12 de jan. de 2012

Anotações para um Livro, que se livrou de mim.



A farsa de Inês.


O choro foi embora com os músicos do Choro Bandido, fazendo desaparecer seus fiéis, como desaparecem os gênios e as lâmpadas em filmes antigos numa explosão que gera uma nuvem de fumaça que vem do solo. Isabelle foi-se com o Ente, Ledório e Hermítio saíram como entraram envoltos em papel jornal agora um tanto úmido dado o merejar dos copos de cerveja e chope, Wirto desapareceu com uma loira, a bonita foi-se com a Negra dormirem para que uma o demônio acorde. De Mércia resta uma certa umidade no assento da cadeira. Edmilson saiu com a crônica pronta. O genro quase pediu em casamento. Seu Pavão ainda mais feliz. O serviço agora anda apressado juntado cadeiras e mesas dobráveis e dispondo-as a cada quatro cadeiras uma mesa. Luis ainda na mesa um anda às voltas com uma nuvem de soluções rondando e zumbindo aos ouvidos. Feia parece ter problemas com a conta e reconta o que falta. Fiado. Amanhã eu pago. Daí fiado só amanhã. Antoine não aceita, mas do gasto já feito leva o balão. Luis pagou e pediu o chope saideira, que resta inteiro, só o creme abaixou.
Luis arranca a cabeça dentre as mãos, arranca as raízes dos cotovelos do tampo da mesa, traça as pernas e balança o pé da perna que está por cima. Pergunta-se 'onde estou?' Feia acende um cigarro. O som ambiente toca.
...Pipoca aqui, pipoca ali...






Elena é velha e Inês é morta.

Feia se levanta, não há mais comensais no bar, exceto Luis e Feia e ela caminha para a mesa um, com a blusa numa labuta para que despoje os ombros, uma Lucíola ilustrada num livro do passado, caminha insistindo que o fumo vá para cima, para diante da mesa um com a perna direita à frente da esquerda sustentada pelo pé em ponta de pé. Luis a olha de baixo para cima.
Elena vidi, per cui nto reo tempo si volse...e mais passa que volta pensa Luis. Milhares de anos. Milhares de historias. E sempre restaremos, nós outros, os mesmos com a gravidade da repetição, fazendo a tragédia não ser mais que a dupla ligação de oxigênio nalgum carbono do ácido. Feia abaixa a mão, de cigarro entre dedos, afastando a do corpo, enquanto o cotovelo cola-lhe à cintura a outra mão afofa o cabelo, com um requebro mole que subiu das pernas até a cabeça e esta ficou tombada sobre seu ombro despojado, disse:
Hei você! Eu? Disse Luis surpreendido. Sim você que gosta de dançar. Gosto, mas não sei. Ninguém sabe, todo mundo imita todo mundo. Sim? Sim! Claro. Se não precisa saber é comigo mesmo. Mas, essa música não é para dançar. Deixe de ser tolo, música é para se ouvir, nós é que dançamos.
É verdade, agora pensando bem acho que a música enquanto se dança é para não ficar se perdendo em diálogos inúteis. Estou pronto para o uso. Parece que você está... Chega de conversa, embora dançar! Vem!
...Porém parece que há golpes de p de pé de pão... Como é teu nome? Inês! Inês? Sim. Inês! Porque do espanto?Nada não! Como não? Ficou até pálido! Eu pálido? Quem mais? Você mesmo! Sabe o que é? Quê? Estou escrevendo um livro, e lá tem uma personagem que se diz Inês. É mesmo! E como se chama o mocinho? Luis. Igual a mim, Luis! Se meu malsim não tenha mudado de rumos e de nomes por não ter ele conseguido até aqui penetrar na minha alma no que me olha raso sem razão meu nem riso no liso desvão que rês desfaz.
...De parece poder... Então ela sou eu e ele é você? Acho que não! Como não? É uma história que inventei, e tampouco sou eu o Luis. Eu também não sou Inês, na verdade adotei este nome, porque não gosto de Ariadne.
O meu é Luis mesmo. Estou cansada de dançar, vamos embora Luis!
Para onde Inês? Para casa oras bolas! Então vamos. Espere aí! Esquecia minhas anotações, mas não as vejo sobre a mesa um. Deixe isso para lá! Está na hora de começar outra. E se eles copiarem? Você não copiou? Você está certa, para onde mesmo que vamos. Dá cá o braço Luis e chega de lorota. Como os de antigamente! Isso! Meu lindo! Fintemos o malsim.
...E era nem de nego não... Quando chegar a ponte você me leva de cavalinho na cacunda Luis? Sim Inês! Mas onde é sua casa?
...E era n de nunca mais... A minha casa e a sua J.J é o Candinho, e deixe de onda que quero ver você virar os olhinhos, e morder a minha mão, meu lindo! Sim Inês.



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