23 de abr. de 2015

Me chamo Aristóteles.



Sou de boa família, já que meu pedigree está nos mais importantes registros de prosápia e premiada ascendência. Ora, também vivo numa casa de categoria, ao menos em aparência. São gentes com estudos, com responsabilidade, com renda, com patrimônio e ostentam um lugar proeminente na sociedade. Ademais, souberam me acolher nesta casa como um dos seus. Gozo de privilégios que muitos seres humanos não podem nem tão somente sonhar. Por consenso me batizaram com o nome de Aristóteles e eu, ufanoso, passeio pelas ruas e praças da minha cidade, mas desgraçadamente me faz mal quando me gritam em voz alta, já que algum possa me identificar como aquele que suja desrespeitosamente a nossa vila. O meu dono não recolhe os frutos das minhas necessidades básicas, me tiram de casa para passear, orgulhosos de minha estampa, empatia e também para evitar que suje a casa, pois não consideram o restante da vila como casa nossa, também. Se tivesse mãos e me dessem tempo e possibilidade os enterraria, como a minha família me ensinou desde pequeno. Quando os meus irmãos e eu nascemos, a nossa mãe comia tudo para não deixar rastro. Fui educado e por isso provei de fazer ver a meu dono que há de se recolher as minhas merdas, por respeito aos demais, e eles mesmos, pela saúde de todos os humanos e dos meus congêneres e, especialmente para evitar os olhares de menosprezo e nojo. Depois de cumprir com a natureza, procuro ficar ao lado das merdas, e olho meu dono com meu olhar mais suplicante e nada mais que um estralo de cinta e uns passos apressados são suas esperadas respostas. Então continuo até nossa casa com a cabeça baixa e com o sentimento de haver sido traído por quem me acolheu, um dono que não me merece.

Está provado que ter um amigo como eu em uma casa melhora a saúde, a felicidade e o bem-estar de toda a família, e está demonstrado que até riscos de infartos diminuem consideravelmente. Agradeço ao Cidão por escrever por mim esta desculpa pública, na qual os mostro a minha mais sincera vergonha e impossibilidade de cumprir com a norma elementar de civismo. Respeitar os demais na saúde e liberdade para desfrutar da cidade.





20 de abr. de 2015

As Abelhas.

As Abelhas.


As abelhas operárias fabricam o mel. Mel que é usado dentro da colmeia. O apicultor colhe o excedente.
Para o apicultor o que interessa é o mel. No entanto, para fazer o mel as abelhas operárias precisam ir de flor em flor para buscar a matéria-prima, o néctar. E nesse ir e vir de flor em flor, polinizam, gerando frutos, que sem a polinização não apareceriam. Quer dizer, para gerar o produto há um trabalho, e para poder fazer este trabalho, faz um outro trabalho. O que seria o produto principal do seu trabalho, o apicultor retira o que seria a mais-valia, o mel. Já do trabalho para trabalhar, nada lhe resta. Quando escrevo isso, trabalho, trabalho para inúmeras empresas. A Facebook é uma delas, que retira desses meus enunciados algo de lucratividade, na rede social estamos polinizando flores, que geram frutos, dos quais nem temos a menor ideia, nem vagamente.


Essa historinha, com as alterações que precisei fazer para a analogia, foi contada numa palestra que assisti, e era de um terceiro, um sujeito francês, que não me recorda o nome, nem para procurar no google.       

A Peste.



No dia 16 de abril, o doutor Rieux caminhava pela galeria de entrada do edifício, procurando as chaves antes de subir para o seu apartamento, quando viu surgir no escuro do fundo do corredor uma ratazana de bom tamanho, toda molhada, que se arrastava sofregamente. O animal parou, em busca de equilíbrio, e começou a correr em direção a Rieux, num golpe para, deu uma cambalhota e caiu, ao fim, lhe saia sangue pelo nariz. No dia seguinte, as oito da manhã o porteiro parou o doutor quando este saia, para dizer-lhe que algum engraçadinho, malintencionado, havia botado três ratazanas mortas ao meio da galeria. Deviam as ter caçado com ratoeiras muito fortes, porque estavam cheias de sangue. O porteiro esteve bom tempo atrás da porta, com as ratazanas penduradas pelas patas, esperando que os culpados se manifestassem, com alguma trapaça. Mas não aconteceu nada.
Essas são as primeiras referências à epidemia de ratazanas mortas com que começa a novela A Peste, de Albert Camus. Os habitantes da cidade de Oran não sabiam que as ratazanas, em vez de morrerem nas ratoeiras, escolhiam morrer em plena luz, nas escadas, nas entradas das casas, e no meio da rua. Rapidamente as ratazanas mortas seriam incontáveis, centenas, milhares… depois das ratazanas, morriam as pessoas….




O primeiro parágrafo é uma tradução literal, que é de minha indústria.  

Vamos abortar.

Vamos abortar.


O modelo do Estado brasileiro, surgido da Constituinte de 88 está sangrando desde lá. Nenhuma das instituições criadas ou reformadas, esteve fora de suspeita, aos olhos dos cidadãos, sequer ele, desde seu advento. O desprestigio da política, acompanhado dos escândalos pessoais de membros destacados de todas, todas as instituições, desde a presidência aos mais mequetrefes prefeito e vereador da longínquas comarcas como a de Manga, na divisa da Bahia-Minas, passando pelos cargos de confiança e servidores com cargos de responsabilidade, parecem não ter fim. Não é de mim pensar a política pela ótica da corrupção, no entanto, me tomo de espanto quando me dou conta, que mesmo os meios de comunicação social - a Mídia - não por ter ideologia, porque isso é obvio, mas por se corromper e corromper o meio, sonegar informações, ou inflar outras, a tal ponto que boto em dúvida todo o passado histórico por ela narrado, e posso dizer sem medo que mesmo o impedimento de Collor de Melo foi sua indústria e atroz. A justiça que haveria de ser um porto seguro para esclarecer demandas, dúvidas, é questionada, se por nada, pela lentidão, meios escassos de investigação pouco eficazes, se mantendo herdeira de um passado pouco edificante, quando agia fora do processo legal contra os que discrepavam ou não se submetiam às diretrizes do poder estabelecido, sua ponta de lança, a PM, hoplitas modernos que matam antes e perguntam depois, e cospem sobre o cadáver para dizer: meu nome é Pecos!  Ao menos os Hoplitas se auto defendiam, enquanto a PM é paga pelo estado, e pelo que vemos, quem paga tributos é justamente o menos defendido por ela.

Sem se bastar, a coisa saiu da esfera do poder público indo mar adentro do mundo privado, corporativo, com suas simulações de CARFs, remessas de dinheiros não declarados, HSBC, Zelotes e por fim à sonegação pura e simples em escala Global…
A cena cômica é a de um senador da república, com seu dedo em riste apontado a seu nobre colega qual fulmina com um: Ladrão! Este mesmo acusador carrega nas tintas contra outro que o difama, e é nomeadamente também inexoravelmente partícipe de negócios milionários...
Nasceu em 1988, e não funciona.

9 de abr. de 2015

A Magrela.



    Na realidade, a primeira máquina que tive relações foi uma bicicleta. Alguém da família me a presenteou, era costume. Dei um nome à bicicleta, desde o primeiro momento, a magrela, por antonomásia e o nome persistiu. Assim aprendi a andar de bicicleta, mas não creio que tenha depositado nisso grande entusiasmo. Cheguei, as duras penas, a um ciclista pequeno. Não soube fazer qualquer filigrana nas rodas e manoplas, coisa quer era, lá por 1972, um sintoma de inteligência. No mais, a magrela tinha seus muitos inconvenientes. Não que tivesse partido a cabeça, ou gastado o nariz no asfalto, ou invadido o bar do Cipó, coisa que era, então, bastante comum. Não, andando de bicicleta jamais estiquei mais o braço que a manga, mas tudo somado me pareceu desagradável. A corrente sempre saia do pinhão ou da coroa, e se fosse numa subida, dava com os genitais no selim, depois com toda aquela dor, ainda havia de lambrecar a mão de graxa para voltar a corrente ao seu lugar, logo o pneu furava, lá longe, bem depois da Canta Galo, e com uma frequência escandalosa. E o freio? O freio, ou freava em demasia ou de menos e tocava tentar fazer a curva da casa do Belarmino a trocentos por hora, quando conseguia, porque se não, entortava tudo, raios, aro e a cara. Se não bastasse, descobri uma coisa que matou minhas ilusões: subir subidas em bicicleta era muito cansativo, além de não ser mais rápido que se fosse a pé. E como em Bonfim para se ir a qualquer lugar, se há de subir sempre uma subida, pareceu-me que a bicicleta não fazia nada por mim. Foi assim que a deixei.

29 de mar. de 2015

Corrupção criativa, Fotografia.

Corrupção criativa.
fotografia de Qin Yuhai. Ebb and Flow.

Estamos carecas de saber da corrupção que endêmica e institucionalizada permeia nossa sociedade. Construtora que cria projeto, paga propina a legislador e executivo para construir. Assim de fácil.
Qin Yuhai, chinês de seus 50 anos, filiado ao partido comunista chinês, e converteu-se numa das principais personagens políticas da província de Henan. À sua vocação politica unia o interesse pela criatividade, por meio da fotografia, até o ponto que algumas fotos suas estão nos paineis do metrô de Pequim, pessoa de destaque na Associação de Fotógrafos da China. Suas exposições, em especial, uma em Londres, tinham, ou têm?, crescente valorização. Quem quiser pode ir ao Google e completar a pesquisa.
O caso é que este ano, Qin Yuhai foi exonerado por uma comissão que luta contra a corrupção. A acusação genérica era a que Qin dedicava um tempo excessivo à sua arte, a fotografia, e pouca atenção às suas funções oficiais. Pombas! Podiam dar uns croques nele e o reconduzir ao cargo, mas não, o assunto era mais complexo, Yuhai aceitava subornos, como dizer? Fotográficos. Quer dizer, concedia privilégios em troca de materiais e outros detalhes relacionados. Por exemplo, uma empresa que conseguiu um contrato para promover o turismo na montanha Yuntai, o presenteou com 25 máquinas fotográficas no valor de 179.000 dólares, depois a mesma empresa lhe comprou um álbum com fotos suas por 270.000 dólares. Uma outra empresa gastou 1.000.000 de dólares promovendo a sua obra na China e no estrangeiro… e por ai vai.
O caso é que por aqui sempre apareceria um advogado, e, com certeza, chamaria a isso de mecenato. E esse mecenato, pouco forçado, é claro, contribuiu para que a obra de Qin, um artista genial.

Ebb and Flow, em Londres. Aqui entrevistas e fotos de Qin Yuhai.

Penteando Macaco

Penteando macaco.


O Estado, a Iniciativa privada e as Universidades contam com organismos que realizam pesquisas, estudos de opinião, com custos estratosféricos, para nos comunicar quais são as nossas preocupações. Será que é necessário? Sei perfeitamente o que e o quê de minhas preocupações. Asseguram, estes custosos estudos e pesquisas, que nos preocupa e muito a corrupção, e também a educação, a caristia, o dollar, o pib… Devem servir, creio, para nos explicar. Isso, nos explicam. Isso, mesmo, nos explicam a nós mesmos o quê de nós. Nosso comportamento contraditório e suas razões ocultas, i.e., as razões ocultas do nosso comportamento contraditório nas eleições, por exemplo. Mas me pergunto, sempre consternado, qual a utilidade deles, os estudos, as pesquisas. Principalmente se sabendo que a maioria dos cidadãos dão, a estas pesquisas, respostas falsas, com a solenidade de uma continência militar. Senhor! Sim Senhor! Enquanto os calcanhares batem. Se pergunto a um corrupto se lhe preocupa a corrupção, ele responderá que sim. Qual das duas razões devem se encaixar nas suas preocupações? Que não o descubram ou uma segunda, que os corruptos são os outros. Se pergunto a um casal, se lhes preocupa a educação, sim, sim, sim, sem educação um país .. e blá, blá e blague. E a maioria absoluta e em primeiro turno vota num partido que está a vinte anos à frente do Estado, com fortes indícios de corrupção, de péssimo sistema educacional. 

20 de mar. de 2015

Duplamente Ateu

Duplamente Ateu.

Sou individualista, arre, se sou. Mas não me basta o meu umbigo. Ou faremos um planejamento global para os 8 bilhões de pessoas de 2020, que incluem poucos ou muitos vizinhos, nossos bairros, cidades ou vamos logo lamber sabão. Moisés recebeu no monte Sinai dez mandamentos. No entanto, faz uns anos, por volta de 1995, surgiram outros, a substituí-los. Não sou quem os pensava, mas não os categorizei. Quem fez isso foi Ricardo Petrella, em O Bem Comum…
São seis. Um, a Mundialização: Há que se adaptar à globalização de capitais, mercados e empresas. Não sei escrever como na Bíblia, aquele troço de Haverás…. Dois: A Inovação. Há que se inovar, com a finalidade de reduzir despesas. Três: A Liberalização. Abertura de todos os mercados. Quarto: Desregulamentação: dará o poder ao mercado, dando lugar a um Estado Notário. Quinto: A Privatização eliminará qualquer forma de propriedade pública e de serviços públicos. Sexto: A Competitividade: há de ser o mais forte se quer sobreviver à competição mundial.
Fica-me a dúvida: mandamentos ou maldições? Vendo o escracho da coisa, meu otimismo frente a isso minguou. Nada para desesperos. Se no velho mundo dos 10 mandamentos, era agnóstico, agora sou ateu de vez, e beligerante ante este novo reino da economia de mercado, aonde acontece o quê acontece. Não quero alvitrar um futuro mais moderno, mais tecnológico, para quê?


7 de mar. de 2015

dA Hipocrisia, dO Farisaísmo, dO Fingimento

Uma das ameaças mais elaboradas e repetidas pelo Estado Islâmico diz textualmente: “Tomaremos Roma, quebraremos suas cruzes e escravizaremos suas mulheres com a permissão de Alá”. Não deve passar batido que conquistar Roma, dito pelo autodenominado califa Abu Bakr-al-Baghdadi, queira dizer a vitória final contra os infiéis, e tal como vão as coisas da guerra contra o EI, não me estranharia porcaria nenhuma, que a profecia se faça realidade ao longo deste século. Os analistas deste fenômeno nos avisam que os jihadistas não estão interessados em petróleo ou diamantes, senão as almas dos homens.
É fenomenal e seus detratores tentam resolver os problemas à base de silogismos éticos e axiomas sociopolíticos. Enquanto milhares de jovens pelo mundo se alistaram aos exércitos do EI para lutar na Síria e no Iraque e praticar as selvagerias horrorosas que temos visto. Fico com umas perguntas: O quê estes recrutas receberam do Estado Democrático de Direito e de Bem Estar Social? O quê aprenderam no nosso sistema escolar? O quê assimilaram dos direitos e liberdades? Quem lhes facilitou ou impediu a integração? Por que não encontraram no mundo ocidental os modelos de convivência, onde foram criados e educados? Nenhum tipo de ideal, de fé, de horizonte, de possibilidade de levar a termo algum projeto de vida? Que modelo pode ser a nossa sociedade, se recheada de corrupção, de dupla moral, incapazes de frear o abismo aberrante que se agiganta entre os ricos e os pobres, incapazes que somos de pôr fim a essa tortura , a essa violação, a essa ignomínia contra os mais fracos? Querem exemplos?

A Hipocrisia, o farisaísmo, o fingimento são termos inventados, praticamente, no nosso mundo ocidental, aonde mais se pratica, e mais tradição se criou, e mais adeptos teve e tem. Tanto que mais ou menos se tornaram virtudes., e na maioria dos casos, estratégia, um mal menor, para evitar o mal maior. Os jihadistas não se inspiram unicamente nas suras do Alcorão, pois há um catálogo em papel couché e com imagens de exemplos na nossa história, remota e recente. Façam as contas. 

6 de mar. de 2015

Senha



Não sei quem não está, mas sempre estou precisando de dinheiro. Fui onde o dinheiro está. No banco. Aliás, na Caixa, no novo Shopping, que é onde minha conta estava. Não está mais. Na minha frente uma grávida. Há uma mocinha que faz uma triagem: Que deseja fazer? Não ouvi o resto, ela tomou da senha e passou pela porta giratória. Fui logo atrás. Senha C 567. Nos separamos. Sim “sem marcação” . Nestes tempos, notei que a Caixa tem todos os tons de Grey. Do azul ao branco, olho meu RG, já descolorido ele também, pelo passar do tempo. A fila foi trocada pela dança das cadeiras. A moça grávida foi para as cadeiras da esquerda, estou nas cadeiras da direita. Ninguém marcou hora. Tanto faz. Tudo conflui no mesmo tíquete, uma letra e um número. Há muitas cadeiras, mas não estranhe não encontrar vaga. Não dá para ler, ou curtir um facebook, não se pode distrair-se. A tela de TV vai passando os números. Não é uma sequência simples, numérica, diria que é alfanumérica, o que não permite calcular o tempo de espera em função da distância da cifra luminosa e a do teu papel. Aqui o 51 pode vir antes do 11, segundo a letra que tem à frente. E todos pendentes daquela tela triste. Hipnotizados. Há um casal com um carrinho de bebê. Sempre há carrinhos de bebê. Uma moça que dá de mamar ao rebento, aproveitando o tempo morto. Um garotinho corre pelo salão, fazendo vento, cansado daquele silêncio tenso e insano. O bebê do carrinho de bebê dorme placidamente. A mãe chora. Discretamente, mas chora. Usa um lenço, que uma vez vi usar minha psicanalista, um triângulo às costas, que serve de dique colorido para frear as lágrimas furtivas. Penso em dar-lhe meu lenço, mas temo que não gostaria que haver sido descoberta. Chega o seu número e sua letra é um tipo de céu, do jogo de amarelinha, e se vão para um outro número. Desaparecem do meu campo de visão, espero que tenham outras cadeiras. Torço. Melhor. Fez me muito mal vê-la naquele estado de desesperança. Um cumprimento inesperado, um artista plástico da cidade, premiado, publicado. Sem perder de vista a tela da TV, falamos e rimos, sobretudo rimos. Passamos um tempo no século XIX. Não descartamos escrever a respeito. Chega a minha vez, vai lá diz ele, nisto a moça grávida, Renata, interpõe-se! Diz que foi num lugar que lhe disseram lá não era, e que era aqui e que não precisaria enfrentar outra fila. Sra.? Renata! Pode ir antes de mim! Recebi minha senha de volta, voltamos a papear. Logo ela também se foi. O amigo me disse: Espere no café, vamos tomar um café! Sim ? Não, meu caro, creio que há um excesso de fluorescentes, e sempre que saio destes lugares irreais, o mundo me parece mais amável e luminoso. Tecnicamente é um banco dentro de um shopping. Mas para mim é uma granja.

