11 de mar. de 2012

Deixar para lá um olhar de cachorro.



Eu prefiro sangue no 'zóio' e coração peludo a olhar e ser olhado qual cão sem dono, como quem de dentro da animalidade, quer dizer, que a vida é coisa inútil, mais ainda, inglória. Ora, ora, ora! Se queremos paz. Há que se partir para o entendimento, e para tanto não posso me furtar a discussão de cada desarranjo meu ou do outro. Defender com clareza, até com fúria, se de fúria se tratar. De matreiro olhar de cachorro sem dono, já fui mordido algumas vezes, demorei a aprender, mas nunca mordi, não sem antes ensinar os dentes, rosnar ou mesmo latir. Verbos para cães e não gente nesta inversão fabular. Temo os olhos caídos, porque fazem com que abrandemos o coração, portanto direis; mas digo, não tem nada a ver com o coração, é a guarda que baixa, e não vigilantes: nhac!
No dia 'da mulher' – não me detive a discutir seu caráter contraditório, um dia especial, porque levaria a vida toda, não um dia – pois naquele dia o mundo se fez cor de rosa, alem de colorido, florido; em tudo quanto li, muitas homenagens, algumas picardias, como uma moça que comparava mulheres flores naturais com mulheres flores de plástico, mas aquilo era guerrinha interna, que sem mergulhar, bastava um escafandro, e se veria a nebulosa de veneno.
Não sou besta, loei, mecanicamente, aliás como todos, isso é um arquétipo comportamental, sei o nome da figura, mas nem sequer isso direi. Fico imaginando, se faço um texto com um mínimo de questionamento, toda essa gente afaimada sairia atrás de mim, como um exército brancaleônico, faminto e esfarrapado. Digo o mundo está lindo. A vida é bela. Irreparável. Se alguma reticencia... deixe pra lá, o tempo cuida de tudo, entretanto tome calmantes, sorria amarelo ou mesmo abaixe o olhar, murche as orelhas. Como dizia um louco de viola em punho, numa véspera de ano novo em Picinguaba: Tá ruim pá mim\ tá ruim pá ti\ vou fumar um...


9 de mar. de 2012

Urubus.



Tinha cinco anos de idade e morava em Pirassununga. A uma quadra de minha casa formou-se um ajuntamento de pessoas, porque um urubu andava tonto pelo chão, por haver trombado, segundo diziam todos, com o fio de alta-tensão. Especulava-se ainda que, devido sua maior massa, ele levava choque, coisa que não acontece aos pássaros menores. Óbvio que quem dizia isso, nem sequer tinha ideia de como ocorre o choque elétrico. Só vim a saber, numa aula de Artes e Música no colegial. Não devido à disciplina, mas pela indisciplina do Luiz. Luiz, japonês, segurando dois fios de cobre, enfiava um na tomada que havia na sala, enquanto o descuidado professor estava atento às pernas da Diva. O truque estava justamente em não introduzir ambos os fios, um em cada furo da tomada, mas tão somente um. Assim não formava o curto circuíto. Dá-se o mesmo com os pássaros que pousam nos fios de energia elétrica. A outra possibilidade é enfiar os fios em ambos os furos, mas estar isolado da terra, que é por onde se descarregaria a energia. Dessa maneira o urubu, ou qualquer outro pássaro leva choque.
Naquele momento, infantil, não estava preocupado com a história do choque; somente olhava para a imensidão do bicho, seu bico volteado e sua capacidade de se defender a bicadas, ainda que tonto, de todo aquele mundaréu de gentes que ali se juntara.
O que sei é que passei a ter sempre uma atenção especial para com os urubus. Uma admiração muito grande pelo seu voo. Sua capacidade irretocável de tomar as termas e subir. Esta é a parte bonita e que me interessa, ainda que saiba da maldade dos urubus, que o primeiro que fazem ao se depararem com sua presa, que ainda vive, por qualquer motivo imobilizada, atacam-na justo nos olhos. Numa palavra, os urubus cegam suas presas, quando vivas; só então começam a desfrutar do pasto, ainda que estejam vivas. Julgo que julguem uma falta de ética, comer a quem ainda pode vê-lo comendo-o. Li recentemente uma fábula, escrita por Ruben Alves, que não gostei. Ruben Alves chamava os urubus de seres naturalmente becados, fazendo analogia à beca de formatura, ou a indivíduos graduados. Na fábula, Ruben coloca os urubus querendo e estabelecendo cursos de canto. Penso que Ruben poderia ter escolhido qualquer outra ave. A galinha por exemplo, por indigna, mas os urubus não. Os urubus se isolaram deste mundo de grandezas, são silenciosos e tímidos e sabem que a vida só tem mesmo valor em estado putrefato. Portanto é justo o contrario do que pensamos, quando toda a grandeza se esvai é que o bicho descobre nela o grande valor nutritivo. Enquanto isso flana incansável. Seu voo é um jogo de paciência e disciplina. Ele sabe que a ordem é o aumento da entropia, a perda de informações importantes e o consequente caos e a deterioração, a plenitude é circunstancial. Coisas interessantes e embaraçosas acontecem, os aeroportos estão sempre muito próximos dos pontos de concentração de urubus. Tanto que vira e mexe há trombadas entre aviões e urubus, com perda total pare estes e parciais para aqueles. A diferença é que vamos para algum lugar desde o aeroporto, enquanto o urubu permanece a espreita dos que ficaram, é inexorável, não há fuga possível. Se se quiser traçar um paralelo, partimos como urubus e chegamos como carniça.      

8 de mar. de 2012

À Mulher.




Verdadeiro o fato e, é certo também que existe a discriminação da mulher em nossa sociedade. São alarmantes as cifras anuais de violência sexual, e a situação de assedio sexual, nem sempre devidamente atendida pelas autoridades competentes. Persiste ainda as diferenças salariais entre homens e mulheres. E há testemunhos frequentes de diferenças no trato pessoal no trabalho, que as vezes se estendem além do grau de capacitação profissional exigível na prática, assim como as condições requeridas para ascender a postos de responsabilidade.
Além do mundo do trabalho, existe e persiste a desigualdade entre homens e mulheres na distribuição das tarefas domésticas. É real o sexismo na publicidade, onde a mulher é considerada, a miúde, um objeto sexual. São igualmente verdadeiras as atitudes paternalistas de alguns homens relativamente às mulheres, seja dentro o fora do trabalho, e muitos outros signos sociais de desigualdade ou de discriminação, que por vezes são denunciados, mas ainda timidamente.
Há uma crescente preocupação com o uso da linguagem, principalmente na Europa. Há instituições que afirmam que há comportamentos verbais sexistas. Sendo que a linguagem, pode ser usada com propósitos múltiplos, entre outras coisas: ordenar, descrever, perguntar, enaltecer ou insultar; assim e desde já também pode ser usado para discriminar pessoas ou grupos sociais.

Neste contexto existem numerosas instituições mundiais advogando pelo uso de uma linguagem não sexista.
Dizem estas instituições: É necessário estender a igualdade social de homens e mulheres e conseguir uma maior visibilidade da mulher, para além do sexismo. De tudo que li as palavras que se fizeram notar é: visibilidade, invisibilidade, visível e invisível. Isto é: tornar a mulher visível numa frase ou oração em que também participe uma mulher, grosso modo: João e Maria vivem “juntos”, nesse caso o advérbio faz referência masculina: Juntos. Estas instituições pedem, de forma exagerada, neste caso que se inclua a mulher.

Entretanto não se pode negar que esta frase é sexista: Até os acontecimentos mais importantes de nossa vida, como escolher nossa esposa ou nossa carreira, estão determinados por influencias inconscientes. É introdutória de uma perspectiva bem caracterizada do androcentrismo, como se fosse uma perspectiva geral dos seres humanos. Ou ainda: nós brasileiros preferimos café a chá, como preferimos loira a morena. Não se trata do uso de artigos ou possessivos como: todos nós, os que vivemos num grande centro.... Mas sim frases tolas como esta: Elas nos fazem de bananas! Querendo parecer um alisamento do ego feminino.
É certo que o uso 'genérico' do masculino para designar os dois sexos, tem raízes profundas no sistema gramatical de nossa língua, e é, pode-se dizer, que quase impossível no caso aplicar censura.
Leia isto: uma cientista depois de fazer um discurso favorável, quase panfletário defendendo a mulher, e a necessidade de se abolir a discriminação de toda sorte, assim termina: Nós 'os' cientistas temos a obrigação de fazer com que a difusão da ciência seja acessível... Acrescenta ainda: um aspecto importante para a participação da mulher no mundo profissional é que haja facilidades para o cuidado 'dos filhos...' e agradece ao final: … 'aos amigos' e seu apoio e amizade...
Este tipo de texto está em toda parte, e produzidos por mulheres jornalistas, escritoras, artistas e muitas das vezes comprometidas com a defesa dos direitos das mulheres.
De todas as maneiras o movimento existe, principalmente na Europa, muito nas línguas românicas, português, espanhol, italiano e francês; mas sem esquecer do alemão onde 'man' é 'um que, alguém' e que ainda se relaciona diretamente com 'Mann' “homem” exemplo: Das sagt man. Que quer dizer: É o que dizem (notadamente masculino). Ou como 'on' em francês, 'hom' catalão que tem origem no latim “hominem”. Mas tudo isso é fóssil. O importante é saber usar a linguagem para expressar exatamente o que se deseja, desenvolver-se intelectualmente, defender as próprias ideias, tê-las, realizar-se pessoal e profissionalmente, em plena igualdade. Ainda que supostamente.

Refavela.



Havia até outro dia, tapume circular num dos 'coretinhos' da Pça das Bandeiras, ele era mequetrefe mal alinhavado, muito do malfeito. Pois não tardou a chegar a retroescavadeira e você, como eu, pode pensar que alguém antes desfez o malfeito! Tábua a tábua. Mas nem não sequer. À bruta, a retro, meteu seus dentes de máquina e estraçalhou, em uma dentada, sozinha, um pedaço do tapume. Eu vi. Vi os restos dos compensados estraçalhados em meio à terra, que a retroescavadeira, por andar 'de costas', não vê nada e vai quebrando e abrindo com furor a vala, descendo pela calçada da desdita praça. Neste seu refazer, nada se salva, nem um pedaço de calçamento. A construção civil, reis de geração de entulhos, públicos ou privados, persegue sua sina. Nem um isolamento caprichado. Só uma fita amarela de árvore em árvore, soltando os nós. Um refavelamento como cronologia inicial de uma engenharia. Claro que depois de tudo isso, a calçada na Visconde de Inhaúma ficará um remendado remendo. Os ladrilhos não coincidem jamais. Por isso os portugueses preferiam pedrinhas a ladrilhos regulares. Hoje é pó, tão só pó, para tudo que é lado. Deve ser uma equipe treinada em zelosas desocupações, nas desmanchações de barracos. Deve de ser!  

6 de mar. de 2012

Cortar os pulsos!



Ser poeta; pintor; músico; escultor; arquiteto; livre pensador ou simplesmente humano não é tomar de um caco de vidro, cortar os pulsos e verter-se em hemorragia. A vida deve seguir. E por dever de continuar, nenhuma obra de arte trará solução, nem sequer uma qualquer ideologia, se, se leva em conta que o difícil suicídio via o corte de pulso, no mais das vezes, tudo que faz é a teimosia em deixar aquela saliência que anos adiante se tentará ocultar com a pulseira do relógio.
Há entretanto, e por toda parte tais manifestações. Muito, corriqueiramente e, a miúde a fotografia é vitimada. Um exemplo é um menino negro africano de barriga grande disputando restos com urubus. É um corte no pulso com vidro, mas não é arte. Na música houve o caso recente da inglesa que fabricava queloides e por fim acabou por uma industria menos densa, ao compor a própria fuga em tons pasteis. Outro exemplo, mais remoto, é The Wall, uma tontura provocada pela perda de sangue, em lento derramamento, aonde a perda de sentido – lisérgico - se faz notar pelas vozes indecifráveis e quase fantasmagóricas. À época quem fumasse maconha não deveria ouvir, porque acontecia de ocasionar uma somatória de ondas que reverberavam, ou mesmo produzir ecos que se confundiam com as frases musicais que redundavam desde a primeira volta da agulha.
Por outro lado há outros tipos de sangue esguichando, mas de maneira regrada. A música sertaneja e neo sertaneja, como queiram. Dá para ver no rosto do ou da cantante o quebranto, as cólicas e a contorção das tripas, coisas que fazem do ser atrás do microfone exibir o calafrio, a febre e o suor mesclado com hemoglobinas. Como se o palco se tratasse de um monte - o Calvário - o microfone, a própria cruz, e na plateia: as marias e a madalena suportadas por apóstolos em estado de brandura. Não deixa de ser seita.

4 de mar. de 2012

Michel Teló: Uma vindicação.



Não é costume meu, ser evasivo; porque nisso reside a arte, não tenho inclinação artística, senão que desejos. Entretanto como tentativa de me revitalizar como indivíduo, por vezes sou levado à falsidade, ao plágio e mesmo a reinventar minha própria biografia. Pode parecer o que for, desde já, mas tem o propósito último de ser a mim um passatempo de mim. Uma problematização metalinguística de mim mesmo que buscará solução em qualquer parte. Haverá aquele que entenderá como um ceticismo epistemológico, ainda que estime muito a religião e a filosofia, mas tão só no que tange valores estéticos, no que encerram de singularidade e de maravilha. O que poderia se chamar ou identificar como um ceticismo essencial. Não tenho nenhuma teoria do mundo, embora possa usar a metafisica como sistema, ou o materialismo como religião, mas isso não deve passar de um aproveitamento necessário à solução de problemas específicos. Não creio que o conhecimento seja possível. E se poderá dizer agnóstico de seu praticante. Como dizia H.G.Wells: intercalar doutrina nos pensamentos e escritos é deplorável. No específico das mundanidades fui levado a conhecer o que alguns poucos conhecem e desconhecer o que é de todos conhecido, quer dizer sou uma lacuna vergonhosa. Confesso que gostaria de ser facilmente localizado no platonismo, ou num panteísmo a la Espinosa, ou mesmo um niílico panteísta. Mas dada a minha admiração pela metafisica, sou mesmo é um caipira perdido na metafisica, que é uma terra fértil que não serve à cana-de-açúcar, e apesar de ser completamente incapaz de entendê-la é por meio dela que me ocorre de um tudo, urticárias ou bicho de pé ideológico, menos a fimose intelectual, que não passa de um aprisionamento de todo o pensamento por uma corrente ideológica, ou como já o disse antes, é a deplorável necessidade de intercalar doutrina por todas as partes do orbe.
Cada uma a sua maneira, certas canções, atingem um tipo de perfeição, e há estudos profundos ligados à linguística, mais precisamente à linguística generativa de Noam Chomsky que coloca no centro de tudo a sintaxe. Antes de Noam Chomsky se cria que a linguagem era, por completo, adquirida por associação e ou aprendizagem, o que digo para linguagem vale para qualquer destreza humana, a música por exemplo. Depois da publicação de 'Estruturas Sintáticas', que atacava os pressupostos básicos do estruturalismo e da psicologia condutivista, onde Chomsky postula a existência de um dispositivo inato, quase um 'órgão da linguagem', que permitiria aprender e usar a linguagem de um modo quase instintivo. Basicamente é assim, há os que pensam que o cérebro de um bebê é vazio e deve-se enchê-lo, já Chomsky pensa que o bebê nasce com todos os dispositivos no cérebro especializados e inatos.
Dessa maneira há canções, como todas, existiam antes, isto é: 'Ai se te pego', existia ou estava no limbo, como Michel Teló existia no limbo, e foi no limbo que Michel encontrou 'Ai se te pego' que eram a peça e o vazio ou espaço falto do quebra-cabeças. O grande valor de Michel Teló e vislumbrar o que existia, coisa que nós a maioria dos mortais não vemos. Vemos muito menos coisas do que as coisas todas que existem, e para disfarçar acreditamos em coisas inexistentes, afim de parecermos inteligentes, ou parecermos insatisfeitos com o mundo. Podemos explicar esta união cabalisticamente, sem necessariamente sermos especialista no Talmude, porque a Cabala é necessariamente precisa e justifica todos os acontecimentos do mundo, e suas necessidades últimas, onde os acontecimentos não se dão ao azar. Ou seja, a contingência do azar é zero. Veja você que o dito vai de encontro à famosa frase o poema mallarmaico: 'a coup de dés jamais n'abolira le hasard' que contraria toda a cabala, sendo que institui como mínimo uma possibilidade extra. O que levaria Borges a dizer que Mallarmé e seu poema está incluído, por conseguinte, em todos os acontecimentos do mundo, o abraço se fecha sobre tudo. Assim sendo 'Ai se te pego' e Michel Teló são tão necessários e não casuais como o faisão azul de bromotimol ou tornassoleado, como preferirem. Porque Michel é Mich (alemão eu) e el ( espanhol ele) então EuEle, e Teló é antes de tudo Tê-lo é 'tela' 'telon' espanhol e Teló 'tela catalão' e uma outra vez 'el' e 'elo' 'eloé' e recorda de pronto Telavive e 'ai se te pego' tem o ritmo marcado exato, melhor dito na melhor frequência para se 'fazer amor' muito parecido ao Bolero de Ravel.
E desta maneira sem conseguir uma linha de fuga, acabo por me agarrar a determinadas ideologias que não dirão nunca: matematicamente se poderia conseguir a conjunção: canção e cantor(voz) (veículo) perfeita e agrada a toda a gente, mas o que realmente não queremos, nem sequer parecer, quanto menos ser igual a toda a gente.   

2 de mar. de 2012

O Medo.





Resulta triste ver jovens,  ou não mais tão jovens, convertidos em conservadores quase xiitas, mais liberais que o liberalismo, e em suma: fundamentalistas rancorosos. De outro lado ver um nonagenário, ou quase, como Vicente Golfeto se transformar num intelectual quase progressista. O homem é de uma afabilidade cruel e de uma lucidez proada, fundamentada num discurso de corte clássico, ainda que atrelado às tradições e posições conservadoras. Entretanto este senhor, culto à europeia, acaba por ser vanguarda de ideias do futuro imediato, e o faz com comodidade de quem já viu tudo e que não espera nada de nada e de ninguém, e menos ainda dos jovens de hoje. Justo estes que têm – todas as gerações a tiveram - a pesada responsabilidade de desenhar uma sociedade melhor que a de hoje, mais justa e equitativa, pelo menos; o que era para ser uma quimera, que a cada momento se parece mais a uma necessidade.
É certo que mesmo os que advogaram por uma economia 'mais humana, mais solidária e capaz de contribuir ao desenvolvimento da dignidade dos povos ou das pessoas', sabem que depois dos referentes do homem como medida de todas as coisas – gregos – e – de Deus nos tempos medievais – que nos miramos no deus capital, desde o âmbito da revolução industrial até desembarcarmos no milagre das novíssimas tecnologias, sempre estão tentando responder às perguntas que questionam o modelo moral atual.
Se o dinheiro é o termômetro de todas as coisas, as reservas essenciais da pessoa se pervertem – felicidade, responsabilidade, justiça, equidade – até o ponto de se perder a perspectiva do coletivo e do social, e por extrapolação portanto, do planeta em que nos cabe viver.
Assim sendo, a chave de retorno, para combater o sistema se baseia, toda a vida, na liberdade. Sobretudo a liberdade de pensamento, que é o território onde a identidade individual pode realizar-se e vir a concretizar-se, primeiro modificando ou fazendo por isso, no seu círculo restrito. Porém esta liberdade, aliás, sempre está ligada a independência intelectual dos indivíduos, seja qual seja o meio que o acolhe, seja qual seja o meio que ele escolhe acolher; ela, a liberdade, resulta cada vez mais difícil frente aos planos dos meios de comunicação ( meios de persuasão nos diz Vicente Golfeto) do poder e do açambarcamento perene e continuado do medo como conceito de utilidade. Não se é um homem com medo, se é um cordeiro, que quando muito olha e ora pela sua sobrevivência, e, terror dos terrores, o faz com a alma lavada – consciência limpa – e pasme-se, quase que por instinto natural.
Entretanto e sem nos darmos conta, o medo é só um cenário, uma conjuntura, uma sombra que ameaça. Notem que cenário, conjuntura e sombra, todos tenebrosos, são vocábulos diários de meios de comunicação. Voltando, por que ameaçam? Ameaçam porque escondem seu conteúdo e pronto e basta. Enquanto as novas redes sociais e os 'novos espíritos' deveriam propor o contrário; não espalhar o medo, mas botar luz nessa impostura obscurantista. Desde Pitágoras sabemos que um raiozinho de luz pode iluminar a escuridão


24 de fev. de 2012

Bumbum de Carnaval.



A pequena Isadora passou as últimas férias escolares, nos seus finais de tarde desse tórrido verão, sentada na calçada com suas amiguinhas. Seus shorts sempre acabavam por ficar avermelhados pelo pó da terra roxa. Ela sempre batia a poeira com a palma da mão, mas talvez a umidade dela, muito provavelmente devida ao constante manuseio do celular, mais emporcalhavam que espanavam. Corriam, saltavam e gritavam quanto passava uma saveiro com o seu te pego ai ai... Chegou o carnaval e Isadora desfilou fantasiada de libélula, alguns adereços, uma tiara azul, transparências e um fio dental, também ele invisível. A pele brilhante e dourada da exuberância de seus quatorze anos, o seu bumbum empinado, substituíam com folga os incipientes seios, talvez por isso, mais tapados que o resto do corpo, seduziram uma plateia de marmanjos que se emborrachavam na escadaria da praça e gritavam: gostosa, quando ela passava, e ela retribuía com um triste samba no pé, sobre o salto plataforma. Sua mãe, hoje dona de par de braços tão gordos, na parte posterior que se dobram sobre o cotovelo, como se fossem outras duas barriguinhas na inflexão de seus trinta e dois anos; ouvia os gritos que ecoavam de um passado não muito distante, como se fossem para ela, numa época em que suas nádegas destruíam famílias, e fizeram por aumentar o consumo de cachaça em todo o distrito.
Hoje Isadora quando caia a tarde, saiu com seu short mais apertado. Os pobres demoram a se desvencilhar da moda, sendo que a última moda é o shorts mais airado, leve e solto, como se tratasse um tecido de seda, em cores discretas, para contrapor a sensualidade quase erótica que pode causar o movimento do pano, as vezes colando suavemente nas partes mais íntimas, normalmente sem outra peça por baixo, esse é o propósito, ou abrindo fendas e gerando perspectivas e possibilidades de exploração visual, que o pano grosso e colado não permite. Como dizia, Isadora portava o mais apertado dos shorts, onde as duplas costuras do cós punham em risco sua virgindade. Isadora foi caminhar. Foi ali para os lados dos condomínios, onde dizem que chegará a João Fiúsa. O rapaz da saveiro passou lentamente e seu escudeiro, botando meio corpo para fora, disse coisas que não ouvi, e seguiram caminho, lentamente. Isadora olhava por cima dos ombros, num exercício impossível, dobrando a espinha, alçando o bumbum para cima, sim, creio que ela o via.     

21 de fev. de 2012

A formação da maioria. Corrupção e Poder, poder e corrupção.




PREMISSAS POSSÍVEIS:


O estúpido como qualquer criatura humana é parte integrante da sociedade.


Em geral exercemos influências entre os pares.


Há muitos fatores que determinam a capacidade de influenciar.


Entre estes fatores podemos afirmar: o genético (belo|conteúdo) e o poder (conteúdo).


O belo. Tudo sucumbe diante do belo. O belo é poder.


QUESTÕES LEVIANAS.


Existe poder sem o belo? Por vezes o belo nos deixa sem opções de escolha. O belo em muitos casos chega a sufocar outras possibilidades.



Existe o poder em si? Ninguém poderia mandar que calasse a boca, se não tivesse atado, corrompido.



Três palavras respeito ao poder.


A frase mais estúpida que já ouvi é: O PODER CORROMPE.



O poder não é forma o poder é conteúdo, portanto o poder não corrompe, posto que o poder não existe antes da corrupção.



Forma é Democracia, Monarquia, Ditadura etc então Poder não é necessidade, mas inerência. Note-se a presença da corrupção ou poder em todas as formas.



