21 de ago. de 2012

Sonhos.

Freud disse que a meta da terapia era fazer consciente o inconsciente. Verdadeiramente fez deste postulado o núcleo do seu trabalho como teórico. E mais, definiu o inconsciente como algo muito desagradável. Para ilustrar isto, imagino o seguinte: um caldeirão de desejos estabelecidos, um poço sem fundo de desejos incestuosos e perversos, um leito de experiências aterradoras que ainda podem surgir, emergir à consciência, o que francamente não é que se deseja ter “consciente”.
Todo o trabalho de Jung foi destinado a exploração do 'espaço interno'. Se lançou a essa árdua tarefa com os pressupostos da teoria freudiana, que lhe precediam; o mais tinha um conhecimento inesgotável sobre mitologia, religião e filosofia. Mas era mesmo  versado no simbolismo de tradições místicas como o gnosticismo, alquimia, cabala e tradições paralelas do hinduísmo e budismo. Se há uma pessoa que tenha um sentido do inconsciente e seus hábitos como capaz de expressar-se só de forma simbólica, este é Jung.
Jung sonhava. Sonhava com uma capacidade de sonhar lúcida. Mas sonhava também ilusões ocasionais. No outono de 1913 sonhou, ou teve uma visão, uma inundação monstruosa, que engolia toda Europa. Estas águas chegavam na barras das minissaias brancas que vestiam as montanhas do velho Alpe suíço. Eram milhares de pessoas afogando-se e a cidade tremendo. Logo as águas desse dilúvio se transformam em sangue. E seguiu sonhando semanas a fio, então surgiram sonhos de invernos eternos e rios de sangue. Supôs-se psicótico. Mas logo e no mesmo ano começou a Primeira Guerra, Jung então começou a acreditar que de alguma maneira existia uma conexão entre ele – como indivíduo – e a humanidade que então não podia explicá-la ou ela se explicar. Então meteu-se num processo de auto exploração – doloroso – que viria a formar as bases de sua teoria, ou da futura teoria.
Cuidadosamente começou a anotar seus sonhos, fantasias e visões. Os desenhou, pintou e esculpiu. Deu-se com que suas experiências soíam tomar formas humanas. Começa por um velho sábio e seu acompanhante, uma pequena menina. O velho sábio evoluiu, por vários sonhos, até um tipo de guru espiritual. A menina se converte em “anima”, a alma feminina, que servia como vaso comunicante – medium – entre o homem e os aspectos mais profundos do seu inconsciente.
Um duende marrom couro apareceu como zelador da entrada ao inconsciente. Era “a Sombra”, uma companhia primitiva do Eu de Jung. Jung sonhou que tanto ele como o duende, haviam assassinado a preciosa menina loira, a que chamou então de Siegfred. Para ele, esta cena representava uma precaução com respeito aos perigos do trabalho dirigido somente em função da glória e o heroísmo que prontamente causaria uma grande dor sobre toda Europa, do mesmo modo acerca dos perigos de algumas tendencias da empresa heroica freudiana.
Jung sonhou também com questões relacionada com a morte, com o território dos mortos e o renascimento deles. Para Jung, isto representava o inconsciente mesmo, não o inconsciente miúdo que Freud fez grande demais, mas um novo, o inconsciente coletivo da humanidade. Um inconsciente que podia conter todas as mortes, não só os nossos fantasmas pessoais. Ele começou a considerar que os enfermos mentais estavam possuídos por estes fantasmas. Pelo simples fato de recapturar nossas mitologias, entenderíamos estes fantasmas, nos sentiríamos cômodos com a morte e assim superaríamos nossas patologias mentais.
Seus críticos sugeriram que Jung estava enfermo, por esta ocasião. Mas Jung cria que se queremos entender a floresta, não podemos nos contentar com passear pelos seus arredores. Devemos entrar nela, não nos importando quão estranha ou aterradora possa ser.
Sinto uma certa atração por essa história do inconsciente coletivo. Como se fosse uma herança psiquica, um reservatório de nossa experiência como espécie, um tipo de conhecimento com o que todos nacemos e compartilhamos, mas sem nunca ser consciente dele. Mas que a partir dele, se estabelece influências em nossa experiências e comportamentos, em especial as emocionais, mas sempre de modo indireto, inconsciente.
Gosto muito dos arquétipos junguianos principalmente da Sombra.
A Sombra parece derivar desse passado pré-humano, animal, quando certas preocupações se limitam a sobreviver e a reproduzir, de quando não éramos conscientes como sujeitos. É o lado escuro do Eu. Nossa parte “negativa” ou mesmo diabólica. Me chama atenção sua amoralidade, como os animais, nem bons nem maus. Mas que desde uma perspectiva humana pode parecer brutal quando um animal é um assassino implacável por comida. Mas temos isso na Sombra, que é a lata do lixo não degradável que carregamos, mas não aceitamos, admitimos.
Assim que se sonhar que está lutando com um adversário muito poderoso, pode ser que seja você mesmo.
Gosto ainda do principio de entropia, que é a tendência, para Jung, dos opostos se atrairem, com o fim de diminuir a quantidade de energia do sistema ao longo da vida. Jung tirou isso da físico-química, onde a entropia é a tendencia que têm os sistemas físico-químicos de solaparem-se.     

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