Meu vizinho de frente,
gosta de cavoucar no vaso que tem uma palmeira plantada. Apanha de
jornal. As vezes escapa, apanha. Sua mulher também uma Basset se
parece com ele, ou sou eu quem se confunde, pois minhas vistas já
estão cansadas, eu já estou cansado. Meu dono, sim ele é meu dono,
pois sempre está a dizer: Tu pra lá, Tu pra cá. É! me chamo Tu.
Sou uma espécie de eu canino do meu dono. Depois de haver descoberto
que seu eu feminino, já não rendia frutos, ele se afogar em muita
pinga, e vem sempre a se desabafar comigo, pega nas minhas orelhas e
diz ' tá vendo Tu !', ' Tá vendo! Que barca furada, aquela de que
a mulher não é objeto, tá vendo Tu, tudo mulher objeto, só
reconhecem os machos sem eu feminino' Não é má pessoa, meu dono,
sempre fico calado, murcho as orelhas, agora anda com essa do eu
canino, e me leva para passear, e me passarem a mão pelos pelos. Ele
não percebe a tristeza que vivemos, falo por mim, e pelos os que
vejo aqui e e ali, São mais felizes os que passam correndo, cão sem
dono, mijando em tudo que é pneu, poste e qualquer coisa que se
pareça um obelisco. Por rosnar dos que passam pela rua, entre eles
está aquele que penso ser o cachorro mais feliz do bairro. Ele mora
na casa do motoqueiro, que entrega lanches. Toda noite fico aqui na
grade do jardim e vejo o motoqueiro descer correndo, e logo atrás o
vira-latas, de dorso creme e barriga branca, orelhas grandes caídas,
pois é, passam os dois na maior velocidade, logo o vira-latas volta
sozinho, deve ter se cansado, mas com certeza conhece tudo que tem
para alem daquele jardim que só diviso e faz divisa com um mundo que
desconheço, ele conhece. As vezes ele fica perambulando, cheira a
Basset do meu vizinho de frente que gosta de cavoucar o vaso de
palmeirinhas, de apanhar, é que ele deve de gostar, pois, apanha e
continua a fazer igual, deve querer que lhe abram o portão e que se
lhe digam: rua, seu cachorro. Mas eu dizia que o vira-latas, depois
vem cheirar a minha vizinha de baixo, coitada, rasparam o seu pelo,
ela tá parecendo um saruê, pra quem não sabe, saruê é gambá,
mas o vira-latas nem tá ligando para isso, vem e cheira, eu já
perdi o meu olfato, aquele que fazia saber qual delas estava no
ponto, ficou esse, já viciado em ração, e dos ossos de costela da
vaca atolada de toda santa semana. Hoje ele, o vira-latas, parou aqui
perto, me rosnou de suas conquistas do último agosto, me disse que
não teve outro igual a esse, rosnou que teve uma que pegou através
da grade, rosnou nas minhas orelhas que tem antepassados Beagle e
Bull Terrier, eu ri muito, pois meu dono também valoriza muito seus
antepassados, uma mistura de ingleses e italianos, depende da hora,
por vezes um Lord outras um carcamano, é um vira-latas igual. Mas
você é feliz?
Perguntei, para esticar o au au au, ele disse que tem dissabores,
como qualquer um, e disse que gostaria de experimentar uma dessas
guias que apertam o pescoço...
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