31 de ago. de 2012

Fama. Rede Social. Meme. Argumento do filme "Superstar".


Kafka imaginou em A Metamorfose que um homem aparentemente normal, de nome Gregorio Samsa se dava conta ao se despertar, uma manhã qualquer, que lhe ocorria algo tão ameaçador quão insólito. Sem conhecer as razões, seu corpo se transformava. Um calvário surrealista e progressivo que deu no que sabemos.
Agora imagine um senhor solteiro, solitário e refugiado em sua rotina de trabalho, este em sim banal. Tudo na existência dessa personagem tende ao anonimato de cores esmaecidas, senão que cinzenta, mas ele é feliz, ou contente da vida. Ocorre que esse homem anódino, bom, invisível não para si, mas para os demais, e que não está, exatamente, se transformando em um inseto, senão que ao passear pela cidade, pelo Metro, pelas ruas, num supermercado, sua presença levanta um grandioso e inexplicável alvoroço. As pessoas o querem fotografar, mas não só, querem ser fotografadas ao lado dele, lhe pedem, lhe suplicam autógrafos, lhe demonstram amor e admiração.
Sem entender o motivo de sua fama repentina. Estupefato e aterrado, descobre que alguém postou sua foto, imagem na Rede Social, como o representante dos seres banais.
Assim sem que haja feito nada transcendental, nem nas redes sociais, esta criou um mito, meme, com sua pessoa. Milhares de seres humanos se identificam com sua banalidade. Agora este homem sofre com essa popularidade demente. A televisão, os paparazzi o perseguem. O querem para um 'realtty' . Sua celebridade atrairá todo tipo de urubu mediático, publicidades, advogados, protagonizará debates na TV tão surrealistas e dadaístas quanto cruéis. Então verá como essa gente o abandonará primeiramente, mas de seguida, começarão a odiá-lo e até mesmo agredi-lo. O pobre desgraçado seguirá sem entender, da fama, nem sua ascensão ou seu declínio.
Argumento do filme Superstar de Xavier Giannoli, Festival de Veneza.

Tecnologia.


  

A palavra 'tecnologia' tem origem grega. De um lado técnica do outro logos. Quer dizer o estudo a ciência da técnica. O engraçado é que a palavra em si não existia na Grécia antiga. Pois se tratavam de atividades distintas. De um lado a técnica a que se dedicavam os escravos, fazer sapatos, medicar, arquitetar, planejar e construir. Do outro o logos. As escolas, sejam Liceu, Academia, Stoa etc se dedicavam a estudar. Estudar não estava vinculado à técnica e por conseguinte ao trabalho. Assim o conhecimento tampouco tinha ligação direta com o trabalho. A técnica nessa época da humanidade tinha ultrapassado a etapa do fortuito. O tempo da técnica fortuita se deu quando todos faziam seus apetrechos, suas lanças, suas sandálias, suas facas etc. Porque todos sabiam fazer, se trata de técnica fortuita, por exemplo, lasca-se a pedra e faz-se o machado. Claro que não é tão simples quanto isso, mas uma vez que lascou-se a pedra e fez-se o machado, todos sabiam lascar a pedra e fazer o machado. Era a humanidade dando seus passos definitivos rumo ao domínio sobre a natureza. Pode-se questionar tal 'domínio', mas sem juízo de valor, não se tratava de o homem se adaptar à natureza, mas sim adaptar a natureza ao ele. Ainda que em escala muito menor, existem certo tipos de macacos que também lascam as pedras.
Mais tarde e por quaisquer motivos, os homens passaram a desempenhar alguma dessas técnicas ou atividades, eram os artesões. Os artesões faziam mesas, por exemplo, toda a mesa, dos pés ao tampo, não havia divisão de trabalho dentro de uma técnica artesã. Os gregos antigos estavam nessa etapa. Os escravos eram técnicos. Artesãos. Cada artesão praticava sua técnica dentro de uma divisão, mais de produtos, de atividades que de trabalho. Aqui também há paralelos na natura, como as abelhas, aonde cada classe tem sua expertise, incipiente, que seja.
Depois houve o aperfeiçoamento dessas técnicas, o homem fabrica a máquina de fazer sapatos, fazer panos. Mas ainda não deixavam de ser produtos. O grande salto se dá com o advento da produção de máquinas que produzem instrumentos de produção, não de produtos de consumo. Por exemplo, teares.
No estagio anterior, a humanidade basicamente produzia para o sustento, satisfação de necessidades biológicas. Comer, beber, vestir, dormir etc. Já no momento de produção de máquinas, instrumentos, que produzem instrumentos, é o momento em que se produz para além da necessidade e em que se produz para além do estritamente necessário à satisfação de necessidades biofisiológicas. É quando se chega à revolução industrial. Mas a revolução industrial tem um precedente: A Enciclopédia. O Iluminismo De Diderot, d'Alambert com auxilio luxuoso de Voltaire, Rousseau, Montesquieu. Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Assim se chamava a Enciclopédia, que no mais foi o maior empreendimento industrial, comercial de sua época. Mas fora isso, foi o momento, se se pretende juntar palavras, foi ali que se juntaram, ainda que não literalmente, mas sim conceitualmente, as palavras Técnica e logos. Pois na Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, podia-se encontrar a receita do que se tinha que fazer, estudar para produzir determinado objeto, por exemplo um navio. Portanto ainda que a palavra tecnologia não fosse verbete, ou tivesse artigo que se referisse diretamente a ela, toda a enciclopédia dizia isso. Foi assim que o conhecimento se transformou em produto vinculador de saber e esses saberes às modernas Academias, Liceus ou Stoas para que de lá saíssem e saiam trabalhadores.
Hoje é um tempo qual a tecnologia está disseminada, de tal maneira, que parece que voltamos à primeira fase da técnica, da técnica fortuita, mas não se trata de um retorno simples, mas de uma maneira, fazendo analogia musical, uma oitava acima.
Assim os estágios da técnica. Fortuita. Técnica\artesão. Tecnologia. Tecnologia disseminada\fortuitamente. 

28 de ago. de 2012

O que cria a identidade, cria a diferença.


Em palavras poucas, e mitigadas, é a cultura que normatiza nossas ações, e a cultura sofre carga ideológica da sociedade em que vivemos, e do e no processo de globalização.
Aqui o interesse é entender como os sujeitos são definidos e marcados. Como nos vemos uns aos outros! Para tanto fazemos ou pode-se fazer uso de algumas ferramentas. Historicamente a primeira é fundada no Iluminismo.
Para o Iluminismo a identidade do sujeito pouco se desenvolve ao longo da vida, porque tem um núcleo que pouco pode ser alterado pelo que ocorre no mundo ao seu redor, seja o famoso “de nascença”. Isso foi retomado por Hegel na geração de história absoluta, onde o sujeito peregrina pela história, tendo desde sempre sua identidade bem marcada. No mundo real que é onde vivemos, pode-se ouvir de professores, que determinado sujeito nasceu com talento, 'esse vai longe', ou o contrário, daquele que ouve ' esse não vai a lugar algum', 'esse não tem remédio'.
Outra concepção amplamente usada é a sociológica, aqui também o sujeito tem um núcleo de identidade, a diferença é que aqui o sujeito está atado à 'geografia' sociocultural do seu entorno de modo permanente. Na concepção iluminista, onde quer que nasça o indivíduo, nasce com plenamente capacitado ou não, aqui é o entorno que determina a identidade do sujeito. Quer dizer que o sujeito não escapa da rede sociocultural.
“Educação é de berço”, “coisa de mulher”, “ passou da idade”, representam questões de classe social, gênero e faixa etária que fazem muito barulho na discussão da questão educacional.
Por último o sujeito pós-moderno, essa concepção diz respeito às condições em que vivemos, e cria novas formas de representar identidades muito diversas das anteriores, além de tais identidades se modificarem com constância, à medida que modificam-se ele e o meio.
O novo modelo societário não apresenta valores soberanos e únicos para todos, ora “de nascença”, ora “de berço”. Multiplicidade de sujeitos em disputa de poder em meio ao mundo de significação que cada um participa e anseia. Essa multiplicidade de identidades não se organiza em unidade estruturada que produza o 'eu', o 'self', o 'sujeito', pois o sujeito é contraditório e transitório, o mais, como a sociedade.
O sujeito ainda é composto de várias identidades: de gênero, de classe, de origem étnica, de religião, de música entre tantas outras, a depender do momento e da cultura na qual está inserido, e todas são móveis, ou podem ser, ou deveriam ser, do mesmo modo que o sujeito sofre os efeitos das culturas, globalmente móveis.
A identidade é fruto do discurso, portanto da linguagem, e por conta está frequentemente diante de processos que tentam fixá-la, torná-la a norma.
O que sempre se pretende ao se fixar a identidade do sujeito, e fixar lhe um modo de ser é um modo e não outro. O outro, estabelecido em cada grupo cultural é tido como a diferença. A identidade só pode ser compreendida, em sua conexão com a produção da diferença. Assim o processo de produção de identidade não se completa. Está sempre adiada, é sempre processo, ou em processo. Isso ocorre porque as identidades, a diferenças só podem ser concebidas dentro de um processo de diferenciação linguístico, que define seus significados e como foi dito antes o processo de significação é processo de lutas entre vontades de verdade, vontades de poder, de fixar as coisas que estão em jogo. Isso pode ser aprofundado em A vontade de poder de Nietzsche, que buscou pressupostos na teoria do Senhor e do Escravo de Hegel.
Sendo produzidas em um processo discursivo e simbólico, as identidades e a diferenças estão sujeitas as relações de poder, manifestas em ações que oprimem certos indivíduos e grupos, cujos efeitos acabam por silenciar suas vozes, seus desejos, seus anseios.
Tal processo nas relações sociais está incumbido de estabelecer limites entre um e outro, para se poder compreender a identidade, a norma, o correto e consequentemente a diferença, que é o outro, aquele que é marcado na sua negação.
Mas é exatamente essa luta por posições e sentidos que favorecem a ocorrência de processos mais sutis de poder, que acontece no campo da identidade e da diferença.
Essa discussão concentra as reivindicações sociais e politicas de certos grupos.
Quem pode obter benefícios culturais?
Quem não pode?
Quem é tido como a norma?
Quem deve ser normatizado, corrigido?
Fica claro que afirmar a identidade, marcar as diferenças, tem a ver com questões de poder.
A forma como a diferenciação é marcada implica em quem deve ser marcado, e marcado hierarquizado na sociedade, e quem detém o poder de marcar e hierarquizar é quem determina quês e porquês.
Mas fundamentalmente essa diferenciação e hierarquização se dá de modo binário, o bem e o mal, o craque e o perna de pau, homem e mulher, civilizado e o primitivo, heterossexual e homossexual, negro e branco etc. E em todos os casos há a valorização de um em detrimento do outro, uma relação de poder que determina quem está dentro e quem está fora do grupo de pertinência. Quem é válido está dentro e quem não serve, o inválido, está fora.
Assim pode-se dizer que essa diferenciação é contingência cultural.
Essa classificação simbólica se utiliza de certos adereços de consumo, que se pode carregar ou não, como celulares, carros, roupas, perfumes, vinhos, escolaridade, cursos, atividades físicas determinadas, academias, filmes, músicas, onde faz as compras, onde toma o chopp, etc. Esses símbolos constroem significados sobre as pessoas e identidades de quem os consome e participa deles. Isso quer dizer que a diferenciação está em luta pelos acessos ao simbólico da sociedade.
Assim grupos diferenciados de pessoas são formados, desde a diferenciação simbólica, quando na verdade há mais identidades que diferenças entre eles.
Desse modo a concepção de uma identidade, única, se constitui associada à diferença. Mas não é a percepção de características diferenciáveis, senão que a construção da exclusão do outro, na relação de nós versos eles.
Essa identidade se constrói de modo que o sujeito se percebe como não tendo nada em comum com a outra identidade, negando a validade do conjunto das características do outro, porque lhes são opostas, de modo que somente uma das identidades pode ser válida, correta.
Esses sujeitos que podem ser de uma mesma sala, classe escolar, tendo como objetivo comum concluir o segundo grau, por exemplo, mas por se frequentar uma igreja, ou não, gostar de rock, ou sertaneja, ou hip-hop, se vêm e se colocam em mundos opostos, mesmo estando na carteira ao lado, cinco dias da semana, comendo da mesma merenda, ouvindo o mesmo professor a explicar o que é sintaxe.
Há ainda dentro de cada diferenciação, diferenças consideradas mais importantes do que outras, que são as diferenças das diferenças, como disse Souza Santos.
Nisso se criam, se constroem os grupos de pertencimentos. Esses grupos têm seus ritos e símbolos. E a coisa é circular, pois o pertencimento cria a diferença do não pertencimento.
Ao mesmo tempo que as diferenças são marcadas, basicamente, por recursos materiais, gerando efeitos sobre a materialidade, conquanto o não pertencer ao grupo, gera a exclusão frente aos recursos materiais, trazendo desvantagens econômicas e materiais ao excluído. As desvantagens geradas pela sentidas de forma diferente entre o que está dentro e o que foi excluído.

27 de ago. de 2012

Globalização II, a Educação.


