta ao condutor. “Não é o doutor Walmir Deodato?” Perguntou ela. “Como você sabe!” “Foi ele que me operou do túnel”. “ Agora vou tomar uma ducha”. “Estou acabada” sussurrou à mamãe. “E você quê! Pornô? Disse-me? E antes que respondera ambos os seres desapareceram do meu campo visual e auditivo. Paul Newman é um homem branco criado pelos índios.
Quando realmente me congressei com o céu estrelado e a lua nova, pensei outra vez nesta história da casa invadida. Acho que como personagem não poderia levá-la adiante. Um pressentimento que acontecimentos futuros me impediriam de contá-la até o final. Não se trata da narrativa em primeira pessoa. Sei lá, nem pensar. Assim que imaginei e farei um anúncio: Procura-se escritor para continuar uma novela já começada. Claro que não me furtarei de contar o que acontece até encontrar um possível escritor.
Quando havia me preparado para entrar no dia ( quer dizer: haver tomado duas xícaras de café e fumado três cigarros), abria meu email sentado à varanda ainda fresca; o sol anunciava um dia de calor de vulcão, sentia o perfume de Arthuro. Um olor pungente de sexo anal.
- Ârtie! Disse.
- Se te agrada. Ârtie, digo.
- Te transformarei num Lord. Disse.
- Já sou um Lorde, por momentos. Digo.
- Lord! Ruhn! Você! Com esse cheiro de tabaco! Disse.
- Lorde sim, quando o Lord não aparece em público com seu make up de peidou, mas não foi ele. Fui eu. Digo.
- Nossa! Que linguajar! Disse.
- A ver se posso manter a finesse que me é peculiar. Digo e ele me interrompe.
- Como é sua finesse, vai diga! Disse.
- Minha finesse é a lógica. Veja bem ou ouça. Digo.
- Sou toda ouvidos! Disse.
- Antes de tudo você poderia inventar outro gênero, em se tratando disso, poderia dizer Sou todi, ou todu, ou ainda tode ouvidos. Digo.
- Como assim Milord! Disse.
- Voce é homem?
- Não.
- Mulher?
- Não! E que! Disse.
- Meu teu ele eles seu para masculino e...
- Ah! Meu São Sebastião cravado! É isso então. Disse.
- É isso, que digo? Sim senhor, senhora?...
- Digamos... espera, espera...
- Enquanto você pensa retomo o cheiro do cigarro. Digo.
- Nossa! Você não esquece heim! Disse.
- Não.
- Quê então meu bem! Disse.
- Teu perfume me incomoda tanto quanto deve lhe incomodar o meu de alcatrão, certo! Disse.
- Sim. Mas porque cheira a sexo anal. Fez uma pausa e continuou com sua cara de ladi Di uma santa, você faz?
- Você leu meus pensamentos? Digo.
- Não. Li ai onde pisca esse tracinho vertical, querido! Disse.
- Os heteros também fazem. Por isso sei o cheiro que tem e não é de bom tom ler antes que se lhe ofereça.
- Nossa que cruel! Mas nunca associei uma coisa à outra.
- Isto não é frase que se diga, isto é, quem associa, justamente associa coisas entre si. Digo.
- Não entendi.
- Então. Mercaptan.




P.S. José Serra quer mudar o nome da Policia Militar para Força Publica.
depois mudará o significado de ignorante ( quê ignora) para Sábio,
de chuva para estiagem
enchente para seca.
sujeira para sabonete,
fome para gula.
analfabeto para acadêmico.
CidoGalvao para Sarkozy,
Serra foda um homem mas ñ lhe troque o nome.

3 comentários:

cidoGalvao disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
cidoGalvao disse...

Tenho acompanhado o seu blog, sem ter o que fazer, pois onde hora me encontro,me aborreço sempre, por nada acontecer, nem mesmo posso criar uma novela, estou decididamente impedido. Tudo é demasiado alvo esmaecido e calmo. O novo arcanjo é moderno e nos permite aceder a rede. Sou um poeta, fui um poeta,serei um poeta apesar disso tenho todo interesse em escrever em prosa. Sei dos teus temores. Os senti. É a hora. Dê-me-o.

cidogalvao disse...

Fernando a História é tua. Por ser o primeiro e por parecer-me familiar.
Conheço-te de algum lugar. Pode ser uma janela que olhava uma tabacaria.
Creio que estará em boas penas.
Seguirei com meu blog. Tratarei de ir sacando teias de aranhas dos cantos. Faça o que for necessário.
Posto que sou um covarde. Tu me parece te-la em quantidade para levar a cabo.
abraços.