Perguntou ao gato:
Se sente muito só? Aquela
parecia ser uma pergunta boba, assim que decidiu perguntar novamente:
Tá se sentindo muito só? E, como de costume, deixou a resposta ao
gato ocre amarelado que ondeava o rabo com lentidão. Claro que se
sente só! Eu também me sinto. Quando disse estas palavras, sentiu
um leve remordimento. Na realidade deveria ter
comprado mais um ou uma gata, para que seu gordo gato ocre amarelado
tivesse
amigos
e formasse uma pequena comunidade felina. Mas, ao mesmo tempo, temia
que a compra de mais gatos o fizesse perder a comunicação que já
tinha com esse. Havia algo de especial entre ambos, como nesse
momento, em que o gato permaneceu imóvel, mirando-o
com seus olhos amarelados, enquanto seu formoso rabo se agitava em
câmara lenta. Tá na cara, que estamos sós, os dois – resumiu. Se
ergueu e foi a cozinha preparar um café. Duas colheres de Alta
Mogiana,
uma de Cerrado mineiro e uma de Altinópolis em
vez do Sul de Minas,
para
provar. Era assim, com alguns tipos de café, era necessário ser
mais comedido. Se ajeitou dentro da calça e da camiseta que escapava
pelo ombro, e se dirigiu de novo ao gato: Sabe do pior? O pior é
que já não se pode estar em paz com a solidão, porque agora não
está de moda estar só; tem
sempre alguém te espreitando; agora eu queria saber do mais pior
ainda? Isto
garanto, você não sabe! É! Há a solidão compartida! Se ao
menos você deixasse seu sorriso! Dizia, enquanto o gato sumia.
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