A tecnologia rompeu a barreira do tempo e do espaço, aproximando pessoas e povos.
Deslocando a vida das pessoas das suas localidades originárias e convertendo o mercado de massas em 'nichos' especializados. Nos quais as possibilidades de 'escolhas' para a compra de produtos, e a sensação de liberdade para tanto, nunca foi tão intensa.
O mundo se tornou habitado por: empresas, clientes, lugares, idades, classes sociais, sexualidade, enfim identidades e culturas que se comunicam de um modo jamais visto.
Estas mudanças atravessam fronteiras em âmbito mundial, integrando em novos arranjos sociais: comunidades e instituições. Tornando o mundo em realidade e experiências mais conectado.
É um processo que produz efeitos em quaisquer sujeitos e em diferentes culturas nos confins do mundo. Processo que produz efeitos que permite constatar que os países ricos e os pobres, têm aberto um fosso cada vez mais abissal entre os que têm e os que não têm e acma de tudo valorizando a informática, as imagens, o consumismo, o individualismo e o particular, em troca do espaço público.
Cabe lembrar que não se trata de um fenômeno recente, pois está enraizada na origem do capitalismo que desde o seu inicio foi um elemento de escala mundial, não se limitado às fronteiras dos Estados. Bastando atentar ao processo de colonização imperialistas nos últimos três séculos.
Contemporaneamente as tentativas são de homogeneização dos comportamentos, das identidades culturais, extirpando primeiro as identidades nacionais.
Abro um parêntesis para uma questão 'anedótica' que diz respeito à ideologia e o nacionalismo e sua  crueldade é tamanha que um estadunidense empunhando uma bandeira da sua pátria  faz dele um patriota, enquanto um outro indivíduo num outro rincão do planeta ao exibir a bandeira de seu pais, quando pouco é um nacionalista racista, populista, mas na maior parte das vezes sem mais nem menos é visto, ou quer que se o veja como um terrorista.
Voltando às tentativas e aos processos reais de homogeneização e regulação dos comportamentos dos indivíduos, deve-se inserir na discussão o papel da escola.
De um lado o que se vê é a quase total incapacidade da escola, em geral, no processo de humanização do jovem, adolecnete etc. Porque a escola se transformou no local de preparação do sujeito para o mundo do trabalho, ou seja, atuar na sociedade, mas na sua bem determinada forma de ser.
E o modo de ser da sociedade globalizada é ter comida indiana, não só na grande metrópole mas em quaisquer rincões, e quem diz indiana diz Tai, e vemos o Mini inglês perambulando em Manga, lá no extremo norte de Minas Gerais, ou um Skoda tcheco em Bonfim Paulista. Hábitos forçados, que alteram os locais e os habitantes.
Mas e a educação? Há uma profusão de horários alternativos para a consecução de cursos e os cursos à distância. Tudo para atender as necessidades do mercado,  alem da variedade de cursos ofertados, há instituições que oferecem cursos que se iniciam as 5:45 h da manhã ou às 23 h. Esses alunos frente a necessidade de adequação dos seus horários de trabalho acabam por elaborar outras formas de comportamentos, suas horas de sono, alimentação, transporte, a sistematização dos seus estudos e as relações que estabelece: amorosas, de amigos, parentais, de lazer etc tudo é alterado. Não só o indivíduo que vê o mundo de ponta cabeça,  mas  toda a localidade, que acaba por se adaptar aos novos horários, afins de prestarem os serviços 'fora de hora' – há infinidade de ambulantes satisfazendo as necessidades dos 'fora de hora' – mas também o serviço público, em geral em descompasso, também é obrigado a atender as necessidades dos 'fora de hora', como o transporte público, aumentando assim o custo operacional dos serviços, pois tudo se transforma em demanda social. Porque tudo e todos devem se enquadrar nessas mudanças, que primeiro foi pessoal, mas logo dada sua intensidade: são mudanças sociais, logo deslocamentos culturais, para terminar em novas identidades.
São políticas de âmbito globais incidindo na vida de todos, pois tudo e todos devemos nos enquadrar nessa lógica contemporânea . E quanto mais as identidades são mediadas pelo mercado mundial de 'estilos' e 'imagens' divulgadas pelas mídias, mais 'as identidades' são desalojadas, se deslocam de suas tradições e suas posições de origem. Nesse jogo de imagens, sedução somos confrontados a uma serie de 'imagens' de identidades culturais diversas, que nos fazem crer que só fazemos e  o fazemos porque  nos convém, sem nos darmos conta aos apelos que são feitos a cada 'parte' de nós. Então o consumismo se instaura, realidade ou desejo, nos condicionando ao supermercado global.
Ao mesmo tempo há também as resistências à globalização, pois no jogo humano, sujeição e recusa é presença obrigatória, desde o Senhor e o Escravo fundacionais. E as resistências têm encontrado voz tanto na extrema direita nacionalista, e também no fundamentalismo religioso e em ambos os casos há pouca ou nenhuma possibilidade da diversidade. Estabelecendo uma espécie de violência contra o 'outro cultural'.
Mas de modo geral o que se tem constituído são identidades híbridas, fluídas e descentradas.
A escola deve se adaptou às realidades de mercado pós fordista, e  a remuneração, hoje, se dá pelas horas trabalhadas, acabando de vez com os contratos coletivos, e conseguinte fim do salário mensal e das garantias sociais.
O mercado pós fordista é caracterizado pela instabilidade. Novas demandas do trabalho: novas habilidades e flexibilidades a ponto de a mudança de emprego ser a constante no decorrer da vida do trabalhador; mão de obra cada vez mais internacionalizada e competitiva, conceito de equipe como norma; maior uso da força de trabalho; produção intensiva do capital. Tudo levando a desespecialização e desemprego. Criando uma grande polaridade, onde há a grande especialização e melhor remuneração, e a pouca especialização a baixa remuneração. Basta ver um caderno de emprego – basta folear o A Cidade em Ribeirão Preto – para nos darmos conta da alta demanda em setores como limpeza e segurança.
A intensificação da busca pelo capital intensificado, produção intensiva de capital, exploração máxima não combinou com os ganhos salariais dos trabalhadores com o advento dos sindicatos, a crise do petróleo, a guerra ideológica dos anos 70, a 'necessidade de diminuir custos' fizeram o Estado ceder em arrecadação de destino social, nos países desenvolvidos, e a consequente geração de uma verdadeira guerra entre os que são atendidos pela segurança social e os que não são, como temos visto, a destempo, no Brasil.
Salta aos olhos que a escola pública tem se especializado em certificar profissionais para as demandas de baixa especialização.
Apesar do discurso que aponta para altas tecnologias, a verdadeira demanda de trabalhadores é para as linhas de montagens que exigem pouca ou nenhuma especialização. Esse descompasso proposital, ideológico, faz o jovem sonhar e no sonho se põe a aprender idiomas, por exemplo, e tudo que fará é montar um aparelho cuja especialização exigida é a paciência, rapidez e trato fácil, seja manso. Talvez essa seja a falha na escola pública, pois não tem conseguido a contento amansar os adolescentes nacionais.
Diante dos baixos salários os trabalhadores têm se dedicado a mais de um trabalho, junto com um sistema de prestação de serviços públicos que não consegue satisfazer as necessidades, pode-se observar um aumento de doenças. Em contrapartida, e ideologicamente, se prega a pratica de exercícios, que nada mais é que a ampliação de um nicho de mercado, o mercado esportivo.
Diante da 'falência' do Estado, que distribui a maior parte das riquezas às empresas, que no bem estar social; há empresas, estadunidenses como a Burguer King, Apple etc, criam suas próprias escolas, com intuito de produzir profissionais capazes de reproduzir a lógica neoliberal, de mercado à perfeição.
No Brasil, o Bradesco, Sesc etc seguem desde os anos 60 esta mesma lógica.
A lógica do G7, Banco Mundial e das corporações transnacionais. Para quem quiser ver, pode-se buscar por uma conferência do estadunidense Noam Chomsky por World's Corporations, e pra quem não sabe, Noam Chonsky é um dos fundadores do MIT, ou ainda procure por Eduardo Galeano e Jean Zigler. El orden criminal del mundo.
Finalizando ocorreram e ocorrem, no país, mudanças no nível Econômico, Politico e Cultural.
No âmbito Econômico há eliminação de impostos, a prazos determinados, mas dada a incidência, pode-se contar como eliminado o IPI, sem reforma tributária, a grita pelos autos impostos, eliminação de tarifas de exportação e outras, criação de zonas de livre comércio, a presença em nível mundial de instituições como Visa, a disponibilidade a qualquer tempo e lugar dos capitais financeiros, a bolsa de Tóquio abre quando fecha as Europeias, e ao fechar Tóquio abre Nova York, etc. Fusões de emprego, enfraquecimento dos Sindicatos com a nomadização das empresas, que vem e vão como tempo, vento, a magnificação do consumo primando mais pela conveniência que pela qualidade.
No âmbito político o Estado deve equilibrar  quatro imperativos: capital financeiro transnacional, as organizações nacionais e não nacionais e não governamentais, pressões e demandas domesticas e aos grupos que lhe dão apoio.
No âmbito Cultural. Os meios de comunicação, TV a cabo, internet, a maior mobilidade das pessoas por países diferentes pela ventura da industria do turismo, as religiões globais, o mundo dos esportes, Olimpíadas, Copa do Mundo, ou o marketing esportivo que faz multidões saírem para seus passeios vestidos no rigor esportivo, tudo feito pelos patrocínios e patrocinadores.
Mas há nisso tudo um discurso que tenta traduzir a inescapabilidade da globalização, mas há ainda no planeta países intocados por ela, portanto a escola deve estar atenta para discutir e planejar suas práticas pedagógicas, que visem a ética e a cidadania para que possamos atuar com dignidade.  

26 de ago. de 2012

Como nasce um meme? Ecce Homo.


'É proibido proibir' é um meme. Vale  o mesmo para: 'A censura é uma bobagem'. Outro meme : ' O cão é o melhor amigo do homem'. A única coisa efetivamente espantosa nesses memes todos é que os repetem e os reproduzem os que proíbem, censuram e abandonam seus cães.
Os fatos: A Europa em crise, a Espanha, particularmente afundada nela, a tal ponto que de amarguras econômicas e de seus apocalipses prometidos, andavam todos saciados. Nesse contexto à restauração birrenta feita por uma anciã ao Ecce Homo de uma igreja de Saragoça desse volta ao mundo. Uma velha tão beata, quão inocente e sua peripécia cômica concorriam com infinidade de fatos risíveis que aconteciam pelo mundo afora e os venceu.
Penso que vivemos o momento, 'que se foda', Snafu, situation normal, all fucked up, e nessa desrazão o Ecce Homo da Cecilia rodou por mais de 130 países, e tanto faz, roda como roda uma piada, catástrofe ou a prova de uma corrupção.
E tanto faz, snafu, se o mundo já não tem ordem moral ou cultural, e algo particular se transforma em epidemia mundial. Outro fato interessante é da autora ser uma avozinha. Se os jovens dizem, 'que se foda', a velhinha também o diz.
Ela uma humilde pintora aragonesa, que com sua audácia causa um dano inimaginável ao já desgraçado Ecce Homo, pintado por outro pintor medíocre e sem importância artística. O espanto está em que o fato tenha sido estampado no NYTimes, Le Monde, ElPais, A Folha, O Estado, A Cidade, ou seja a vitória da banalidade no centro “mesmo” do 'sublime'.
Ah, o mundo da estética. Oh, o fechado círculo da estética, onde o feio muito feio deriva em grotesco, e o grotesco se assemelha ao risível, ao final, um mal-estar oferece bem estar, e da repulsa vai-se à simpatia.
Foi o que a velhinha, de um Cristo carcomido pela umidade e o salitre, com a força de sua audácia inocente, fez um filho de deus mais feio que a Araci de Almeida.
O meme é imprevisto, como aqui na Rede nos tornamos imprevistos, ainda que inicialmente parecíamos mais infantis, ou adultos se comportando como crianças, não nos transformamos em seres pueris, mas mais bem em cínicos.      

Voto Obrigatório.




A cidadania implica em direitos políticos, seja participação política ativa ou passiva, elegendo ou sendo eleito. Este conceito é constitucional, desde a revolução francesa, e da carta dos EUA. A estadunidense foi mais longe a cada homem vinculou um voto. Os franceses e o resto do mundo tardou um bocado mais, e a paridade só foi conquistada no âmbito de muita luta, na França revolucionária só votavam os proprietários, e sendo machos, se preferirem não femininos. Chego a identificar a falácia da democracia, mas a prefiro aos outros sistemas. Aqui o voto é duplamente obrigatório, seja normatizado na carta de 1988 e na própria definição do conceito de cidadania. Quem não tem direitos políticos, não é cidadão, nem lhe cabe a obrigatoriedade legal. Cidadão vota ou é votado. Mas vejo uma terceira obrigatoriedade, esta deve vir do fato de o humano ser essencialmente “Animal Politico”. Pode-se discutir as formas, direta, indireta, pois a não participação política importa no mais absoluto esvaziamento humano. Dado que os outros animais, também têm seus líderes, mas o processo de escolha é nada dialogado. Se ausentar do processo político é se aproximar dos outros animais, ainda que em detrimento deles, digo eu, antes que o digam.
Entretanto, se alguma voz se levanta contra a obrigatoriedade do voto, mais das vezes, não fala ´só por si'. Carrega sempre uma esperança absurda, de, sendo um que sabe votar, a não obrigatoriedade levaria  àqueles que 'não sabem'  a não o fazerem, aumentando assim a porcentagem dos votos “mais lúcidos”. Seria leviano adjetivar tal pensamento. Ele existe sem pressupostos. Lendo o caderno Especial do jornal A Cidade: Eleições 2012, onde há uma pesquisa detalhada da escolaridade do eleitor ribeirão-pretano, concluo, que mesmo se o escrutínio fosse como já foi na Inglaterra – ou ainda é – onde o eleitor com 'nível' superior vale por dois, ainda assim a diferença permanece abissal. No mais, se não se tratar desse mero 'prejuízo' descarado, a multa por não votar é insignificante, e além dela não trazer sequelas ou contraindicações.    

