Ser poeta;
pintor; músico; escultor; arquiteto; livre pensador ou simplesmente
humano não é tomar de um caco de vidro, cortar os pulsos e
verter-se em hemorragia. A vida deve seguir. E por dever de
continuar, nenhuma obra de arte trará solução, nem sequer uma
qualquer ideologia, se, se leva em conta que o difícil suicídio via
o corte de pulso, no mais das vezes, tudo que faz é a teimosia em
deixar aquela saliência que anos adiante se tentará ocultar com a
pulseira do relógio.
Há entretanto, e
por toda parte tais manifestações. Muito, corriqueiramente e, a
miúde a fotografia é vitimada. Um exemplo é um menino negro
africano de barriga grande disputando restos com urubus. É um corte
no pulso com vidro, mas não é arte. Na música houve o caso recente
da inglesa que fabricava queloides e por fim acabou por uma industria
menos densa, ao compor a própria fuga em tons pasteis. Outro
exemplo, mais remoto, é The Wall, uma tontura provocada pela perda
de sangue, em lento derramamento, aonde a perda de sentido –
lisérgico - se faz notar pelas vozes indecifráveis e quase
fantasmagóricas. À época quem fumasse maconha não deveria ouvir,
porque acontecia de ocasionar uma somatória de ondas que
reverberavam, ou mesmo produzir ecos que se confundiam com as frases
musicais que redundavam desde a primeira volta da agulha.
Por outro lado há
outros tipos de sangue esguichando, mas de maneira regrada. A música
sertaneja e neo sertaneja, como queiram. Dá para ver no rosto do ou
da cantante o quebranto, as cólicas e a contorção das tripas,
coisas que fazem do ser atrás do microfone exibir o calafrio, a
febre e o suor mesclado com hemoglobinas. Como se o palco se tratasse
de um monte - o Calvário - o microfone, a própria cruz, e na
plateia: as marias e a madalena suportadas por apóstolos em estado
de brandura. Não deixa de ser seita.
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