24 de fev. de 2015

Coisa Nossa


Coisa Nossa.
Paulie Gatto escolhe dois homens a soldo da família Corleone e os dá instruções precisas: Nada de golpe na cabeça – na cara sim – para evitar a morte das vítimas. Mas no que diz respeito à boca do estômago, têm liberdade de ação. Outra coisa: Se os castigados saírem do hospital antes de um mês, perdem os favores da organização.
Gatto é capodecime, tem dez homens, como os antigos decuriões romanos e recebeu o mandato diretamente de Clemenza, um dos caporegimes comissionados cuperiores, o qual ao seu turno, está atado ao comando do consiglieri, no caso Tom Hagen. O conselheiro é o único de toda a organização a que Don dá ordens. Este é o esquema, a estrutura do clã mafioso, presidido por Vito Corleone, The Godfather de Mario Puzo. Uma grande família onde os laços de sangue se misturam aos de amizade formando uma pirâmide de fidelidade garantida pelo proveito pecuniário, o interesse comum e a necessidade de segredo. Tudo se sustenta por vínculos de lealdade e medo. A lealdade vem do sangue e o afeto, por isso todos os clãs praticam o nepotismo e os lugares principais da organização são da família, irmãos, filhos, cunhados e genros do capo. E onde não há este vínculo, existe o medo: a traição se paga com a morte e com o extermínio da família desleal. Para garantir, afinal, existe a omertá. Lei do silêncio. Se um ''soldado'' da organização, que é quem comete os assassinatos ou as ilegalidades, ao ser detido pela polícia, permanecer calado, sua família será protegida, sua mulher continuará a receber o soldo, e ele, ao sair da prisão, será recebido com todos os louvores e honrarias.

O Poderoso Chefão, o padrinho, o Don, o chefe da organização, jamais será preso. Entre ele e os executores de suas ordens há muitos elos, se um falha, elimina-se. O Don, da mesma forma que os imperadores romanos, só caem por uma conspiração interna ou por traição ou denúncia do seu consigliere, a sua pessoa de confiança, a sua mão direita. Só neste caso, o Don poderá dizer como Júlio César diante dos que o apunhalavam nas escadarias do senado romano: “Até tu Brutus, meu filho?”

15 de fev. de 2015

Oitavo dia.

Oitavo dia.


Ele foi para um bar na rodoviária, que era o único que não fechava, e por vezes o sol saia no meio das trevas, fez-se o pequeno ajuste. O esforço fora imenso, dar vida à Terra, ao rio, ao mar, os pássaros... Necessito mais anarquia paisagística, pensou, mais sombras... deve ser uma questão de origens... girava no tamborete e a visão do mundo... a falta de humor em diferentes cores, a insistência do chinês em sua tese repetida com apresentações diferentes a cada dose de cachaça... tudo é excessivo, mas é mesmo um grande engenho, com o qual poderia recriar seu próprio espírito, mais agudo, tirar peso das preocupações. Cheguei ao extremo, mas não fiz falar as árvores, nem os animais conversassem com pessoas, ou que rissem, nem fiz que os pássaros falassem, para que não brigassem em pleno voo... Ah! Está bom assim!

Plagio.

Plagio.

Os escritores de hoje querem ser originais, e todo mundo sabe que a originalidade é materialmente impossível. Há nesta obsessão, nesta ideia fixa, um ponto de hipocrisia que o atual sistema econômico deu a nossa vida social. Jamais o plágio foi considerado coisa criticável. Hoje é. Porque o escritor que o faz é considerado pelos companheiros como um homem que quebra as leis da cavalaria comercial. Cervantes foi o maior, plagiou todos os romances de cavalaria de sua época, sem contar o ''estilo''. Mas o argumento é inútil, já que se compreende que a única sina de um escritor é plagiar, e se demonstra com isso se tiver sobre o seu ofício umas ideias tão claras e seguras, que por força vencerá sempre os seus suscetíveis companheiros. Os antigos não faziam outra coisa senão plagiar-se mutuamente e sem trégua. E se o faziam, por que não podemos fazer? Não pode haver, me parece, algo mais agradável para um escritor sentir-se plagiado. No entanto, hoje, e em todos os ramos artísticos dominam ideias contrárias, e quem dá o tom são os ''coxinhas'', classe médias, analfabetos que sabem ler e escrever.
Essa é a degeneração geral a que chegamos, sem paradeiro, para constar e demonstrar a insanidade da literatura atual, não se encontra em lugar algum, algum troço digno de ser plagiado.

Eu procuro este troço faz tempo e por todos os rincões, e não encontro nada. Tudo é monotonia e dum tédio pantanoso, e eu, particularmente, nasci com pouca força para empreender um plágio de uma obra antiga, de um clássico. Sou obrigado, como os outros, a ser um terrível e desenfreado original. É não resta dúvida, lamentável e revoltante... 

13 de fev. de 2015

Famíliona


Familionã.

Casarei comigo Eu
Como filhos da mãe a mesma
Incesto, canhestro, a esmo
Economizaremos roupas e anéis
Chantilis e morangos
Gastaremos palavras palmas bem molhadas
Vinhos, cervejas, cachaças, cuspe e um bombom de rum
Camisas da Vénus! A incerta? Nunca!
Nem as dos dias seguintes
Nos livraremos de deputados e das putadas
Do congresso, da súmula,
Quê simula o STF?
O tabelião não verá um tostão
O gato fica pra mim,
se você morrer.
Já se eu morrer,
O gato fica sozinho.
Não tripudiaremos sobre cadáveres
A menos que deem vida a esses girinos,
Sa meleca
Que sem testemunha e
Se lavo bem a unha
E troco de cueca!




Plim! Plim!



Sortudos que somos,
tudo se demonstrou
que tudo, amanhã, será
bem demonstrado.

Nem molina nem peritos.
Não farão laboratórios,
papagaiada de periquitos
com ou sem repertórios
nem falatórios de sabujas.
Porca, gritaremos
chulas palavras sujas
para limpar esses nojentos
estes sábios fedorentos.

Sorte a nossa, se demostrou
que amanhã tudo será
demonstrado.

