4 de mar. de 2012

Michel Teló: Uma vindicação.



Não é costume meu, ser evasivo; porque nisso reside a arte, não tenho inclinação artística, senão que desejos. Entretanto como tentativa de me revitalizar como indivíduo, por vezes sou levado à falsidade, ao plágio e mesmo a reinventar minha própria biografia. Pode parecer o que for, desde já, mas tem o propósito último de ser a mim um passatempo de mim. Uma problematização metalinguística de mim mesmo que buscará solução em qualquer parte. Haverá aquele que entenderá como um ceticismo epistemológico, ainda que estime muito a religião e a filosofia, mas tão só no que tange valores estéticos, no que encerram de singularidade e de maravilha. O que poderia se chamar ou identificar como um ceticismo essencial. Não tenho nenhuma teoria do mundo, embora possa usar a metafisica como sistema, ou o materialismo como religião, mas isso não deve passar de um aproveitamento necessário à solução de problemas específicos. Não creio que o conhecimento seja possível. E se poderá dizer agnóstico de seu praticante. Como dizia H.G.Wells: intercalar doutrina nos pensamentos e escritos é deplorável. No específico das mundanidades fui levado a conhecer o que alguns poucos conhecem e desconhecer o que é de todos conhecido, quer dizer sou uma lacuna vergonhosa. Confesso que gostaria de ser facilmente localizado no platonismo, ou num panteísmo a la Espinosa, ou mesmo um niílico panteísta. Mas dada a minha admiração pela metafisica, sou mesmo é um caipira perdido na metafisica, que é uma terra fértil que não serve à cana-de-açúcar, e apesar de ser completamente incapaz de entendê-la é por meio dela que me ocorre de um tudo, urticárias ou bicho de pé ideológico, menos a fimose intelectual, que não passa de um aprisionamento de todo o pensamento por uma corrente ideológica, ou como já o disse antes, é a deplorável necessidade de intercalar doutrina por todas as partes do orbe.
Cada uma a sua maneira, certas canções, atingem um tipo de perfeição, e há estudos profundos ligados à linguística, mais precisamente à linguística generativa de Noam Chomsky que coloca no centro de tudo a sintaxe. Antes de Noam Chomsky se cria que a linguagem era, por completo, adquirida por associação e ou aprendizagem, o que digo para linguagem vale para qualquer destreza humana, a música por exemplo. Depois da publicação de 'Estruturas Sintáticas', que atacava os pressupostos básicos do estruturalismo e da psicologia condutivista, onde Chomsky postula a existência de um dispositivo inato, quase um 'órgão da linguagem', que permitiria aprender e usar a linguagem de um modo quase instintivo. Basicamente é assim, há os que pensam que o cérebro de um bebê é vazio e deve-se enchê-lo, já Chomsky pensa que o bebê nasce com todos os dispositivos no cérebro especializados e inatos.
Dessa maneira há canções, como todas, existiam antes, isto é: 'Ai se te pego', existia ou estava no limbo, como Michel Teló existia no limbo, e foi no limbo que Michel encontrou 'Ai se te pego' que eram a peça e o vazio ou espaço falto do quebra-cabeças. O grande valor de Michel Teló e vislumbrar o que existia, coisa que nós a maioria dos mortais não vemos. Vemos muito menos coisas do que as coisas todas que existem, e para disfarçar acreditamos em coisas inexistentes, afim de parecermos inteligentes, ou parecermos insatisfeitos com o mundo. Podemos explicar esta união cabalisticamente, sem necessariamente sermos especialista no Talmude, porque a Cabala é necessariamente precisa e justifica todos os acontecimentos do mundo, e suas necessidades últimas, onde os acontecimentos não se dão ao azar. Ou seja, a contingência do azar é zero. Veja você que o dito vai de encontro à famosa frase o poema mallarmaico: 'a coup de dés jamais n'abolira le hasard' que contraria toda a cabala, sendo que institui como mínimo uma possibilidade extra. O que levaria Borges a dizer que Mallarmé e seu poema está incluído, por conseguinte, em todos os acontecimentos do mundo, o abraço se fecha sobre tudo. Assim sendo 'Ai se te pego' e Michel Teló são tão necessários e não casuais como o faisão azul de bromotimol ou tornassoleado, como preferirem. Porque Michel é Mich (alemão eu) e el ( espanhol ele) então EuEle, e Teló é antes de tudo Tê-lo é 'tela' 'telon' espanhol e Teló 'tela catalão' e uma outra vez 'el' e 'elo' 'eloé' e recorda de pronto Telavive e 'ai se te pego' tem o ritmo marcado exato, melhor dito na melhor frequência para se 'fazer amor' muito parecido ao Bolero de Ravel.
E desta maneira sem conseguir uma linha de fuga, acabo por me agarrar a determinadas ideologias que não dirão nunca: matematicamente se poderia conseguir a conjunção: canção e cantor(voz) (veículo) perfeita e agrada a toda a gente, mas o que realmente não queremos, nem sequer parecer, quanto menos ser igual a toda a gente.   

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