6 de mar. de 2012

Cortar os pulsos!



Ser poeta; pintor; músico; escultor; arquiteto; livre pensador ou simplesmente humano não é tomar de um caco de vidro, cortar os pulsos e verter-se em hemorragia. A vida deve seguir. E por dever de continuar, nenhuma obra de arte trará solução, nem sequer uma qualquer ideologia, se, se leva em conta que o difícil suicídio via o corte de pulso, no mais das vezes, tudo que faz é a teimosia em deixar aquela saliência que anos adiante se tentará ocultar com a pulseira do relógio.
Há entretanto, e por toda parte tais manifestações. Muito, corriqueiramente e, a miúde a fotografia é vitimada. Um exemplo é um menino negro africano de barriga grande disputando restos com urubus. É um corte no pulso com vidro, mas não é arte. Na música houve o caso recente da inglesa que fabricava queloides e por fim acabou por uma industria menos densa, ao compor a própria fuga em tons pasteis. Outro exemplo, mais remoto, é The Wall, uma tontura provocada pela perda de sangue, em lento derramamento, aonde a perda de sentido – lisérgico - se faz notar pelas vozes indecifráveis e quase fantasmagóricas. À época quem fumasse maconha não deveria ouvir, porque acontecia de ocasionar uma somatória de ondas que reverberavam, ou mesmo produzir ecos que se confundiam com as frases musicais que redundavam desde a primeira volta da agulha.
Por outro lado há outros tipos de sangue esguichando, mas de maneira regrada. A música sertaneja e neo sertaneja, como queiram. Dá para ver no rosto do ou da cantante o quebranto, as cólicas e a contorção das tripas, coisas que fazem do ser atrás do microfone exibir o calafrio, a febre e o suor mesclado com hemoglobinas. Como se o palco se tratasse de um monte - o Calvário - o microfone, a própria cruz, e na plateia: as marias e a madalena suportadas por apóstolos em estado de brandura. Não deixa de ser seita.

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