24 de ago. de 2012

Dia do Leitor. Dia de Borges.


A Argentina estabeleceu dia 24 de agosto como o dia do leitor, dia do nascimento de J.L.Borges.
De
Siete Noches.

LAS MIL Y UNA NOCHES
SEÑORAS, SEÑORES:
Un acontecimiento capital de la historia de las naciones occidentales es el descubrimiento
del Oriente. Sería más exacto hablar de una conciencia del Oriente, continua, comparable a la
presencia de Persia en la historia griega. Además de esa conciencia del Oriente —algo vasto,
inmóvil, magnifico, incomprensible— hay altos momentos y voy a enumerar algunos. Lo que me
parece conveniente, si queremos entrar en este tema que yo quiero tanto, que he querido desde la
infancia, el tema del Libro de Las mil y una noches, o, como se llamó en la versión inglesa —la
primera que leí— The Arabian Nights: Noches árabes. No sin misterio también, aunque el título es
menos bello que el de Libro de Las mil y una noches.
Voy a enumerar algunos hechos: los nueve libros de Herodoto y en ellos la revelación de
Egipto, el lejano Egipto. Digo “el lejano” porque el espacio se mide por el tiempo y las
navegaciones eran azarosas. Para los griegos, el mundo egipcio era mayor, y lo sentían misterioso.
Examinaremos después las palabras Oriente y Occidente) que no podemos definir y que son
verdaderas. Pasa con ellas lo que decía San Agustín que pasa con el tiempo: “¿Qué es el tiempo? Si
no me lo preguntan, lo sé; si me lo preguntan, lo ignoro”. ¿Qué son el Oriente y el Occidente? Si me
lo preguntan, lo ignoro. Busquemos una aproximación.
Veamos los encuentros, las guerras y las campañas de Alejandro. Alejandro, que conquista
la Persia, que conquista la India y que muere finalmente en Babilonia, según se sabe. Fue éste el
primer vasto encuentro con el Oriente, un encuentro que afectó tanto a Alejandro, que dejó de ser
griego y se hizo parcialmente persa. Los persas, ahora lo han incorporado a su historia. A
Alejandro, que dormía con la Ilíada y con la espada debajo de la almohada. Volveremos a él más
adelante, pero ya que mencionamos el nombre de Alejandro, quiero referirles una leyenda que, bien
lo sé, será de interés para ustedes.
Alejandro no muere en Babilonia a los treinta y tres años. Se aparta de un ejército y vaga por
desiertos y selvas y luego ve una claridad. Esa claridad es la de una fogata.
La rodean guerreros de tez amarilla y ojos oblicuos. No lo conocen, lo acogen. Como
esencialmente es un soldado, participa de batallas en una geografía del todo ignorada por él. Es un
soldado: no \e importan las causas y está listo a morir. Pasan los años, él se ha olvidado de tantas
cosas y llega un día en que se paga a la tropa y entre las monedas hay una que lo inquieta. La tiene
en la palma de la mano y dice: “Eres un hombre viejo; esta es la medalla que hice acuñar para la
victoria de Arbela cuando yo era Alejandro de Macedonia.” Recobra en ese momento su pasado y
vuelve a ser un mercenario tártaro o chino o lo que fuere.
Esta memorable invención pertenece al poeta inglés Robert Graves. A Alejandro le había
sido predicho el dominio del Oriente y el Occidente. En los países del Islam se lo celebra aún bajo
el nombre de Alejandro Bicorne, porque dispone de los dos cuernos del Oriente y del Occidente.
Veamos otro ejemplo de ese largo diálogo entre el Oriente y el Occidente, ese diálogo no
pocas veces trágico. Pensamos en el joven Virgilio que está palpando una seda estampada, de un
país remoto. El país de los chinos, del cual él sólo sabe que es lejano y pacífico, muy numeroso, que
abarca los últimos confines del Oriente. Virgilio recordará esa seda en las Geórgicas, esa seda
inconsútil, con imágenes de templos, emperadores, ríos, puentes, lagos distintos de los que conocía.
J o r g e L u i s B o r g e s S i e t e n o c h e s
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Otra revelación del Oriente es la de aquel libro admirable, la Historia natural de Plinio. Ahí
se habla de los chinos y se menciona a Bactriana, Persia, se habla de la India, del rey Poro. Hay un
verso de Juvenal, que yo habré leído hará más de cuarenta años y que, de pronto, me viene a la
memoria. Para hablar de un lugar lejano, Juvenal dice: “Ultra Aurora et Ganges”, “más allá de la
aurora y del Ganges”. En esas cuatro palabras está el Oriente para nosotros. Quién sabe si Juvenal
lo sintió como lo sentimos nosotros. Creo que sí. Siempre el Oriente habrá ejercido fascinación
sobre los hombres del Occidente.
Prosigamos con la historia y llegaremos a un curioso regalo. Posiblemente no ocurrió nunca.
Se trata también de una leyenda. Harun al-Raschid, Aarón el Ortodoxo, envía a su colega
Carlomagno un elefante. Acaso era imposible enviar un elefante desde Bagdad hasta Francia, pero
eso no importa. Nada nos cuesta creer en ese elefante. Ese elefante es un monstruo. Recordemos
que la palabra monstruo no significa algo horrible. Lope de Vega fue llamado “Monstruo de la
Naturaleza” por Cervantes. Ese elefante tiene que haber sido algo muy extraño para los francos y
para el rey germánico Carlomagno. (Es triste pensar que Carlomagno no pudo haber leído la
Chanson de Roland, ya que hablaría algún dialecto germánico.)
Le envían un elefante y esa palabra, “elefante”, nos recuerda que Roland hace sonar el
“olifán”, la trompeta de marfil que se llamó así, precisamente, porque procede del colmillo del
elefante. Y ya que estamos hablando de etimologías, recordemos que la palabra española “alfil”
significa “el elefante” en árabe y tiene el mismo origen que “marfil”. En piezas de ajedrez orientales
yo he visto un elefante con un castillo y un hombrecito. Esa pieza no era la torre, como podría
pensarse por el castillo, sino el alfil, el elefante.
En las Cruzadas los guerreros vuelven y traen memorias: traen memorias de leones, por
ejemplo. Tenemos el famoso cruzado Richard of the Lion-Heart, Ricardo Corazón de León. El león
que ingresa en la heráldica es un animal del Oriente. Esta lista no puede ser infinita, pero
recordemos a Marco Polo, cuyo libro es una revelación del Oriente (durante mucho tiempo fue la
mayor revelación), aquel libro que dictó a un compañero de cárcel, después de una batalla en que
los venec

23 de ago. de 2012

Globalização ! O Desapego.


O novíssimo sujeito.
Impacto avassalador dos processos econômicos globais, incluindo processo de produção, consumo, comércio, fluxo de capital e interdependência financeira.
Surgimento de instituições multinacionais transnacionais, cujas decisões moldam e limitam as decisões politicas dos Estados Nações. Impossível pensar o governo brasileiro se se deixar de lado as pressões de tais instituições, vide Banco Mundial, G7, G20, FMI etc.
Ascensão do neoliberalismo, como discurso politico dominante. Aonde a ideia é: trabalhar-se mais, produzir-se mais, com a menor forma de controle e gastos sociais.
Surgimento de novas formas culturais, de meios e tecnologias de comunicação globais que moldam as relações de afiliação, identidade e relação entre as pessoas.
Resultando que:
600 empresas multinacionais controlam 25% da economia mundial. Ainda 86% do comércio mundial.
O dinheiro dos 447 bilionários mundiais é equivalente a renda da metade mais pobre da população mundial. 2.800.000 de pessoas.
A concentração de capital desde 1994 mais que dobrou. A consequência desta apropriação de capital, começa a aparecer em mudanças nas relações de produção, que enfraquecem e minam a capacidade das nações mais antigas e das emergentes de determinarem seu modo de ser ou controlar seu ritmo de desenvolvimento.
Estas corporações interferem na política, na cultura tanto global, quanto local, tudo na busca de consumidores. Tendo como consequência o “super” acúmulo de capital. Isso, indistintamente, tem gerado um desapego às relações pessoais, lugares, geografias, tradições étnicas, religiosas, políticas e da própria história pessoal.
A identidade do sujeito globalizado é marcada pela presença da lógica do consumo. O que desenraíza o sujeito de si mesmo, pois aquilo que se consumia ainda agora, é prontamente substituído por outro 'produto', gerando novas formas de identidades a serem consumidas.
Nada mais natural que a desintegração das identidades nacionais.
Tudo isso tem contribuído para surgimento de um novo modelo de identidade que é o: ENXAME, o enxame se junta, zune e logo desaparece. Deste modo há os “Enxames” ligados aos variados estilos de música, ao sexo, à defesa animal, ambiente etc. Seguem o modelo da moda de consumo e se repetem nos 'movimentos' sociais.
Subjaz a criação de um sujeito 'ideal' para o consumo, por meio do controle e regulação da vida privada. Um sujeito cosmopolita, capaz de conviver com a diversidade e dela usufruir suas características tais: alimentação, música, seus estilos e linguagem. Para tanto esse sujeito não deve se incomodar com o estranho, estrangeiro e não se apegar em nada, a não ser no desapego.