Estamos fartos de sabedorias
que no fundo, basbaquices
nos fazem crer teorias
nada senão manias
e disfarçam suas cagadas
pondo a culpa na manada
com plin plim de fadas

mas sorte nossa sorte
é que tudo se demonstrou
que amanhã se mais tardar
será bem demonstrado.






Cão e Gato



Há muito tempo, em casa havia uma gata que, que me recordo, deu cria uma vez numa dispensa nos fundos da casa, que naquele momento era fundamentalmente o lugar dos rejeitados. A gata, antes e depois, fazia a sua vida poucas vezes molestada por parte da família, exceção de minha irmã e, sobretudo, minha. Ia e vinha, passeava pelo telhado de casa e das casas vizinhas, mas não era amante da rua, que visitava em poucas ocasiões, certamente quando a liturgia da sua religião ancestral, que ignorava, lhe exigia. Me recordo de muitos episódios da vida da gata, que se misturam com os meus, mas sou incapaz de relembrar o seu traspasso.
Mais tarte tivemos um cachorro. Também não me lembro que fim levou. Mas com certeza um cachorro sem dono, me traz uma enorme tristeza. Assim sem saber o fim deles, somente o cachorro me cria mais problemas de consciência. O gato, e tenho um hoje, me parece mais inteligente, independente, e sua independência me faz tratá-lo de igual para igual, uma relação de igualdade. Se fosse um cão, pela minha maneira de ser, me custaria mais não abusar da minha suposta superioridade humana.

há algo, por que há algo?


Saio de casa com o tempo justo de chegar ao trabalho. Todo dia o mesmo caminho, com pequenas variações sugeridas pelos semáforos. Poucas novidades, de quando em quando, uma nova pintura, uma nova fachada, os interiores continuam incertos. Numa rua que ainda não consegui repetir havia um grafite, se preferir, uma pichação: “Acredito que há um mundo fora da minha cabeça”.

Trevo.

É sempre vou, num vou! Dilemas, enigmas a adiarem a decisão. Tudo é encruzilhada, um ípsilon dentro do outro. Se vou, vou não sei para onde, e sem parada. Se fico, como fico? E cedo ou tarde já é sexta -feira horas de quem parte, partir. É assim que decido: Me Atrevo a Contar com a Sorte!

12 de fev. de 2015

Cavo.



Se um poema, uma música comove, o faz desde da vida do leitor, ouvinte, de modos que uma pessoa que não seja ''culta'', se emociona com comprovar que aquilo que acaba de ler, ouvir, expressa algum aspecto da sua consciência, ou da sua vida. Constatação , ainda que atrevida, estendo a outras sensibilidades. Mais ou menos.
Muito embora, e às vezes, nos tornamos cúmplices de autores e obras, por motivos ainda mais prosaicos, como os geográficos, linguísticos, de gênero e étnicos, por que não?
São refúgios, e por vezes, construídos lá na infância. Costumo me refugiar num poema de Drummond, Áporo. Que dá a dimensão do inseto que cava e cava e cava...

é assim:




Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.

11 de fev. de 2015

Gente é Para Brilhar....


O mais óbvio é que vivemos numa sociedade que menospreza a transcendência. De outro modo, vivemos na sociedade que exalta a superficialidade. Se aprende desde a mais tenra infância, que a alegria tem a ver com a segunda. Com as facilidades das coisas, a sua espuma imediata e óbvia, que dura tanto como a sua própria efêmera resplandecência.
Por outro lado a tristeza se relaciona com aquilo que transcende qualquer feito. Se alarga espiritualmente, ou de alguma forma simbólica, se explica por meio de algum mistério íntimo que temos que resolver, sentir e explicar.
A morte, por exemplo, é o signo supremo da transcendência, literalmente e metaforicamente, enquanto a vida fácil se coloca exatamente onde luzo, e não além, além e aquém é sombra. A transcendência requer um grande impulso, o supérfluo se conjuga no presente e basta, é mais democrático e transversal.
Não posso esquecer que tudo que faço, penso e sinto tende à transcendência, nem que não queira, já que tudo tem um sentido, ainda que oculto, tudo, tudo mesmo, e mesmo uma ação superficial como ir comprar ou ficar no sofá babando diante da TV. Incluo a promessa politica, também, ainda que não o pareça. O seu não cumprimento implica numa consequência, porque tudo na nossa vida comparte um discurso paralelo, numa realidade mais profunda, não haveria de ser menosprezado o exercício das palavras.
Não fosse aqui, não conceberia viver num cenário de tamanha mesquinharia. Porque não vivo num país minimamente inteligente e sensível. Perdemos todo e qualquer brio, ou jamais o tivemos, e que poderia nos conectar com algo para não sermos o que somos. Vivemos enterrados nas ruínas do que não fomos, justo no momento que parecia que tudo começava. O mais grave de tudo é que, apesar das vexações, querem devastar a esperança, e isso já não nos importa.



10 de fev. de 2015

Chafurdance!


.
Resisto o tanto quanto posso, já não posso mais resistir: A pobre Marcela que carrega sozinha a frente fria, e os anticiclones, porque você já poderia me perguntar pelos ajudantes, por que não contrata ajudantes? Não sei, sei que telefona dia sim dia não ao seu Zé, que supostamente está no litoral norte, Ubatuba, sem ofício, por sinal, dizem que toma conta da mãe doente, que nunca fica boa. Não seria mais fácil levá-la ao Caldeirão do Huck? É claro, não interessa. Porque o Zé não está em Ubatuba, e sim bem mais próximo, na Lins de Vasconcelos, em São Paulo, e se faz passar por seu Zé, mas ali na Lins o chamam Senhor Azevedo, ainda que os tem a todos enganados, que de verdade se chama Datena. Assim que permanecerá no novo endereço até princípios de março, se o deixam, mesmo porque tudo leva a crer que as coisas não lhe vão tão bem, ainda que Vasconcelos – que outro Vasconcelos? – é seu costa larga e da própria Marcela.
Marcela passará o carnaval sozinha, nem à Pascoa terá alguém, porque parece que os seus filhos, estes sim, no litoral, mas em Rio das Ostras, não voltarão para a Capital. O que não é novidade, faz meses que sequer lhe telefonam, nem sinal de vida, e quando algum deles a chama por SMS é para proporcionar-lhe desgosto.
Gostaria, quer dizer, fixe bem no que passa na pobre Mansão Olderbrecha: parece que um dos rapazes não está em Miami, tudo porque este rapazola perde óleo. E para Marcela, se ele ligar para dizer bobagens, mais valeria que estivesse com Boku Haran, noutras, n'África.
Por fim, Marcela, que, melhor eu te dizer logo e assim quanto mais cedo possível você vai cuidar da tua vida, mas é complicado dizê-lo assim de um tropeção, saiba então que o Munrá, ou o veterinário como preferir, também acoberta as coisas do seu Zé, sendo mais um anjinho, que você dificilmente o verá, mas ele.... como direi.....

Você deve estar pensando que tudo isso é uma bobagem, no entanto Marcela gosta mesmo de chafurdar. E me deixa muito triste, que ela seja uma iludida, a parte do problema de não poder usar peles nesta terra, e ninguém as compraria para que pudesse reformar a Mansão, por isso ela se ausenta. Se repito alguma informação, é pela importância que tem. Afinal, somos amigos, e mais vale que saiba de tudo, principalmente do maucaratismo do Datena ou Azevedo, porque eu sempre estarei ao lado de Marcela, prós e contra, Marcela que amigos têm?

9 de fev. de 2015

Perguntou ao Gato...


Perguntou ao gato: Se sente muito só? Aquela parecia ser uma pergunta boba, assim que decidiu perguntar novamente: Tá se sentindo muito só? E, como de costume, deixou a resposta ao gato ocre amarelado que ondeava o rabo com lentidão. Claro que se sente só! Eu também me sinto. Quando disse estas palavras, sentiu um leve remordimento. Na realidade deveria ter comprado mais um ou uma gata, para que seu gordo gato ocre amarelado tivesse amigos e formasse uma pequena comunidade felina. Mas, ao mesmo tempo, temia que a compra de mais gatos o fizesse perder a comunicação que já tinha com esse. Havia algo de especial entre ambos, como nesse momento, em que o gato permaneceu imóvel, mirando-o com seus olhos amarelados, enquanto seu formoso rabo se agitava em câmara lenta. Tá na cara, que estamos sós, os dois – resumiu. Se ergueu e foi a cozinha preparar um café. Duas colheres de Alta Mogiana, uma de Cerrado mineiro e uma de Altinópolis em vez do Sul de Minas, para provar. Era assim, com alguns tipos de café, era necessário ser mais comedido. Se ajeitou dentro da calça e da camiseta que escapava pelo ombro, e se dirigiu de novo ao gato: Sabe do pior? O pior é que já não se pode estar em paz com a solidão, porque agora não está de moda estar só; tem sempre alguém te espreitando; agora eu queria saber do mais pior ainda? Isto garanto, você não sabe! É! Há a solidão compartida! Se ao menos você deixasse seu sorriso! Dizia, enquanto o gato sumia. 

8 de fev. de 2015

...



Antes, Inda Antes de Ter Pressa,
Antes de Pessoa,
Se Antes do Inventar da Hora,
Antes de Darwin, Dinossauros e Fósseis,
Tapete, Tabaco e Tabacaria
Nem Trânsito,
Pântanos, Enchentes e Secas,
Antes do Mar, sem Cronistas, Inquiridor,
Antes das Estrelas Caírem Sobre o Tabuleiro do Desassossego,
Antes dos Sábios, Prisões, Arenas e Toda Sorte de Apego.
Quando Tudo Era Vácuo de Fina Tripa
o Negro Sol Duma Sem Beirada Cor
de Criança que Chora, Esta Dor
Já Estava Aqui


6 de fev. de 2015

Um Pedaço de Nuvem, um Reflexo de Lua



A mãe gosta de sair para dar uma caminhada quando o sol se põe. Nesta hora; que é quando há um hálito do noroeste, esta brisa que entra depois do vento leste; pego minha espreguiçadeira e vou para a calçada tomar vento, cerveja e ver meu vizinho deitado na calçada, para descansar e refrescar-se. Depois de um demorado passeio, lá vem a mãe. Fui longe hoje, até aonde você foi? Fui até as barrancas do mundo! E como visse minha cara de espanto, me mostrou nas mãos que trazia escondidas atrás, um pedaço de nuvem e um reflexo de lua...  

Nem a Água não é Água Não.

"Cachaça não é água não..."

Deve ser muito complicado ser Historiador. Uma data – um dado – isolada, não diz nada. Se faz necessário interpretá-la. Conhecer seu imprescindível contexto. Minhas recordações de infância não têm nada a ver com a de um garoto de cidade grande. Os meus anos 60/70 são os anos da ditadura. Sem miséria, mas anos de chumbo. De vez em quando emerge uma cena felliniana que me põe em contradição com o calendário, bebendo vinho do padre, vestido de coroinha, sambando...
Penso na excitação pueril que me produziam os fevereiros de carnavais de há tantos anos. Longos anos e me parece impossível que esteja a falar da mesma época, em que Artur da Costa e Silva instituía o AI-5. Ou que se estivesse sendo fundado o Pasquim. Seria necessário se traçar com uma rotring uma linha para interceptar esta linha do tempo com a minha, anos em que surgiam The Who, Rolling Stones, Beach Boys, Bob Dylan, Jimi Hendrix, dos festivais da TV Record, de Vandré. E a minha, se olho para trás, tinha como trilha sonora Tonico e Tinoco, Meu limão meu limoeiro, Paulo Sérgio e Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, as Escolas de Samba do Vila Virgínia que vinham nos visitar, as marchinhas, os Mamãe eu Quero, Cachaça não é água não, tudo me faziam enlouquecer. Hoje, eu espírito carnavalesco é só quarta-feira de cinzas, mas sem cruz de cinzas na testa, mas pudera, nem a água não é água não.

5 de fev. de 2015

Futebol. Corinthians e Tabelinha, um Resgate do Passado, Peladeiro!


Se o futebol brasileiro se ancorar no fundamentalismo do futebol europeu, estratégico tático, ficará a merce deles, pela já denotada capacidade deles em cumprir script, roteiros e tal e coisa. Na copa 2014 os alemães mostraram o futebol de ''espontaneidade'' ensaiada, como é sua maestria em tudo na vida tedesca. Como era a Espanha guardiolada, e tudo faz crer que influenciou alemães, bávaros e mesmo o Real Madrid segue uma devaricada dessa onda, etc. A objetividade do futebol europeu, e o que tentamos imitar, não nos serve, não sabemos ser objetivos, transparentes, não isso não é nosso, podemos até ser em outras esferas que nos melhora, mas no futebol, bater a carteira não é imoral. Enganar também não. Fazer de bobo é a ética do nosso futebol. Na objetividade, somos obrigados a apelar, porque eles são melhores de nascença nessa coisa, e então somos violentos, não somos duros como eles são, somos violentos.

