20 de fev. de 2012

Igreja Ateísta: A Liberdade.




 Sermão pela impossível dupla: Stéphanè Mallarmé & Søren Kierkegaard.



O ser humano atua, isso quer dizer, que não está programado pela natureza para executar determinadas funções, de maneira dada, senão que para as eleger ou optar por alguma ou várias delas. Mas sim poder lançar o dado e não ver excluída nem a possibilidade do acaso. Isso é o que podemos chamar liberdade. A liberdade é simplesmente o fato de não termos nossos objetivos biológicos, zoológicos determinados de uma maneira fixa como o resto dos animais. Por termos um amplo volume de possibilidades distintas pela frente e diante das quais exercemos o arbítrio e optamos ou elegemos. Pelo qual, o sentimento de vazio, de não ter obrigações, como o de poder dizer sim e não, o de ir para lá e para cá, entre tantos outras circunstância, fato que acaba por nos produzir angustia. E angustia é isso, o sentimento diante do vazio gerado pela liberdade e as escolhas, e que por fim e ao cabo, o vazio diante da liberdade corresponde também ao vazio da morte que pressentimos e que ai não temos escolha. De modo que o espirito treme e se angustia e, em termos últimos, busca a saída pela fé, mas a fé por sua vez é algo temível, porque a divindade não nos promete em princípio: razão, compreensão, utilidade, senãoa que, eleger entre o mundo da razão, da compreensão, da utilidade, do verossímil e o mundo da fé. Aqui se faz necessário abrir um parêntese para que não se compreenda a divindade e a fé, como as adaptações produzidas pelas infinitas igrejas, como se divindade e fé fossem compatíveis com esse modo de produção de vida, no qual vivemos, pois eleger a fé é romper com tudo que é racional, e é o mundo que vivemos, ainda que selvagem, bárbaro e aparentemente irracional. Irracional é o modelo de Deus, que nada menos, ordena que um pai suba ao monte com seu filho e que o sacrifique, execute a esse filho. Nessa história bíblica está o absurdo terrível da divindade, que apresenta em sua crueza o homem religioso, na qual o pai aterrorizado, mas cheio de fé – homem religioso - leva seu filho ao monte e está a ponto de matá-lo até que a mão de Deus o impeça. A fé está em executar, mas crer, confiar que Deus impedirá, seja o arbítrio está em Deus. O que a divindade quer dizer com essa história? Não outra coisa que: não valem nenhuns dos fundamentos razoáveis humanos, racionamentos ou arrazoados humanos, nem mesmo as razões éticas que fazem com que não se permita a um pai matar seu próprio filho. Para o homem ético, o que faz Abraão, é mera loucura. E ai temos que pensar que Abraão é o homem religioso. É crer ou não crer, ou entra ou não entra, e uma vez crente tudo é possível. Pois, para Deus tudo é possível, e não há nada necessário, nem sequer o passado, tudo pode ser mudado, apagado e o entrar no mundo de Deus é entrar no mundo das possibilidades, puras e abertas, ou então permanecer no mundo do necessário, do mecânico, seja, do natural. Esta é a opção que se apresenta, sim. Não tenho forças para me converter nessa profundeza da fé, de romper com o mundo e dizer: que fique, ai, o mundo com sua razão e me entrego ao irracional. O que se desprende é que não há mediações possíveis entre o homem religioso e o ético, somente riscos, sangue e decisão. Assim a religiosidade é a interpelação pessoal do indivíduo pelo uno absoluto, noutra palavra, o absoluto o interdita. Esta é uma relação de resignação e de confiança infinitas. É também um salto no abismo da incerteza ou do nada. Por outro lado o indivíduo capaz de assumir sua subjetividade de sofredor e negar-se a saltar no vazio, esse indivíduo também está sempre exposto ao nada, e esta exposição é a própria angustia, mas esta revela sua liberdade, sua responsabilidade e o risco ineludível de eleger-se a si mesmo a cada passo, ainda que seja o abismo e que não haverá a possibilidade de que a mão divina o mantenha suspenso.    

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