27 de mar. de 2012

Flor de plástico


Teoria social da conspiração... é uma consequência da desaparição de Deus como ponto de referência, então fica a pergunta: Quem O há relevado? Karl Popper.


Por que o capitalismo é isso: feito da própria impossibilidade, seu eixo fundamental é: daquilo que há e querem que todos compremos, não dá para todos. Em suma o desejo de todos é a todos insaciável, não há iPad para todos, se todos o quiserem. Não há ruas para todos os carros, ainda que não exista carros para todos os que os desejam, não há leitos hospitalares para todos, ainda que os Planos de Saúde insistam em vendê-los. Um dos sintomas de nosso tempo é a fatal falta de verdades. Embora existam verdades em excesso e excessivas, difundidas em todo e qualquer suporte e forma, apesar disso, não as temos o quanto baste, e essas que temos, temo que se tornaram impronunciáveis. Declaro antes de mais nada, não ser adepto de qualquer teoria da conspiração, e este 'impronunciável' nada mais, ser, que a impossibilidade do interlocutor. Por que todos nos tornamos pastores, radiologistas, cozinheiros, artistas, médicos, críticos políticos, sociólogos, filósofos, ignorantes e substituímos o não crer em deus para acreditar em tudo. Assim defendemos os cães, mas não queremos subtrair deles os carrapatos gordos como feijões. Queremos encher o azul do céu de filhotes, como se fossemos sanhaços e que encontraremos, por todo o sempre, um papaia em qualquer parte. Queremos subir no mais metálico dos carros, por um estribo, e que este seja o mais distante possível do chão, e enquanto isso desejamos esquecer que haveremos de apear, e então ser o atropelável, por incauto, mas sempre furibundo.
Não há duvida que não existimos individualmente, senão que partindo da tribo ou sociedade na qual vivemos, assim o indivíduo é uma abstração ridícula. Isso não diz mais do que isso: somos parte do todo, que pode sim individualizar-se, mas sempre carregando consigo as marcas da sua tribo, que a cada dia não é outra senão a própria humanidade. Assim o cubano não é o cubano de outro planeta, mas o vizinho de Miami, e uns e outros necessários entre si. O que não quer dizer que não se possa suprimi-los. Mas a supressão de uns fará ausência aos outros, que por isso mudarão e mudaremos todos, e se nos individualizarmos depois da supressão de uns ou outros, seremos distintos do que seríamos se antes o fizéssemos.
Não cabemos no mundo da maneira que pensamos. Cada um por si, já que deus não revelou seu sucessor. Falta espaço e ouvimos “Quero uma casa no campo”, estamos assustados com a cidade e o multitudinário que isso implica. Um circense terá dito que lá em Piracicaba saltava de uma sarjeta a outra uma rua de treze metros! A resposta deve ser: aqui é Piracicaba, salte. Não há volta possível ao campo, à natureza ao bucolismo. Não entraremos nesse rio por segunda vez. Aqui é o campo e havemos de tocar muitas peças, aplanar arestas, chafurdar muita lama, jogar o palito do sorvete numa lixeira e o celofane do cigarro em outro, recolher a merda dos cães, assim como castrá-los junto aos gatos até quase sua extinção, saber muitas senhas, parar em muitos semáforos e ver muita TV ou Internet para que não tenhamos tempo de pensar no sentido disso tudo, para só então poder dormir com todo o ruido de fundo que sempre resta, como a torturante torneira a gotejar.
O 'não' poderia ter sido uma opção, mas já se extinguiu o tempo desta possibilidade, logo será obrigatório. A menos que insistamos na paranoia do ser Eleito entre milhões de enjeitados, somente para que permaneça a possibilidade, impossibilitada, que atende por esperança, essa loteria diuturnamente fraudada.
As vezes posamos de flor e rapidamente aparecem as abelhas, mas sabemos tratar-se de uma calêndula de plástico com umas gotas de água com açúcar.             

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