Não há poder do bem, pois todo poder é tutelar e em sã consciência não precisamos de tutor. Se precisar ou aceitar tutores é por estar degradado, corrompido como projeto libertário.
Que é liberdade? Inventar caminhos.
Escolher caminhos de uma bifurcação não é exercício de liberdade, é coação!
O poder sem o ser corrompido não existe.
Portanto o poder em sim é corrupção. Por se tratar da manifestação do ser degradado. Note que não existe outro ser que não o degradado. O ser não degradado não delega, não elege tutor.
O poder também um dia foi genético e divino (deus era o tutor único), nascia-se Rei, Príncipe etc. Era uma falácia.
Hoje o poder assumiu forma democrática, não deixou de ser uma falácia. A democracia é a ditadura da maioria.
A maioria é sempre a mesma desde tempos imemoriais.
Vivo a me perguntar como se forma essa maioria? Para responder tento pousar sobre o tema um olhar atento, calmo e concentrado. A maioria sempre se repete e é sempre a mesma. Para a assertiva parti a seguinte observação empírica: a maioria que preferiu Collor a Lula, preteriu Lula a FHC e Serra a Lula. E preferiu Dilma a Serra. Neste momento está sendo gerada uma maioria. Esta maioria não é outra que em seu momento afirmou Collor, FHC, Lula e Dilma.
Neste ponto tenho que lançar mão da minoria. A única maioria impossível é a minoria. A minoria é constituída basicamente de parcela da categoria dos seres inteligentes.
Inteligência nada tem a ver com livros que se leu, línguas que se fala, música que se ouve, questões de físico-química quântica que se resolva, anos de escola, universidade, embora tudo isso ajude.
Definição de inteligência.
É aquele que, humano nos seus fazeres, suas industrias, suas iniciativas, suas atividades gera lucro compartido.
Quando a minoria é da categoria dos crédulos. Há que se notar que estes normalmente estão acompanhados de malvados e estúpidos. Esta é uma maioria possível.
Sem perder a concentração, a atenção e a calma. Saliento que tanto a maioria quanto a minoria já estão formadas.
Não importando os seus representantes.








20 de fev. de 2012

Igreja Ateísta: A Liberdade.




 Sermão pela impossível dupla: Stéphanè Mallarmé & Søren Kierkegaard.



O ser humano atua, isso quer dizer, que não está programado pela natureza para executar determinadas funções, de maneira dada, senão que para as eleger ou optar por alguma ou várias delas. Mas sim poder lançar o dado e não ver excluída nem a possibilidade do acaso. Isso é o que podemos chamar liberdade. A liberdade é simplesmente o fato de não termos nossos objetivos biológicos, zoológicos determinados de uma maneira fixa como o resto dos animais. Por termos um amplo volume de possibilidades distintas pela frente e diante das quais exercemos o arbítrio e optamos ou elegemos. Pelo qual, o sentimento de vazio, de não ter obrigações, como o de poder dizer sim e não, o de ir para lá e para cá, entre tantos outras circunstância, fato que acaba por nos produzir angustia. E angustia é isso, o sentimento diante do vazio gerado pela liberdade e as escolhas, e que por fim e ao cabo, o vazio diante da liberdade corresponde também ao vazio da morte que pressentimos e que ai não temos escolha. De modo que o espirito treme e se angustia e, em termos últimos, busca a saída pela fé, mas a fé por sua vez é algo temível, porque a divindade não nos promete em princípio: razão, compreensão, utilidade, senãoa que, eleger entre o mundo da razão, da compreensão, da utilidade, do verossímil e o mundo da fé. Aqui se faz necessário abrir um parêntese para que não se compreenda a divindade e a fé, como as adaptações produzidas pelas infinitas igrejas, como se divindade e fé fossem compatíveis com esse modo de produção de vida, no qual vivemos, pois eleger a fé é romper com tudo que é racional, e é o mundo que vivemos, ainda que selvagem, bárbaro e aparentemente irracional. Irracional é o modelo de Deus, que nada menos, ordena que um pai suba ao monte com seu filho e que o sacrifique, execute a esse filho. Nessa história bíblica está o absurdo terrível da divindade, que apresenta em sua crueza o homem religioso, na qual o pai aterrorizado, mas cheio de fé – homem religioso - leva seu filho ao monte e está a ponto de matá-lo até que a mão de Deus o impeça. A fé está em executar, mas crer, confiar que Deus impedirá, seja o arbítrio está em Deus. O que a divindade quer dizer com essa história? Não outra coisa que: não valem nenhuns dos fundamentos razoáveis humanos, racionamentos ou arrazoados humanos, nem mesmo as razões éticas que fazem com que não se permita a um pai matar seu próprio filho. Para o homem ético, o que faz Abraão, é mera loucura. E ai temos que pensar que Abraão é o homem religioso. É crer ou não crer, ou entra ou não entra, e uma vez crente tudo é possível. Pois, para Deus tudo é possível, e não há nada necessário, nem sequer o passado, tudo pode ser mudado, apagado e o entrar no mundo de Deus é entrar no mundo das possibilidades, puras e abertas, ou então permanecer no mundo do necessário, do mecânico, seja, do natural. Esta é a opção que se apresenta, sim. Não tenho forças para me converter nessa profundeza da fé, de romper com o mundo e dizer: que fique, ai, o mundo com sua razão e me entrego ao irracional. O que se desprende é que não há mediações possíveis entre o homem religioso e o ético, somente riscos, sangue e decisão. Assim a religiosidade é a interpelação pessoal do indivíduo pelo uno absoluto, noutra palavra, o absoluto o interdita. Esta é uma relação de resignação e de confiança infinitas. É também um salto no abismo da incerteza ou do nada. Por outro lado o indivíduo capaz de assumir sua subjetividade de sofredor e negar-se a saltar no vazio, esse indivíduo também está sempre exposto ao nada, e esta exposição é a própria angustia, mas esta revela sua liberdade, sua responsabilidade e o risco ineludível de eleger-se a si mesmo a cada passo, ainda que seja o abismo e que não haverá a possibilidade de que a mão divina o mantenha suspenso.    

16 de fev. de 2012

Igreja Ateísta. 1° Mandamento: Amar a si mesmo sobretudo.



O ateísmo é uma prática religiosa. E tão só como prática negadora da existência de deus se torna religiosidade. Isso é fácil ver, mesmo nas assertivas mais populares como: Fulano vai ao bar religiosamente; em não se tratando do dono do boteco, Fulano é um barista, discípulo do mé, um alcoólatra, ainda que não convicto. Assim quem nega é afirmador da inexistência. É dificílimo enxergar a inexistência, talvez ainda mais que crer na existência. Crer é muito mais fácil, afinal todo mundo crê, e ninguém se sente um basbaque por isso, enfim não há impedimento, muito embora comece a existir um certo Status quo. Não me interessa tanto esse tema da classicização da crença. Coisa que não é mais que a etiquetarização. Algo como marcas, logos, mais ou menos chiques, famosos, caros etc. Mas, as há, e não é nada difícil vê-las. Isso não me interessa, posto que a sociedade brasileira é talvez a mais estratificada que há, assim que mesmo na zona sul, há a zona norte da zona sul e naquela a zona sul da zona norte da zona sul. Enfim, até os cães ajudam na dificílima tarefa de estratificar. A religiosidade também. Porque? Resposta: não há, absolutamente, crença sem igreja. Salvo um e outro, mas um e outro são traços de existência, quase significando a inexistência. Baseado nesses pressupostos e não em outros, mas também neles, caso venham a corroborar com a ideia é que considero fundada a IGREJA ATEÍSTA.
Os mandamentos do ateísmo são:

  1. Amar a si próprio sobretudo.
    Somente aquele que se ama, por conseguinte, ama a vida, a própria existência, deseja o melhor para si. Isso implica diretamente no seu entorno, material e espiritual. Note que espiritual nada tem a ver com o espirito apartado do corpo, no caso em questão o espiritual é tudo aquilo que não é material, muito embora advenha da vida material. Este ponto é de fundamental importância. É o calcanhar de Aquiles, é a diferença fundamental entre um ateu e um não ateu. O não ateu tem o espiritual apartado da vida material, da produção da vida material. Um exemplo do cotidiano é esse ser no trânsito, há outras circunstâncias mais jocosas, mas no trânsito pode-se perceber que a parte boa do espirito do ser, em havendo, está junto com a hóstia consagrada dentro do sacrário, trancada e a chave está na mão de deus representado. Assim que, depois de causar todo tipo de traquinagens, já ele próprio, inoculado do mesmo veneno, qual há borrifado pelas vias públicas, corre ao sacrário e das mãos do santíssimo, ou do alopata, ou da florista de Bach, num banho de ofurô de teca e então com o espírito em mãos, levará a cabo com tais tentativas, diga-se desesperadas, de alcançar a comunhão, ou seja, unir seu corpo e ao espírito.
    O ateu por seu turno mantem a unidade. É corpo e alma, carne espiritual. Isso quer dizer que há uma relação, se fosse possível abstrair matéria e espectro, material-espiritual-circunstancial – o que implica em geografia e por conseguinte, clima, demografia etc – dialética. Seja uma luta de afirmações\negações\conclusões entre o corpo\mente\espírito\razão\sentimento\desejo\ e o outro. E o meio. E os animais. E as rochas. E o lixo. E tudo quanto esteja fora efetivamente dele e enseje a que tudo que se aloje fora dele venha a lhe fazer o bem, por que ele se ama a si mesmo acima de tudo. Tudo isso só para dizer que não dá para avançar o sinal vermelho, por que é você, e depois exigir que o outro pare no amarelo. Note como a vida é matéria-espiritual. Para enriquecer o tema eu proponho que se leia esse pequeno excerto do livro O Príncipe de Nicolau Maquiável:


    “Todos os Estados, todas as dominações que exerceram ou exercem soberania sobre os homens, tem sido e são repúblicas ou principados. Os principados são, ou hereditários, quando uma mesma família reina ou reinou por grandes períodos de tempo, ou novos. Os novos, ou são de todo novos, como o foi Milão sob Francisco Sforza, ou são como membros agregados ao Estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o reino de Nápoles para o rei de Espanha. Os domínios (dominados) assim adquiridos estão acostumados a viver sob um príncipe ou a ser livres; e se adquirem (liberdades) pelas próprias armas ou pelas alheias, por sorte ou por virtude.”

