A produção individual
é uma abstração, e se os homens são sociais desde os gametas, o
produto individual é uma contradição nos termos. A produção do
indivíduo é produto produzido pelo indivíduo dentro da sociedade,
mas não só, também dependente dela, pois mesmo qualquer palavra
carrega consigo camadas sobrepostas de significação conseguidas ao
longo da história do homem, mesmo antes da fala, da escrita. ( a cima e a direita, obra de Ruy Marques, Projeto Manhatan, e abaixo Keskece de Cleido Vasconcelos)
O produto para ser
produto deve ser consumido. O açúcar não é doce se não
degustado. Assim a produção se dá no consumo e o consumo também
se dá na produção. A produção de açúcar consome da terra seus
nutrientes, consome do homem as forças vitais, consome a energia das
máquinas, o acido clorídrico para branquear-se etc. Alem do açúcar
o consumo produz o homem, altera o corpo do homem mentre o produz, e
altera o corpo do homem que o consome enquanto produto.
Sem o produto
não há consumo, assim que o produto inventa o consumo, inventando
consumidor, transformando-o. A produção pode-se dizer é
imediatamente consumo, e é válido para qualquer produção e
qualquer consumo, e soma-se que sem produção não há consumo e sem
consumo não há produção, posto que se houvesse produto sem
consumo, se trataria de trivialidade inútil. Então sem necessidade
não há produção, mas a produção gera a necessidade, o mais
reproduz a necessidade. Deste modo a produção possibilita o
encontro do objeto e a necessidade, e o modo de consumo, pois uma
coisa é comer com as mãos, outra a trocar talhares, educa, molda o
consumidor. Comunidades primitivas consomem produtos primários, de
modo primitivo, porque a produção continua primitiva e tosca. O
mesmo se dá com as obras de arte, estes objetos criam um público
capaz de fruir dela, criam um modo de consumo, criam um consumidor de
obras de arte. Ao mesmo tempo que como qualquer outra produção,
interfere no produtor dos objetos artísticos, o artista. O artista
sofre a ação, se consome, ao produzir a obra de arte, essa ação
produz a obra e o artista, e por fim a obra de arte educa o seu
consumidor final, transforma-o, gerando nele a necessidade de
consumir arte, objetivando a criação, a produção artística. Da
mesma forma que não há produto sem consumo, não há obra de arte
sem fruição.
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