13 de ago. de 2012

Ideologia: O homem é o que fizeram dele.


A matéria é a realidade, por se desconhecer outros mundos, ainda que se possa conhecer Manga, pequeno município do norte Mineiro, e por mais prosaico que seja Manga, Manga ainda pertence ao mundo real, diferente de Macondo que só é verosimilhante, mimese e imitação.
Insisto com a realidade, e não gastar tempo tentando camuflá-la. A ideologia, a ciência econômica de nossos dias no seu aspecto ideológico e outros tantos cientificismos fazem contorcionismos, que pela graça particular de cada aspecto das dobraduras, e vincos, continuam sempre a render dividendos a analistas e comparsas, mas nem explicam a realidade, por leviandade, nem ajudam de modo significativo ao capital, por incapacidade de compreendê-lo, excetuando sempre o famigerado filisteu proveito particular.
O recém nascido já não é um ser biológico em si, pela interferência da medicina, apesar de sua descendência histórica incipiente, sua historicidade continua a se fazer imediatamente, já na primeira alimentação, que se dará por uma decisão entre o aleitamento materno e o artificial completo de implicações históricas e ideológicas. Não se deve olvidar que a própria decisão entre parto natural e outros tem seu cunho ideológico. Dessa maneira o ser é histórico por natureza. Diferentemente de outros animais.
Houve um momento em que cada indivíduo singular, na sua singularidade era capaz de decidir por si, se era o momento de atacar a presa, ou não. Hoje tal decisão inexiste. É leviano querer voltar a esse ponto do desenvolvimento humano, voltar ao homem natural, como é ridículo sentir nostalgia, enquanto implique em um desejo de passado. Alienado de decisões que lhe são pertinentes, o próprio indivíduo está alienado, alienar é esvaziar-se e como é ridículo voltar atrás, o é também permitir esse total esvaziamento.
O homem esvaziado é decorrência do modo de vida que leva, no capitalismo todas as atitudes são capitalistas. A revolta de Lutero foi cristã, dentro da cristandade.
Aqui chega-se, e o homem é o que foi feito dele. Circunstâncias da natureza, históricas e ocupação dentro da divisão do trabalho. Esvaziado, para não dizer cheio de ideologia, contraditório como o sistema em que vive. Defende o que o ataca, aquilo que o rarefaz das próprias forças vitais. Triste contraponto ao ser, que, por nada, deveria abdicar da retomada da liberdade. Se há uma utilidade, objetivo humano este deve ser a liberdade. Se falamos em alienação do homem, esvaziamento é porque o homem já foi livre, e se foi livre a liberdade deve ser retomada.
Dentro deste homem esvaziado a ideologia da classe dominante, praticada pela intelectualidade, filósofos apoltronados, pensadores encastelados quer, busca e encontra por meio deles, espaço para se alojar.
Se por um lado a divisão do trabalho e a relação do homem com o trabalho o reduz a máquina, animal de trabalho, a ponto de ter determinada sua ração de consumo, e seu salário estar diretamente ligado a esta cesta. Daí todos os cuidados e zelos do Estado em não permitir, ou permitir dentro de patamares bem delineados de preços, o consumo necessário do trabalhador. De uma maneira cínica, porque se o preço da cachaça subir, obrigatório seria o aumento do salário, por isso a pinga é barata. O que faz do trabalhador este animal ideologicamente programado a exercer sisificamente sua função dentro da sociedade. Os avanços da ciência médica, a melhoria da alimentação, a higiene e o saneamento nas cidades, acabam por permitir maior tempo de vida. Mas o trabalho o estropeou, o consumo desnecessário o enferma, e faz que a aposentadoria do trabalhador seja um tempo de consumidor de remédios e quando não morto por tédio. Ele não tem o que fazer com o tempo livre da jubilação, se aborrece com a televisão, com a falta de objetivo, vazio, posto que antes era matéria de interesses alheio e o trabalho o enchia, retirado o trabalho resta-lhe muito pouco o que fazer. Livre do trabalho, mas sem saber o que fazer com essa liberdade, toma o tempo como se fosse algo a ser preenchido com o aborrecimento de uma criança que desde pequena é ensinada a preencher, de cores, desenhos carimbados na folha, como atividade educativa. Assim já na escola mais fundamental a ideologia se faz reproduzir, vicejar como método revolucionário, mas não se trata, senão que, de condicionamento ideologicamente preparado. A escola, em particular as de primeiro e segundo grau e muitas das faculdades privadas que vicejam nos horizontes citadinos, primam em meramente reproduzir o ambiente laboral, seus horários, seus uniformes, interesse puro e simples do capital.
Efetivamente se pode afirmar que o homem é aquilo que fizeram do homem. E se contraditório todo o seu fazer e tudo quanto o rodeia, também o é sua consciência, porque a individualidade só existe partindo do indivíduo na sociedade, e de dentro desta sociedade é que se dá o indivíduo, partindo dela. Não se parte do indivíduo para a sociedade, mas justamente o seu oposto, o ser social é que se individualiza, e o faz desde a realidade social. E se toda a sociedade é contraditória, a consciência não poderia ser outra coisa senão contraditória. Porque a consciência é a consciência social individualizada, tomada do ser enquanto ser social. Porque a consciência não repousa em si mesma, ela é dotada de intencionalidade, ela está atirada no meio do mundo, é sujeito no mundo, é o indivíduo jogado no meio do mundo. A consciência é o sujeito. O sujeito não para e consulta sua consciência, ele é consciência, e a consciência é a consciência gerada no mundo real. E o mundo real é o mundo das contradições, então a consciência é contraditória, o mais, como o próprio homem alienado da possibilidade de livre decisão, ao decidir, é o mundo real e contraditório que decide nele. Não existe consciência de um lado e o mundo do outro. Por exemplo se vejo o sinal vermelho não recorro à consciência para saber (eu) paro ou não? O eu é a reflexão. Porque quando invoco o “eu” e reflexiono, perco tempo em todo caso e a freada seria tardia, portanto sou consciência freando diante do sinal vermelho. A consciência não reflexiona. Vou ao cinema, não por reflexionar que é importante para minha formação cultural, vou porque sim, sou consciência indo ao cinema, assim como sou consciência atirando o quimba na calçada. Por isso que a consciência está em risco, porque está misturada com o mundo, se sujando com a lama do mundo, com o lixo do mundo, se lapidando no atrito do mundo, com a guerra do mundo. A consciência não tem compromisso com o interior, senão que com o exterior do homem, como o próprio homem. E como o homem, a consciência encontra sua unidade no mundo, entre as coisas do mundo, com a intencionalidade do mundo, e como intenção é projeto, porque o homem é projeto. Como projeto não pode ser coisa acabada, não é 'é porque é', é sim um vir a ser, e portanto não se pode dar como obra emoldurada, acabada, o homem é assim, a vida é assim e pronto. Contrariamente somos projetos, e consciências projetadas no mundo.

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