    No próximo encontro, se houver, tratarei ainda do primeiro mandamento. Buscarei um enfoque menos politico e mais humano. O que posso adiantar é que será basicamente fundado na seguinte frase: UN COUPE DE DÉS JAMAIS N'ABOLIRA LE HASARD.
    Como 'trabalho' ouçam a canção de Caetano Veloso: Oração ao Tempo.   

31 de jan. de 2012

Deus Morreu. Nietzsche. Nietzsche Morreu. Deus.


Bases para a Igreja do Humano.


A vontade de poder não pode ter fim, ou seja, não deve ser somente conservadora, necessita de novas conquistas. Adolf Hitler encarnou a vontade de poder nietzschiana no limite. Quando Adolf Hitler nasce politicamente, primeiro se faz fotografar com Elisabeth, irmã de Friedrich e o próprio busto do filosofo de A Vontade de Poder. O fueher surgia belicosamente, ao exigir o espaço vital: Eu sou Alemanha e conquanto Alemanha exijo o espaço vital para Alemanha, claro que nenhum espaço seria suficiente para tanta vontade de poder. Mas a grande sacada de Nietzsche é que a vontade de poder deve antes de mais nada querer-se a si mesma, é um ir além constante, isso está em Hegel, na dialética do Senhor e do Escravo. Como está em Sartre na intencionalidade da consciência, seja consciência fenomenológica atirada no mundo, que sempre vai além de si mesma. Se quiséssemos, a história da sacolinha é uma vitória da vontade de poder de quem não quer mais dar sacolinha, assim aos derrotados cabe comprá-la, o que é uma conquista do capital e não do meio ambientalismo, que não é consciência, pelo simples motivo que não se gera consciência, se esta não está já lançada, porque a vontade de poder é intencionalidade e está jogada no mundo.
A vida é vontade de poder, o mundo é vontade de poder. Sarkozy é vontade de poder, Merckel é vontade de poder, Dilma é vontade de poder, intencional, e ademais não deve somente conservar, deve crescer, aumentar, pois que senão se afunda e morre. Por esse simples fato, Serra não pode se retirar, pois seria ignominioso. Por isso também o Império Bélico-Comunicacional norte-americano deve seguir crescendo, e se sair do Oriente médio, em outra geografia buscará espaço vital.
Da mesma forma a vida tem porvir pela vontade de poder. Em A Gaia Ciência, Deus Morreu. E todos os valores supra sensíveis, conquanto valores de Deus, da imagem de Deus, nisso instância suprema e fundadora, acima do homem, porque Deus é fundamento do pensamento daquele que o aceita. Portanto quando Nietzsche diz que deus morreu, diz que seu pensamento não se baseia no fundamento divino, e seu pensamento seguirá dizendo da vida, que a vida é porvir, é potência, e a vida é verdade, e a verdade é aquilo que a vontade de poder conquista, e note, meu caro, que frase disse Friedrich Nietzsche:
Não há fatos, há só ou tão somente interpretações.
É descomunal. Onde está a verdade? E ai, o vai seguir Foucault: 'A verdade é uma conquista da vontade de poder'. Se você duvida disso, faça se já não faz, ligue o rádio, leia os jornais, o Datena e verá a quantidade de interpretações de cada fato no começo do dia, uma interpretação não é a verdade, mas aquela que se impor no final da jornada, se imporá pela vontade de poder. A verdade é filha do poder. Claro que eu também tenho minha verdade que colide, inclusive, com outras verdades, pequenas com certeza, brigam entre elas as verdades, mas a que seguirá, será aquela emitida pela maior fonte de poder, e que prevalecerá sobre as demais. Nietzsche é assim, belicoso, e concebe a verdade como luta, como enfrentamento, e como expressão poderosa de quem precisa continuar conquistando. É nisso que nasce o Nihilismo nietzschiano, que ao ver que as verdades supremas, divinas, os ideais platônicos, nihilizaram a vida, ele então nihiliza o próprio deus. E nihilizar é negar, e Nietzsche nega a Deus, e este pensamento reduz deus a cinzas. Porque o que põe como sua meta é a verdade da vida, a verdade do porvir, a verdade da conservação do poder, a verdade da conquista da vontade de poder e conquista da verdade pela vontade de conquistar da vontade de poder. Ou seja, quanto mais poderosos somos, mais donos da verdade vamos ser.
Hegel era um otimista, Marx era outro otimista, que achava que uma classe social viria a botar ordem na história, desalojando o poder dos homens, mas para Nietzsche não há ordem na história, a história é caos: verdades se colidindo: é a luta para impor meu poder ao poder do outro e a medida que meu poder se impõe, impõe a minha verdade e minha verdade é conquista da minha vontade de poder. Todo esse furação esse redemoinho é Dionisíaco. 'É o esplendor da embriaguez, onde cada membro se entrega a embriaguez' (Hegel). Não a racionalidade de Apolo, pois o pressuposto é que o 'eu' se perca, e ao se perder, perder a individualidade. Mas perder o 'eu' é acercar-se da loucura. E viver é, no fundo isso, perder o 'eu' e embriagado não saber nem sequer quem sou. É uma concepção sanguínea, barbárica, rapinica.
Um ser apolíneo não perde a razão, não perde o centro do 'eu'. Mas, o ego se perde na festa dionisíaca e entrega-se aos instintos.
'Todo desejo contido engendra a peste.' William Blake.
E Nietzsche disse: Todos os instintos que o homem mantem contido em si, por meio da cultura apolíneo burguesa, por meio da piedade, compaixão, e o ascetismo cristão, que censura, que lacera aos instintos mais autênticos, selvagens, brutais e descontrolados do homem: tudo isso é peste.
Há que se entregar desaforadamente aos instintos dionisíacos e perder-se e recuperar-se como besta, como ave de rapina, como guerreiro bárbaro e gozar, gozar por si e fazer gozar aos outros homens em meio a uma orgia interminável.
Para tudo aquilo que Hegel disse: o real é racional e o racional é real, nada disso, tem valor para Nietzsche, em vez disso:
Instinto, Dionisismo e Loucura.

29 de jan. de 2012

Segunda-feira.


Soa o despertador. Desperto, não é a palavra, mas enfim, desperto. A água fria na pia na cara, de pele ainda quente, fará sua parte, que depois do estalido do despertador será a segunda coisa desagradável do dia. Gosto da noite, da alta noite. Jamais iria dormir, se pudesse, só para curtir o silêncio dessas horas, aonde os celulares não chamam, não clamam, as saveiros não passeiam seus sons horripilantes e até os cães não ladram. Tudo ruídos artificiais, mesmo os cães, deslocados para sempre, como a cada manhã de domingo um testemunha de Jeová a bater a porta, para ouvir um rosnar deselegante que o deixa, haja masoquismo, feliz. O despertador, a água fria e o crente são bofetadas imerecidas. Mesmo em meio a esse protocolo diário de hostilidades, sempre, começo o dia em busca de um grão de felicidade, antes de entrar na engrenagem perfeita, e a primeira boa noticia são duas: uma entra pelo nariz, é o cheiro do café, outra é o barulho da pressão da cafeteira e logo a palatável, o café do jeito que gosto, sem bolachinhas de chocolate, sem biscoitinhos de polvilho com zest de limão, sem canela em rama, sem qualquer aditivo, sem ideologia, mascava ou orgânica: café e um tiquinho de açúcar, a gosto. Abandonado nessa letargia, me ocupo de um segundo café matizado agora com um cigarro, lá na rua, na calçada, olhando Marte ou Vênus. Ambos. Tudo é simples tentativa de aliviar o peso das horas subsequentes. Como se fosse ganhando força, que logo, logo a porei em prova.
Olho e volto a olhar. De relance tudo sei de memória, a gradação da luz, dos ruídos em crescente, mas cabe sembre perguntar qual será o próximo dessabor, uma pessoa, um e-mail, um telefonema, uma frase ou palavra que tem como objetivo, consciente ou não, como uma flecha, transpassar do mundo externo ao mais íntimo do meu ser, e cravar lá a semente de seu veneno, e de quebra deixar o seu cheiro amargo invadir o já irrespirável ar.
Apesar de tudo, dessa eterna repetição de tragédia em gotas, saio a procura de doçura e calor, de cumplicidade, de um riso que faça crível o amanhã.     

23 de jan. de 2012

O Cachorro mais feliz do bairro.


Meu vizinho de frente, gosta de cavoucar no vaso que tem uma palmeira plantada. Apanha de jornal. As vezes escapa, apanha. Sua mulher também uma Basset se parece com ele, ou sou eu quem se confunde, pois minhas vistas já estão cansadas, eu já estou cansado. Meu dono, sim ele é meu dono, pois sempre está a dizer: Tu pra lá, Tu pra cá. É! me chamo Tu. Sou uma espécie de eu canino do meu dono. Depois de haver descoberto que seu eu feminino, já não rendia frutos, ele se afogar em muita pinga, e vem sempre a se desabafar comigo, pega nas minhas orelhas e diz ' tá vendo Tu !', ' Tá vendo! Que barca furada, aquela de que a mulher não é objeto, tá vendo Tu, tudo mulher objeto, só reconhecem os machos sem eu feminino' Não é má pessoa, meu dono, sempre fico calado, murcho as orelhas, agora anda com essa do eu canino, e me leva para passear, e me passarem a mão pelos pelos. Ele não percebe a tristeza que vivemos, falo por mim, e pelos os que vejo aqui e e ali, São mais felizes os que passam correndo, cão sem dono, mijando em tudo que é pneu, poste e qualquer coisa que se pareça um obelisco. Por rosnar dos que passam pela rua, entre eles está aquele que penso ser o cachorro mais feliz do bairro. Ele mora na casa do motoqueiro, que entrega lanches. Toda noite fico aqui na grade do jardim e vejo o motoqueiro descer correndo, e logo atrás o vira-latas, de dorso creme e barriga branca, orelhas grandes caídas, pois é, passam os dois na maior velocidade, logo o vira-latas volta sozinho, deve ter se cansado, mas com certeza conhece tudo que tem para alem daquele jardim que só diviso e faz divisa com um mundo que desconheço, ele conhece. As vezes ele fica perambulando, cheira a Basset do meu vizinho de frente que gosta de cavoucar o vaso de palmeirinhas, de apanhar, é que ele deve de gostar, pois, apanha e continua a fazer igual, deve querer que lhe abram o portão e que se lhe digam: rua, seu cachorro. Mas eu dizia que o vira-latas, depois vem cheirar a minha vizinha de baixo, coitada, rasparam o seu pelo, ela tá parecendo um saruê, pra quem não sabe, saruê é gambá, mas o vira-latas nem tá ligando para isso, vem e cheira, eu já perdi o meu olfato, aquele que fazia saber qual delas estava no ponto, ficou esse, já viciado em ração, e dos ossos de costela da vaca atolada de toda santa semana. Hoje ele, o vira-latas, parou aqui perto, me rosnou de suas conquistas do último agosto, me disse que não teve outro igual a esse, rosnou que teve uma que pegou através da grade, rosnou nas minhas orelhas que tem antepassados Beagle e Bull Terrier, eu ri muito, pois meu dono também valoriza muito seus antepassados, uma mistura de ingleses e italianos, depende da hora, por vezes um Lord outras um carcamano, é um vira-latas igual. Mas você é feliz? Perguntei, para esticar o au au au, ele disse que tem dissabores, como qualquer um, e disse que gostaria de experimentar uma dessas guias que apertam o pescoço...

20 de jan. de 2012

Candidato, cândido ou cândido eleitor, aquele que pensa saber votar?



Na Roma antiga o candidato a  cargo no Fórum Romano; que era um centro comunal ademais de um centro comercial – há fóruns Romanos por toda a Europa, inclusive há um – nada mais que o piso, magnifico diga-se de passagem – em Conimbriga que foi a origem de Coimbra. Pois retomando, o 'candidatus' usava branco, como simbolo da pureza, vê-se que a coisa é velha, dai vem cândido, Voltaire poderia dizer mais com um simples nome?
Não é fácil encontrar a candura, a candidez em nossos candidatos, mas seguramente a devem ter. Ninguém, absolutamente, é absolutamente malvado. O absoluto não existe, nem esta frase, em absoluto. O grande problema é que falta algo, que conforme, que de forma às deformidades; por exemplo, um determinado indivíduo é aguerrido. Tem certos seus quereres e aplica-se, com afinco, garra, ainda que intuitivamente, para atingir o que deseja. Trata-se de qualidade particular, na sociedade que vivemos, qual deposita toda a importância e honrarias àquele que abre caminho em meio à massa disforme, diga-se de passagem: uma grande qualidade. Porem, e a vida é cheia de poréns, esse indivíduo, uma vez, investido de um mandato - talvez antes, na filiação - deveria conformar-se a ele, adquirir sua forma, e ser balizado por interesses do eleitor do seu partido, de ideologia própria, o quê permitisse ao eleitor certa, pequena que fosse, garantia das margens de atuação, 'aguerrida', em defesa de posições do programa, do estatuto e da ideologia partidária.

Ocorre algo interessante nesse sentido. Nossos partidos políticos são formados, quase que absolutamente, não mais que por políticos. Políticos no sentido de candidatos, e no âmbito municipal a coisa se restringe a candidatos e seus cabos eleitorais, estes em geral são em número e grau parelhos àqueles cargos, que tendo o candidato conseguido o mandato, disporá. Número finito de cargos, sempre, seja assessores ou um que outro cargo na máquina administrativa municipal, dependendo de seu coeficiente eleitoral e sua força dentro do grupo, dito partido, este sim, sempre, quase absolutamente é  propriedade particular, regionalmente sempre, e muitos nacionalmente, cacicados, cujos programas, como diria Eça, sem eira nem beira, tudo o que existe dentro dos limites da extrema direita neo liberal à extrema esquerda maoista estão no bojo de seus programas. Quase absolutamente tudo inexequível, restando a seu eleitor o cândido interesse daquele particular, e ao eleitor (dele) sair pelo mundo acusando os outros, eleitores, de não saberem votar. Deus que candura!       

15 de jan. de 2012

Professor da falta de ética.


É certo que o conceito de cidadania é complexo, assim como é básico exigir participação na vida politica da sociedade que se faz parte. Antes disso a ética deve permear o tecido social. Que é a ética na prática? Vou contar uma historinha que nos mostra a falta de ética: Um certo candidato a vereador, derrotado, no último pleito, 'adesivou' seu carro, salientando seu nome e profissão. Não há lei para o impedir de assim 'adesivar' . Porém todos sabemos que se trata de propaganda eleitoral 'marotamente' escancarada. Se fosse uma propaganda eleitoral explicita, estaria fora da lei eleitoral, fora do tempo, o juiz eleitoral poderia agir, como ocorreu com outro apressado, mas no caso do incerto candidato, não está explicitado o quesito: Candidato a vereador. Não sou jurista, mas não sou tonto. Assim nosso incerto candidato, num rico exemplo de aplicação da lei de Gerson, circulará pela cidade por mais tempo que os demais, com seu carro e os dos seus, a veicular a mais absoluta falta de ética, claro que isso tem nome próprio. Isso também nos mostra que: não basta a profissão ser nobre: professor, mestre, ou mero analfabeto palhaço para que possamos caracterizar o malandro. Que podemos esperar do possível mandato desse 'cara' ? Nada ou seguramente menos que de um palhaço.


12 de jan. de 2012

Anotações para um Livro, que se livrou de mim.



A farsa de Inês.


O choro foi embora com os músicos do Choro Bandido, fazendo desaparecer seus fiéis, como desaparecem os gênios e as lâmpadas em filmes antigos numa explosão que gera uma nuvem de fumaça que vem do solo. Isabelle foi-se com o Ente, Ledório e Hermítio saíram como entraram envoltos em papel jornal agora um tanto úmido dado o merejar dos copos de cerveja e chope, Wirto desapareceu com uma loira, a bonita foi-se com a Negra dormirem para que uma o demônio acorde. De Mércia resta uma certa umidade no assento da cadeira. Edmilson saiu com a crônica pronta. O genro quase pediu em casamento. Seu Pavão ainda mais feliz. O serviço agora anda apressado juntado cadeiras e mesas dobráveis e dispondo-as a cada quatro cadeiras uma mesa. Luis ainda na mesa um anda às voltas com uma nuvem de soluções rondando e zumbindo aos ouvidos. Feia parece ter problemas com a conta e reconta o que falta. Fiado. Amanhã eu pago. Daí fiado só amanhã. Antoine não aceita, mas do gasto já feito leva o balão. Luis pagou e pediu o chope saideira, que resta inteiro, só o creme abaixou.
Luis arranca a cabeça dentre as mãos, arranca as raízes dos cotovelos do tampo da mesa, traça as pernas e balança o pé da perna que está por cima. Pergunta-se 'onde estou?' Feia acende um cigarro. O som ambiente toca.
...Pipoca aqui, pipoca ali...






Elena é velha e Inês é morta.

Feia se levanta, não há mais comensais no bar, exceto Luis e Feia e ela caminha para a mesa um, com a blusa numa labuta para que despoje os ombros, uma Lucíola ilustrada num livro do passado, caminha insistindo que o fumo vá para cima, para diante da mesa um com a perna direita à frente da esquerda sustentada pelo pé em ponta de pé. Luis a olha de baixo para cima.
Elena vidi, per cui nto reo tempo si volse...e mais passa que volta pensa Luis. Milhares de anos. Milhares de historias. E sempre restaremos, nós outros, os mesmos com a gravidade da repetição, fazendo a tragédia não ser mais que a dupla ligação de oxigênio nalgum carbono do ácido. Feia abaixa a mão, de cigarro entre dedos, afastando a do corpo, enquanto o cotovelo cola-lhe à cintura a outra mão afofa o cabelo, com um requebro mole que subiu das pernas até a cabeça e esta ficou tombada sobre seu ombro despojado, disse:
Hei você! Eu? Disse Luis surpreendido. Sim você que gosta de dançar. Gosto, mas não sei. Ninguém sabe, todo mundo imita todo mundo. Sim? Sim! Claro. Se não precisa saber é comigo mesmo. Mas, essa música não é para dançar. Deixe de ser tolo, música é para se ouvir, nós é que dançamos.
É verdade, agora pensando bem acho que a música enquanto se dança é para não ficar se perdendo em diálogos inúteis. Estou pronto para o uso. Parece que você está... Chega de conversa, embora dançar! Vem!
...Porém parece que há golpes de p de pé de pão... Como é teu nome? Inês! Inês? Sim. Inês! Porque do espanto?Nada não! Como não? Ficou até pálido! Eu pálido? Quem mais? Você mesmo! Sabe o que é? Quê? Estou escrevendo um livro, e lá tem uma personagem que se diz Inês. É mesmo! E como se chama o mocinho? Luis. Igual a mim, Luis! Se meu malsim não tenha mudado de rumos e de nomes por não ter ele conseguido até aqui penetrar na minha alma no que me olha raso sem razão meu nem riso no liso desvão que rês desfaz.
...De parece poder... Então ela sou eu e ele é você? Acho que não! Como não? É uma história que inventei, e tampouco sou eu o Luis. Eu também não sou Inês, na verdade adotei este nome, porque não gosto de Ariadne.
O meu é Luis mesmo. Estou cansada de dançar, vamos embora Luis!
Para onde Inês? Para casa oras bolas! Então vamos. Espere aí! Esquecia minhas anotações, mas não as vejo sobre a mesa um. Deixe isso para lá! Está na hora de começar outra. E se eles copiarem? Você não copiou? Você está certa, para onde mesmo que vamos. Dá cá o braço Luis e chega de lorota. Como os de antigamente! Isso! Meu lindo! Fintemos o malsim.
...E era nem de nego não... Quando chegar a ponte você me leva de cavalinho na cacunda Luis? Sim Inês! Mas onde é sua casa?
...E era n de nunca mais... A minha casa e a sua J.J é o Candinho, e deixe de onda que quero ver você virar os olhinhos, e morder a minha mão, meu lindo! Sim Inês.



10 de jan. de 2012

O Negro.


Tradução livre, não ortodoxa de El Negro. Cuja autora é Rosa Montero. Me deparei com a história na internet.


O Negro.

Estamos no refeitório estudantil de uma universidade alemã. Uma aluna loira e inequivocamente alemã pega sua bandeja com o prato do dia na vitrine de self-service e logo se senta em uma mesa. Então se dá conta que se esqueceu dos talheres e volta a se levantar para buscá-los. Ao regressar, descobre com estupor que um rapaz negro, provavelmente subsaariano, por seu aspecto, ocupou o seu lugar e está comendo de sua bandeja. No princípio a loira se sente desconcertada e agredida, mas em seguida corrige seu pensamento e supõe que o africano não está acostumado com o sentido da propriedade privada e da intimidade do europeu, ou inclusive, pode ser que não tinha dinheiro suficiente para pagar a comida, ainda que esta seja barata para o elevado padrão de vida dos países ricos. De modo que a moça decide se sentar em frente ao tipo e lhe sorrir, amigavelmente, coisa que o negro responde com um outro sorriso branco. Em seguida, a alemã começa a comer da bandeja, tentando aparentar a maior normalidade e a comparte com viva generosidade e cortesia com o rapaz negro. E assim, ele come a salada, ela vai pela sopa, ambos beliscam, de igual para igual o mesmo cozido até que o acabam. Um se dá conta do iogurte o outro da fruta. Tudo isso trufado, salpicado de multifacetados sorrisos educados, tímidos, na verdade, por parte do rapaz, suavemente alentadoras e compreensivas da parte dela. Almoço acabado, a alemã se levanta para ir buscar café. Então descobre, na mesa vizinha, atras dela, seu sobretudo, colocado no espaldar de uma cadeira e sobre a mesa, uma bandeja de comida intacta.





El Negro.

Estamos en el comedor estudiantil de una universidad alemana. Una alumna rubia e inequívocamente germana adquiere su bandeja con el menú en el mostrador del autoservicio y luego se sienta en una mesa. Entonces advierte que ha olvidado los cubiertos y vuelve a levantarse para cogerlos. Al regresar, descubre con estupor que un chico negro, probablemente subsahariano por su aspecto, se ha sentado en su lugar y está comiendo de su bandeja. De entrada, la muchacha se siente desconcertada y agredida; pero enseguida corrige su pensamiento y supone que el africano no está acostumbrado  al sentido de la propiedad privada y de la intimidad del europeo, o incluso que quizá no disponga de dinero suficiente para pagarse la comida, aun siendo ésta barata para el elevado estándar de vida de nuestros ricos países. De modo que la chica decide sentarse frente al tipo y sonreírle amistosamente. A lo cual el africano contesta con otra blanca sonrisa. A continuación, la alemana comienza a comer de la bandeja intentando aparentar la mayor normalidad y compartiéndola con exquisita generosidad y cortesía con el chico negro. Y así, él se toma la ensalada, ella apura la sopa, ambos pinchan paritariamente del mismo plato de estofado hasta acabarlo y uno da cuenta del yogur y la otra de la pieza de fruta. Todo ello trufado de múltiples sonrisas educadas, tímidas por parte del muchacho, suavemente alentadoras y comprensivas por parte de ella. Acabado el almuerzo, la alemana se levanta en busca de un café. Y entonces descubre, en la mesa vecina detrás de ella, su propio abrigo colocado sobre el respaldo de una silla y una bandeja de comida intacta.






9 de jan. de 2012

Politica local. Enchentes.