Política: O velho do Restelo.




Assim começa a fala da personagem de Camões:
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama! … segue atirando suas visões. Tinha alguma razão, mas descabidas, um humanista nascente e conservador. Me lembrei disso ao ver um candidato a prefeito de nossa cidade falando pela TV. Na verdade é um bricabraque, uma colagem da memória, que juntou essa a outra imagem da adolescência. Trabalhava como oficce-boy na Caprichosa Modas e quando o JM da JMG Leal às vezes me convidava a acompanhá-lo à Única para um café. Lá me deparava com todos os tipos da cidade. Muitas personagens, escritores, jornalistas, corretores, vendedores de bilhete e vendedores de toda sorte, até os que vendiam o que não entregariam, e mesmo os de bilhete premiado. Já naquele 'então' aparecia um jovem de “boa” verve, mais alta que boa, com a indumentária mascada que ainda traz, pisando a São Sebastião, baixando pela General, zanzando pela Duque, como um profeta sem bastão e sem Canudos. Ribeirão lhe deu tribuna donde diz nos momentos mansos: vou ilustrar esse povo.     

21 de ago. de 2012

Sonhos.

Freud disse que a meta da terapia era fazer consciente o inconsciente. Verdadeiramente fez deste postulado o núcleo do seu trabalho como teórico. E mais, definiu o inconsciente como algo muito desagradável. Para ilustrar isto, imagino o seguinte: um caldeirão de desejos estabelecidos, um poço sem fundo de desejos incestuosos e perversos, um leito de experiências aterradoras que ainda podem surgir, emergir à consciência, o que francamente não é que se deseja ter “consciente”.
Todo o trabalho de Jung foi destinado a exploração do 'espaço interno'. Se lançou a essa árdua tarefa com os pressupostos da teoria freudiana, que lhe precediam; o mais tinha um conhecimento inesgotável sobre mitologia, religião e filosofia. Mas era mesmo  versado no simbolismo de tradições místicas como o gnosticismo, alquimia, cabala e tradições paralelas do hinduísmo e budismo. Se há uma pessoa que tenha um sentido do inconsciente e seus hábitos como capaz de expressar-se só de forma simbólica, este é Jung.
Jung sonhava. Sonhava com uma capacidade de sonhar lúcida. Mas sonhava também ilusões ocasionais. No outono de 1913 sonhou, ou teve uma visão, uma inundação monstruosa, que engolia toda Europa. Estas águas chegavam na barras das minissaias brancas que vestiam as montanhas do velho Alpe suíço. Eram milhares de pessoas afogando-se e a cidade tremendo. Logo as águas desse dilúvio se transformam em sangue. E seguiu sonhando semanas a fio, então surgiram sonhos de invernos eternos e rios de sangue. Supôs-se psicótico. Mas logo e no mesmo ano começou a Primeira Guerra, Jung então começou a acreditar que de alguma maneira existia uma conexão entre ele – como indivíduo – e a humanidade que então não podia explicá-la ou ela se explicar. Então meteu-se num processo de auto exploração – doloroso – que viria a formar as bases de sua teoria, ou da futura teoria.
Cuidadosamente começou a anotar seus sonhos, fantasias e visões. Os desenhou, pintou e esculpiu. Deu-se com que suas experiências soíam tomar formas humanas. Começa por um velho sábio e seu acompanhante, uma pequena menina. O velho sábio evoluiu, por vários sonhos, até um tipo de guru espiritual. A menina se converte em “anima”, a alma feminina, que servia como vaso comunicante – medium – entre o homem e os aspectos mais profundos do seu inconsciente.
Um duende marrom couro apareceu como zelador da entrada ao inconsciente. Era “a Sombra”, uma companhia primitiva do Eu de Jung. Jung sonhou que tanto ele como o duende, haviam assassinado a preciosa menina loira, a que chamou então de Siegfred. Para ele, esta cena representava uma precaução com respeito aos perigos do trabalho dirigido somente em função da glória e o heroísmo que prontamente causaria uma grande dor sobre toda Europa, do mesmo modo acerca dos perigos de algumas tendencias da empresa heroica freudiana.
Jung sonhou também com questões relacionada com a morte, com o território dos mortos e o renascimento deles. Para Jung, isto representava o inconsciente mesmo, não o inconsciente miúdo que Freud fez grande demais, mas um novo, o inconsciente coletivo da humanidade. Um inconsciente que podia conter todas as mortes, não só os nossos fantasmas pessoais. Ele começou a considerar que os enfermos mentais estavam possuídos por estes fantasmas. Pelo simples fato de recapturar nossas mitologias, entenderíamos estes fantasmas, nos sentiríamos cômodos com a morte e assim superaríamos nossas patologias mentais.
Seus críticos sugeriram que Jung estava enfermo, por esta ocasião. Mas Jung cria que se queremos entender a floresta, não podemos nos contentar com passear pelos seus arredores. Devemos entrar nela, não nos importando quão estranha ou aterradora possa ser.
Sinto uma certa atração por essa história do inconsciente coletivo. Como se fosse uma herança psiquica, um reservatório de nossa experiência como espécie, um tipo de conhecimento com o que todos nacemos e compartilhamos, mas sem nunca ser consciente dele. Mas que a partir dele, se estabelece influências em nossa experiências e comportamentos, em especial as emocionais, mas sempre de modo indireto, inconsciente.
Gosto muito dos arquétipos junguianos principalmente da Sombra.
A Sombra parece derivar desse passado pré-humano, animal, quando certas preocupações se limitam a sobreviver e a reproduzir, de quando não éramos conscientes como sujeitos. É o lado escuro do Eu. Nossa parte “negativa” ou mesmo diabólica. Me chama atenção sua amoralidade, como os animais, nem bons nem maus. Mas que desde uma perspectiva humana pode parecer brutal quando um animal é um assassino implacável por comida. Mas temos isso na Sombra, que é a lata do lixo não degradável que carregamos, mas não aceitamos, admitimos.
Assim que se sonhar que está lutando com um adversário muito poderoso, pode ser que seja você mesmo.
Gosto ainda do principio de entropia, que é a tendência, para Jung, dos opostos se atrairem, com o fim de diminuir a quantidade de energia do sistema ao longo da vida. Jung tirou isso da físico-química, onde a entropia é a tendencia que têm os sistemas físico-químicos de solaparem-se.     

20 de ago. de 2012

A Eternidade é tempo fermentado.