O Corinthians dos últimos jogos apresenta algo novo, velha nossa conhecida, a tabelinha. A tabelinha em velocidade, com passes curtos e verticais. Essa é característica inata do futebolista, boleiro, peladeiro brasileiro. Pelé e Coutinho nadaram de braçadas nessa lagoa.
A vantagem do futebolista brasileiro é essa, mesmo os menos craques, coisa que é o Corinthians, São Paulo, Palmeiras, times com bons jogadores, mas craques não os têm. Mas mesmo o jogador mediano brasileiro faz tabelinhas de nascença, é o sarro da coisa. Note que o Santos, sempre apresenta-se bem quando consegue engrenar seus ''meninos'' neste aspecto: A Tabelinha, fora disso sofrem...
Pela entrevista que deu Elias, depois do jogo contra Once Caldas, me deixou a impressão de que os treinos têm enfoque prioritário neste tipo de ''jogadas''. E dá mesmo para perceber, são algumas tentativas, uma que resultou no gol de Fábio Santos na Arena, ainda no ano passado, e no jogo contra os colombianos, isso ficou mais insinuado, ainda não está ''patente'', vou torcer e esperar, pode ser a salvação da nossa lavoura.

Resgatar o passado, pode ser a vanguarda!     

4 de fev. de 2015

Magnanimidade.



Tirante uma agência de risco – Standard & Poor's no caso “Subprimes” - que “en passant” se pode dizer: fraudulenta, e foi multada nos EEUUAA em bilhões de dólares por essa superestimação mafio-criminosa na crise financeira de 2007\8, nenhum outro órgão internacional, como FMI, por exemplo, nada têm dito ou a dizer sobre o caminhar do Brasil. Vamos com as próprias pernas, mal podem, entretanto, dizer, mas com as próprias pernas, antes íamos mal e ouvindo e levando dedo nos olhos desses peregrinos.

No entanto, as vitórias se envenenam se não são administradas com magnanimidade. E pode ser a origem do fracasso do PT como um projeto coletivo. E na tentativa de borrar a personalidade, existência dos então derrotados antecessores. De tal forma que a consolidação do critério uniformizador, se plasma numa interpretação enviesada e reducionista, e de certa forma uma parte significativa dos petistas continuam a fazer da realidade. A reação é belicosa, e o governo Dilma é por dizer, quase que não salvável, pelo reflexo evidente de não ser capaz de ser compatível, ou ao menos complementário às aportações de outros grupos, apesar de nos últimos anos ter conduzido de forma formidável algumas questões distributivas.
Vejo o reflexo das mobilizações de faz dois anos, e das últimas, ao mesmo tempo do imobilismo da população frente ao estado de calamidade pública que conduziu, o PSDB frente ao governo, o Estado de São Paulo. É como se o PT não tivesse deixado outra opção, senão que fechar os olhos. Não sei... como diz Fernando, um amigo meu, na corda bamba...   

3 de fev. de 2015

O Gato do Bar do Toba.





O gato do bar do Toba é negro e lustroso, e o pelo do lombo, olhando de perto, tem a marca da forca. Dizem que matou o seu dono. Todo mundo sabe que o gato chega depois que a missa já começou, ou já vai pelo ofertório, e os canabravas já comeram alguma coisa. Com certeza passou toda a tarde a dormisquejar no canto do curral. O gato vai de mesa em mesa, ao mesmo tempo que um francano vende botas e cintos e sandálias trançadas e bolsas, essas vacas tiveram menos sorte que o felino. Parece que o gato aprecia o espaguete da mesa de dois, em contrapartida, come sem vontade o lambari do Lesmão, ou não aprecia os Jihadistas no jornal que lhe serve de prato, tanto que deixou umas espinhas do peixe. Na mesa dos fumantes ele nem passa... antes de ir-se ainda revira uma migalha de pão da mesa do fundo. Passa por mim e lhe acaricio a cabeça. Como fui generoso, sem demasias, me deu um conselho ao pé da orelha, que me quis passar como um texto de Cortazar – sempre me disseram que os gatos de rua são os mais cultos, ainda que frequentemente lacônicos e mentirosos – O Plagiário, porque não adianta nada roubar uma flauta e não saber tocar.

29 de jan. de 2015

Doravante Vou Usar Máscara.



Lia a legenda de uma fotografia: Quando Papua Nova Guiné se tornou independente, 1964, a tribo Lavongai foi informada que nas primeiras eleições democráticas, tinham a liberdade de votar em quem quisessem. Deram os seus votos a Lyndon Johnson, então presidente dos EUA.

Me parece fantástica a possibilidade da ausência de fronteiras. Uia! Pena que não sei o peso dos votos dos Lavongais naquela eleição, penso um pouco e sou incapaz de tornar concreto o meu voto universal, penso mais um pouco e descubro, que os Lavongais usam máscaras, e conseguem decifrar melhor os nossos políticos mascarados!  

28 de jan. de 2015

Crise Hídrica, Um Banho de Novos Conhecimentos.

obra planejada e executada pelo governo do PSDB, a tecnologia embarcada chega a assustar, fazendo gemer Ramsés II ou III quem sabe.