É óbvio que o entupimento de bueiros causam inundações locais, impedindo a livre condução das águas pluviais às zonas mais baixas da cidade. De qualquer modo a água sempre chega ao ribeirão, ao rio, ao mar, menos aquela que for absorvida pela terra não encapada, por casas, cimentos, asfalto etc. Reconhecer o esforço público na baixada é devido. Mas o problema é que, o mesmo poder dá uma no cravo e outra na ferradura. Pena pensar que toda a obra realizada e as que por ventura vierem a se realizar nessas regiões, de nada valerão, se continuarem a aprovar extensas áreas de condomínios, ou urbanizações, ou ocupações nas cabeceiras dos vales que alimentam os ribeirões. Há que se notar que não é a riqueza dos que ocuparão o solo - onde antes havia plantações, curvas de níveis, que absorviam quantidades de água, inclusive para repor ao famoso aquífero – que produzem a catástrofe, mas sim a falta de estudos técnicos e implementação nesses locais de formas de captação das águas das chuvas, que não deveriam correr tão livremente para os ribeirões. Claro que custará mais lotear, mas custará menos urbanizar toda a extensão de córregos da cidade. Mas o poder político municipal pensando, quiçá – não aposto nisso - em aumentar a arrecadação de IPTU, por exemplo, aprova condomínios e loteamentos, em geral, no atacado. É um tiro no pé político, cabeça não existe. Administração menos que planejamento. Assim restará sempre um problema para resolver, pelo qual se elegeram tantos quantos aparecerem com suas propostas mirabolantes.   

8 de jan. de 2012

Amor Canino.




Li um artigo, escrito por pessoa de grande apresso, e não vem ao caso citá-la, não é a questão, do artigo que foi veiculado no Caderno C do jornal A Cidade desse domingo 8\1\12 me chamou atenção a frase: 'Não confie em quem não gosta de cães.' Mas ao ler atentamente o artigo, o cambio se faz necessário: 'gostar' x 'amar'. Cães? Pessoalmente os tolero. Sofro o que não deveria permitir ou o que não me atrevo a impedir.” Tolerância gera tolerância. Compreensão, consentimento. Sem amor nem ódio eu desconfio de tudo, um Nixon, pós Watergate.
A questão é o Amor Canino. Amor ao Cão. Com tranquilidade digo: não desejaria ser cão amado da maioria daqueles que os amam. Nem por um dia. Facilmente se pode transitar de 'amar' para 'possuir'. Para quem sentir dificuldade nesse trânsito, pouco posso fazer. Apesar de não amá-los, me esforço em compreender e não constrangê-los, por viver em meio a muitos. Soltos e encoleirados. Básico é que, 'Eles' gostam de latir, ladrar, cavoucar a terra, "roer"   pernas de cadeiras, sofás, jardins, vasos, gostam da rua, mas não entendem os 'carros' bêbados, apressados, perigosos, mesmo ao humano talhado nesse vai e vem das avenidas se faz perigoso, imagine você para seres sem malicia, como os cães. Se eu tivesse um cão – vejam o verbo que há de se usar: Ter. - haveria de impedi-lo, por querê-lo vivo, que transitasse em concorrência com os carros. Posto que conheço os condutores, que em sua maioria se dizem amantes dos animais, e talvez por isso os atropelem. Sem embargo de que mantê-los trancafiados queira dizer: tratamento digno, a Ele. Na breve biografia de uma amadora dos cães, houve, se sei contar, três atropelamentos e uma morte, Napoleão, por sensibilidades excessivas da raça. Freei e jamais atropelei um cachorro, e por não 'amá-los| possuí-los' não tive um dos meus atropelados. O gosto é um exercício que deve ser precedido da ética. Materialmente “posso” ter um cão. 10x no cartão. Mas é viável? Eticamente! Para ele e para mim! Se pensar na dignidade humana (minha) e na dignidade animal (dele), animal cão, gato ou elefante. Chega-se facilmente a: a intenção é amar, mas o produto é pelo que se vê: o desrespeito mútuo. Indignidade.      


5 de jan. de 2012

Liberdade de expressão.


A liberdade de pensar, criar e escrever é constitucionalmente restringida, no artigo quinto inciso X. A sintaxe coage o ato, condicionando o texto, condicionará a noticia. E o texto receberá dos olhos do leitor uma derradeira mirada critica. A lei, a gramática e o outro. Antes destes a ideologia já aplicara seu código.
Os manuais de redação “proíbem” o uso de determinadas palavras, algumas construções, coisa que quer parecer tão-só uma cura do estilo. Normalmente não fazemos mossa. Mas, vai longe, e, sim, faz juízo de valores. Não é meramente cuidado estético. É também impedimento ao livre exercício da escrita, digamos, em nome da clareza, da economia.
Que dizer do tempo conselheiro da urgência e sincronicidade? Falo da urgência do texto, sem esquecer  da nossa. E acabamos por sapecar qualquer coisa no papel, papel virtual, que nem é possível amassar, como se o mundo virtual fosse o cesto. 
Mal começamos a escrever, e estamos rodeados de empecilhos roendo nossos melhores substantivos.
Quando venço, se venço, esses obstáculos ir-me-hei  de encontro ao poder de policia da hierarquia funcional. Um jornal, ou revista, têm sua missão muito bem estabelecida, sua cultura empresarial, suas metas e objetivos a serem auferidos, e suas estratégias de suporte às táticas de negócio. Ao contrário do que desejamos, o jornal tem uma unidade ligada a um centro de massa. A pluralidade está suspensa, por canalhices, várias, dentre tantas mais perniciosas, está também a democracia. Fatos anedóticos só confirmam, como o politicamente correto, que é coisa das mais democráticas.
A tudo o que antecede o ato criador e enquanto ele perdura, como fazer e seus suores, chamo de censura: intrínseca, interna e externa.
A gramática. A ideologia. A empresa. O consumidor.
O normal, o corriqueiro é que o produto seja controlado em todas as suas fases. O controle de qualidade é a normalidade. Uma incerta Censura, que por incerta, é esquiva. O fato de não haver mais demissões, nas empresas de jornalismo, revela o justo casamento do texto produzido com as necessidades da empresa e seu produto. Não sendo a demissão que aponta para a censura. Mas sim a não demissão apontando para a conformidade.



3 de jan. de 2012

Cronopios e Famas. Sem esquecer das Esperanças.

Cronópio desenhado uma andorinha sobre a tartaruga.
copiei daqui.




O ponto é: todo o sistema só consegue, efetivamente, garantir o direito à propriedade. O direito à liberdade de ideias, é uma mutação,  uma liberdade de proprietários. E liberdade de ideias quer dizer variedades de ideias de cada indivíduo que queira produzir ideias, e as ideias quase sempre se contrapõe. Assim que a liberdade de ideias implica em conflitos. Conflitos que devem se resolver no âmbito da democracia. Como as crianças e em casa. Assim, liberdade de ideias, no âmbito do mercado, é o que de mais oco e vazio existe. Nem sequer se pode dizer que exista. De verdade é uma abstração, uma aberração, não grito só com mais força digo: um aleijão. Me lembro dos Cronopios que ao chegar a uma cidade perseguem a baba do diabo. Enquanto os Famas foram ao cartório declarar seus pertences tão logo chegaram ao destino de turismo; antes já haviam reservado hotéis e não sei se conseguiram uma cadeira na praia.  Provavelmente, não gostaram do lugar, pois chovia, mas os Cronopios, estes disseram: é uma bela cidade. E provavelmente dançaram, coisa que alegrou as Esperanças. Trégua, Catala. 

2 de jan. de 2012

Castelo de areia.


 Absolutamente tudo comparado ao tempo universal é Efêmero. O é: a terra, o sol, a lua e por consequência a muralha da china.
Que dizer de meu amor, de qualquer paixão que tive, paixão que às vezes dura menos que uma cigarra.
Qual e quanto de meus amores e paixões se criaram isentos de vínculos fetichistas.
... que era andaluza, e se dizia Lole, ou ainda que todo mundo queria, era a mais bonita( do bar, da rua, da solidão) ou se parecia a grande mãe junguiana, era o meu espelho, onde eu narciso me afoguei ao cruzar a minha imagem, ou ainda por embriaguez de todo o anterior, ou por um par de copos, por ser um tipo ( eu ) de macho, pela música que sonava, para contar amanhã, pois estava tanto mais ébrio que tão-só de cachaça.
Enfim quando fui um ser centrado, sabedor e sensível do que podia ser para oferecer, das minhas qualidades humanas de haver nascido depois de suposto dilúvio, seja 10.000 anos de cultura humana.
Não estou querendo um poeta, que por verdadeiro é Poeta e cuja poesia é sensual. Quais poderia citar? Muitos. Um? Drummond.
Mas estou falando de ser Poesia. Viver poesia e como atos desta, verbos, adjetivos, rimas...
se não posso ser uma estrofe, que direi, uma poesia.
O sujeito.
O verbo.
O pronome.
O adjunto.

Ser.
Pleno.