2 de mar. de 2012

O Medo.





Resulta triste ver jovens,  ou não mais tão jovens, convertidos em conservadores quase xiitas, mais liberais que o liberalismo, e em suma: fundamentalistas rancorosos. De outro lado ver um nonagenário, ou quase, como Vicente Golfeto se transformar num intelectual quase progressista. O homem é de uma afabilidade cruel e de uma lucidez proada, fundamentada num discurso de corte clássico, ainda que atrelado às tradições e posições conservadoras. Entretanto este senhor, culto à europeia, acaba por ser vanguarda de ideias do futuro imediato, e o faz com comodidade de quem já viu tudo e que não espera nada de nada e de ninguém, e menos ainda dos jovens de hoje. Justo estes que têm – todas as gerações a tiveram - a pesada responsabilidade de desenhar uma sociedade melhor que a de hoje, mais justa e equitativa, pelo menos; o que era para ser uma quimera, que a cada momento se parece mais a uma necessidade.
É certo que mesmo os que advogaram por uma economia 'mais humana, mais solidária e capaz de contribuir ao desenvolvimento da dignidade dos povos ou das pessoas', sabem que depois dos referentes do homem como medida de todas as coisas – gregos – e – de Deus nos tempos medievais – que nos miramos no deus capital, desde o âmbito da revolução industrial até desembarcarmos no milagre das novíssimas tecnologias, sempre estão tentando responder às perguntas que questionam o modelo moral atual.
Se o dinheiro é o termômetro de todas as coisas, as reservas essenciais da pessoa se pervertem – felicidade, responsabilidade, justiça, equidade – até o ponto de se perder a perspectiva do coletivo e do social, e por extrapolação portanto, do planeta em que nos cabe viver.
Assim sendo, a chave de retorno, para combater o sistema se baseia, toda a vida, na liberdade. Sobretudo a liberdade de pensamento, que é o território onde a identidade individual pode realizar-se e vir a concretizar-se, primeiro modificando ou fazendo por isso, no seu círculo restrito. Porém esta liberdade, aliás, sempre está ligada a independência intelectual dos indivíduos, seja qual seja o meio que o acolhe, seja qual seja o meio que ele escolhe acolher; ela, a liberdade, resulta cada vez mais difícil frente aos planos dos meios de comunicação ( meios de persuasão nos diz Vicente Golfeto) do poder e do açambarcamento perene e continuado do medo como conceito de utilidade. Não se é um homem com medo, se é um cordeiro, que quando muito olha e ora pela sua sobrevivência, e, terror dos terrores, o faz com a alma lavada – consciência limpa – e pasme-se, quase que por instinto natural.
Entretanto e sem nos darmos conta, o medo é só um cenário, uma conjuntura, uma sombra que ameaça. Notem que cenário, conjuntura e sombra, todos tenebrosos, são vocábulos diários de meios de comunicação. Voltando, por que ameaçam? Ameaçam porque escondem seu conteúdo e pronto e basta. Enquanto as novas redes sociais e os 'novos espíritos' deveriam propor o contrário; não espalhar o medo, mas botar luz nessa impostura obscurantista. Desde Pitágoras sabemos que um raiozinho de luz pode iluminar a escuridão


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