10 de ago. de 2012

Cotas, porque sim!


Entro numa viagem até chegar em África antes da chegada do europeu. E o que vejo ao pisar as areias da costa ocidental, são índios negros, que vivem longínquos do mediterrâneo e dos árabes, livres do trabalho, mas presos aos seus próprios costumes, suas guerras tribais, que também escravizavam, como os gregos fizeram com os turcos, os romanos por onde passaram etc; tinham seus instrumentos de produção de vida, seus equipamentos de proteção à vida, suas casas, suas moradas, seus rios, suas peles, um que outro grupo vagava, nômade pela vasta terra compartilhando espaço com as feras, e nos seus rituais se imitavam, não eram nem bons, ou malvados, eram natureza humana vivendo em meio à natura, naturalmente.
Um belo dia o sol se punha no mar. A habitação não era em nada diferente da anterior, nada havia perdido, materialmente, senão que a referência, os amigos, os parentes, os animais ferozes, os inimigos também ferozes, como eles próprios puderam a seu tempo serem ferozes. Mas ali, escapados do escorbuto, dos grilhões, das chibatas dos navios negreiros, foram postos a trabalhar, sob as mesmas condições de grilhões e chibatas. O trabalho e o açoite se vincularam, vincaram e sulcaram sua pele. O que mudara? Não havia de fato se produzido grandes mudanças ambientais, nem de equipamentos, tanto para manuseio, quanto de salvaguarda, seja, a senzala talvez fosse mais segura às intempéries  que sua casa original, suas indumentárias se mantinham irrisórias. A grande mudança se deu na relação dele com seus afazeres mais comuns; a produção de vida, a relação com produto do trabalho, a relação dele com o outro do próprio grupo, uma  relação aonde todos são subjugados, a relação do homem e a mulher, e o fruto dessa relação. lavrar  a terra formou a estreita relação entre trabalho e  perda da liberdade. Ao mesmo tempo em que foi transformado em objeto, objeto com valor de troca, e valor de uso e assim valorado para fazer o quê o subjugava: trabalhar. Trabalho e ausência plena de liberdade, e qualquer porção ínfima desta que fosse buscada produzia a dor do açoite, e a falta de liberdade dentro de sua ausência. Trabalhar era diretamente aumentar o poder do opressor, significando sempre menos liberdade.
Qual era o sentimento de uma mãe? Se o fruto de uma relação 'amorosa' não lhe pertencia, ser mãe era dar um escravo mais barato ao Senhor. O que era ser pai? Que padecia um pai e uma mãe? É inimaginável!
Por fim quando libertos não tinham trabalho para sua manutenção. Eu fico triste em ver minha velha máquina de escrever, abandonada para todo o sempre no meio da bagunça daquele quartinho que não cabe nem pensamento. O que era um negro abandonado, na cidade, no campo? Sem ter onde produzir o seu sustento? Mas acima de tudo condicionado a que o trabalho significava escravidão? Creio que até hoje devem padecer desse sentimento. Afinal, depois de tanto tempo, estar às voltas com o mesmo 'Sinhozinho' branco!? As vezes tenho a impressão de que querem desaparecer na nuvem da miscigenação, como para se esconder de tanta humilhação. Talvez por isso busquem quase desesperadamente seu herói Zumbi, porque é muito fácil, e glamoroso, ser descendente de imigrantes europeus, eram outros tempos, outra relação de trabalho, ainda que sofisticadamente escorchante. Ao menos o amor lhes pertencia, sua prole, seu leito amoroso...  

Nenhum comentário: