Plagio.
Os escritores de
hoje querem ser originais, e todo mundo sabe que a originalidade é
materialmente impossível. Há nesta obsessão, nesta ideia fixa, um
ponto de hipocrisia que o atual sistema econômico deu a nossa vida
social. Jamais o plágio foi considerado coisa criticável. Hoje é.
Porque o escritor que o faz é considerado pelos companheiros como um
homem que quebra as leis da cavalaria comercial. Cervantes foi o
maior, plagiou todos os romances de cavalaria de sua época, sem
contar o ''estilo''. Mas o argumento é inútil, já que se
compreende que a única sina de um escritor é plagiar, e se
demonstra com isso se tiver sobre o seu ofício umas ideias tão claras e
seguras, que por força vencerá sempre os seus suscetíveis
companheiros. Os antigos não faziam outra coisa senão plagiar-se
mutuamente e sem trégua. E se o faziam, por que não podemos fazer?
Não pode haver, me parece, algo mais agradável para um escritor
sentir-se plagiado. No entanto, hoje, e em todos os ramos artísticos
dominam ideias contrárias, e quem dá o tom são os ''coxinhas'',
classe médias,
analfabetos que sabem ler e escrever.
Essa
é a degeneração geral a que chegamos, sem
paradeiro, para constar e demonstrar a insanidade da literatura
atual, não se encontra em lugar algum, algum troço digno de ser
plagiado.
Eu
procuro este troço faz tempo e por todos os rincões, e não
encontro nada. Tudo é monotonia e dum tédio pantanoso, e eu,
particularmente, nasci com pouca força para empreender um plágio de
uma obra antiga, de um clássico. Sou obrigado, como os outros, a ser
um terrível e desenfreado original. É não resta dúvida,
lamentável e revoltante...
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