Como o pão é farinha, a eternidade é tempo fermentado temperada com os desacordos humanos. Jamais li Platão, que dizia que o tempo é a imagem móvel da eternidade. Isso não quer ser, nem parecer mais que: a eternidade passou por aqui e não vimos. Passou e não a reconhecemos, porque estava em movimento, e para reconhecê-la também devemos saber do tempo, não o tempo confundido com o movimento. Mas para saber do tempo, como queria Virgílio na Eneida, que tampouco li. Dizia Virgílio, tão grande quanto Homero, que para conceituar o tempo havemos de conhecer previamente a eternidade. É fácil notar que de tanto querer fazer seu Enéas tão grande quanto Ulisses, fora Virgílio somatizando as espertezas do astuto grego.
Temos o mal gosto de achar que o tempo vem do passado e vai para o futuro. É tão verdadeiro dizer o contrário, ou uma terceira. Todas prováveis e não verificáveis. Isso é Borges puro, sem óculos escuros, por não ocultar-se à cegueira, sem bengalas, manco e tateante.
Se pensarmos em Newton: Newton não vê maçã cair, sente a maçã na cabeça. A maçã na cabeça é passado, tanto quanto maçã 'por cair' implica no futuro: cairá. A questão é que ninguém vê a maçã cair, a vê 'por cair', ou como Newton a sente maçã caída. O que se quer causar aqui é a supressão do presente. Filosofias e  filósofos de terras de Ghandi, que o consideram inapreensível, o presente. Caetano o elevou – o tempo – à categoria dos deuses, ou o reentronizou, tirando dos homens a capacidade de produzir o próprio destino, roendo o osso do presente.
Ultimamente ouço alegações, que honestamente, estas sim, fazem total sentido se usar a locução: são inapreensíveis. Tais ditos dizem respeito a relação do tempo matemático com o tempo biológico, e aqui entra o supremo desacordo humano; o somar-se o tempo sacro. Isso tudo por ocasião do horário de verão.
Uma das questões que teve cara de gente séria, por ocasião da teoria da relatividade, foi a sincronia entre o tempo individual e o tempo esse: da matemática; milésimos,centésimos, décimos de e segundos.
 A coisa se punha assim: se o tempo é um processo mental, como se pode acertar os relógios entre indivíduos?
No horário de verão a eternidade é adiantada ou diminuída em uma hora pelo Estado, e todos padecemos, porque somente os humanos seguimos as orientações do Estado, a eternidade está se lixando para o Estado. O descompasso criado pelo Estado em nome da economia, nos faz  viver fora de fase, supondo haver fases na eternidade. Já vimos ser impossível apartar o tempo da eternidade como a farinha fermentada do pão. Mas deve-se salientar que nenhum dos conceitos, vistos aqui: Platão, a anagênese de Enéias à Dido, mesmo recurso de Homero, e do cinema de Hollywood – o flashback – entre tantos não são exatamente a somatória do passado, presente e futuro. Não. A eternidade é mais singela, mágica e espetacular, por se tratar da simultaneidade do tempo, ou se queremos da simultaneidade do passado, do presente e do futuro. 
Assim a eternidade abraça todas as coisas, e todas as coisas se silenciam nessa felicidade de ser tudo ao mesmo tempo e eternamente.
Essa apoteose, essa unanimidade já foi dita fervorosamente assim: "Toda coisa no céu inteligível, também é céu, onde a terra é céu, os animais são céu, as plantas, os machos e o mar. Tudo tem por espetáculo o mundo que não foi gerado. Cada um se mede nos outros. Não havendo coisa que não seja diáfana – que sendo compacta, não deixa passar a luz – nada é impenetrável, nada é opaco e a luz encontra a luz. Tudo está em todas as partes e tudo é o todo. Cada coisa é todas as coisas. É sol é todas as estrelas, e todas as estrelas é cada estrela e o sol. Ninguém caminha ali como se fosse uma terra estrangeira".
Parece maravilhoso, entretanto é puro terror em forma de museu. Estático se é museu. Mas pode-se ir mais longe: "Homens maravilhados pelo mundo – sua capacidade, sua formosura, a ordem de seu movimento continuo, os deuses manifestos ou invisíveis a quem se recorre, os demônios, arvores e animais -  elevem o pensamento a essa realidade, de a que tudo isso é uma copia. Pois na verdadeira eternidade verão as formas inteligíveis, não com eternidade emprestada, mas eterna, verão ali também a seu capitão, a Inteligencia pura, a Sabedoria inalcançável e a idade genuína do Cronos, cujo nome é a Plenitude. Todas as coisas imortais estão nele, cada intelecto, cada deus e cada alma. Todos os lugares lhe estarão presentes. Aonde vais? Diz o dito. A que provar mudanças ou vícios desnecessárias no principio deste estado se os ganhou depois numa só eternidade, as coisas são suas, essa eternidade que o tempo remeda ao girar em torno da alma, sempre desertor de um passado, sempre cobiçando um porvir"
Isto é um museu, petrificado. Não sei se o ideou Platão, com certeza não. Mas é a eternidade povoada de ideias, imutáveis. Plotino é mais pesadelo que visão, é menor que nossa realidade, para nós a realidade, a última realidade, nos informa o Boson de Higgs, a partícula de deus, mas ontem mesmo eram os elétrons girando entorno ao núcleo, solitário até os confins do cosmo. Deborah Secco é feita de Debora Secco, não gorduras saudáveis ou princípios nitrogenados, por mais que lhe acrescentem abstrações no Projac, de outra forma, os indivíduos são da especies da qual participam e os incluem e são sua realidade permanente, as tristezas no por do sol, essa antiga conexão com o crepúsculo, a preguiça do amanhecer, as alegrias no meio da tarde, o desconhecimento da morte, as recordações etc. Tudo isso nos adverte a permitir o primado da espécie e perfeita nulidade dos indivíduos.


19 de ago. de 2012

Produção: a Obra de Arte.


A produção individual é uma abstração, e se os homens são sociais desde os gametas, o produto individual é uma contradição nos termos. A produção do indivíduo é produto produzido pelo indivíduo dentro da sociedade, mas não só, também dependente dela, pois mesmo qualquer palavra carrega consigo camadas sobrepostas de significação conseguidas ao longo da história do homem, mesmo antes da fala, da escrita.   ( a cima e a direita, obra de Ruy Marques, Projeto Manhatan, e abaixo Keskece de Cleido Vasconcelos)

O produto para ser produto deve ser consumido. O açúcar não é doce se não degustado. Assim a produção se dá no consumo e o consumo também se dá na produção. A produção de açúcar consome da terra seus nutrientes, consome do homem as forças vitais, consome a energia das máquinas, o acido clorídrico para branquear-se etc. Alem do açúcar o consumo produz o homem, altera o corpo do homem mentre o produz, e altera o corpo do homem que o consome enquanto produto. 
Sem o produto não há consumo, assim que o produto inventa o consumo, inventando consumidor, transformando-o. A produção pode-se dizer é imediatamente consumo, e é válido para qualquer produção e qualquer consumo, e soma-se que sem produção não há consumo e sem consumo não há produção, posto que se houvesse produto sem consumo, se trataria de trivialidade inútil. Então sem necessidade não há produção, mas a produção gera a necessidade, o mais reproduz a necessidade. Deste modo a produção possibilita o encontro do objeto e a necessidade, e o modo de consumo, pois uma coisa é comer com as mãos, outra a trocar talhares, educa, molda o consumidor. Comunidades primitivas consomem produtos primários, de modo primitivo, porque a produção continua primitiva e tosca. O mesmo se dá com as obras de arte, estes objetos criam um público capaz de fruir dela, criam um modo de consumo, criam um consumidor de obras de arte. Ao mesmo tempo que como qualquer outra produção, interfere no produtor dos objetos artísticos, o artista. O artista sofre a ação, se consome, ao produzir a obra de arte, essa ação produz a obra e o artista, e por fim a obra de arte educa o seu consumidor final, transforma-o, gerando nele a necessidade de consumir arte, objetivando a criação, a produção artística. Da mesma forma que não há produto sem consumo, não há obra de arte sem fruição.

16 de ago. de 2012

Produção na sua forma geral. Uma abstração necessária.


Por mais que alguns indivíduos, e mesmo certos setores, se pretendam Robinson Cruzoe, toda a produção se dá em sociedade, e a produção individual só se faz possível partindo dela. Nenhum refinamento nos leva mais longe que ao ermitão, mesmo assim este carrega sempre tudo quanto viveu em sociedade, fugindo ou não, só dela. O mais, Robinson faz senão reproduzir as mesmas relações antes vividas, tenham elas sido meramente familiares ou tribais, e já neste momento brotava e se reproduzia a vontade de poder, ora centrada no pai ora no cacique, se entendermos primeiro o núcleo familiar, depois a tribo. O contrato social rousseauniano não parte do homem natural para construir a sociedade civil do seu tempo, parte do homem histórico, que desde o homem natural, havia atravessado outras formas de sociedade dentre tantas a idade média.
A sociedade civil, melhor, as diversas formas de conexão são simples mecanismos para o indivíduo alcançar os seus fins privados. Os fins privados, só são possíveis dentro da sociedade. Mesmo que abstraíssemos Almir Klink indo para nunca mais voltar. Mas ele sempre volta para o conjunto dos homens. Não existe a solidão, nem a sua busca, sem o outro, em face disso se o ser alcança a individualidade total, ele estará diante da própria negação. Não há indivíduo isolado.
O indivíduo evoluir isolado é tão provável quanto a linguagem existir isoladamente.
Os humanos são políticos por natureza, porque por natureza têm vontade de poder, e tal vontade de poder pode ser dialogada, e esse dialogo é politico, que é fazer valer a vontade de um em contrapartida da aceitação do outro. Os métodos de aceitação têm evoluído, sensivelmente, mas a força ainda é seu fundamento. Estado. Propriedade. Direito. Poder de policia, etc.
É dentro da sociedade civil atual – historicamente evoluída ( só posso pensar evolução no sentido que ela tem para uma Escola de Samba na Sapucaí, um continuo avançar) e em cada estágio evolutivo com sua peculiaridade – que se dá o processo de produção atual.
Nenhuma produção contemporânea existe fora do processo histórico humano e dentro da sociedade civil, por exemplo, o artista plástico, melhor o pintor, mesmo que o ignore, não pinta isento de Picasso, porque nem certas tintas e seus matizes sequer existiriam se o malaguenho também não houvesse existido, e o malaguenho muito, infelizmente, depende de um fato historicamente conhecido e sanguinolento, e digamos não somente o ataque a Guernica, mas todo o contexto de esfacelamento e o próprio cubismo, mas declarando aos infiéis o reconhecimento de suas capacidades individuais, e aos fiéis, da individualidade se dando dentro do conjunto da sociedade .
Cada época tem a sua produção. Há uma produção geral, apesar de produção geral se tratar de uma abstração, nos ajuda a economizar incursões, mas sempre lembrando das particularidades de cada momento histórico, que podem carregar por mais tempo características de outros, passados e até mesmo de tempos vindouros, neste caso, as vanguardas.
Até aqui o que tenho é a humanidade na sua forma de sociedade, e de outro lado a natureza, com seus materiais e instrumentos, e estes já alterados e desenvolvidos pela humanidade dentro do seu processo histórico, mesmo que seja a mão. Esta responsável pela grande evolução humana. O capital em todas as suas formas possíveis é um instrumento, que se desenvolve, desenvolveu, acumulou em determinadas mãos por determinados modos. E muitos desses modos não são naturais. Natural no sentido que qualquer curso que houvesse trilhado a história da humanidade nos teria trazido ao ponto que estamos. Muitas intervenções houveram, uma delas foi a revolução francesa. Sem ela a acumulação de capital seria hoje diversa. Isto só quer dizer que qualquer interferência é possível.
É de se supor que séculos antes da decapitação do rei francês, muito discurso – eram trabalhos de incrustação ideológica, que muito retardaram o aparecimento dum Robespierre – foi lavrado a respeito da perfeição do absolutismo, dando passo às vezes a um que outro reformador. O fato é que a guilhotina cortou a história em dois corpos totalmente diversos, o antes e o depois.
A produção seja ela abstratamente geral, particular quando inserida no contexto histórico, é Economia. Mas é Economia dependente da política, e política é a governança dos interesses das divisões sociais de cada momento histórico. A economia em particular é uma técnica, mas a economia política não é exata, porque não segue um caminho natural. Porque já negamos a naturalidade da evolução, que nada mais é que uma sequência de acontecimentos, onde o ato seguinte não é obrigatoriamente o caminho natural. O leão é natural mesmo dentro de uma jaula, ao sentir os ferormônios da leoa, não pensa noutra coisa que não cobri-la, para usar um termo caro da minha infância infame. Muito embora algum método que é usado pelo seu domador de modo a impeli-lo a fazer ou deixar de fazer, muito se pareçam, mesmos em dias atuais, aos empregados por determinados setores da sociedade civil, andamos um pouco mais evoluídos no processo de produção de vida.
Resumindo, a produção, mesmo a praticada por indivíduos singulares é social. Seja, sofre interferências do conjunto da sociedade, sendo que a produção se dá dentro de um modo de produção determinado, dentro da sociedade, e tal modo de produção decorre da divisão do trabalho, seja intelectual e o seu oposto. Muito devemos pensar no que concerne a substituição da mão pelo cérebro na questão da manufatura, esta enquanto aquilo que era feito pela mão. O cérebro de muitas formas tem substituído a mão no sentido de simples máquina repetidora de informações, e métodos, etc. Na época da revolução industrial, o trabalho intelectual era o de pensar o mundo, pensar as relações do homem com o mundo, com o trabalho, enquanto a mão tecia, fazia, moldava etc. Em tempos atuais o cérebro é usado como 'manufatureiro' enquanto instrumento da produção, por exemplo, traduzir um manual de instruções. Pode-se dizer de um trabalho cerebral, neste caso, não de um trabalho eminentemente intelectual, posto que não pensa, traduz.
Quando vimos hoje uma tela qual tocamos para realizar tarefas anteriormente digitadas, não devemos omitir que muito do trabalho intelectual necessário para se chegar a isso, foi de um neuro-filósofo-linguista de nome Noan Chonsky. Ele disse que o teclado não era ergometrico, que em nada tinha a ver com o humano. Já muito do uso deste instrumento na consecução de objetos, abstratos que sejam, não é mais que usar o cérebro como se fosse a mão. São processos cerebrais, tão repetitivos como o processo manufatureiro das industrias que remontam o Século XVIII, XIX e meados do XX.















14 de ago. de 2012

Prometeu Acorrentado. Ésquilo.



Prometeu entra acompanhado de Hefesto. Hefesto é encarregado de prendê-lo no rochedo. Por que Prometeu está sendo castigado? Porque roubou o fogo dos céus e o entregou aos homens. Em consequência disso a sequência da peça os diálogos se sucedem e os mitos antigos são revividos e recontados para a plateia.
No imaginário, cada um sabemos uma frase de Eça, Machado e sempre algo de Prometeu: Prometeu roubou o fogo. Sim, mas afinal o que Prometeu roubou dos deuses? Roubou o fogo, mas o que é o fogo? Mas antes de significar o fogo, é dito, que Prometeu não só rouba aos deuses, mas dá o que rouba aos homens. Não rouba para si, mas para o outro, o que já é um detalhe interessante. As interpretações do quê foi roubado por Prometeu, aparece em vários momentos da peça, uns dizem que roubou o fogo, a razão ou como diz o próprio Prometeu: entreguei aos homens a esperança. Os homens já não tem como fim a morte. Os homens agora tem uma esperança infinita no futuro. O que é a esperança? A esperança é o fazer sentido. Se passa da vida ausente de sentido ao sentido da vida. Mas que vai fazer sentido? A linguagem, a linguagem dá sentido a vida. E a vida é a própria tragédia. E sem explicitar os silogismos, Prometeu roubou dos deuses a tragédia e a deu aos homens. Tragos é bode, e ode o canto do bode. Tragédia é o canto dos
bodes que acompanhavam Dionísio em suas orgias, rodeado de Sátiros, que eram parte homem parte bode
Como quer Nietzsche a Tragédia é o dialogo entre o apolíneo e o dionisíaco
uma festa de Dionísio com algo de Apolo, que é luz, razão em meio ao caos...
Hefesto era filho de Hera, só de Hera, vingando a Zeus, e Hefesto foi empurrado por Zeus pela colina, e rolou por vários dias, ficou coxo, ferreiro, e agora vai prender Prometeu, Titã que se desculpa pelo que virá a fazer. Io também seduzida por Zeus em sonhos, coisa que Freud leu, não sabia se dava ou não. Zeus a transformou em vaca e mandou pastar acompanhada sempre por uma mutuca, e nisso ela passou pelo Bósforo, que nada mais é que o estreito chamado de passagem dos bois, das vacas e é onde está Istambul dos dois lados do Bósforo. E assim segue a tragédia de Prometeu onde continua o contar e recontar dos mitos gregos.
O que os deuses tem que os homens não têm? Do bem e do mal quem sabe são os deuses, do justo e dos injustos. Prometeu rouba dos deuses esta capacidade exclusiva e a dá aos homens: as condições de arbitrar.
Mas ao se ganhar a autonomia ganha-se também o castigo. Castigo eterno. A águia bicando o figado que se recompõe à noite, para voltar a ser bicado todo o dia. De alguma maneira a autonomia que Prometeu dá aos homens também está acorrentada e é castigada. Que autonomia é essa? Esse é o dialogo constante: os deuses erram, são sensíveis, são levados a desculpar-se. Por isso constantemente estamos acorrentados uns aos outros, mas autônomos e inseparáveis.
Assim Prometeu é a vida, acorrentada, mas viva, castigada e decomposta, mas regenerada, para ser novamente castigada. Prometeu vivo acorrentado, sofrendo. A vida onde a Violência é presença indizível e muda.

13 de ago. de 2012

Ideologia: O homem é o que fizeram dele.


A matéria é a realidade, por se desconhecer outros mundos, ainda que se possa conhecer Manga, pequeno município do norte Mineiro, e por mais prosaico que seja Manga, Manga ainda pertence ao mundo real, diferente de Macondo que só é verosimilhante, mimese e imitação.
Insisto com a realidade, e não gastar tempo tentando camuflá-la. A ideologia, a ciência econômica de nossos dias no seu aspecto ideológico e outros tantos cientificismos fazem contorcionismos, que pela graça particular de cada aspecto das dobraduras, e vincos, continuam sempre a render dividendos a analistas e comparsas, mas nem explicam a realidade, por leviandade, nem ajudam de modo significativo ao capital, por incapacidade de compreendê-lo, excetuando sempre o famigerado filisteu proveito particular.
O recém nascido já não é um ser biológico em si, pela interferência da medicina, apesar de sua descendência histórica incipiente, sua historicidade continua a se fazer imediatamente, já na primeira alimentação, que se dará por uma decisão entre o aleitamento materno e o artificial completo de implicações históricas e ideológicas. Não se deve olvidar que a própria decisão entre parto natural e outros tem seu cunho ideológico. Dessa maneira o ser é histórico por natureza. Diferentemente de outros animais.
Houve um momento em que cada indivíduo singular, na sua singularidade era capaz de decidir por si, se era o momento de atacar a presa, ou não. Hoje tal decisão inexiste. É leviano querer voltar a esse ponto do desenvolvimento humano, voltar ao homem natural, como é ridículo sentir nostalgia, enquanto implique em um desejo de passado. Alienado de decisões que lhe são pertinentes, o próprio indivíduo está alienado, alienar é esvaziar-se e como é ridículo voltar atrás, o é também permitir esse total esvaziamento.
O homem esvaziado é decorrência do modo de vida que leva, no capitalismo todas as atitudes são capitalistas. A revolta de Lutero foi cristã, dentro da cristandade.
Aqui chega-se, e o homem é o que foi feito dele. Circunstâncias da natureza, históricas e ocupação dentro da divisão do trabalho. Esvaziado, para não dizer cheio de ideologia, contraditório como o sistema em que vive. Defende o que o ataca, aquilo que o rarefaz das próprias forças vitais. Triste contraponto ao ser, que, por nada, deveria abdicar da retomada da liberdade. Se há uma utilidade, objetivo humano este deve ser a liberdade. Se falamos em alienação do homem, esvaziamento é porque o homem já foi livre, e se foi livre a liberdade deve ser retomada.
Dentro deste homem esvaziado a ideologia da classe dominante, praticada pela intelectualidade, filósofos apoltronados, pensadores encastelados quer, busca e encontra por meio deles, espaço para se alojar.
Se por um lado a divisão do trabalho e a relação do homem com o trabalho o reduz a máquina, animal de trabalho, a ponto de ter determinada sua ração de consumo, e seu salário estar diretamente ligado a esta cesta. Daí todos os cuidados e zelos do Estado em não permitir, ou permitir dentro de patamares bem delineados de preços, o consumo necessário do trabalhador. De uma maneira cínica, porque se o preço da cachaça subir, obrigatório seria o aumento do salário, por isso a pinga é barata. O que faz do trabalhador este animal ideologicamente programado a exercer sisificamente sua função dentro da sociedade. Os avanços da ciência médica, a melhoria da alimentação, a higiene e o saneamento nas cidades, acabam por permitir maior tempo de vida. Mas o trabalho o estropeou, o consumo desnecessário o enferma, e faz que a aposentadoria do trabalhador seja um tempo de consumidor de remédios e quando não morto por tédio. Ele não tem o que fazer com o tempo livre da jubilação, se aborrece com a televisão, com a falta de objetivo, vazio, posto que antes era matéria de interesses alheio e o trabalho o enchia, retirado o trabalho resta-lhe muito pouco o que fazer. Livre do trabalho, mas sem saber o que fazer com essa liberdade, toma o tempo como se fosse algo a ser preenchido com o aborrecimento de uma criança que desde pequena é ensinada a preencher, de cores, desenhos carimbados na folha, como atividade educativa. Assim já na escola mais fundamental a ideologia se faz reproduzir, vicejar como método revolucionário, mas não se trata, senão que, de condicionamento ideologicamente preparado. A escola, em particular as de primeiro e segundo grau e muitas das faculdades privadas que vicejam nos horizontes citadinos, primam em meramente reproduzir o ambiente laboral, seus horários, seus uniformes, interesse puro e simples do capital.
Efetivamente se pode afirmar que o homem é aquilo que fizeram do homem. E se contraditório todo o seu fazer e tudo quanto o rodeia, também o é sua consciência, porque a individualidade só existe partindo do indivíduo na sociedade, e de dentro desta sociedade é que se dá o indivíduo, partindo dela. Não se parte do indivíduo para a sociedade, mas justamente o seu oposto, o ser social é que se individualiza, e o faz desde a realidade social. E se toda a sociedade é contraditória, a consciência não poderia ser outra coisa senão contraditória. Porque a consciência é a consciência social individualizada, tomada do ser enquanto ser social. Porque a consciência não repousa em si mesma, ela é dotada de intencionalidade, ela está atirada no meio do mundo, é sujeito no mundo, é o indivíduo jogado no meio do mundo. A consciência é o sujeito. O sujeito não para e consulta sua consciência, ele é consciência, e a consciência é a consciência gerada no mundo real. E o mundo real é o mundo das contradições, então a consciência é contraditória, o mais, como o próprio homem alienado da possibilidade de livre decisão, ao decidir, é o mundo real e contraditório que decide nele. Não existe consciência de um lado e o mundo do outro. Por exemplo se vejo o sinal vermelho não recorro à consciência para saber (eu) paro ou não? O eu é a reflexão. Porque quando invoco o “eu” e reflexiono, perco tempo em todo caso e a freada seria tardia, portanto sou consciência freando diante do sinal vermelho. A consciência não reflexiona. Vou ao cinema, não por reflexionar que é importante para minha formação cultural, vou porque sim, sou consciência indo ao cinema, assim como sou consciência atirando o quimba na calçada. Por isso que a consciência está em risco, porque está misturada com o mundo, se sujando com a lama do mundo, com o lixo do mundo, se lapidando no atrito do mundo, com a guerra do mundo. A consciência não tem compromisso com o interior, senão que com o exterior do homem, como o próprio homem. E como o homem, a consciência encontra sua unidade no mundo, entre as coisas do mundo, com a intencionalidade do mundo, e como intenção é projeto, porque o homem é projeto. Como projeto não pode ser coisa acabada, não é 'é porque é', é sim um vir a ser, e portanto não se pode dar como obra emoldurada, acabada, o homem é assim, a vida é assim e pronto. Contrariamente somos projetos, e consciências projetadas no mundo.

10 de ago. de 2012

Cotas, porque sim!


Entro numa viagem até chegar em África antes da chegada do europeu. E o que vejo ao pisar as areias da costa ocidental, são índios negros, que vivem longínquos do mediterrâneo e dos árabes, livres do trabalho, mas presos aos seus próprios costumes, suas guerras tribais, que também escravizavam, como os gregos fizeram com os turcos, os romanos por onde passaram etc; tinham seus instrumentos de produção de vida, seus equipamentos de proteção à vida, suas casas, suas moradas, seus rios, suas peles, um que outro grupo vagava, nômade pela vasta terra compartilhando espaço com as feras, e nos seus rituais se imitavam, não eram nem bons, ou malvados, eram natureza humana vivendo em meio à natura, naturalmente.
Um belo dia o sol se punha no mar. A habitação não era em nada diferente da anterior, nada havia perdido, materialmente, senão que a referência, os amigos, os parentes, os animais ferozes, os inimigos também ferozes, como eles próprios puderam a seu tempo serem ferozes. Mas ali, escapados do escorbuto, dos grilhões, das chibatas dos navios negreiros, foram postos a trabalhar, sob as mesmas condições de grilhões e chibatas. O trabalho e o açoite se vincularam, vincaram e sulcaram sua pele. O que mudara? Não havia de fato se produzido grandes mudanças ambientais, nem de equipamentos, tanto para manuseio, quanto de salvaguarda, seja, a senzala talvez fosse mais segura às intempéries  que sua casa original, suas indumentárias se mantinham irrisórias. A grande mudança se deu na relação dele com seus afazeres mais comuns; a produção de vida, a relação com produto do trabalho, a relação dele com o outro do próprio grupo, uma  relação aonde todos são subjugados, a relação do homem e a mulher, e o fruto dessa relação. lavrar  a terra formou a estreita relação entre trabalho e  perda da liberdade. Ao mesmo tempo em que foi transformado em objeto, objeto com valor de troca, e valor de uso e assim valorado para fazer o quê o subjugava: trabalhar. Trabalho e ausência plena de liberdade, e qualquer porção ínfima desta que fosse buscada produzia a dor do açoite, e a falta de liberdade dentro de sua ausência. Trabalhar era diretamente aumentar o poder do opressor, significando sempre menos liberdade.
Qual era o sentimento de uma mãe? Se o fruto de uma relação 'amorosa' não lhe pertencia, ser mãe era dar um escravo mais barato ao Senhor. O que era ser pai? Que padecia um pai e uma mãe? É inimaginável!
Por fim quando libertos não tinham trabalho para sua manutenção. Eu fico triste em ver minha velha máquina de escrever, abandonada para todo o sempre no meio da bagunça daquele quartinho que não cabe nem pensamento. O que era um negro abandonado, na cidade, no campo? Sem ter onde produzir o seu sustento? Mas acima de tudo condicionado a que o trabalho significava escravidão? Creio que até hoje devem padecer desse sentimento. Afinal, depois de tanto tempo, estar às voltas com o mesmo 'Sinhozinho' branco!? As vezes tenho a impressão de que querem desaparecer na nuvem da miscigenação, como para se esconder de tanta humilhação. Talvez por isso busquem quase desesperadamente seu herói Zumbi, porque é muito fácil, e glamoroso, ser descendente de imigrantes europeus, eram outros tempos, outra relação de trabalho, ainda que sofisticadamente escorchante. Ao menos o amor lhes pertencia, sua prole, seu leito amoroso...