Começa assim, porque despretensiosa, negada desde quando era curável, mas todos sabemos que desde os gregos a palavra “Krisis” está ligada a oportunidades, mudanças, como um ritual de passagem. Há uns anos, por fatores alheios ao meu controle, acabei por ler Peter Drucker, um guru do mundo corporativo das últimas décadas do séc XX. Lá o fundamental é o Planejamento, Não é difícil, no todo, mas em alguns aspectos, me encruava, e ali estavam conceitos de gestão por objetivos, avaliação, descentralização, “cantados” por Marx “avant la corporation”. A Crise sempre presente no mobile do guru. Conceitos de Missão e Visão na gestão brasileira se transformaram em meros slogans, mesmo nas grandes “corporations”, imagine se um partido politico a abraçasse, pois foi o que os intelectuais do PSDB fizeram. E de lá para cá é gestão daqui, gestão dali, terceirização disso e daquilo, benchmark ou dantosu o melhor do melhor, o Six Sigmas, e lá vai Peter Drucker “O tomador de decisão eficaz compara o esforço e o risco de ação com o risco de inação”, vejo espelhado no espelho d'água do Cantareira esse filme passar. Eficácia, eficiência, gerenciamento, tempo... Ah! A propósito: “Eficácia significa fazer as coisas certas acontecerem.” Não posso reclamar, por este “do the right thing” tucano, pois me ensinou muito. A começar pelas palavras, um enriquecimento prazeroso, afinal, desde criança ouvindo falar em seca, seca do nordeste, uma década de seca... e tudo não passava de crise hídrica. E, por falar em nordeste, me recordo do professor de História a falar que a culpa da seca era quase toda do coronelismo, das grandes fortunas que iam para o Nordeste para sanear a crise Hídrica e eles – os coronéis – a fazer cisternas em terras próprias, ainda se fossem aeroportos, vá lá! Tudo é impactante, grande palavra, impactante, virou um meme nesta gestão por objetivos, planejamento e avaliação, como se fosse um : é nóis!
Creio que muito ainda nos ensinará esta κρίση του νερού, ou όσιμου ύδατος, crise hídrica, então guardei para o fim o ensinamento mais importante.
Tenho, quer dizer, tinha grande dificuldade para entender na prática o significado de Estratégia e Tática, sempre as confundia, quando pensava estrategicamente na verdade traçava táticas, e creio que no mundo do futebol a coisa ainda mais se embaralha, no entanto, a Krisis Hídrica clareou meu horizonte. Agora ficou tudo muito simples: Com a crise a Estratégia é chover, e a Tática é rezar.

E por falar em rezar, meu deus,  quanta injustiça cometo, esquecia-me do "Volume Morto"..

A Minha Sanha é Política. Ou, Vê se Me Entende. Ou, Marat L'Ami du Peuple.



O tempo da Utopia, para mim, já passou. As únicas revoluções com que estou preocupado são as do motor da minha Virago. Vivo da Realidade, seja Real ou Virtual, e são realidades. Para mim o processo para mudar uma Realidade é feito de rodas dentadas de Realidades, o Real alterando o Real. A política é o Real, qualquer que seja, feita por partidos (todos) reais organizados por pessoas (todas) reais. Somo a isso que o Brasil para mim é tudo que não é o resto do mundo. Cada país tem a sua história. A história é o rio que lima as arestas das pedras e as faz seixos. Nossa história ainda não conseguiu gastar muitas das angulosidades desta pátria, mas ainda é cedo amor, a história não para, segue sempre em frente, se repetindo, se falsificando, se tornando pornográfica por vezes, mas segue.
Tenho defendido as ações do PT, não porque creia que o PT seja a melhor coisa do mundo, nem eu sou, nem quero ser, porque deve ser difícil ser a melhor coisa do mundo, além de que, nem deixaria tempo para ler o Facebook no banheiro. Depois duvido das melhores coisas do mundo, incluso pessoas, principalmente pessoas. Se a melhor pessoa do mundo já é um problema, imagino um partido com as melhores pessoas do mundo, pois sozinha é um psicopata, em grupo...
Já declarei outras vezes que o centro, o âmago dos problemas brasileiros não é a corrupção, ainda que dela saiba e que não a defenda, e peça punição sempre aos corruptos e corruptores.
Outra que já declarei é que a verdade que tanto se busca, é o centro nevrálgico do poder. Há muito tempo a verdade era: O Rei tem Poder Absoluto, que o é outorgado pelo próprio Deus! Por longo tempo travou-se uma batalha por essa ‘verdade’. Esta batalha nada mais era, que a batalha pelo Poder e não pela verdade, ainda que hoje saibamos que o Rei era tão fajuto quanto o Deus que lhe imprimia consignas de Absolutismos. Eram de alguma forma tempos mais épicos; Napoleões, Guilhotinas, Maria Antonieta, Brioches, Marat, Robespierre, Danton... Uns cortavam as cabeças dos outros pelo poder, seja em nome de Deus ou Povo, este com sua dose demiúrgica, afinal a voz do povo é...
Este nosso momento político – diz-se isso como se todos os momentos não fossem políticos – está até o pescoço enterrado na batalha pelo poder. Se há batalha, há de haver ao menos dois bandos, e os há, grosso modo se reduzem ao Governo e a Oposição. Querendo ou não, inocentemente ou não, de má-fé ou não, escrupulosamente ou não, quem defende o Governo ataca a Oposição e a possibilidade do 'detrás para frente' também está contemplada.
Não ajo politicamente de modo a favorecer o meu adversário. Na vida real, o meu adversário quer um quinhão dos meus pertences, e de novo vale o inverso. Ah! Mas você faz peripécias para que todos pareçam iguais na desgraça. Não! A política basicamente é mediadora da disputa pessoal, feita de modo a atender a todos os indivíduos singulares, o que não é possível, e nos dividimos em bandos, em tribos, guetos, ruas, vielas, tatuados e não... Como disse, a corrupção não está no centro das minhas atenções – sem deixar de enxergá-la por toda parte, mesmo em mim – quem prefere a discussão moral é o outro, porque ele tem o aparelho de medir mentiras, e fazer verdades, que é a Mídia. O PT só está ainda no Poder, pela explosão Comunicacional causada pelas redes sociais, que amplificaram a voz de muita gente, anteriormente, lembremos Collor, não havia refutação alguma das teses mediáticas.
Há muito que se diz da necessidade de uma Nova Política, uma recauchutagem na nossa Democracia, não sou contra, sou favorável, mas isso se faz com o carro em movimento, com os vetores de poder agindo no Parlamento, no Congresso Nacional, nos Jornais, nos Blogs, nas Redes Sociais. O importante, para mim, é saber que a condução destas reformas também estão em zona conflituosa, porque basicamente retirará parcelas de poder de uns e os dará a outros. Porque no centro de tudo está o Poder.

Por isso é difícil discutir com quem pensa que é um ser humano perfeito. Para mim é mais fácil – mesmo partindo de sérias divergências – discutir com quem é podre, se sabe podre, porque nisso haverá sempre a possibilidade de cedência, porque ao contrário do justo, onde tudo implica em que deixe de ser “tão justo”, para o podre o processo é o de deixar de ser “tão podre”.