24 de fev. de 2012

Bumbum de Carnaval.



A pequena Isadora passou as últimas férias escolares, nos seus finais de tarde desse tórrido verão, sentada na calçada com suas amiguinhas. Seus shorts sempre acabavam por ficar avermelhados pelo pó da terra roxa. Ela sempre batia a poeira com a palma da mão, mas talvez a umidade dela, muito provavelmente devida ao constante manuseio do celular, mais emporcalhavam que espanavam. Corriam, saltavam e gritavam quanto passava uma saveiro com o seu te pego ai ai... Chegou o carnaval e Isadora desfilou fantasiada de libélula, alguns adereços, uma tiara azul, transparências e um fio dental, também ele invisível. A pele brilhante e dourada da exuberância de seus quatorze anos, o seu bumbum empinado, substituíam com folga os incipientes seios, talvez por isso, mais tapados que o resto do corpo, seduziram uma plateia de marmanjos que se emborrachavam na escadaria da praça e gritavam: gostosa, quando ela passava, e ela retribuía com um triste samba no pé, sobre o salto plataforma. Sua mãe, hoje dona de par de braços tão gordos, na parte posterior que se dobram sobre o cotovelo, como se fossem outras duas barriguinhas na inflexão de seus trinta e dois anos; ouvia os gritos que ecoavam de um passado não muito distante, como se fossem para ela, numa época em que suas nádegas destruíam famílias, e fizeram por aumentar o consumo de cachaça em todo o distrito.
Hoje Isadora quando caia a tarde, saiu com seu short mais apertado. Os pobres demoram a se desvencilhar da moda, sendo que a última moda é o shorts mais airado, leve e solto, como se tratasse um tecido de seda, em cores discretas, para contrapor a sensualidade quase erótica que pode causar o movimento do pano, as vezes colando suavemente nas partes mais íntimas, normalmente sem outra peça por baixo, esse é o propósito, ou abrindo fendas e gerando perspectivas e possibilidades de exploração visual, que o pano grosso e colado não permite. Como dizia, Isadora portava o mais apertado dos shorts, onde as duplas costuras do cós punham em risco sua virgindade. Isadora foi caminhar. Foi ali para os lados dos condomínios, onde dizem que chegará a João Fiúsa. O rapaz da saveiro passou lentamente e seu escudeiro, botando meio corpo para fora, disse coisas que não ouvi, e seguiram caminho, lentamente. Isadora olhava por cima dos ombros, num exercício impossível, dobrando a espinha, alçando o bumbum para cima, sim, creio que ela o via.     

Nenhum comentário: